O que acontece se você pegar GTA e tirar a variedade de veículos, os pedestres na cidade, a narrativa, os personagens, as sidequests, a trilha sonora e o carisma? Bem, se você tirar tudo isso e reduzir GTA ao seu mais puro esqueleto em mapas básicos do começo da vida do PS1... esse jogo ainda seria melhor que Auto Destruct, mas ao menos dá uma boa ideia do que esperar aqui.
Eu não faço ideia do pq o carro está baforando fogo pela frente na capa europeia do jogo, mas embora seja cool se o seu carro fizer isso o mecanico deverá ser consultado |
AD começa com uma premissa bastante adequada a sua época: “Sua família foi assassinada por uma seita niilista. Movido pela vingança, você se junta a uma misteriosa ordem clandestina para igualar o placar. Sua missão: iniciar sua jornada de assassinato, carregar armas devastadoras e expulsar os cultistas da cidade.” MALDITOS NIILISTAS! SEMPRE ARRUINANDO TUDO!
Sério, se tem algo que eu posso respeitar aqui é que os programadores pegaram a palavra que mais parecia filosofica que eles conseguiram pensar e tacaram na capa do jogo, agora eu ficarei totalmente desapontado se o chefe final for qualquer pessoa que não o próprio Nietzsche em pessoa! (spoiler: não é).
Malditos niilistas a parte, esse jogo é o jogo que imediatamente te vem a mente quando falamos "jogo genérico esquecido do PS1". Vingança, carros, explosões, enfim o paraíso dos videogames para adolescentes americanos dos anos 90, o velho raguru.
Auto Destruct foi desenvolvido por uma empresa sueca chamada Neurostone e publicado pela Electronic Arts em janeiro de 1998. Ou seja, é um fodendo jogo europeu... se vc ainda tinha algum resquício de esperança pode abandonar ela aqui... mas pelo menos é um dos primeiros jogos com ambiente 3D em que você podia dirigir livremente no PS1.
O jogador assume o papel de um ex-piloto profissional chamado Booth que, além de dirigir um carro que os advogados dos produtores totalmente juram que não foi baseado na Super Máquina, como mencionado está se vingando de um culto que matou sua esposa e filha em um ataque terrorista. O grupo com o qual você está trabalhando agora para buscar essa vingança definirá tarefas para você e seu carro realizarem.
E por missões entenda-se... coisas com alguma variedade até, ao contrário do que eu estava esperando. As missões incluem tarefas como procurar e destruir, coletar e entregar, seguir alvos, corrida contra o relógio para desarmar bombas (bem ao estilo DIE HARD TRILOGY) e escolta de alvos. Agora, o mais interessante é que cada missão costuma ter múltiplas tarefas para cumprir dentro da mesma missão.
Por exemplo, você começa seguindo uma van que assaltou uma joalheria, você pode terminar a missão resgatando o prefeito da cidade, depois de ter que protegê-lo de membros de um culto suicida, e levá-lo para um local seguro. Mais interessante ainda², é que o que você tem que fazer nos novos parametros da missão que vão mudado é sempre explicado por uma voz em audio. O que quer dizer que enquanto o jogo tem setas indicativas na tela (verde é a sua missão, cinza é quem você tem que seguir, amarelo são power ups e vermelho inimigos), o que EXATAMENTE vc tem que fazer precisa depende do audio.
Uma missão pode te dar um alvo vermelho, e se você só destruir ele sem ouvir a explicação ela vai falhar pq a explicação em audio diz que vc tem que seguir o alvo até o esconderijo e quando chegar a hora de passar fogo em tudo ela te avisa. Isso pode ter feito o jogo não andar para quem não sabia inglês na época, mas é inegavel que funciona para manter sua atenção no jogo - o que é um bonus, pq nesses jogos de destruição é muito comum a tendencia de "desligar o cerebro" e se entediar logo. Ponto para o jogo.
Falando em se entediar, outra coisa pela qual o jogo tem que ser comendado é que existe uma grande variedade de armas que definitivamente não deixam nada a desejar a qualquer TWISTED METAL, entre metralhadoras, varios tipos de misseis, armas laser e lançador de granadas (que eu nunca consegui acertar nenhuma).
ENTÃO ESSE JOGO É... BOM?
Assim, bom, booooooooom, é uma palavra forte. A primeira hora (mais ou menos) do jogo não vai abalar o mundo de ninguém, mas passa a falsa impressão de que, embora Auto Destruct esteja longe de ser perfeito, seria um jogo bastante divertido como aluguel de fim de semana. Infelizmente, não demora muito para que comece a ficar extremamente chato devido às missões que começam a ficar repetitivas. Se esse jogo fosse um pouco menor talvez fosse menos cansativo, mas o que eu posso afirmar é que o jogo não tem conteúdo tão interessante assim para VINTE E CINCO missões (aproximadamente 5 horas de jogo).
O conceito principal é interessante, e a execução tem um certo charme, mas ele definitivamente força sua amizade demorando mais do que deveria e no fim vc estarará apenas cansado antes cedo do que tarde. Um bom exemplo do que eu estou falando é que os prédios parecem muito legais quando você os vê pela primeira vez. Mas, ao dirigir pela cidade, você vai começar a perceber que tudo é basicamente igual e não tem muito o que ver na cidade realmente. De vez em quando tem uma via elevada ou um parque com uma ponte para passar sobre a água, mas é no máximo uma coisa ou duas "diferente" assim por mapa e na massiva parte do tempo são apenas caixas de sapato repetidas.
Alias os gráficos são bem simples mesmo para os padrões de 1998 do PS1, porém como a cidade é relativamente grande e o jogo roda suavemente sem travar, eu meio que entendo pq eles precisaram ser simples assim - qualquer coisa mais complexa que isso o PS1 não tankaria rodar, não de forma fluída com esse tamanho, pelo menos. Então, é, os gráficos não são impressionantes mas se justifica.
No fim, Auto Destruct é um jogo incrivelmente medíocre - o que eu meio que devia esperar de um nome genérico desses, olhando agora em retrospecto - que não faz nada de errado (com efeito, a distribuição de itens é okay, a detecção de colisão não desmorona, a camera não é sua inimiga e o carro não é a pior coisa ever que eu já dirigi)... mas também não faz nada que você vá se lembrar dele 3 minutos após desligar o jogo. Até antes disso.
Malditos niilistas.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 126 (Abril de 1998)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 045 (Dezembro de 1997)