quinta-feira, 5 de março de 2020

[AÇÃO GAMES 042] SAMURAI SHODOWN (ou Samurai Spirits, no Japão) [#329]

 


1788 foi um ano muito especial porque o parlamento britanico aprovou a abolição da escravidão. Yay, rejubilaivos homens de boa vontade! Todos celebram este momento de decencia coletiva na raça humana, exceto no Japão onde as preocupações eram outras: estava rolando o CONFRONTO DE SAMURAIS, afinal!

Prioridades, huh?

Em 1993 a SNK lança sua quarta franquia de jogos de luta (se juntando Art of Fighting, FATAL FURY: The King of Fighters  e World Heroes), porque se você lançar jogos de luta por atacado uma hora a coisa vai! Bem, nenhum jogo da SNK realmente foi tão popular quanto Street Fighter ou Mortal Kombat... então acho que não foi.

Seja como for, fourth is the charm, right?




Como dito na introdução, Samurai Showdown se passa no Japão no ano de 1788, e o jogo mistura alguns personagens reais da história japonesa com outros fictícios. Tipo um World Heroes, só que focado no Japão.

Porém a história começa uma decada antes disso, nos dias do primeiro imperador do Japão, o shogun Tokugawa. Tokugawa unificou os feudos do Japão, efetivamente o transformando em um país e suponho que você pode imaginar que ele não fez isso pedido por favor e ajudando velhinhas a ajudar a rua.

Uma das coisas que Tokugawa fincou o pé para formar o que hoje conhecemos como Japão foi unificar o país em uma única religião oficial - não diferente do que o Império Romano fez alguns séculos antes quando adotou o cristianismo. E com metodos não muito diferentes também, as pessoas foram sutilmente convencidas a adotar a religião oficial do governo - o xintoísmo - sob pena de serem convidadas a se retirarem. Da vida.

Não tem muito haver, mas eu me dei conta que nunca tinha visto de uma igreja católica japonesa. Agora eu vi.

Na época o Japão tinha um bom comércio maritimo com Portugal (uma daquelas potencias daquele tempo), da onde vinha bastante influencia cristã. Tokugawa então decidiu acabar com essa putaria e fechou os portos do Japão, além de decretar ser cristão como crime. Obviamente muitos cristãos japoneses ficaram pouco contentes com essa decisões e tentaram uma revolta contra o governo, sendo o principal deles Amakusa Shirou.

Aos 17 anos, Shirou liderou uma rebelião pelo direito de chutar a bunda do Imperador e poder hostea com geleia. O que terminou tão bem quanto a descrição soa. Shirou conseguiu conquistar apenas a glória de ser um martir cristão, se isso lhe serve de alguma coisa. Suponho que não.

Amakusa Shirou, o homem, a lenda, o mito

Bem, até aqui essa é a história real do Japão. Agora é onde começa a ficção do jogo: após morrer, Amakusa não levou muito na boa o fato que Jesus não desceu com uma metralhadora em cada braço para ajudar na sua crusada e ficou boladaço. Jesus maior furão, cara. Amakusa ficou tão bolado, de fato, que depois de cem anos da sua morte ele fez um pacto com um demonio para voltar a Terra e tocar terror na porra toda como emissário do Capeta.               

A vinda do anticristo Amakusa causa pragas, fenômenos metereológicos estranhos, repetidos surtos de doenças e guerra em toda parte. Embora não se possa eliminar a possibilidade de apenas ser o normal em 1788, era uma época que a vida valia muito pouco realmente.

Amakusa como vilão do jogo

Seja como for, Shiro Tokisada Amakusa surge como messias do capeta, e como tal guerreiros se surgem para se opor a sua tirania capetidica. Esses guerreiros estimulados por diferentes motivos e crenças convergem como se estivessem reunidos... mas antes de enfrentar o Capetoso Jr, primeiro eles lutam entre si just because. 

Não, sério, não tem motivo nenhum, apenas porque sim e foda-se. Show de bola SNK, to vendo que vocês colocaram esforço aí heim...

HAOHMARU


Quando a SNK decidiu que queria porque queria fazer um sucesso como Street Fighter 2, eles não estavam brincando: o protagonista de Samurai Showdown é basicamente o Ryu cabeludo. Quer dizer, ele literalmente um andarilho de kimono branco cujo unico proposito na vida é andar por aí para encontrar alguém mais forte para lutar.

Quando ele ficou sabendo que o Tinhoso estava voltando, foi de encontro ao mochila-de-criança na esperança de ter um desafio a altura. 


Após despachar o coisa-ruim, Haohboy não parece muito impressionado realmente. Meh, já vi piores. entretanto a vitória sobre o mal não vem sem um pesado preço para nosso herói! Uma novinha surge misteriosamente, querendo aproveitar o momento de paz para amarrar o nó com Haohmaru.

Mas um homem que despachou o anticristo nada teme!


Assim, Haohmaru pica a mula e deixa a cremosa lamentando uma lamina samurai que ele jamais sentirá. Mas o que estará fazendo nosso herói com sua recem adequirida liberdade? Por onde anda? O que almeja?


Bem, de alguma forma ele acabou lutando a Mai Shiranui que não apenas possui magumbos deveras mais portentosos do que sua prometida Izui, mas também nasceu 200 anos depois. Tell me about lolis... E como ele sobreviveu até meados dos anos 80 em forma é algo que jamais saberemos, suponho que ratos de rua são mais nutritivos do que se dá o valor.

UKYO TACHIBANA


Bem, suponho que essas fanfics yaoi não vão se escrever sozinhas, vão? Em 1993 a SNK já havia percebido que havia um nicho de público que totalmente usaria personagens masculinos bonitões de traços delicados. Visionários esses caras, eu te digo.

Adicione a isso uma história trágica e badabim, calcinhas molhadas por onde passa. No caso, Ukyo tem tuberculose - o que, em 1788, praticamente significa que você pegou Corona Zyka Ebola Vírus. GG, amigo.

De qualquer forma, antes do fim inevitavel Ukyo sofre em silencio enquanto procura a flor perfeita para dar a sua amada (que nunca é nomeada, para as fãs poderem se projetar e os fanfics comerem solto). E decidiu ajudar Haohmaru a chutar a bunda do anticristo, porque você sabe, acho que isso afetaria bastante as flores e a sua amada também.


Após derrotar o mal encarnado, Ukyo é saudado por uma legião de fangirls com gritinhos histéricos. Mas muito cool, ele não se importa com isso. Com efeito, Ukyo, o descoladão, tem apenas um objetivo na vida:


Classy. Alias, essa não é a mesma que queria a giromba do Haohmaru no outro final? O que é isso, uma Maria-anti-anticristo que tem uma coisa por samurais? É uma tara MUITO especifica, eu diria...

GALFORD WEILER


O pai de Galford era uma xerife no velho oeste, que morreu como um xerife do velho oeste americano: levando chumbo. Depois de ter testemunhado esta cena, Galford se tornou um gringo obsecado com justiça e assim... se tornou marinheiro. Que?

Bem, seja como for, o marinheiro Galford acabou viajando para o Japão e lá conheceu nativos que lhes ensinaram a ser um ninja. E como a SNK percebeu que essa história não estava indo a lugar nenhum, deram um doguinho (chamado Poppy) pra ele nas lutas. O que faz dele o melhor personagem do jogo.


Sendo um paladino americano da justiça, Galford e Poppy derrotam Amakusa e assim encerram o ciclo de maldade e caos. Assim, ele destrói a essencia maligna de Amakusa e...


E o liberta do jugo do capeta. O que é legal, mas falta alguma coisa para esse final, sabe? Ok, o vilão foi redimido e tal, mas eu não me sinto emocionalmente preenchido, sabe. Podia ter algo mais...


PUPPIES ROLANDO! MELHOR PERSONAGE, MELHOR ENDING DA HISTÓRIA DOS VIDEOGAMES!!!

HATTORI HANZO




Quando Amakusa voltou do inferno, ele precisava possuir um corpo para isso. E calhou justamente de ser o corpo de Hattori Amakusa, filho de um dos ninjas mais famosos da história do Japão e fabricante de espadas que cortariam até Deus. Os Hattori eram os ninjas que guardavam o castelo Tokugawa, então eu diria que não foi a  melhor escolha para ser vessel do tinhoso.

Hanzo não está muito preocupado com o apocalipse, ele só quer chutar o capeta pra fora do corpo do seu filho possuído. O que é uma motivação bastante razoavel para um jogo de luta dos anos 90, tenho que dizer...


No fim, o coisa-ruim é derrotado mas Hanzo não consegue salvar a vida do seu filho. Desolado, ele decide adotar a honrada saída ninja e se juntar ao seu filho através de um sabaku.


Entretanto seus discípulos surgem e imploram que ele não se sabaqueie. Após um drama brega dos anos 90, Hanzo decide que ainda tem pelo que viver. Assim, ele decide continuar neste mundo treinando uma nova geração de ninjas e espadas que matarão o Bill.


Sabe, isso estranhamente até lembra um arco de personagem... realmente inesperado para um arcade dos anos 90...

NAKORURU


Nakoruru é a loli do jogo uma ainu, mais ou menos o equivalente japonês dos esquimós - um povo do norte do Japão de pouco desenvolvimento tecnologico e que vive uma vida bastante focada em tradição e ligação com a natureza. Os japoneses da ilha principal que forma o Japão consideram os ainu grossos, burros e preguiçosos (não muito diferente de como os Estados Unidos pensam dos estados do sul, ou o que os brasileiros pensam do nordeste), então é bem raro ver uma ainu em um jogo que não seja uma paródia racista.

Tendo uma grande ligação com a natureza, ela recebeu um chamado druídico para impedir que o tretoso destrua o mundo. Ela e seu fiel companheiro, a águia Mamahaha. Esse jogo tem os melhores nomes de pets, tenho que dizer.


Depois de salvar o mundo, Nakoruru volta para sua vila e vive feliz para sempre. Não é o final mais complexo do mundo, mas tem doguinhos lambendo uma loli então pra mim tá mais que bom... não, espera, isso saiu errado...

CHARLOTTE CHRISTINE COLDE


A SNK tem uma coisa pela Joanna D'Arc, não? É a segunda personagem inspirada na francesa histórica, só que aqui ela não é um louca só querendo um macho para casar. Pelo contrário, é até mais fiel a história: Charlotte é uma patriota devota que teve uma inspiração divina (diz ela) que ela deveria lutar para salvar a França.

Só que nesse caso ela literalmente teve que lutar contra o cramuião. Deus escreve certo por francesas tortas, é o que diz o ditado.


Ao derrotar Amakusa, Charlotte não tem tempo para comemorar. Ela recebe um pombo correio - alias um puta pombão da porra que voou até o Japão, tá louco! Mas qual mensagem será tão importante para que uma ave percorra essa distancia fisicamente impossível a sua espécie?


SACREBLÉU! Lidere as proles com sua corridinha de Fortnite, mulher!


TAM TAM


O demonio Ambrosia (sim, um demonio sobremesa) está usando Amakusa para destruir o mundo. Porém Amakusa não pode fazer isso apenas com o ódio do seu coração negro abandonado por Jesus, ele precisa de poder real para isso. E é aí que entra a "Palenke Stone", o artefato que está causando os fenomenos metereológicos capetídicos manifestados por Amakusa. É a pedra que aparece em todos os finais.

Esse artefato não saiu da bunda do cramuião, entretanto: ela foi roubada de uma tribo maia na América do Sul. E obviamente a tribo mandou seu melhor guerreiro para recuperar a pedra do apocalipse. Possuido pela máscara e por abs ripados, Tam Tam tem que enfrentar o bullying que o nome lhe causa e resgatar a honra de seu povo!


De volta a sua tribo com a pedra, Tam Tam a oferece a Quetzacoatl e assim restaura a saúde e felicidade de seu povo.


Tendo cumprido sua missão, Tam Tam pode finalmente retirar sua máscara sagrada de combate e viver uma vida pacifica.


AH PÕE DE VOLTA! PÕE A MASCARA DE VOLTA!

WAN FU


Wan Fu é o personagem menos inspirado de Samurai Showdown, é basicamente um general chinês  da dinastía Qing que ouviu falar que tava rolando uma treta no Japão e foi lá recrutar guerreiros fortes para o seu exército. Meh, já vi melhores.

Nunca conheci ninguém que tenha o gordão da cimitarra como seu personagem favorito, e eu não posso culpa-los por isso. Após derrotar Amakusa, Wan Fu chegou a conclusão que não encontrou nenhum guerreiro digno e volta para casa de mãos vazias.

Bem a tempo, porque o Império está sendo invadido!


Gordo só se fode nessa porra mesmo.

FUN FACT: esse final não é aleatório, é uma referencia a batalha de Ngọc Hồi-Đống Đa quando o Vietnam invadiu a China em 1788 e inacreditavelmente teve sucesso invadindo um país trocentas vezes maior e mais poderoso. Ainda hoje os guerreiros que venceram essa batalha são laureados como heróis nacionais no Vietnam, tendo cidades e feriados em sua homenagem.

KYOSHIRO SENRYO


Kyoshiro é o segundo ator de Kabuki mais famoso de Edo (antigo nome de Tóquio). Sua kabukagem é superada apenas pelo maior ator kabuki de todos os tempos: o seu pai. Em sua busca para ultrapassar a fama de seu pai, ele viaja pelo Japão procurando oportunidades de aprimorar suas habilidades e sua fama.

E, hey, o que pode tornar alguém mais famoso do que ser o cara que impediu o apocalipse?


Assim, tão logo Kyoshiro derrota Amakusa ele imediatamente aproveita seu status de celebridade como salvador do mundo para divulgar sua arte na praia.

GEN-AN SHIRANUI


Desde tempos imemoriais, o clã Shiranui é conhecido por seus negócios macabros com demonios - tanto que os membros do clã se tornaram monstruosos e deformados pela devilidade em suas vidas. Por isso quando Gen-An soube que tinha outro demonio querendo ser mais demonião que a demonagem, ele teve que tomar medidas a respeito disso.

Só pode haver um capeta nessa porra e este capeta será ele!


Após derrotar o mal supremo, Gen-an rejeita seu último traço de humanidade e parte em uma jornada para se tornar ele próprio o maior capiroto que jamais existiu - causando morte e destruição por onde passa, matando todos que pode encontrar em seu caminho.

Essa jornada de corrupção e morte só pode ter um desfecho, entretanto:


Em uma caverna escura, Gen-an encontra o destino que ele indiretamente procurou. Ele tem uma morte sem sentido nas mãose de uma ninja da justiça em uma cavena imunda, não se antes se arrepender da vida que ele deixou para trás.


Mas agora é tarde.

EARTHQUAKE


Earthquake é um americano que tem uma história bem parecida com a de Galford, tanto que treinou junto com ele porque em algum lugar tem um japonês por fetiches de treinar americanos ou sei lá o  que. A diferença é que Earthquake decidiu não usar o seu ninjutsu para a justiça, e sim se tornar um bandido ninja.

Com efeito, lhe ocorreu que não haveriam tesouros maiores a serem roubados do que com o próprio emissário do belzebu? Sabe, essa ideia não parece faze tanto sentido assim quando você diz ela em voz alta. Parece uma ideia bem ruim, na verdade...


... oras, o que eu sei da vida?

JUBEI YAGIU 


Durante a era feudal japonesa, samurais eram algo que como o cavaleiro (no sentido de código de cavalaria, embora eles cavalgassem também) pessoal do senhor feudal (daimyo). Eram os únicos autorizados a portarem espadas dentro do feudo, e era basicamente a única forma que um pobre poderia ter alguma posição social.

Porém com a unificação do Japão e a adoção de estruturas mais modernas de segurança (policia, exercito), os samurais perderam a sua função de ser. Muitos se tornaram professores, artistas ou burocratas. Mas muitos apenas ficaram sem ter o que fazer, caindo na miséria e na bebida. Esse é o caso de Jubei - esse personagem é baseado em uma figura histórica japonesa de mesmo nome.

Outrora um samurai orgulhoso, Jubei agora vive fazendo bicos por alguns trocados. E o governo tem um trabalho que necessita das suas habilidades: lutar contra o demonio. Bem, aquele saquê não vai se pagar sozinho, então...


Quanto ao final dele, bem, se você entendeu alguma coisa então você é melhor em encontrar lógica em jogos de luta do que eu. O que não é uma skill tão útil quanto você poderia imaginar, eu te garanto

Enfim, esse foi Samurai Shodown (conhecido como Samurai Spirits no Japão). Cada lutador utiliza seu próprio estilo de jogo distinto, alguns dos quais comparáveis ​​a outros personagens de jogos de luta que já vimos, mas os designs de Samurai Shodown são bastabte únicos (e cheios de personalidade).


Samurai Shodown também é responsável por introduzir o indicador "Rage" (ou indicador "POW") no gênero de jogos de luta (que acabou aparecendo em vários outros jogos de luta, anos depois). Basicamente, quanto mais dano o seu personagem receber, mais dano ele poderá causar (por um tempo limitado). Algum tempo mais tarde o sistema de rage foi utilizado para implementar ataques especiais, mas aqui foi a primeira vez que tiveram a ideia de uma barrinha que enche conforme você apanha.



Por mais colorido e cartunesco quanto Samurai Shodown possa parecer, Samurai Shodown orgulhosamente apresenta "mortes" no final dos duelos. As mortes parecem aleatórias e não acontecem todas as vezes, mas se você vencer com o ataque certo (que eu não entendi qual é), seu oponente será cortado pela metade ou sofrerá uma ferida fatal e cairá no chão depois que uma grande quantidade de sangue espirrar. Só que diferente de Mortal Kombat, as fatalidades no final da luta são elegantes, feitas com bom gosto e acrescentam um toque extra na sensação de estar jogando um filme de samurais.

Eu gosto bastante que a SNK focou em um tema aqui, sendo todos personagens de uma época e relacionados de alguma forma com o plot principal do jogo. Isso dá carisma e personalidade, e jogos de luta são sobre 90% carisma e personalidade afinal.

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