A antiga formula Disney de fazer animações incluia um elemento tão recorrente, mas tão recorrente que você via ele em obras abissalmente diferentes desde Mulan até O Corcunda de Notre Dame. Esse elemento é o sidekick (frequentemente irritante) com piadocas que as crianças amam pq eles são coloridos ou fazem sons de peido, e os adultos só gostam deles porque são dublados por pessoas como Robin Williams e Eddie Murphy. Você sabe como é, os Minions não inventaram isso.
E no caso de THE LION KING, o maior sucesso de uma animação na decada, os sidekicks engraçadalhos viriam a ser Timão e Pumba, obviamente. Por isso quando chegou a hora de ordenhar essa franquia como se não houvesse amanhã, a Disney teve uma ideia diferente.
Eis o que aconteceu: usualmente um grande sucesso do cinema ganhava uma continuação para DVD... menos inspirada, vamos dizer assim... e permanecendo o sucesso ganhava uma série de TV que usualmente caia na vala do "ok, whatever, não é bom mas também não é ruim".
DISNEY'S ALADDIN e DISNEY'S HERCULES são bons exemplos disso que ganharam séries inofensivas que tinham a principal função de existir, porém para o caso especifico de THE LION KING quem ganhou a série de TV não foi o protagonista e sim os seus sidekicks engraçadalhos.
Agora, vc pode imaginar a essa altura que eu tenho algo a dizer a respeito desse desenho, certo? Afinal depois de tantos anos resenhando coisas não deve ser dificil colocar algumas linhas para explicar como esse desenho é mais do que um executivo dizendo "faz qualquer merda ae com Timão e Pumbaa pra encher horário que as crianças assistem"... exceto que é incrivelmente dificil sim.
Eu quero dizer, eu realmente pensei muito e bastante em algo pra dizer sobre esse desenho... e num deu, véi. Ele é literalmente apenas executivos dizendo "faz qualquer merda ae com Timão e Pumbaa pra encher horário que as crianças assistem", e não tem muito mais sobre esse cartoon além disso.
Se eu me esforçar muito eu posso dizer que é uma tentativa da Disney de fazer um THE REN & STIMPY SHOW family friendly... e se você faz alguma ideia do que essas palavras significam sabem que não tem como isso possivelmente dar certo. Você pega um desenho que tem uma tecla só (que é ser ofensivo e nojento), e tenta fazer isso sem realmente fazer a única coisa que ele tem. Baita receita do sucesso, hã?
Mas bem, pelo menos a Disney colocou esforço o suficiente pro desenho não ser terrível. Não é sequer perto de ser bom, mas não é péssimo tb. Muito do desenho de T&P é basicamente eles reencenando quase todos os clichês de desenhos animados que existem no livro, e adiciona nada em cima disso - praticamente não utiliza as personalidades deles de forma levemente interessante. Timão é apenas um Patolino mais cínico e Pumba é apenas o gordo peidorreiro.
Na verdade se você substituir o Timão e o Pumba por qualquer outro personagem da Hanna Barbera ou da Warner, precisaria mexer bem pouco nos episódios. Se existisse naquela época, eu arriscaria até dizer que os episódios são escritos pelo ChatGPT de tão cartoon genérico que... espera, isso me deu uma ideia!
Hã, o chatGPT na verdade escreveu um roteiro melhor do que os episódios de Timão e Pumba, então yay Skynet, eu acho?
Seja como for, eu não posso dizer que não é fora de proposito que uma série feita sem nenhum objetivo artistico maior de "ah, faz pra existir, tá mais que bom" tenha um jogo licenciado melhor do que "ah, faz pra existir, tá mais que bom".
T&P:JG é composto por quatro minijogos (cinco no PC), todos acessíveis a partir de um menu principal interativo. Não é algo que se diga "minha nooooossa é um MARIO PAINT", mas pelo menos vc tem algumas animações pra descobrir clicando em coisas da tela e elas são suficientemente bem animadas.
O quinto jogo, Bug Drop, foi perdido na tradução do PC para o console, mas era essencialmente mais uma versão de PUYO PUYO - o que faria deste o melhor minigame do jogo, já que PUYO PUYO é um puzzle sólido, mesmo que já tendo sido lançado a exaustão. E embora alguns dos outros minigames possam ser curiosos por um instante ou dois, nenhum deles remotamente justifica a existencia desse jogo enquanto videogame.
Ok, o primeiro jogo disponível é o Burper, que é essencialmente SPACE INVADERS versão escatológica. Sério, é uma espécie de clone do Space Invaders, exceto que você é Pumba e coisas caem do céu para bater na sua cabeça. Para evitar isso, você dispara catarro nas coisas que caem. Classudo esse jogo, eu te digo.
Suas outras armas incluem bater em insetos com o rabo ou pode liberar a arma mais poderosa de todas - o todo-poderoso arroto, que é representado por uma nuvem de gás verde tóxico mortal. Quando você arrota, todas as coisas que chegam são destruídas. Eu já disse que esse jogo é sobre classe?
O problema é que os controles ficam caóticos bem rápidos e definitivamente as coisas caem mais rápido do que seu personagem lentamente responde. Chega ao ponto em que as coisas estão caindo na sua cabeça mais rápido do que você pode atirar, e os insetos estão mordendo sua bunda porque você não pode acertá-los rápido o suficiente porque está muito ocupado tentando impedir que aquela maldita pia bata em você... e vc morre.
Ainda sim, por ser o clone de um jogo sólido - ainda que mais antigo que o Doutor Chapatin - é um dos menos piores do grupo. Isso é mais pela baixa qualidade dos outros que mérito desse, mas enfim.
Jungle Pinball é um dos piores pinballs, alias o pior que eu já vi na vida, algo que eu sequer imaginava ser possível. Afinal, como você consegue errar uma pinboleta? Bem, eles conseguiram.
A questão é que a tela está tão cheia de obstáculos e bumpers que em 90% dos casos a bola vai cair na canaleta lateral e não tem nada que você possa fazer a respeito. Com efeito, não é raro bola ser lançada e cair na canaleta lateral antes que você possa sequer tocar nela. É raro, mas acontece muito. Sério, aqui se você conseguir 1.000 pontos após três bolas, você foi bem pra caramba.
Agora, eu entendo que este jogo é para crianças, mas mesmo as crianças pequenas – caramba, especialmente crianças pequenas – gostam de ... sei lá, ao menos jogar o jogo? E ter numeros altos de pontos? Eu não sou o maior fã de pinbais do mundo, mas esse aqui é a versão pobre da mesa de pior design que eu já ever. Parabéns a todos os envolvidos.
Sling Shooter é, pouco surpreendentemente, um galery shooter. O que é surpreendente, entretanto, é que os controles são de facto bons - você usa o d-pad para apontar a mira para as coisas e depois usa A para atirar. Os alvos também são criativos - de máscaras de papel machê do Timão ou das hienas a um Pumba skatista. Esse minigame é o mais perto que parece que alguém chegou de se divertir fazendo o jogo.
Meu principal problema aqui, então, é com a música. Em vez das melodias da selva dos outros três jogos, aqui temos uma espécie de ... música jazzística de lounge bar, sério, eu me imaginei muito mais pedindo um uísque e pensando na morena
Tá que isso é mais estranho do que um problema realmente, mas então pra quem não abomina gallery shooters suponho que esse minigame funcione bem. O que não é o meu caso infelizmente, apenas o nome do genero já me dá sono, mas ao menos eu posso dizer que joguei um jogo do Timão e Pumba que toca smooth jazz. Então tem isso.
Fechando o pacote pobre de quatro jogos temos o pior clone de Frogger que jamais atravessou a rua. Seu nome? Hipo Hop. À primeira vista, parece okay, tipo “Ei olha! É Frogger com Timão no lugar daquele sapo!” No entanto, quando você tenta atravessar o riacho, algo estranho acontece. “WTF!? Eu não deveria ter passado de nível agora!?” Então você começa a se perguntar. “Talvez eu tenha que atravessar o riacho de volta”. Então você faz isso - ainda sem resultado. É nesse momento que você entende que eles tentaram apimentar a formula de Frogger... e é aqui que as coisas ficam... menos boas.
Basicamente, seu objetivo é coletar os insetos que andam em cima dos hipopótamos, troncos, pedras e tartarugas nadadoras ... ou cagados, nunca sei qual é qual... que povoam o rio. Só que tem um porém: no PC, Timão supostamente grita que tipo de bug ele quer, dando uma pista. No SNES... vc não tem essa sorte. Você tem coletar insetos e traze-los de volta um por um, até que os controles escorregadios o façam cair na água e morrer. Repetidamente. Quero dizer, eu já joguei minha boa dose de Frogger nessa vida e nunca passei do nível um nesse jogo, isso diz bastante coisa.
Mas enfim, o principal problema com todos os quatro minijogos é apenas isso - eles são minijogos. Sua longevidade é tão reduzida quanto seu objetivo é simplista. Em aproximadamente 10 minutos vc não apenas já vai ter visto tudo que esse jogo tem a oferecer como já vai ter se entediado, e isso não é uma hiperbole, pode contar no relógio.
Você não pode nem compartilhar a jogatina com seus amigos - não há modo para dois jogadores simultaneos, meu deus quem é que usa dois jogadores alternados em 1997? Então dez minutos antes de se entediar é tudo que esse jogo oferece, pelo menos o desenho animado pode se orgulhar de oferecer mais que isso. Não MUITO mais, mas um pouquinho mais pelo menos. Tá, não tanto mais que "um pouquinho" tb, mas enfim...
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 040 (Julho de 1997)