sábado, 1 de julho de 2023

[#1136][Nov/97] STAR WARS: Masters of Teras Kasi


O ano é 1997 e o canone de Star Wars é uma completa bagunça. A Lucas está literalmente atirando qualquer coisa na parede pra ver o que colava e lançando qualquer porcaria licenciada desde que entre um dimdim pra eles. Ou seja, Star Wars não mudou nada em 25 anos, heim?

Mas sério, vc quer criar um personagem novo de Star Wars para uma linha de lancheiras? Paga a Lucas e vc pode. Quer escrever um livro onde Luke descobre que na verdade ele é um clone caolho? Mete grana e vc tem a licença para escrever o seu livro. Pagando tudo pode, tudo é permitido.

Isso gerou, obviamente, toda sorte de tralha licenciada com o nome de Star Wars - o que hoje é conhecido como "universo expandido" - e que foi uma das primeiras coisas que a Disney fez quando assumiu a franquia foi acabar com essa poutaria. Agora só as tralhas DELA são válidas, mas isso é outra questão.

O ponto que é relevante para esse blog é que entre as inúmeras coisas "expandidas" que sairam com o nome de Star Wars, obviamente tinham videojogos. Alguns um pouco melhores como STAR WARS JEDI KNIGHT: Dark Forces 2, alguns com sérios problemas como STAR WARS: Shadow of the Empire, mas enfim essa era uma vaca que não pararia de ser ordenhada tão cedo.


Porém sabe o que, estranhamente, Star Wars não tinha? Um jogo de luta. E isso é bastante incomum, já que todo mundo e a mãe de todo mundo estava tentando a sorte com um joguetim de luta pra chamar de seu nessa época. E Star Wars tem um elenco bem vasto de personagens de ação consagrados junto ao público, então o jogo já estava meio pronto - faltava só a parte de sentar e fazer ele, mas fora esse detalhe insignificante era melzinho na chupeta fazer um jogo de luta de Star Wars.

EXCETO QUE... BEM, O QUE A LUCAS ARTS REALMENTE ENTENDIA DE JOGOS DE LUTA?

Absolutamente nada. Menos do que nada, na verdade Mas tudo bem, não é como se eles não pudessem apenas licenciar para alguém que tivesse experiencia. Claro que eles iam ter que gastar um pouco (ou pelo menos dividir parte do dinheiro), mas é a melhor escolha, né?

Oh boy... Mas vamos começar do começo...

Nossa história aqui é contada com toda fanfarra e textos rolantes que um produto de Star Wars exige, porém...


Como assim "Prologo: um mestre de Teras Kasi", o título do jogo não era "Mestres de Teras Kasi" no plural? Os caras não se decidem nem quantos mestres de Teras Kasi existem! Mas... o que é um Teras Kasi, em primeiro lugar?

Então, aí é que piora... a história do jogo é a seguinte: após a destruição da primeira Estrela da Morte, o Imperador decidiu que não ia deixar barato essa poutaria e decide retaliar os rebeldes. Como, você pergunta? Ora, contratando uma mercenária mestra na antiga e quase perdida arte marcial chamada "Teras Kasi".

TÁ, MAS E O RESTO DA HISTÓRIA?

Que resto da história?

TÁ, O IMPERADOR CONTRATOU UMA MERCENÁRIA, TÁ... MAS PQ TODO MUNDO ESTÁ LUTANDO CONTRA TODO MUNDO?

Hã... o imperador contratou uma mercenária? Não, sério, essa é toda história que existe. Dá pra sentir que a Lucas Arts escreveu isso com mais preguiça do que o cara que inventou a bandeira do Japão, o que sempre é um excelente sinal quando o desenvolvedor literalmente manda um "tanto faz, taca qualquer merda que vai vender igual", onde isso já falhou na história da humanidade, heim?


Adicionalmente, isso não faz o menor sentido. Quer dizer, vc perde uma arma que é capaz de destruir planetas e manda alguém que... sabe lutar? Okay, isso é uma boa coisa, mas se a ideia é mandar uma única pessoa sozinha ir lá e vencer a rebelião na porrada... tu já não tem a porcaria do fucking Darth Vader? 

O que é que alguém que é uma "mestra do Teras Kasi" pode fazer que o cabeção preto não pode fazer melhor?


Ok, tem isso... espera, o que? Leia de biquini deu uma joelhada no saco do pai dela... cara, tenho certeza que essa cena especifica é o fetiche estranhamente especifico de alguém...

"ALGUÉM", NÉ?

Não estamos nesse blog para apontar dedos e julgar, Jorge. Mesmo fetiches sexuais REALMENTE especificos, mas adiante... seja como for, isso é o que vc precisa saber antes de jogar o jogo. E, honestamente,  vc não precisa também jogar esse jogo pq como eu disse no começo do texto, a Lucas Arts não tinha experiencia nenhuma com jogos de luta. 

Mais precisamente, a Lucas Arts não era tão versada assim em jogos 3D ainda, tinha menos experiencia ainda em fazer jogos para o PS1 e absolutamente ZERO experiencia com jogos de luta. Some tudo isso e temos... bem, vamos dizer que toda essa inexperiencia é algo que dá pra notar.

Oh boy, como dá pra notar...

Eu preciso lembrar a esse ponto que jogos de luta são um dos tipos de jogos mais dificeis de programar pq nenhum outro jogo tem tantas variaveis, hitzones, pontos de ataque diferentes no corpo do mesmo personagem. A maioria dos jogos de ação é suficiente que o jogo saiba se o boneco ou o ataque encostou ou não, em um jogo de luta é preciso programar qual parte do corpo encostou e em que ordem, se ele estava defendendo e várias outras pequenas variaveis. Não é um começo auspicioso para um time sem muita ideia do que estava fazendo, eu te digo...

Vamos lá: em um nível fundamental, existem um jogo de luta aqui. Um BOM jogo de luta? Eu não usaria palavras tão fortes assim, mas definitivamente ele é um jogo e tem alguma luta envolvida. A mecanica diferencial dele (ao menos ele tem uma, o que já o coloca na frente de coisas como VS.é que cada personagem pode puxar uma arma.


Não é que nem SOUL EDGE (ou "Soul Blade" no ocidente) em que a arma é parte do personagem desde o começo, e sim mais como em MORTAL KOMBAT 4 em que literalmente tem um comando para puxar a arma. E em defesa do jogo, ela funciona MUITO melhor do que em MORTAL KOMBAT 4... não que isso seja lá tão dificil... mas ao menos não apresenta os mesmos problemas daquele jogo.

Então, é, as armas fazem os personagens parecerem diferentes e são associadas ao que você esperaria deles, como Chewie tem o crossbow laser, Luke tem o sabre de luz, Leia tem... um bo laser provavelmente pq eles não faziam a mais remota ideia de como colocar a fisica de um chicote em um jogo de luta... e Ardyn Lyn, a nossa mestra do Teras Kasi do título tem a mão dela. O que não é muita coisa, todo mundo tem mão aqui, então ela claramente está em desvantagem nesse jogo. Escolher pessoal não é o forte do Palpatine, né?

Alem das armas, a outra coisa que você vai notar a respeito desse jogo é provavelmente... o quão quebrados e roubados são os golpes especiais aqui. Sério, existem jogos de luta desbalanceados, e existe isso:


Todos os personagens tem golpes assim, e é bastante claro que os programadores estavam mais preocupados em fazer o jogo parecer legal do que ser mecanicamente equilibrados. O que não é a pior coisa do mundo, eu posso viver com um jogo ser focado em ser wacky para dar risada com os amigos.

Claro, é menos divertido quando o computador faz isso - e ele nunca erra fazendo isso, tornando esse um dos jogos de luta mais desgraçadamente roubados do PS1 - mas pelo menos o modo versus dá umas boas risadas...


... ou daria, não fosse que o jogo não é muito divertido de jogar realmente. Os controles são realmente travados e duros para um jogo de luta, e é a pior parte onde dá pra ver a falta de intimidade dos programadores com o PS1. Não apenas os personagens são durangos e os pulos duros, mas os golpes quando acertam não tem o peso que sugere um combo como em TEKKEN 3, ou pelo menos tem o timming de uma arte marcial de VIRTUA FIGHTER.

Vamos dizer que Teras Kasi está mais para o espectro CRITICOM do que TEKKEN 3 das coisas. E isso é realmente uma pena, pq em um jogo redondinho o elenco carismático de Star Wars com suas armas iconicas e ataques over the top, poderia ser um jogo muito divertido. Infelizmente, o que tivemos aqui foi uma versão amadora e toda dura disso.


Os gráficos são suficientemente bons para essa época do PS1, os cenários são inspirados nos filmes e até a seleção de personagens usa o tabuleiro de xadrez de Star Wars, o que é sempre um toque bem vindo. Falando em personagens, tem que ser também elogiado o elenco satisfatório, incluindo todos personagens que você esperaria de um jogo de luta e mais alguns inesperados como Mara Jade como personagem secreta (uma piscadela para os fãs do universo expandido) e um Tusk Raider chamado Hoar.

O que eu demorei um pouco para entender o motivo do nome, mas quando entendi achei genial:


- E aí cara, qual é o teu nome?
- HOOOOOAR! HOAR! HOAR!!

Tá, eu não sou tão dificil de agradar assim, eu suponho... ainda sim, eu não vou dizer que esse jogo não é ruim, fraco e amador, pq ele é, mas também não é essa desgraça toda que pintam. Seu maior problema é ser medíocre do que ruim realmente... 


... exceto a parte de que os ringues são sem noçãomente pequenos e mais de metade das lutas é decidido por Ring Outs involuntários, tá essa parte é além do terrível mesmo que seria facilmente resolvido colocando pelo menos uma cerquinha que aguenta algumas porradas antes de quebrar, como em FIGHTING VIPERS. Quer dizer, o ideal é não ter ringues tão ridiculamente pequenos assim, mas se vc absolutamente PRECISA colocar eles, pelo menos dá uma ajuda pro Ring Out não virar essa putaria toda né.

Mas fora isso, o ponto que eu quero chegar é que esse jogo foi feito para crianças que esperavam amassar botões e ver Han Solo puxar seu blaster ou algo do tipo. E Masters of Teräs Käsi entrega isso, isso tem que ser dito. Entrega alguma coisa além disso? 


É claro que nada do que estou dizendo deve ser mal interpretado como um elogio ao jogo em si: ele demonstra claramente um esforço totalmente equivocado da LucasArts para entrar em um gênero que eles não entendiam pachongas, e que claramente não dá certo. Mas você sabe o que mais? Ao jogar Star Wars: Masters of Teräs Käsi, ele não me realmente puto em nenhum momento (exceto pela CPU com dificuldade roubada, mas então eu meio que sempre espero isso de jogos de luta), e sinceramente fiquei mais entediado do que irritado. 

Então, ei, se você é um fã de Star Wars e não é muito exigente com seus jogos de luta, talvez haja algo a ser obtido deste jogo. E então vc poderia argumentar que essa é a lógica de Star Wars até hoje com produtos que existem só pros fãs dizerem que existe - como a série do Obi Wan ou do Bobba Fett. Então, de certa forma, vc poderia dizer que Teras Kasi é um jogo a frente do seu tempo. Não um bom jogo, mas definitivamente um jogo a frente do seu tempo.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 124 (Fevereiro de 1998)


Edição 141 (Julho de 1999)


Edição 141 (Julho de 1999)




MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 042 (Setembro de 1997)


Edição 043 (Outubro de 1997)


Edição 046 (Janeiro de 1998)


Edição 047 (Fevereiro de 1998)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 026 (Janeiro de 1998)