domingo, 30 de janeiro de 2022

[#817][SNES] SPEEDY GONZALES: Los Gatos Bandidos [Agosto de 1995]


Okay, é assim que vai funcionar: normalmente quando eu falo de um jogo baseado em uma marca licenciada, eu falo sobre a história doo produto sendo videogamado. O que é legal, eu realmente aprendo coisas interessantes nesse processo como a história da HQ do THE MASK ou dos THE INCREDIBLE CRASH DUMMIES.

Isso sendo dito, seguindo a mesma lógica eu deveria falar sobre o Ligeirinho que é o tema do jogo de hoje. Deveria, porque cara a história desse personagem tem uma discussão grande sobre se é racismo ou não, sobre o que significa para as pessoas e representatividade e um monte de coisa que basicamente:

Então boa sorte pra quem quiser discutir isso, mas esse não é o escopo desse projeto (me senti tão chique agora). Isso sendo dito, vamos falar do joguetim então...

... que é um jogo com muita cara de "fim de festa" no Super Nintendo. Enquanto eu comentei que no período entre o final de 94 até a chegada do N64 em 96 o SNES teve sua época de ouro com os melhores jogos, como SUPER MARIO WORLD 2: Yoshi's Island, também é verdade que muita gente tentou a sorte jogando produtos licenciados pra ver se colava (o SNES teve até um jogo do Pinóquio da Disney e o Gaguinho dos Looney Tunes, da onde eles tiraram que tinha demanda popular para isso eu não faço ideia). 

Acho que é a primeira vez que eu consigo colocar toda história em um GIF só sem deixar nada de fora... o que eu não tenho certeza se é algo do que eles deveriam se orgulhar

A esse ponto da história, os desenvolvedores já conheciam o hardware do SNES o suficiente para programar jogos baratos e de forma rápida, mas decentes. Não é muito comum ver jogos catastroficamente ruins a esse ponto, usualmente sendo o maior pecado deles serem...desinspirados. Isso é uma coisa que eu temo que vou dizer muito daqui pra frente: esse jogo não é ruim, apenas ele não é particularmente bom.

Em Los Gatos Bandidos, o jogador controla o Ligeirinho em vários cenários. Você vê, o gatinho sapecote Frajola e seu bando sequestraram vários amigos mais lentos do rato mais rápido de todo México (mas não o Slowpoke Rodriguez, se você estiver preocupado), e agora você tem que enfrentar uma série de perigos para salvar a galera. Ou seja, pão com manteiga básico de jogo de plataforma. 


Frequentemente esse jogo é comparado como o SONIC THE HEDGEHOG do Super Nintendo, e considerando o personagem principal não é dificil imaginar o porque. Mas a pergunta que realmente importa é: a comparação faz sentido? Bem, sim e não.

A comparação desse jogo com Sanic de Redirrogue é tão comum que na época lançaram uma romhack pirata desse jogo como "Sonic 4"

Por um lado, eu diria que em vários aspectos o jogo do SNES é melhor que o jogo iconico da Sega. Pra começar, e isso é uma coisa enorme, Ligeirinho controla bem melhor que o Sonic - se mais nada porque eles acertaram na inércia aqui. Isso quer dizer que o rato não parece que pesa 845 quilos até pegar embalo e isso torna as sessões de plataforma bem mais agradaveis.

Por outro lado, ele não é leve demais e seu personagem não dispara a 8 bazilhões de km/h como acontece em DESERT DEMOLITION STARRING ROAD RUNNER com resultados bem pouco divertidos. E quando o jogo faz o seu personagem disparar a 8 bazilhões de km/h, o level design foi feito com cuidado para acomodar essa velocidade.


Os trechos de "gotta go fast" normalmente são amplos o suficiente pra te dar tempo de reagir, alem de usualmente terem o caminho marcado com moedas. Definitivamente não acontece aqui a DESGRAÇA que acontece nos jogos do Sonic que vc apenas se torna passageiro em um quick-time event - e isso é muito bom. Então no design, Ligeirinho é melhor que Sonic. Sim, eu disse e é verdade.

Na execução, entretanto...


Se você não adivinhou, saiba que jogar Los Gatos Bandidos não é uma tarefa tãaaaaao agradavel assim. O principal problema é que, por um motivo que eu não consigo sequer começar a conceber, você não mata os inimigos pulando na cabeça deles e sim apenas chutando com um alcance que é menor do que você gostaria que fosse.

A Sega tem muitos, muitos, muuuuuuuuuuitos defeitos, mas uma coisa eles entenderam certo em Sonic: matar os inimigos pulando na cabeça deles adiciona uma fluídez e ritmo ao jogo que faz muita falta quando você tem que meter o pé no freio e acertar o box hit do adversário com chute de perninha curta. Isso... não é divertido cara, definitivamente não é.


O pior é que o level design desse jogo é redondinho, se fosse possível só deixar a coisa fluir esse jogo seria tão gostoso de se jogar... mas seria, do verbo não foi e esse é o jogo que esse jogo é. Ah e tem também que esse jogo tem limite de tempo porque de repente voltamos para 1992? Porra Sunsoft, cê não se ajuda também né...

Enfim, julgando o jogo pelo que ele é e não pelo que ele quase poderia ter sido, o jogo do Ligeirinho é... funciona. Verdade que aqui e ali tem saltos de fé cegos, mas na maior parte do tempo o jogo funciona. 


Além disso, tem também as lutas contra chefes, que são bem fracas para ser honesto - mas o estranho mesmo é que apesar do Frajola ser definido como o grande vilão do jogo, você nunca luta contra ele. O que é estranho, ao ponto que eu desconfio que a Sunsoft meio que meteu um jogo que já tinha pronto só mutando os sprites pra usar a licença - o que não seria a primeira vez que ele faz isso. 

Do ponto de vista gráfico, Los Gatos Bandidos é um jogo okay-ish para 1995. Não é ruim, mas o Super Nintendo fazia bem melhor que isso na época. As animações variam de adequadas a boas, embora algumas pareçam ser “emprestadas” direto do DESERT DEMOLITION STARRING ROAD RUNNER - que é da propria Sunsoft, então não é muito fora da curva imaginar que eles reaproveitaram assets, enquanto outras foram copiadas na cara dura de Sonic 2, como a animação de Speedy quando está na beira de uma plataforma.


Na parte do som, Los Gatos Bandidos também é okay-ish. A música tem um toque latino, mas geralmente não é muito memorável. Existem algumas versões engraçadinhas de  músicas mexicanas como “La Cucaracha”, e tem algumas vozes espalhadas aqui e ali, como o “¡Ándele!” do Ligeirinho quando ele pega o power up de aceleração, mas nada que mude a sua vida

Enfim, como eu disse é um jogo com cara de "fim de festa" no SNES, esse jogo certamente não ganha nenhum prêmio por inovação ou mesmo por gameplay, mesmo que a estrutura de um grande jogo estivesse ao alcance. Certamente não é clássico e empalidece quando comparado aos jogos top de plataforma, mas quando você considera a maioria das atrocidades que compõem a maioria dos jogos licenciados (alguns deles cometidos pela propria Sunsoft, né SUPERMAN), não é tão ruim. Para quem ama os desenhos da Warner e quer jogar um jogo básico bem montado, existem casos bem piores que esse.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 095


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 001