Em 1992 a Sega já estava trabalhando no seu videogame de 32 bits, aquele que dali a alguns anos viria a ser o sucessor do Mega Drive - o Sega Saturn. Neste primeiros dias, no entanto, eles ainda não conseguiam fazer uma placa que rodasse jogos a 32 bits com um preço comercial de videogame ou que sequer custasse menos do que um carro. O que nos leva a uma questão: o que, exatamente, fazer com os prototipos que ficavam prontos mas eram caros demais para serem vendidos como consoles domésticos?
E essa foi a breve história do estagiário que teve uma boa ideia na Sega dos anos 90.
Quando eu era criança, é claro que eu não sabia nada sobre bits ou gerações de videogames nem nada. O que eu sabia, contudo, era que Rad Mobile era um arcade diferente de qualquer outra coisa que eu já tinha visto.
Em primeiro lugar, porque era um arcade bonito pra caramba - algo que a Sega sempre foi muito boa em fazer, verdade seja dita. Mas não apenas bonito, ele tinha um sistema de inclinação no assento que virava conforme você dirigia
Claro que isso é divertido e dá uma sensação de imersão muito boa, porém a coisa que mais impressiona no arcade é o quanto ele consegue processar informações rápido - o que, num jogo de corrida, significa uma sensação de velocidade muito maior.
Quando um jogo processa imagens 2D, ele funciona mais ou menos como uma televisão: a cada frame o videogame precisa compor os elementos que estarão na tela. Por exemplo, o Super Nintendo tinha uma resolução de 229.376 pixels - ou seja, 229.376 pontinhos na tela formando a imagem que você enxerga ao mesmo tempo. A cada frame de imagens ele tinha que produzir isso, e se o Mario caminhasse dois pixels para o lado ele tinha que reordernar todos os pixels. Como você pode imaginar, não é a forma mais eficiente do mundo de gerenciar seu poder de processamento.
Um jogo 3D funciona diferente. Todo o cenário do jogo já está lá, pré-carregado na memória do aparelho e quando a camera se mexe o jogo só precisa "dar uma mão de tinta" nas informações pré-montadas que já estavam lá.
Em termos práticos, isso quer dizer que os jogos 3D permitem que os videogames trabalhem com muito mais informação ao mesmo tempo de forma muito mais rápida. Nessa época já existiam jogos 3D, mas os consoles não tinham a capacidade para gerenciar tanta informação ao mesmo tempo.
Só lembrar de Race Drivin, que mesmo no arcade parecia rodar a 4 quadros por segundo.
Já a placa do arcade de Rad Mobile era de 32 bits - do mesmo nível de processamento do primeiro Playstation. Isso significa que Rad Mobile era um jogo rápido e ultradinamico como os gamemaníacos jamais haviam visto antes!
Em adição a esse grande avanço tecnologico, tem que ser louvado também que a Sega não fez um jogo nada porco. Em Rad Mobile você atravessa os Estados Unidos de Los Angeles a Nova York, em um total de 20 trechos, sendo que sempre tem algo interessante e algumas as vezes até mesmo único em cada circuito.
Em alguns níveis chove e você precisa apertar o botão de limpador de para-brisa que tinha no arcade, em alguns é de noite e você tem que ligar os faróis, tem corridas em cannyons, na contramão, em trilhos de trem (com o trem atrás de você), sendo perseguido por policiais, enfim, bastante variedade.
Bater perto de um carro de polícia mostra o quanto a polícia americana não tem paciencia para suas merdas de velocidade.
Frequentemente esse jogo é comparado com Out Run, mas eu discordo. O objetivo de Outrun é a sensação de cruzar o país em um domingo de sol com seu carrão e sua gata. Em Rad Mobile igualmente você tem que cruzar o país, mas aqui é pé embaixo o tempo todo debaixo de chuva, no escuro, levando tiro da polícia e com caminhões te fechando contra os paredões dos cannyons. Uma versão radical de Outrun, se preferir. Como grande vantagem, Outrun tem sua variedade de cinco finais enquanto RM tem apenas um... porém posso te garantir que não tem um final como o de RM:
Adicionalmente, Rad Mobile é um jogo relativamente longo para um arcade. A corrida completa leva quase vinte minutos, o que é quase o dobro dos outros jogos de corrida da época. Rezam as intrigas da oposição que eu só falo mal da Sega nesse blog, mas são as mesmas forças que parecem esquecer que eu sempre disse que se tem algo que a Sega faz melhor do que ninguém é a coisa de proporcionar experiencias no fliperama.