sexta-feira, 8 de setembro de 2023

[#1153][Nov/97] MIB: MEN IN BLACK - The Game


Uma das coisas que os seres otomanos mais gostam de fazer é reclamar como as coisas são hoje, que no "tempo deles" (aparentemente essas pessoas postam isso direto de sua camara criogenica e não fazem parte do tempo atual) as coisas eram diferentes e blablabla. Nesse campo, um exemplo muito bom é com a coisa dos filmes baseados em quadrinhos que as pessoas reclamam que Hollywood tenta explorar muito isso.

Bem, deixa eu contar uma história pra vocês de como as coisas eram "antigamente nos bons e velhos tempos que não era assim": em 1989 aconteceu um grande fenomeno nos cinemas, algo que mexeu com os corações e mentes de uma geração. E essa coisa, obviamente, foi o longa metragem do cruzado embuçado. BATMAN: THE VIDEO GAME

Isso ligou uma luz para os estudios: quadrinhos já tem personagens e conceitos testados e aprovados junto ao publico - algo que vale ouro num negócio que custa milhões para fazer. Então começou uma corrida do ouro para encontrar o próximo "bátima" baseado dos quadrinhos, e isso pautou muito o cinema dos anos 90. Sim, pra quem diz que filmes de quadrinhos hoje em dia sei lá o que, saiba que esse era o pão com manteiga do cinema desde essa época.

Na verdade era até mais do que é hoje, já que enquanto hoje os filmes baseados em quadrinhos são baseados nos grandes nomes da Marvel e da DC, naquela época Hollywood queria mesmo era propriedades intelectuais dos quadrinhos que custavam duas balas Xaxá e um toblerone sabor morango.

E por isso eu quero dizer coisas realmente obscuras pro grande publico como Tank Girl, O Sombra, THE CROW ou THE MASK. Como dá pra ver, alguns desses filmes baseados em quadrinhos eram melhores do que outros (eu realmente gosto de Tank Girl, apesar de ser meio kitsch, e O Mascara é ours concours), mas a regra é que o que fosse barato de comprar a licença e já testado nos quadrinhos era jogo.

O que nos levou a escolhas realmente questionaveis para adaptações live action...

... mas é como as coisas rolavam. E dentre esse pacotão de filmes "taca tudo que vier dos quadrinhos pra ver o que cola", talvez um dos sucessos mais sucessores foi - ao lá do já citado THE MASK - nada menos que os "Homens de Preto".

E não é dificil entender o pq do sucesso estrondoso desse filme onde tantos outros falharam, a começar pelo seu orçamento. Quase 100 milhões de dolares de orçamento em 1997 era dinheiro pra caceta, pra vc ter uma ideia naquele mesmo ano THE LOST WORLD: Jurassic Park 2 teve um orçamento de 75 milhões e o próprio Titanic teve um orçamento de 200 milhões. Ou seja, esse filme tem METADE do orçamento do filme mais ambicioso de todos os tempos até então, e 25% mais do que a continuação do maior sucesso da decada até então, o Parque da Jurassi

Sério, essa CG é incrivelmente boa para 1997

100 NÃO É 75+25%

O ponto não é esse, Jorge, e sim que eles realmente estavam acreditando nesse filme. E da onde vinha tanta confiança, vc pergunta? Bem, pra começar que a produção desse filme é feita por meio que um dream team da metade dos anos 90.

Pra começar um dos protagonistas era o ator mais quente e popular da época: Will Smith já vinha em uma crescente imparavel depois do sucesso na carreira da musica e do seriado Um Maluco no Pedaço, consolidado com chave de tungstenio nos filmes  de ação com Bad Boys e INDEPENDENCE DAY.

Ao seu lado estava um dos melhores atores da sua geração, Tommy Lee Jones, que tava com tesão pra se provar depois da desgraça que foi BATMAN FOREVER (embora pouca gente lembre desse filme muito pq a sequencia Batman & Robin) foi criminosamente pior.

Dirigindo essa galerinha muito louca mas também muito ouriçada tinhamos ninguem menos que Barry Sonnenfield. O nome pode não soar muito popular hoje, mas na época ele vinha que vinha quicando depois do sucesso gigamegalodontico de ADDAMS FAMILY VALUES.

Tecnologia 10, escolha desnecessariamente ambigua de ultimas palavras 11

O roteiro também era assinado por Ed Solomon, mais conhecido pelo querido sucesso de Bill e Ted e...

NÃO FOI ESSE O CARA QUE ESCREVEU O FILME DO MARIO DE 93?

... não existe filme do Mario de 93 dentro dos muros de Ba Sing Se. Tá, não dá pra acertar todas também. Mas de qualquer forma, a estrutura do filme ajuda muito já que ele junta teorias da conspiração com um buddy cops. Você sabe, juntar a tradicional ideia do imaginario popular de que existe uma agência do governo ocultando a presença de aliens com o esquema de um policial veterano lidando com um parceiro muito louco e cheio de atitude. 

O Rei do Crime teve origens... estranhas...

Você sabe, a mistura de Arquivo X com LETHAL WEAPON que você não sabia que precisava até ver o Will Smith e o Tommy Lee Jones de terno. Diz aí se essa não é uma formula repleta de vitória e triunfo? 

Só que fica melhor: nos quadrinhos originais, o agente J tinha o carisma de uma caixa de papelão molhado. Tanto que eu li os quadrinhos e até agora não consegui pensar em um adjetivo para descrever o personagem, o maximo que eu posso dizer é que se você pensar nas palavras "protagonista genérico dos anos 90", a imagem que vai se formar na sua cabeça é a desse cara.

Felizmente o personagem foi inteiramente reescrito para ser o Will Smith e enquanto você pode argumentar que o Will Smith é o Will Smith e que dá pra esperar a qualquer momento o tio Phill jognado o Jazz pela porta, bem em 1997 isso ainda era novo e interessante. E bem melhor que a versão original, mas por uma margem de anos luz.


Esse é um daqueles casos que as coisa dão tão certo que até mesmo as exibições de teste (antes da pós-produção) ajudaram barbaridade. Quem explica isso é o próprio diretor do fillme:

"Inicialmente, o filme que todos nós filmamos tinha dois planetas alienígenas em guerra, que eram raças alienígenas lutando entre si em lados opostos da Terra, e a Terra estava no meio, pega no fogo cruzado. Havia dois nomes diferentes para as diferentes raças, que nunca apareciam no filme, mas eles estavam sempre sendo discutidos na sede dos Homens de Preto. Havia diagramas tentando explicar quando uma nave espacial está aqui, e outra ali, e aqui está a Terra. Foi muito complicado e o público não conseguiu acompanhar."

Então a coisa original do filme é que existia uma guerra entre duas raças, e uma terceira raça - os insetos - queriam manter o pau quebrando pra se alimentar dos cadaveres. No teste inicial com o publico isso acabou ficando claro que era desnecessário, encher o filme de exposição pra raças alieniginas que nem apareciam era um desperdicio de tempo e energia, e todo esse plot da guerra foi limado.

Desse plot original resta só a cena do restaurante onde dois aliens conversam e o inseto mata eles, no original eram diplomatas dos dois planetas diferentes e a maior parte da cena foi redublada (a parte em que eles falam no idioma alien com legendas foi adicionada depois, havia um dialogo normal em ingles ali).

Essa enxugada de gordura do plot (que olhando agora parece meio desnecessauro mesmo) permitiu mais tempo para que os personagens tivessem mais tempo para ser um buddy cop carismático que transmite sua mensagem de nunca julgar as coisas pela aparencia através de gags visuais fantásticas e por essa razão esse filme não apenas é lembrado até hoje, como nenhuma das outras continuações conseguiu realmente capturar essa magia. 

Até pq um filme em que praticamente tudo deu certo, bem, não é todo dia que um desses acontece, né?


Mas bem, se esse é um filme que absolutamente tudo deu certo... será que existe alguma chance do jogo licenciado dele dar certo também ou eu estou pedindo demais da sorte?

VC ESTÁ PEDINDO DEMAIS DA SORTE.

Vish, acordamos azedos hoje, heim Jorge. Mas é, vou dizer que as chances não parecem mesmo a meu favor baseado no histórico de filmes adaptados para jogos. Bem, pelo menos esse não foi feito pela Ocean, o que sempre é alguma coisa positiva, embora eu não possa dizer que o jogo ser feito pela desconhecida Gigawatt Studios seja tão melhor assim, até pq entre os jogos famosos deles estão... hã... Secret Agent Barbie do Game Boy Advance?

AINDA É MELHOR QUE UM JOGO DA OCEAN. ATÉ UM TRATAMENTO DE CANAL SEM ANESTESIA É MELHOR QUE UM JOGO DA OCEAN.

Fato. Mas isso sendo dito, vamos ver então os homens em roupas trevosas, lançado em 1997 para PC e posteriormente portado para PS1. Agora, quando eu não conheço um jogo - e esse é um daqueles que se enquadra na categoria "eu sei que ele existe e para por aí", algo que eu sempre começo fazendo é vendo que jogos relacionados a CD Romance indica, pra ter uma ideia do que esperar.

Então, o que esperar de MiB?


Uma série de visual novels beeeeeeeem agua com açucar e Chamado do Getulio? UAT? GIGAUAT? Que diabo de jogo evocaria Tokimeki Memorial e Call of Cthulhu?! É o que descobriremos a seguir.

Bem, vamos lá: como é que você faz um jogo baseado nos Homens de Preto? Existem, é claro, inumeras possibilidades possíveis dado que a premissa permite isso - mesmo um kart racing não está fora de cogitação, baseado em uma cena do filme - mas o que a Gigawatt escolheu foi... jogar seguro e apostar na formula da moda.

VOCÊ QUER DIZER QUE O JOGO DE MIB É TOMB RAIDER SÓ QUE COM O WILL SMITH DE SHORTINHO NO LUGAR DA LAURA?

Seria melhor se fosse, Jorge, seria melhor que fosse. Isso pq esse jogo é baseado na OUTRA formula que estava com tudo e não estava prosa em 1997: RESIDENT EVIL. Ou seja, a boa e velha engine de Survival Horror que absolutamente NINGUÉM conseguia acertar a mão - exceto pela Capcom, é claro.


Verdade que MiB não é tão pavorível quanto ABERRAÇÕES DO ESPAÇO-TEMPO como THE CROW: City of Angels ou, Jesus na sambadinha me proteja, PERFECT WEAPON. Até pq eu não vejo como pode ser pior que isso. Ainda sim, MiB usa a mesma ideia de cenários pré-renderizados (que eram muito impressionantes nessa época) e personagens em poligonos com controles mais duros que coração de ex.

Como eu disse, MiB não é TÃO ruim quanto as citadas abominações, mas também não é bom. Sério, saca só como são os controles: R1 alterna entre armado e desarmado. Circulo ao ser segurado ativa o "modo combate", se você estiver segurando uma arma enquanto segura circulo apertar pra cima faz o personagem disparar, para os lados gira o boneco. Até aí (quase) simples, exceto que como sua munição é limitada as vezes é preferível vc alternar no modo combate corpo-a-corpo... e aí, meu amigo, é quando a criança chora e a mãe não escuta.


Imagine, se puder, a seguinte configuração: segurando circulo, desarmado, para direita e esquerda não gira mais o boneco e sim soca com o braço direito ou esquerdo, para baixo chuta e para cima não faz nada (ao contrário da arma, que atira). Isso é importante pq alguns inimigos defendem só com a direita ou só com a esquerda, ou são muito pequenos e só podem ser acertados por chute!

EU TENHO QUE CONFESSAR QUE PAREI DE PRESTAR ATENÇÃO NA EXPLICAÇÃO DOS BOTÕES ANTES DA METADE DA FRASE

Exatamente esse o ponto, a combinação de controles quer ao mesmo tempo ser RESIDENT EVIL e um beat'm up... o que nunca deu certo na história da humanidade a esse ponto, e não é aqui que começou a dar. Se eles tivessem sido menos ambiciosos e focado em uma coisa só teriam mais tempo para fazer a DETECÇÃO DE COLISÃO AO MENOS FUNCIONAR DIREITO, as interações com o cenário parecerem menos aleatórias e pelo amor de todos os deuses antigos e os novos, apenas tirem as sessões de pulo, pular com esse boneco mais travadasso que saída de rave as 8 da manhã não dá. Simplesmente não dá.


E é uma pena que os controles sejam tão duros e esquisofrenicos, pq quando não está tentando ser essa coisa que ele é... o jogo é decente até. Digo, o level design não é estelar nem nada, mas é um survival horror bastante competente no final do dia.

Cada fase é uma mini "mansão de RE" onde você vai pra cima e pra baixo, coleta itens e resolve puzzles. Nada estelar, novamente, mas tudo redondinho. Mais importante que isso, os temas de cada missão são sempre relacionados a aliens e bem interessantes: a primeira fase se passa numa estação de pesquisa isolada na Antartida, em clara referencia a The Thing (provavelmente daí o bot do CD Romance tirou a coisa do Cthulhu: Prisioner of Ice), a segunda fase é numa vila rural do interior do México onde o "Chupacabra" está fazendo pessoas desaparecerem (é um alien, obviamente) e por aí vai.

Então os cenários são interessantes, os puzzles são okay, faltou só... bem, o jogo ser divertido de apertar os botõezinhos, sabe? Algumas culturas costumam acreditar que "jogar o jogo" é uma parte importante da experiencia de videogames, olha que ideia maluca...


Bem, ao menos na versão PC vc pode salvar onde quiser - o que ajuda bastante nas pavorosas sessões de salto - ao contrário do PS1 onde vc depende de checkpoints e mais sim do que não tem que voltar grandes sessões do jogo por causa dos controles terriveis. Ainda sim, mesmo na versão de PC esse jogo não é nada memorável.

Pessoalmente, eu largaria de mão as partes de ação e iria pra um full clone de RESIDENT EVIL, focando mais no survival horror do que nas sessões beat'm up... mas isso é o que eu faria e não o que esse jogo é. E o que esse jogo é, não é muita coisa realmente ao ponto que a experiencia de jogar esse jogo é tão esquecível quanto usar um neuralizador. 


O que, olhando por um aspecto meta, acaba se tornando uma adaptação de pelo menos um aspecto dos filmes. Involuntariamente, verdade, mas é melhor que nada, né?

... tá, não muito.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 125 (Março de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 061 (Abril de 1999)