segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

[SUPER NINTENDO] BEBE'S KIDS (Abril de 1994) [#591]



Atingindo hoje a nobre marca de 580 jogos resenhados nesse blog, tenho que dizer que eu não esperava ser surpreendido com o jogo licenciado mais improvavel que eu já vi na minha vida. Quer dizer, a essa altura eu já vi jogos baseados em quadrinhos, brinquedos, filmes, séries e até mascotes de produtos alimentícios. Dentre esses, de longe, o mais estranho que eu recordo é THE INCREDIBLE CRASH DUMMIES porque é uma campanha de segurança no transito que virou brinquedo e daí virou jogo.

Aí então surge esse jogo aqui, Bebe's Kids, que inacreditavelmente consegue lhe tirar o posto de jogo licenciado mais WTF ever. Isso porque eu entendo os mascotes da campanha virarem brinquedos e depois jogo, mas Bebe's Kids nem isso tem já que estamos falando... de uma apresentação Stand Up. Sem mentira, é um jogo baseado em uma performance do comediante Robin Harris.

Na apresentação, Robin Harris conta a história que sua nova namorada sempre estava tomando conta dos filhos da amiga (a tal da Bebe) e levava eles a todos os encontros que eles tinham - e que os moleques eram o capeta encarnado na Terra.


Naquela época estavam na moda filmes de "crianças capetas aprontando todas", como "O Pestinha" e "Denis, o Pimentinha", de modo que a Paramount Pictures entendeu que havia uma oportunidade aí de fazer um desses filmes de crianças aprontando todas só que com o elenco todo negro. Eu consigo entender esse raciocinio e vejo isso funcionando realmente... na teoria.

Na prática, houve um impedimento ao projeto: Robin Harris morreu de um ataque cardiaco enquanto o filme estava em pré-produção e contar com a apariçaõ de um comediante de prestigio junto a comunidade negra americana era algo que a Paramount contava para executar esse filme. Ao invés de pegar o stand up que era 100% identificado com o falecido e dar para outro comediante fazer, o que inevitavelmente soaria estranho, a Paramount decidiu ir por outro caminho: transformar o projeto em uma animação. 

E como o trailer deixa bem claro... it's animation!


Eu acho preocupante quando o próprio trailer do filme não acha um adjetivo para descrever o filme além de "it's animation!". Mas enfim, verdade seja dita a ideia não é a pior do mundo. Pra começar, o estilo da animação é bastante único e nessa época era muito raro ver um longa de animação que não seja da Disney.

A outra coisa relevante a esse filme é que é a primeira animação que eu lembro de ter visto com um elenco exclusivamente negro, e honestamente a única que eu lembro - exceto talvez por A Princesa e o Sapo, mas não tenho inteiramente certeza a respeito dele e eu não gosto desse filme o bastante pra pesquisar. Até porque é inaceitavel que um filme que se passa na Lousiana nos anos 30 com protagonistas negros não ter boas músicas, quer dizer, sério?


Seja como for, não tem nada fundamentalmente errado com a premissa do filme... embora o mesmo não possa ser dito da sua execução. Para começar o problema é que o plot do filme... não existe um realmente. O cara lá tá tentando impressionar a mina que ele "conheceu" (mais para assediou até ela dizer "tá bom, que seja") num velório decide levar ela e os "Bebe's Kids" que ela esta cuidando no equivalente genérico da Disneylandia... e é isso.

As crianças aprontam altas confusões, a segurança do parque tenta pega-los porque não quer que ninguem se divirta no parque então temos muita perseguição, correria, muitos numeros de rap just because e... é isso. Isso poderia funcionar num cartoon de 5 minutos e olhe lá, em um filme de uma hora e meia... nem a pau juvenau.

Mas embora o "plot" do filme seja patético, esse nem de perto é o maior problema do filme - essa glória inglória sendo dedicada aos personagens. 



Os três "Bebe's kids" não são apenas crianças malcriadas que "aprontam todas", eles são uma hora e meia de comercial de preservativos mostrando porque ter filhos é uma péssima, péssima ideia. Eles são um compilado de todos os estereotipos negativos sobre negros que você já ouviu na vida fundidos em três crianças, se me disserem que esse filme foi escrito por qualquer um que não um redneck abraçado em uma bandeira da guerra civil eu terei grandes dificuldades em acreditar.

Sabe, na comédia existe uma linha tenue entre o seu protagonista fazer a vida de todo mundo inferno porque ele é espertão (como o Pernalonga ou o Pica-Pau) e ele ser um completo babaca que faz por merecer todo e cada tabefe que tomar e esse filme afunda com os dois pés na segunda opção.

A única coisa que consegue ser pior que as crianças capetas desse filme são os adultos. Nosso protagonista é uma pessoa horrível que dá conselhos terrveis para as crianças o tempo todo, só se meteu nessa porque achou a moça lá gostosa pra caralho e finge que é algo mais profundo que isso, e o tempo todo age da forma mais escrota possível - tipo o final do filme é uma corrida pra ele abandonar as crianças no parque enquanto ele fecha.



Isso não é uma metafora ou uma gag, nosso herói queria abandonar crianças na Disneylandia e ir pra casa. É desse nível de escrotidão pra baixo, e não fosse esse cara ruim o suficiente ainda tem como antagonista a ex-esposa dele que quer melar o seu date das formas mais baixas e barraqueiras possível. Eu juro que consigo imaginar o roteirista redneck dizendo "fazer o que, é o que pretos fazem" enquanto ajeita seu boné de "Make America Great Again".

Puta merda... adicione isso a números de rap aleatórios sem talento nenhum a cada duas cenas e temos um filme... que realmente não faz falta. Mas hey, se o filme é sofrível pelo menos o consolo é que não tem como o jogo ser pior, certo? Quer dizer, não é possível descer mais que isso... certo? Certo?

Pois é...


Logo de cara, o jogo começa mostrando que não está pra brincadeira com sua música repetitiva e terrível. As "músicas" de Bebe’s Kids são loops de 3 a 9 segundos repetidos ad infinitum. Espero que você goste do hip-hop MIDI ruim repetido até a insanidade, porque é tudo o que está disponível. E a parte engraçada é que a música é talvez a coisa menos ofensiva nessa bagunça, ao menos desligar o volume é algo simples de fazer - algo que você não pode fazer com a jogabilidade. Infelizmente. 

Após a tela de título você pode escolher com qual idiota você quer jogar, Lashawn ou Kahlil. Isso importa muito pouco, já que a única coisa que os diferencia é ... nada realmente. É apenas uma escolha visual. Depois de escolher um, então se prepare porque você é jogado em um dos piores beat'm ups já concebidos pelo homem - no Super Nintendo, de longe o pior.

NO Vibes, NO beVis! (sim, eles reaproveitaram o V maiusculo pra não ter que fazer um novo)

O que faz desse beat'm up tão ruim? Bem, vamos começar que seu ataque básico leva exatos TRINTA E CINCO hits para derrotar um inimigo comum. Não um chefe, não um subchefe, não ninguem especial. TODO e CADA inimigo do jogo precisa de TRINTA E CINCO golpes paramorrer. Sem mentira, o tempo da fase acaba antes, não é um exagero isso!

Eu nunca vi um negócio desses na minha vida!

MAS NÃO TEM UM JEITO MAIS RÁPIDO DE MATAR OS INIMIGOS?

Então, tem um ataque mais forte. Você pode dar um uppercut... apertando L+Y. Puta merda, pra que isso? Pra que colocar o ataque forte em L+Y?!? Não é como se faltassem botões no controle do Super Nintendo, caralho!



... seja como for, apertando... L+Y... seu uppercut mata os inimigos em três hits. A pegadinha é que esse ataque não tem alcance nenhum, então a forma de lutar em um beat'm é encostando nos inimigos e apertando L+Y. Uau, se isso não é uma receita de excremencia em forma de jogo, eu não sei mais o que seria. 

É repetitivo? Sim. Isto é chato? Sim. É contraintuitivo e desconfortavel? Totalmente. Mas novamente, muitos jogos são repetitivos. enfadonhos e desconfortaveis de se jogar. Se você quer ser um dos piores jogos já feitos em todos os tempos é preciso ir além. E de alguma forma que eu não julgava possível, Bebe's Kids vai além. 


Portanto, considere o fato de que o ritmo dos filhos de Bebe está entre os mais lentos de qualquer jogo já ousou faze-lo. Fucking LEGEND parece que está doido de crack em comparação. Os personagens se movem lentamente e esse jogo é uma tarefa agonizante apenas atravessa-los pela tela. 

O que não tem nenhuma justificativa senão o jogo ser mal programado, já que os gráficos não impressionam e geralmente tem menos de três personagens na tela a qualquer momento. Ah, e quando esses três personagens ESTÃO na tela ao mesmo tempo, seu jogo se transforma em um slideshow. Combine isso com o combate hediondo e a detecção de golpes criminosa e você terá algo impossível impossível de jogar em suas mãos.



E tem um timer filho da puta! Isso significa que o verdadeiro vilão nesta história é o próprio tempo, já que os inimigos mencionados demoram muito para matar e sua velocidade de caminhada é equivalente a de um caracol tetraplégico. E se você ficar sem tempo é começo da fase de novo. 

Tudo isso se junta em um combo de sofrimento e miséria na terceira fase que é um FUCKING LABIRINTO! Claro que sim! Pegue personagens ultra lentos com ataques ridiculamente ineficientes, você pensaria que a última coisa que alguém faria é colocar o jogador em um labirinto com a maior quantidade de inimigos do jogo! 

Mas estamos lidando com niveis profissionais de ruindade aqui que está focado em ser o pior jogo da era 16 bits, então por que não, né? Então aqui estou eu, preso em um labirinto que espera que eu lute contra a programação lenta, os controles terríveis e a detecção de hits terríveis EM UM LIMITE DE TEMPO! Normalmente é aqui que a maioria dos jogadores termina sua brincadeira no inferno, mas seu revisor belo e justo deve seguir em frente!



A boa notícia é que a partir deste ponto no jogo decide ir "foda-se isso de variedades de níveis diferentes" e vai para um estilo de beat-em-up tradicional, ir da esquerda pra direita. Graças a Deus. Quero dizer, esses níveis são atrozes, mas eu não acho que aguentaria outra fase labirinto. A noticia ruim é que o jogo tem bem mais chefes a partir daí.

Então... também tem que ser mencionado que os chefes são quase imbatíveis pelos mesmos motivos listados acima. Impossíveis de esquivar e difíceis de acertar sem sofrer danos, eles fazem você desejar mais minigames de chutar vidro caindo como na segunda fase, o que já é bem ruim.


A jogabilidade é terrível, os chefes são impossíveis, os controles são lentos, e o melhor ataque é aquele que você precisa segurar o botão L para ativar o tempo todo. E perder uma vida não recomeça de onde vc está, como em qualquer beat'm up decente, claro que não! Voltar pro início porque foda-se você, apenas por isso. 

Os gráficos são feios. Seria perdoável se fosse um dos primeiros lançamentos na biblioteca do SNES, mas isso foi em 1994, quando o console estava sendo levado ao seu limite. Parece um jogo NES um pouco mais polido. O som é para ser desligado.



No geral, esse jogo chega muito perto de ser o pior jogo SNES já feito. Verdade, não está tão quebrado ou impossível de jogar quanto o PIT FIGHTER, mas não é por falta de tentativa. Pro inferno com esse jogo! 

Evite esse jogo como se sua vida dependesse disso. Felizmente eu finalmente terminei com os filhos da Bebe para nunca mais tocar nesse assunto pelo resto da minha vida - e essa é a melhor parte disso tudo. Eu não me importo com o que virá a seguir, não tem como ser pior que isso.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 005