terça-feira, 13 de outubro de 2020

[AÇÃO GAMES 046 e 048] DISNEY'S ALADDIN (SNES e Mega Drive, 1993)[#521 e #522]




Em 1993 viviamos uma guerra de trincheiras muito bem delimitadas. Super Nintendo x Mega Drive, você tinha que estar de um lado ou do outro, não havia terceira opção. Bem, quer dizer, tecnicamente você podia ter um Neo Geo mas nesse caso não valeria a pena discutir com você porque qualquer coisa você entraria no seu helicoptero que o levaria ao seu jatinho particular que te levaria para casa - apenas esse tipo de pessoa teria um Neo Geo em 93, afinal.

Para todos os demais pobres mortais pobres, restava tomar um lado. Viviamos dias de guerras de gangue como em um clipe do Michael Jackson, só que ao invés de combater com coreografias sexys discutiamos se o Mario ou Sonic era melhor.

Capa japonesa para versão para Mega Drive
O problema desse tipo de discussão é que, mesmo uma criança idiota dos anos 90 (e todos nós eramos, afinal) sabe que no fundo estavamos comparando laranjas com limões. São jogos diferentes que se propõe a fazer coisas diferentes. Então como saber qual era o melhor, afinal?

Jogos multiplataformas não ajudavam muito. Claro, frequentemente um jogo lançado em ambos os consoles era melhor no Super Nintendo do que no Mega Drive porque o SNES tem mais cores e o chip de som da Nintendo não soa como alguém patinando com um patins de pregos sobre um quadro negro.



Entretanto essa é uma sensibilidade moderna demais para crianças da época, nós sentiamos que os jogos de SNES eram melhores mas não sabiamos quantificar isso em analise. Não, o que precisavamos era de um mesmo jogo que tivesse saído para os dois consoles e fosse diferente em cada um, um balizador da discussão que acabaria com todas as discussões de uma vez por todas.

Mal sabiamos nós que esse dia viria na forma do adorado filme dublado pelo Robin Williams, Aladdin. O famoso dia do julgamento dos 16 bits estava entre nós.

Capa japonesa da versão para SNES

E então veio o dia do julgamento, e o resultado foi... nenhum, na verdade. Crianças torcem para seus videogames como se fossem times de futebol, então não existe uma discussão racional baseado em fatos aqui. Você torce para o console que os seus pais lhe deram e é isso.

Mas e se houvesse tal discussão? E se alguém racional e frio analisasse com parcimonia de forma técnica ambos os jogos? Alguém justo, imparcial e sem tendencia alguma para nenhuma das empresas?

Pois é o que eu farei agora, de forma justa e formal. E só há uma forma de ser formal aqui: usando os critérios de notas da Ação Games! Claro que sim, como não?

ROUND #1: GRÁFICOS

Mega Drive a esquerda, SNES a direita


Esse parece um no-brainer, certo? Quero dizer, a versão do Super Nintendo foi feita pela Capcom e a do Mega Drive pela Virgin. Isso significa que um foi feito pela empresa que até hoje é lembrada e amada por jogos como Mega Man 3 e Street Fighter 2, enquanto a outra... tem COOL SPOT ... eu acho?

Some a isso que o Super Nintendo tem capacidade exibir muito mais cores na tela e temos um jogo jogado aqui, certo?

Aladdin para SNES

Err... bem, não exatamente. Isso porque enquanto os gráficos do Super Nintendo são o que você esperaria de um jogo de alto nível de Super Nintendo, a versão de Mega Drive é... um outro nível, graças a Sega ter feito merda.

Isso porque assim que adquiriu os direitos de fazer o jogo do Aladdin, a Sega o repassou a sua antiga parceira a Blue Sky para que executasse o joguetim - a Blue Sky já tinha feito o jogo The Little Mermaid, então eles sabiam como era trabalhar com a Disney. O problema é que aquele ponto do campeonato,  a Blue Sky estava fazendo Jurassic Park e não tinha gente para fazer outro jogo do Aladdin.

A Pequena Sereia, parceria da Sega e da Blue Sky para fazer um jogo de Mega Drive baseado em um filme da Disney
A Sega e a Blue Sky então concordaram que assim que eles terminassem aquele jogo que te promete jogar com um DINOSSERO e te dá uma banana, eles dariam prioridade ao jogo do filme da Disney. Parece um acordo razoavel, certo?

Ceeerto... exceto que ambas esqueceram de repassar esse acordo a uma terceira parte interessada: a própria casa do seu Valdisney.

Quando a Disney soube que o jogo do seu filme estava sendo tocado como projeto de segundo plano e que provavelmente não ficaria pronto para ser lançado com o lançamento em VHS de Aladdin nas locadoras, a Disney ficou muito puta da cara. Tipo muito mesmo.

E se a Disney não está feliz, ninguém está feliz.


A Disney então propos a seguinte oferta para a Sega: "Seus retardados da porra, esquece isso que agora EU vou tomar conta desse jogo antes que a IMBECILIDADE de vocês piore ainda mais as coisas. EU vou arranjar alguém para fazer esse jogo e vocês vão pagar por ele sem que eu ouça um pio, ficou claro?"

Ao que a Sega prontamente concordou quietinha, dada que a opção era nunca mais ver a marca de um personagem da Disney em um console da Sega.

Versão para Mega Drive
Assim, a Disney usou seus contatos e repassou o jogo para a Virgin, com quem eles já estavam negociando para fazer um jogo multiplataforma de The Jungle Book. Entre um jogo de um filme que tinha sido lançado em 1967 ou um sucesso colossal de bilheteria daquele ano cujo VHS iam chegar nas locadoras em poucos meses, desnecessário que a Disney escolheu qual seria a prioridade e assim o jogo do Mogli foi pro fim da fila e a Virgin se tocou a fazer o jogo de Aladdin.

A este ponto, entretanto, a Disney não tinha a mais remota dúvida que o mundo dos videogames eram gerido por amadores que não faziam a mais remota ideia do que estão fazendo, de modo que ela se virou para a Virgin e disse:


Fazer negócios com uma empresa do tamanho da Disney não é um passeio no parque, eu te garanto. O resultado bom disso, entretanto, é que toda animação do jogo foi desenhada por artistas da Disney e por conta disso o jogo do Mega Drive ficou fodendamente lindo. Mais lindo ainda com a Disney fungando no cangote da Sega e da Virgin para que o jogo não tivesse o tradicional aspecto de "foi lavado com um jato de merda" que é tão comum dada a paleta de cores limitada do Mega Drive.

Depois dessa trapalhada toda a Disney nunca mais sequer cogitou fazer um jogo exclusivo com a Sega? Definitivamente. Mas Aladdin ficou bem animado pra caralho, com uma fluidez que você simplesmente não encontra em consoles de 16 bits.


MEGA DRIVE 1X0 SUPER NES

ROUND #2: SOM

Quando você pensa sobre isso, a situação do som não é muito diferente dos gráficos. Quer dizer, a essa altura do campeonato a Capcom não precisa provar nada. Não, sério, uma empresa que faz uma música de fase como essa, realmente já passou em muito do ponto de precisar provar qualquer coisa.


Por outro lado, eu dificilmente descreveria o som do Mega Drive com outra palavra que não ATROCIDADE. O som do Mega Drive pode ser descrito como algo entre uma mistura de vizinho quebrando o piso e um bar do outro lado da rua tocando sertanejo universitário as 4 da manhã de quarta-feira.

E apenas para cimentar sal em cima da questão, a versão do Super Nintendo tem rendições em 16 bits das músicas do filme como "Um Mundo Ideal" e "Você Nunca Teve Um Amigo Assim". Ou seja, a Capcom conhece a sua merda e podemos colocar uma pedra nessa questão...



... ou poderiamos, não fosse que a cagada de planejamento da Sega mais uma vez gerou ótimos frutos. A este ponto dos acontecimentos, a Disney sabia que duas coisas com certeza sobre a Sega:

a) Que eles são tão mal organizados que recebiam convite para serem embaixadores brasileiros no Japão a cada quinze dias;
b) Que o chip de som do Mega Drive é uma desgraça;

De posse dessas duas informações, a Disney fez o que podia para evitar uma catastrofe com o seu nome: no alto de sua pistolice, Don Mickyeonne mandou o produtor musical do filme Don Griffin para de ficar polindo os dois Oscars que ele ganhou por Aladdin (melhor canção original e melhor trilha sonora em 1993) para tentar ver o reflexo da sua careca no carecão dourado e se desabalar até a Virgin para trabalhar com eles em não apenas adaptar as músicas do filme como criar músicas novas para o Mega Drive.


Tommy Tallarico (mais conhecido hoje por ser o criador do Video Games Live) então esculpiu nota por nota a trilha sonora para que ela se adaptasse ao acidente de trem que é o chip de som do Mega Drive.

O resultado é a melhor trilha sonora que eu já ouvi em um jogo de Mega Drive. Você não apenas ouve as músicas do jogo sem seus ouvidos sangrarem (o que já é um feito no Mega Drive), mas até mesmo consegue identificar as camadas de audio dos instrumentos e do vocal digitalizado da trilha sonora do filme. Ficou muito, muito bom mesmo.

MEGA DRIVE 2X0 SUPER NES

ROUND #3: DIFICULDADE

Eu sempre achei esse critério da Ação Games bem estranho, porque dificuldade não é uma coisa boa ou ruim por si só. A forma que eles dão a nota é que quanto mais dificil melhor e eu não concordo com isso. A dificuldade tem que ser adequada a proposta do jogo, Dark Souls não é melhor que Gris porque um é um jogo super dificil e o outro você sequer tem como morrer. Assim sendo, eu farei minha própria analise do que é uma boa nota de dificuldade.

Veja, é indiscutível que Aladdin do Mega Drive é mais dificil que o do Super Nintendo. Isso não é bom nem ruim, mas passa a ser um problema quando ele é dificil PELOS MOTIVOS ERRADOS.

Fase de bonus para SNES
Uma coisa que eu digo bastante sobre jogos de plataforma é que se o seu personagem pula e ataca, só faz essas duas coisas então essas duas coisas tem que ser fodendas de boas. Bem, no Mega Drive Aladdin pula e ataca... e ambos são horríveis.

O pulo é de uma flutuosidade que me fez checar a se a Virgin não tinha feito Bubsy ao invés de Cool Spot, parece que o seu herói é feito de papel e Aggrabah é localizada na Lua. Para um jogo que metade da ação é pular, isso não é sequer perto do aceitável.


A pior coisa que pode acontecer em um jogo de plataforma é você bater o olho e não saber calcular se o personagem vai fazer o pulo. A menos que você seja o Buzz Aldrin, acho que ninguém mais tem experiencia para entender esse pulo.

Outro problema é que a inércia é pesadona demais, Ali simplesmente não pula direito se você não der um passinho para "pegar distancia". É um negócio ridiculo até, o jogo apenas lê que o pulo "em movimento" tem regras diferentes do pulo parado - mesmo esse "movimento" seja um toquinho no controle.

Olha esses pulos todo troncho, você sobe como uma pena e desce como uma pedra...

Me chame de chato se quiser, mas ficar tendo que trapacear o controle para conseguir fazer as coisas é o contrário do que eu entendo como diversão em um jogo!

A outra parte do gameplay consiste em usar a espada (Espada? Acho que a Virgin e eu não assistimos ao mesmo filme) e isso é pior ainda. O alcance é curto e a hit detection é inconsistente, para dizer o minimo. Some a isso a pulagem flutuante do Aladdin e temos um jogo que não dá feedback nenhum para o seu ataque. 

Como que o primeiro ataque não pegou?
Não tem uma sensação satisfatória em acertar o inimigo, a sensação de cada confronto nesse jogo é mais de "eu acertei... eu acho? Bom, ele desapareceu, mas acho que eu perdi vida... mas é dificil dizer realmente porque esse marcador de vida é muito ruim de medir". Pular é fail e lutar é mais fail ainda.

Parece que você pode tirar os jogos de Amiga do Mega Drive, mas não pode tirar o Mega drive dos jogos de Amiga.



Já a versão do Super Nintendo não tem ataque com a espada (embora você pode jogar maças para stunear os oponentes), se focando inteiramente no pulo. Ao contrário do jogo de Mega Drive, entretanto, o SNES tem um gameplay que soa bem menos genérico porque tem um gimmick definidor: você pode pular na cabeça dos inimigos como em qualquer jogo de plataforma (mas não o Aladdin de Mega Drive), mas diferente de qualquer outro jogo os inimigos te dão um boost quando pisoteados.

Isso combinado ao level design da fase (que é bem mais clean e funcional aqui) gera um efeito parkourseiro que dá um fluxo explorativo ao jogo que é inexistente na outra versão. Existe um senso de design aqui, e jogando você consegue imaginar um caminho ideal (mas não obrigatório) pelo qual a fase pode ser jogada. No Mega Drive o level design é apenas uma bagunça, as plataformas são jogadas de qualquer jeito sem razão ou rima.

Existe uma explicação para essa diferença de qualidade no level design, entretanto. Enquanto Aladdin no console da Sega é feito pela equipe (sendo David Perry o principal programador) que criou o esquecível Cool Spot e nada mais de muito notável, na Capcom a história é outra já que o jogo é dirigido por ninguém menos que um dos caras que mudou o mundo dos videojogos para sempre: Shinji Mikami.


Embora seja muito melhor desenhado, isso não quer dizer que  Aladdin no SNES seja perfeito entretanto. Eu ainda gostaria que o peso do personagem fosse um pouquinho mais leve na hora de pular e manobrar no ar, embora isso seja compensado pelo paraquedas que te permite cair lentamente.

Nesse quesito então entendemos como uma inquestionável vitória para o jogo no console da Nintendo.

MEGA DRIVE 2X1 SUPER NES


Uma tela poluída explicando todos os itens do jogo em uma fração de segundos? Onde eu já vi isso, Virgin?
Ah, é verdade...

ROUND #4: DIVERSÃO

Como se analisa "diversão"? É um quesito bem pessoal para ser sumarizado dessa forma, o melhor que você pode fazer é explicar porque você se divertiu e essa explicação ser uma analise do jogo em si. Claro, isso dá trabalho e a Ação Games é toda sobre não passar trabalho com os jogos mas já que esse é o meu blog então eu farei as coisas certinhas.

Veja, quando eu penso em uma adaptação de um filme em jogo nos anos 90, o que eu espero é jogar algumas das cenas mais iconicas do filme em forma de jogo - ou pelo menos fases inspiradas nesse feeling. 

Nesse aspecto, o jogo do Super Nintendo é bem melhor já que ele gamificou as cenas-chave do filme em forma de jogo de plataforma, enquanto no Mega Drive... sabe-se Allah o que eles estavam fazendo.

Senão vejamos:



Tanto no SNES quanto no Mega Drive, a primeira fase é o mercado de Aggrabah - que é a primeira cena do filme onde vemos nosso boy magia Al. Até aí tudo certo, embora uma coisa estranha aconteça na versão de Mega Drive: a música que toca nessa fase é "Prince Ali", embora o jogo tenha sua versão de "One Jump" que seria a música correta no filme para essa música.

Eu vou supor que eles preferiram abrir o jogo com a música que ficou melhor porque a primeira impressão é a que fica afinal ao invés de fazer na ordem certa. Enfim.


Por algum motivo, a Virgin achou que a história de Al-boy precisava de uma temperada e inventou uma segunda fase no deserto onde ele é trickeado por Jaffar para ir atrás das partes do escaravelho dourado que Jaffar usa para abrir a Caverna das Maravilhas no começo do filme.

Escuta, Jaffar já tem o escaravelho, é todo o ponto dele ir atrás do Aladdin em primeiro lugar: ele tentou com um vagabundo que aceitou o trabalho por um pacote de Ruffles e um blowjob de 10 dolares do Kenny e não deu certo, então a caverna disse que ele precisa do tal do "diamante bruto".

Ou vocês estão me dizendo que Jaffar perdeu o besouro no caminho de volta para casa porque ele secretamente ele usa aquelas calças jeans atoladas na bunda que não cabe nada no bolso e ele derrubou o escaravelho no deserto no caminho de volta por conta disso?

Hmm, essa é uma sequencia direta para vídeo que eu gostaria de assistir. Melhor que Frozen 2 certamente seria. De qualquer forma, se pudermos então parar com essas encheções de linguiça para voltar a história...


MAS PUTA QUE ME PARIU, MEGA DRIVE!

... aff, tá bom, vamos continuar com sua encheção de linguiça se é tão importante para você assim. A terceira fase no Mega Drive é a Aggrabah Rooftops...



... onde você joga a maior parte dela no chão! Porra, eu entendo que vocês não se deram ao trabalho de assistir ao filme, mas vocês não se deram ao trabalho nem de ver o próprio jogo que estavam fazendo? Aí é teste pra cardíaco, seus pisadores de tomate.

Mas tudo bem, AGAIN, vamos recuperar a porcaria da outra metade do escaravelho do tal ladrão ixperrrtu...


Espera, Gazeem é o chefe que tem a outra metade do escaralho do velho?

Então quer dizer que aqui ele não foi brutalmente assassinado por 78 toneladas de areia no começo do filme quando Jaffar mandou um pé de chinelo pegar a lampada? Porra Virgin, porque você tem que tirar a graça de tudo, roubando a história de um dos seus melhores momentos quando um homem tem todos seus ossos esmagados e sufoca até a morte no deserto?

Tá foda, viu... alias, sabe uma coisa que eu nunca entendi nessa cena? Quando Aladdin entra na caverna, ela só desmorona quando Abu pega um tesouro depois do tapete falhar em conte-lo. Quando Gazeem entra na caverna, ela desmorona mais rápido do que um unmatch no Tinder se você disser que sabe o nome todos os 896 Pokémons (com razão). Não, mas sério, qual é o negócio dele? 

Sequer existem tesouros na entrada da caverna para ele relar a mão. Aladdin entra, anda uma boa parte, cai umas partes e só então ele acha algum tesouro. Então Gazeem é o super finder de tesouros, ele é mais rápido que brasileiro fazendo meme de desgraça e em menos de 2 segundos já estava no fundo da caverna ou a caverna apenas decidiu que estava afim de ser cuzona com ele e o julgou sem dar uma chance dele provar que era um escroto?

Eu até diria que jamais saberiamos isso, mas não tenho a menor dúvida que no live action de 2019 deve ter uma sequencia altamente desnecessária explicando isso.


Ok, terminados com os bullshits da Virgin, podemos voltar a programação. Aladdin é jogado na prisão após cometer o inenarravel crime de relar a mão na princesa Jasmine que fugiu de casa porque ela é uma dessas pessoas super ricas que fica entediada se ficar de quarentena em sua mansão de 80 quartos e...

Alias, sabe de outra coisa que sempre me chamou atenção em Aladdin? Quer dizer, sério mesmo? Cara, saca só o visual de Aggrabah:


O palacio do Sultão é quase do tamanho DO RESTO DA CIDADE INTEIRA. Sendo que eu mudarei meu nome para Jorginho Bocoloco se essas cupulas não forem feitas de ouro sólido. Chupa essa, Teatro Amazonas.

Porém quando olhamos para a cidade de Agrabah mais de perto...


Temos literalmente crianças revirando lixo para não morrer de fome.

Pelo que sabemos, Agrabah é uma grande cidade comercial. Há mercadores de jóias e maravilhas, mas a pessoa comum vive na pobreza. Sim, vemos lindas donzelas vestidas apenas com em gaze, mas vamos tentar não pensar muito tempo em por que mulheres bonitas e elegantemente vestidas vivendo juntas sem um homem são as únicas pessoas que parecem estar vivendo confortavelmente em Agrabah...


Os vendedores no mercado são incrivelmente acostumados com roubo. Os guardas do palácio parecem existir apenas para perseguir ladrões. Esses dois fatos juntos sugerem que o roubo é um enorme problema, o que também sugere que a pobreza é predominante na cidade.

É uma diferença grande para a pobre "cidadezinha do interior" da Bela em A Bela e a Fera. A cidade de Belle tem uma livraria, seu pai pode se dar ao luxo de viver de forma independente como "um inventor", e todos tem dinheiro para encher a cara a noite. Eles são pobres de classe média baixa, e não Agrabah-pobres - onde a pobreza é uma questão de sobrevivência. 

Pensa só, o inteligente e capaz Aladdin deveria ter encontrado trabalho anos antes. Quero dizer, você viu o salto com vara e ele claramente não é retratado como um vagabundo que não trabalha porque não quer. Não, ele não trabalha porque não existe emprego. O garoto é atlético e esperto o suficiente para fazer qualquer tipo de trabalho braçal, mas evidentemente a economia de Agrabah é tão pobre que nem Aladdin consegue um emprego.

E enquanto tudo isso acontece, enquanto crianças tem suas mãos cortadas por roubar comida para pelo menos ter café da manhã (no começo do filme Aladdin impede o desmembramento infantil, mas eu duvido muito que ele consiga fazer isso com todas as crianças da cidade todos os dias da sua vida), o sultão ... 


Sabe, eu realmente me pergunto se o Jaffar ser o Sultão seria uma piora tão séria assim...

E... onde eu estava mesmo? Ah sim, Aladdin é atirado na prisão e com ajuda de Jaffar disfarçado de velho ele foge. Alias o que é isso dos governantes arabes em videogames terem calabouços altamente elaborados?

Em Prince of Persia o sultão tem um calabouço com mais de 20 andares além de armadilhas mortais a cada dois passos, quanta gente ele pretende prender exatamente e qual a periculosidade dessas pessoas? Bem, em Aladdin também existe um calabouço desnecessariamente elaborado na versão de Mega Drive com seus próprios esqueletos homem-bomba com bombas no lugar da cabeça...

Espera um pouco, isso foi intencional, não foi?


O Super Nintendo passa algumas fases nas ruas de Agrabah sem te encher de bullshit sobre isso, e após essas fases iniciais vai direto para a Caverna das Maravilhas - que é onde se encontra com a versão de Mega Drive que tem essa fase também.

Só que enquanto a versão do Mega é uma das fases mais poluídas e confusas de um jogo que já é todo poluído visualmente e confuso, a de SNES é completamente clean a respeito do seu design disso. 

Eu gosto particularmente que existe um momento em que o jogo do SNES te pede para fazer um salto de fé, mas se dá ao trabalho de usar o Abu para dizer que é seguro.


Classy.

Na versão de Mega Drive ele é... menos útil quando você precisa fazer saltos de fé:


Verdade seja dita, se ele fosse fazer alguma coisa toda vez que você precisa fazer um salto de fé no Mega Drive, toda programação do jogo seria sobre ele. Level design ruim da porra, puta merda viu...

Outro toque que ficou legal na versão de SNES é que ao chegar ao final da caverna, o cenário muda bruscamente e você tem um trechinho com outra paleta de cores:


Isso é cool. Falando nisso, um fato interessante: você sabia que todo ouro mineirado no mundo até hoje encheria apenas 4 piscinas olimpicas? É bem pouco quando você pensa sobre isso, e certamente muito menos do que tem nessa caverna. A economia como a conhecemos está a um passo de ruir.



A seguir, um momento que me fez amaldiçoar Abu durante toda minha infancia: o macaco não consegue segurar sua larica de ouro e mete a mão no tesouro, o que faz toda a caverna desmoronar. Sabe, eu sempre me perguntei como essa caverna funciona EXATAMENTE. Existe uma forma de pegar alguma coisa sem isso implicar em morte e dor sufocante na areia escaldante do deserto?

Provavelmente não. De qualquer forma, a versão de Mega Drive (acima) mostra só uma tela de dialogo, enquanto a de SNES (abaixo) tem uma cutscenezinha do macaco fazendo merda. Como na vida, o SNES vence mais uma vez.



O motivo de eu odiar tanto Abu é que ele desencadeia a fase mais dificil do jogo. No Mega Drive (acima) a caverna começa a desmoronar, então você tem que correr por sua vida em um labirinto de lava e bolas esmadoras - sendo que não existem checkpoints nessa fase, então você tem que decorar os caminhos para não se deparar com um dos muitos instadeaths que essa fase tem. Um de muitos.

A versão de SNES não tem essa fase tão dificil assim, embora a tela avance o tempo todo e isso torna mais dificil que a sua fase padrão. Mas se eu só joguei a versão de SNES quando era criança, então porque meu problema com o macaco? Por causa da segunda parte dessa fase:


A segunda parte da fase funciona como um shmup no tapete, desviando do cenário, de coisas caindo e da lava fugindo. É de longe a fase mais dificil do jogo, e que vai comer a maior parte das vidas extras que você juntou até então.

E como essa fase é no Mega Drive, exatamente?


It's fucking Battletoads. Um pouco menos dificil porque o jogo diz onde vai vir a pedra, mas não menos Battletoads por conta disso. Vão se foderem.

Jafar se mostra um trapaceiro pestilento sarnento arruaceiro gato polar te passa a perna e ne prende na caverna. Mas, felizmente, meu macaco trapaceou o trapaceiro e pegou a lampada de volta (nunca critiquei), então agora ... estou preso em uma caverna com o Robin Williams. Podia ser pior.

O que é legal, porque ele vai me oferecer um poder inimaginável. Primeiro, porém, tenho que entrar na lâmpada dele ...


Apesar de eu ter elogiado os gráficos do Mega Drive, essa fase no SNES (acima) é incrivelmente mais bonita e criativa do que a de Mega Drive (abaixo). Todos os artistas da Disney do mundo desenhando pra você não podem superar o poder um level design criativo e abraçar a ideia de "go crazy" que uma fase dentro da lampada do gênio pode oferecer.

Adicionalmente, essa fase no SNES tem uma rendição excelente de "Friend Like Me" (minha música favorita do filme, BTW) e se o SNES e o Mega Drive tem trilhas sonoras parecidas o hardware da Nintendo lava o chão com o acidente nuclear de puppys radioativos que é o chip de som da Sega.


Agora é vez do Mega Drive tirar uma folga e o SNES pisar no tomate, porque depois da lampada tem uma fase ... egipicia dentro de uma tumpa? Não que a fase seja ruim nem nada, mas...


Enfim, depois de descobrirmos essa incrivel conexão subterranea entre a Arabia e o Egito (eu nem lembrava dessa fase), o jogo volta aos trilhos e temos então uma fase de bonus baseada na cena mais iconica do filme:


Por sua vez, Virgin achou que uma fase baseada na música que ganhou o Oscar de 93 era bosta de touro e passou sem. Mas a porcaria da fase de caçar os pedaços do escaravelho de ouro eram importantes, né seus mamelucos fleumáticos?

Bem, de qualquer forma, eu gostaria de comentar que sempre achei a letra dessa música bem estranha...


Esse filme é cheio de coisas creepys quando você pensa sobre isso, não?



Entramos então na reta final do jogo, que é retomar o palacio do Sultão das garras do Jaffar... mesmo que talvez esse não seja o melhor interesse da população de Agrabah, conforme considerado antes. No Mega Drive (acima) o palacio parece... perfeitamente normal, na verdade. Aladdin parece um maluco assaltando o palácio.

No Super Nintendo (abaixo) o palácio parece mais ameaçador... o que significa que o Sultão realmente tem problemas. Quer dizer, normalmente qual é a função da sala na imagem acima? Imagino que a Jasmine deve ter skills de parkour muito doidas se isso é o que ela precisa passar para ir pegar um copo de agua no meio da noite.



Na versão de SNES, você tem a batalha final contra Jaffar em dois estágios: no primeiro pulando na cabeça dele como feiticeiro, depois ele assume a forma de cobrão do mal porque ficar sem braços é a forma mais conhecida e garantida de matar alguém.

Após derrota-lo, rola uma cutscene para que o jogo termine exatamente como o filme - o que é deveras fixe.


Toda batalha se desenrola como o jogo, envolve saltos de uma forma agradavel e uma boa experiencia de gameplay.

Já no Mega Drive, a luta contra o chefe final é...


MAS. QUE. XAVASCA. É. ESSA ?!?

Sério, você termina o jogo sem ver direito contra o que você está lutando! Jaffar (eu acho que é ele, não dá pra ver direito) não para de atacar e você não consegue se aproximar dele nem pra ver ele! Eu nunca vi uma coisa dessas, o padrão de ataque do chefe é tão louco que você não consegue nem ver ele!

Você derrota ele jogando maçãs (que no Mega Drive causam dano ao invés de apenas stunnear), mas repolhos voadores mutagenicos me mordam se essa não é a pior luta de chefe que eu já vi na história dos videogames! Parabéns Virgin, apenas meus eternos parabains!


Depois dessa batalha de chefe inacreditavelmente lixenta, o jogo te recompensa com um final não menos lixendo: a tela acima. Parece que você pode tirar o Cool Spot da Virgin, mas não pode tirar a Virgin do Cool Spot.

Depois vocês não sabem porque a Disney ficou full pistola com vocês, seus parvovírus discrepantes!


No SNES, o final do jogo é uma sequencia de cutscenes que termina como o filme. Olha que ideia louca, não? Porra Virgin, olha isso, é tão dificil assim fazer o básico? Custa tanto apenas fazer o minimo necessário?

Porque é foda, né? Depois vocês não querem que os coitados que tinham pais que não se importavam tanto com seus filhos que deram o videogame mais barato (A.K.A. o da Sega) sejam zoados. Não me admira que a versão de Mega Drive seja tão celebrada na internet: um jogo que tem alguma coisa positiva (a animação e o som) já é para ser celebrado, já que o gameplay ser bom é algo que eles sequer consideram como uma expectativa realista.


Ah, e falando em final, eu não posso dizer que tenho certeza se entendi o final do filme. Porque o Aladdin tinha que desejar ser um principe DE NOVO para casar com a Jasmine? Ele tinha desejado SER um principe com o seu segundo pedido, não PARECER um principe ou TER as coisas de um principe. Então porque ele teria que desejar isso de novo?

Minha teoria é que naquela cena que o Jafar faz uma paródia de Prince Ali e transforma as roupas dele em de mendigo de novo, ele usou sua magia para desfazer a principalidade do Aladdin - se bem que uma fala explicando isso não teria machucado ninguém. E alias, como funciona ser um principe, exatamente? O genio criou um país inteiro, mudou a história do mundo com população e tal?

Se bem que é mais provavel que ele só anotou Aladdin na lista de alguma familia real aleatória, daria menos trabalho...

Mas... onde eu estava mesmo? Ah sim, Virgin e Sega, vão se foderem, na moralzinha!
MEGA DRIVE 2X2 SUPER NES

ROUND #5: DESEMPATE

Tecnicamente a analise terminou empatada porque a Ação Games usa um número par de critérios. E isso é muito broxante, acho que todos concordam. Então como podemos resolver este impasse, uma vez todos angulos analisados?

Bem, terei que criar o meu próprio critério. E assim sendo, obviamente que será um critério justo, imparcial e ponderado. Dito isto, analisarei o jogo conforme uma coisa que eu considero sempre importante: JOGO QUE MENOS PARECE COM BATTLETOADS!


Desculpe Mega Drive, você parece mais com Battletoads e por isso você é o grande perdedor loser chipchipchip. Um critério razoavel e imparcial, como eu havia prometido.

MEGA DRIVE 2X3 SUPER NES

Após esta analise justa, a matemática é clara.
O Super Nintendo é superior. Como sempre.
Fim.

VERSÃO PARA MEGA DRIVE
EDIÇÃO 046

EDIÇÃO 047





VERSÃO PARA SNES
EDIÇÃO 048



PREVIEW NA EDIÇÃO 038



VERSÃO PARA MASTER SYSTEM
Edição 062 



MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 004 


Edição 039


EDIÇÃO 083 (Fevereiro de 2001)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 002