quinta-feira, 12 de março de 2020

[AÇÃO GAMES 028] TINY TOON ADVENTURES: BUSTER BUSTS LOOSE (SNES, 1993) [#333]




Depois da farra do nonsense que foram os anos 80, compreensívelmente alguns personagens começaram os anos 90 com sua imagem bastante desgastada com o público. Os executivos de várias midias e empresas então batiam cabeça para descobrir uma formula sobre como tornar seus personagens relevantes novamente.

Um caminho que foi trilhado, e os quadrinhos meio que abraçaram totalmente essa escola, foi de transformar seus personagens em DARQUI, TREVOSOS E DU MAU!!!!11!!11 Você sabe, a velha tática de apelar para as crianças dos anos 80 que haviam se tornado adolescentes e agora queriam se afirmar como ADULTÕES. Desta massaroca a fase do Homem-Aranha do uniforme negro é a mais famosa, mas praticamente todo mundo era trevosão agora.



Enquanto isso podia funcionar para personagens de quadrinhos, provavelmente não daria tão certo para personagens mais Family Friendly. Quer dizer, nós queriamos mesmo ver uma versão Juíz Dredd dos Flintstones onde a Pedrita faz justiça com as próprias mãos?

... não, espera, essa ideia é awesome! Mas enfim, a saída que os estúdios encontraram era fazer uma versão "kids" de seus personagens para as crianças se identificarem ou qualquer merda que o valha. Tinha Tom e Jerry Kids...


... os Flintstones Kids...






... o pequeno Scooby-Doo...





... e, é claro, Muppets Babies - apenas porque foda-se, that's why.



A Warner Bros, obviamente, estava pensando em revitalizar sua marca Looney Toons fazendo o mesmo - algum tipo de Looney Toons Kids (o que acabou sendo feito nos anos 2000, mas isso é outra história) e teria feito isso, não fosse Steven Spielberg ter dado um telefonema e dito que gostaria de participar do projeto.

Agora, estamos nos anos 90, Steven Spilberg é o equivalente da época ao Quentin Tarantino hoje: se ele disser que quer fazer qualquer coisa, VOCÊ DEIXA PORQUE ELE É O FUCKING STEVEN SPIELBERG!

- Senhor, eu não acho que ele esteve qualificado para realizar a neurocirurgia do seu filho.
- Ele é o fucking Steven Spielberg, se ele quer fazer uma neurocirurgia no meu filho único, ele vai fazer uma neurocirurgia no meu filho único!*

*Embora não seja comprovado, muitos acreditam ser essa a origem do J.J.Abrams

Enfim, Spielberg queria participar da Ivonização dos Looney Toons, mas ele não queria apenas desenhar o Pernalonga criança ou o Patolino bebê. Isso seria chato. O que ele queria era criar novos personagens para a Warner que remetessem aos originais, talkey?

Bem, eu não tenho certeza absoluta se os executivos da Warner entenderam bem a proposta, mas como ele era o Steven Spielberg, ele podia fazer o que bem entendesse. Dizem que dá azar contrariar judeus de qualquer modo, olha o que aconteceu com o faraó do Egito

NADA REALMENTE. OS HEBREUS FORAM ESCRAVOS DOS BABILONIOS E NÃO DOS EGIPCIOS, QUE ALIAS NEM USAVAM O SISTEMA DE ESCRAVIDÃO NA FORMA QUE NÓS ENTENDEMOS A PALAVRA

... Jorge... apenas, apenas... ok? OK? Enfim, Spielberg veio com esse conceito onde os personagens clássicos dos Looney Toons seriam professores em uma universidade de desenhos animados, onde jovens desenhos aprenderiam os truques para chegar onde Pernalonga e cia já chegaram um dia.

QUER DIZER JOGAR UMA PARTIDA DE BASQUETE COM O MICHAEL JORDAN CONTRA ALIENS QUE ROUBARAM O TALENTO DAS ESTRELAS DA NBA?

Bem, isso também. Eu acho. Enfim, o ponto não é esse e sim que Tiny Toon era um desenho muito bom. E eu quero dizer realmente bom mesmo.


A grande coisa de Tiny Toon é que o desenho tinha, assim como é costumeiro nos Looney Toons, muita comédia fisica é claro, mas também piadas mais sofisticadas e referencias atuais que você não esperaria em um desenho da época.

Em um dos episódios tem aquela classica cena que o personagem abre o livro e o tema do livro ataca ele - se é um livro sobre tornados começa uma ventania, e por aí vai. Bem, nesse episódio Sweetie (que é a versão Tiny Toon do Piu-Piu) abre o livro "A história de Mike Tyson" e sai uma luvra de boxe dele dando um socão nela.

Enquanto ela esta grogue, ela diz então "agora eu sei como a Robin Givens se sentiu". Robin Givens era a esposa do Mike Tyson na época, e eles estavam se separando - entre outras coisas - justamente por conta de violência doméstica sofrida pela atriz.

Claro que não chega a ser um South Park da vida, mas para a época era bastante diferente de qualquer outro cartoon que havia. Nem todas as piadas eram de contexto, algumas era de puro exercicio dos animadores se divertindo. Um dos meus episódios favoritos é que um que o Perninha conta uma piada tão mal que ele matou a piada.

Quero dizer, ele LITERALMENTE matou a piada:


Tiny Toon não acertava sempre, é claro, mas era um desenho muito bom que você conseguia sentir o quanto seus produtores estavam se divertindo fazendo ele.

E como toda coisa extremamente popular entre as crianças dos anos 90, era inevitável que Tiny Toon virasse um jogo de Super Nintendo.

QUER DIZER QUE PEGAR AIDS VIROU UM JOGO DE SUPER NINTENDO TAMBÉM?

Em primeiro lugar, você tem que parar de assistir South Park, Jorge. Em segundo lugar, não. The AIDS Avenger foi anunciado, mas nunca foi lançado para Super Nintendo.

Jamais saberemos o motivo desse jogo não ter sido lançado.

Mas enfim, coube a Konami fazer o jogo de Perninha e sua turma, e eles fizeram um jogo bastante fiel a essencia do desenho animado. Mas qual seria, exatamente, a essencia de um desenho animado que é um bando de esquetes meio aleatórias as vezes?

Ora, o ponto aqui é que claramente os criadores do jogo se divertiram muito fazendo esse jogo, e o resultado é o jogo mais Tiny Toon possível!

Tal qual o cartoon, Tiny Toon não tem exatamente um plot: as fases são apenas uma coleção de esquetes baseada em filmes. Sendo um jogo de plataforma, eu tenho que dizer que Tiny Toon tem um ataque bastante esquisito: Perninha não pode apenas pular em cima dos inimigos como o Mario, ao invés disso ele tem que pular e então você aperta o botão de ataque para ele dar uma cambalhota que visualmente parece com um tipo de pulo. É meio confuso e eu preferiria que você pudesse apenas pular em cima dos inimigos mesmo, mas enfim é o que a casa oferece.


Esse sistema de ataque estranho é compensado por uma feature que é muito bem explorada: apertando R ou L, Perninha sai correndo como se tivesse colocado jalapeno no toba. Ok, muitos jogos tem um botão de corrida, o que faz DESSE especial?

Primeiro, porque as fases foram desenhadas com essa qualidade em mente. Lembra o jogo do Papa Leguas ou Sonic 2, onde você tem uma tremenda velocidade e frustrantemente nenhum lugar para ir com ela? Aqui as fases são desenhadas nesse sentido e isso faz toda diferença do mundo.

Mas, mais importante que isso, ao encostar em uma parede usando a corrida faz Perninha escalar a parede como o Homem-Aranha mais cracudo do mundo, e isso dá uma dinamicidade e agilidade ao jogo que poucos cartuchos do SNES podem se orgulhar.


Agora que você entende o básico do jogo... porque eu disse que ele compartilha a essencia de Tiny Toon dos criadores se divertirem com o que estão fazendo?

O jogo de Super Nintendo é curto e dificil, porém em sua curta duração cada fase do jogo está sempre tentando algo novo, algo mais legal, nunca se acomodando em uma zona de conforto - tal qual o cartoon.


O chefe da primeira fase, por exemplo, você enfrenta ele desviando dos seus ataques e batendo na esteira para jogar a comida para cima e fazer com que ele coma. Repita até Roi Corrói encher a pança. Criativo, não?


A segunda fase se passa do velho-oeste, sendo a primeira parte da fase numa cidade tipica de westerns e a segunda parte em uma locomotiva. O diferencial aqui é que a tela vai avançando e o chão desabando, então você tem que usar muito bem suas habilidades de dash para não cair. Essa fase não tem um chefe, mas ao chegar ao fim da locomotiva Perninha e Valentino Troca-tapa (os nomes brasileiros são muito mais legais que os originais, isso tem que ser dito) precisam usar um carrinho de mina para atingir 88 milhas por hora e não serem atropelados pelo trem. Entendedores entenderão.



A terceira fase é a tradicional fase em uma mansão mal assombrada, ao ponto que os personagens fazem piada como cliché no começo da fase. A mecanica diferencial aqui é que a fase usa muito um sistema de alavancas e pesos para avançar.


A quarta fase é a mais criativa do jogo: é uma partida de futebol americano transformada em estágio. Você tem a opção de avançar com a bola ou receber um passe, e sair pulando e escorregando pelos adversários. O lance é que não existe energia aqui: como no futebol americano você tem quatro tentativas para avançar 20 jardas com a bola, sendo renovadas até você marcar um touchdown.


Quinta fase, e outra ideia completamente diferente de todo resto tentada aqui: agora o objetivo da fase é subir para cima sendo que para isso você usa exclusivamente plataformas temporárias que desaparecem como bolhas de sabão ou o avião do Presuntinho.



A última fase é inspirada em Star Wars (lembra de quando Star Wars era uma coisa meio obscura/meio legal?). Não tem nada de realmente revolucionário aqui, talvez exceto por se esconder dos disparos dos cruzadores imperiais atrás destes... destes... hm, quase trinta anos e eu nunca entendi realmente o que são essas coisas de metal ou qual o seu propósito.

Ainda sim, eu acredito que posso dar um desconto para a produção do jogo por não inventar nada mirabolante na ÚLTIMA FASE DO JOGO.  Quer dizer, a maior parte dos jogos não tem a variedade de gameplay que Tiny Toon tem em duas fases, então não é como se eles estivessem devendo nada a ninguém a esse ponto.

Tiny Toon: Buster Busts Loose é um jogo de plataforma fenomenal. Os controles respondem bem, ele sempre está tentando coisas novas, a trilha sonora é uma adaptação muito boa em 16 bits das músicas do cartoon e os gráficos excelentes. Alias esse jogo não é apenas ótimo, foi o jogo que fez eu me apaixonar pelo Super Nintendo.

Como praticamente todas as crianças da época, eu adorava Tiny Toon (embora não entendesse todas as piadas, como eu só vim a descobrir anos mais tarde) e não é porque eu tinha um crush pela Fifi nem nada...


MEU DEUS HOMEM, EXISTE ALGUMA FURRIE DOS ANOS 90 QUE VOCÊ NÃO SE APAIXONOU?

Você não faz a mais remota ideia do quão solitários os garotos são... CAHAM... prosseguindo... mas enfim, ver uma rendição tão boa de um dos meus desenhos favoritos no Super Nintendo, com um gimmick tão agradavel quanto a habilidade de escalar paredes com o dash (ainda hoje eu tenho um fraco por jogos de plataforma que tem um diferencial de mobilidade) foi o que realmente me disse que o futuro havia chegado.

Foi o melhor dos tempos.
Foi o pior dos tempos.