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| O jogo ganha pontos pela contracapa ter sentimentos tão fortes a respeito de piramides, isso precisa ser dito |
Senhores, senhoras, senhorio, felinos não reconhecerás, espero que estejam todos com os cintos bem afivelados porque nossa expedição pela história dos videogames entrará agora em camadas de obscuridade que não são visitadas a gerações.
Veja, videogames funcionam como qualquer outro tipo de midia de entretenimento: em camadas. No topo da superficie temos os titulos que qualquer um conhece como DOOM, Mortal Kombat, Sonic, Mario ou Street Fighter. Ou se quiser um take mais moderno, Call of Duty ou FIFA. Um pouco mais abaixo disso temos os jogos que não são obscuros mas que você tem que conhecer um pouco de videogames para chegar lá como Chrono Trigger, SPARKSTER ou WOLFENSTEIN 3-D.
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| Capitão, estamos atingindo niveis de obscuridade que não se julgava serem possíveis! Nossos sensores não vão aguentar muito mais! |
E assim vamos cavando cada vez mais e mais fundo até passar da camada pré-sal dos videogames e chegar a um bolsão esquecido por todos os antigos deuses e os novos. É aqui que nos encontramos hoje, num buraco tão profundo da obscuridade dos videogames que ele fica apenas dois fios de cabelo dos jogos de corrida de cavalo para PC Engine que nunca saíram do Japão. Então parabéns, considere-se com sorte (ou orgulho, se desejar) porque você acaba de entrar no seleto grupo das pessoas ainda vivas que já ouviu falar de Icebreaker para 3DO.
Mas o que é Icebeaker?
Bem, esse é um puzzle - na falta de palavra melhor - que eu totalmente consigo ver sendo criado em um guardanapo, enquanto os desenvolvedores tomavam alguns drinques no bar. Ice Breaker claramente tem a pretensão de ser artístico e abstrato, mas a verdade que esse híbrido de puzzle/shmup é feio e intelectualmente vazio.
O esquema do jogo é que cada fase é um campo repleto de centenas de triângulos que você tenta eliminar usando um triângulo branco. Você tem que atropelar os triângulos azuis, atirar nos vermelhos, os roxos também são destrutíveis mas abrem uma cratera ao serem destruídos e os verdes são indestrutíveis, você tem que atrair mini-triângulos amarelos que te seguem para bater nos verdes. E é isso o jogo, você controla uma navezinha e precisa destruir todos os triangulos, esse é o "puzzle" do jogo.
Os melhores puzzles transformam um conceito simples em uma ideia viciante, mas Ice Breaker transforma um conceito sem graça em um exercício inútil. O que você tem que fazer é destruir os triangulos enquanto é perseguido por inimigos, isso está mais para um primo europeu hispter de Space Invaders do que uma atividade intelectual
Adicionalmente, sua jogabilidade simplória é lenta, tediosa e irritante como o inferno. O ponto de vista de três quartos oferece uma perspectiva ruim, e os controles inexatos não ajudam em nada. Conforme você limpa o campo metodicamente, não há nenhum contador indicando quantos triângulos permanecem, o que daria pelo menos ao jogador uma sensação de progressão. Mas não.
E claro, o jogo funciona com um hit kill. Se um inimigo tocar em você, recomeça a fase. Tocou em um triangulo vermelho, recomeça a fase. Destruiu 158 triangulos e falta só um, tocou em algo recomeça a fase. E por "recomeça a fase" eu quero dizer exatamente isso, com todos os triângulos restaurados. Vc faz ideia do quão divertido é eliminar 150, 200 triangulos um por um? Pois é.
Estágios avançados introduzem novos tipos de triângulos, mas a complexidade adicional apenas empurra uma experiência já tediosa para o reino do desagradavel. Para não dizer que o jogo não faz nada de bom, ao morrer a tela diz "Game over, DUDE". Sim, esse é o ponto alto do jogo, DUDE. Como somos descolados, não?
Mas vá lá, Ice Breaker seria um bom minigame para celular para jogar na fila do INAMPS (ou o equivalente da época, para Game Boy), nem todo jogo precisa ser um puta blockbuster AAA para ser digno. Como um jogo de 50 dolares de 3DO é forçar a amizade, mas va lá, com muita boa vontade (e falta de opção melhor, é o 3DO afina) esse ainda funcionaria como um joguinho leve para passar o tempo...
... e para passar o tempo ele se presta, porque esse jogo tem telas de loading a dar com pau. O que você mais vai fazer com esse jogo é ver o tempo passar, isso é verdade. Quer selecionar um novo estágio? Tela de loading. Quer ajustar o áudio? Tela de loading. Voltou uma tela no menu de opções? Tela de loading. Precisou coçar a bunda? Tela de loading.
Porra, como é que eles conseguem fazer tanta tela de loading em jogo que rodaria em um Game Boy é até uma conquista, pq não tem nada nesse jogo que justifique TANTO carregando exceto o fato que ele foi programado com a bunda.
Enfim, por fim as fases podem ser jogadas em qualquer ordem e o jogo mantém um registro daquelas que você completou. E não faltam fases, já que o Ice Breaker oferece 150 níveis de dificuldade crescente - o que é 149 a mais do que você precisaria, se quer saber a minha opinião.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 092
