sábado, 4 de abril de 2020

[AÇÃO GAMES 029] CHAKAN: THE FOREVER MAN (Mega Drive, 1993) [#344]


Em 1993, duas coisas muito boas aconteceram aos donos de Mega Drive. Não, eles não foram adotados por uma família que se importava minimamente com eles e que lhes daria um videogame decente, mas dentro do que era possível fazer ainda sim foram coisas boas mesmo assim. A primeira, como eu já comentei aqui, foi que acabou o contrato de exclusividade da Konami com a Nintendo, permitindo finalmente que o console da Sega recebesse títulos como Castlevania, Sunset Riders e Teenage Mutant Ninja Turtles: The Hyperstone Heist

A segunda coisa boa é que começaram a acabar os jogos bosta de Amiga para serem portados ao Mega Drive, e agora com a Konami lançando jogos para seu console e muito em breve a Capcom, a verdade é que a Sega não precisava mais adaptar as pilhas de esterco em formas de jogo para fazer volume na biblioteca do seu console.


Então diante desta magnifica, estupenda notícia, o que é que a Sega faz? Sim, exatamente, ela decide ir e fazer ela própria os seus jogos bosta de Amiga para o Mega Drive. Chakan - The Eternal Man foi lançado exclusivamente para o Mega Drive, mas fede a jogo de Amiga por cada um dos seus poros biticos.


God ... fucking ... dammit... 


Mas ok, vamos inspirar profundamente... então inspirar mais uma vez, se perguntar porque eu estou fazendo isso com a minha vida... e vamos aos trabalhos.

"Chakan - o homem eterno" tem um conceito interessante, verdade seja dita. Claro, por "conceito interessante" eu quero dizer que a Sega condensou todos os anos 90 em uma latinha de Monster Energy Drink e fez ass chuging, mas enfim. Vamos lá: 


Chakan era o espadachim mais inacreditavelmente pica das galaxias do mundo. Ele era tão foda, mas tão foda, e ficou tão convencido por conta disso, que decidiu desafiar a Morte para um duelo. Sei lá como ele tinha o zapzap da Morte, mas enfim. A Morte, que não tinha mais tanta coisa o que fazer depois que as pessoas começaram a lavar as mãos antes de comer (ou seja, por volta do século XIX apenas) decidiu aceitar.



Sendo tão picaroso quanto era, Chakan venceu a Morte no duelo e se tornou o HOMEM ETERNO! Yay, bom pra ele, certo? Quer dizer, eu não sei o que tem de tão incrível em viver para sempre, talvez ele quer assistir todas as temporadas de Supernatural ou algo assim, mas eu tenho como política pessoal de que se é algo que religiosos querem então não tem como não ser merda pura. Enfim, Eduardo Chacão descobriu isso da pior maneira possível: ele de fato se tornou imortal, porém a Morte não falou nada sobre ele continuar jovem para sempre. Assim, Chacão com o tempo se tornou uma mistura do mascote do Iron Maiden com o Pedro de Lara.


Alguns séculos depois, Chacão inevitavelmente ficou de saco cheio dessa merda toda. Quer dizer, só existe até um determinado ponto onde você aguenta ver gente bonita sendo morta por versões modernas dos folclores do mundo inteiro, e dado que fazer um perfil no Tinder para passar o tempo não era uma opção com essa cara, Chacão decidiu procurar a Morte para desfazer seu acordo e poder simplesmente morrer.

Porque sério, cristãos, se vocês acham que vão ficar aguentando olhar pra cara inexplicavelmente branquinha e europeia de Jesus depois do sétimo século, então vocês são mais burros do que parecem. E olha que vocês já parecem bastante.

Diante deste setup, a Morte provou uma cuzona que guarda ressentimento (provavelmente aprendeu com Deus) e disse:


 Ao que Chacão sagazmente respondeu:


Ultrajantemente derrotada mais uma vez, a Morte ,,, apenas mandou ele ir se auto-fecundar a si mesmo. Então Chacão passou os próximos três séculos dizendo "pretty pretty pleeeeeease" com voz de quem tá querendo alguma coisa da mãe até que a Morte disse "ok, tá bom, você pode morrer... mas antes você vai ter que derrotar todo mal!".

Satifeito com sua missão, Chacão partiu para derrotar todo o mal e a Morte pode finalmente voltar a tentar passar do Turbo Tunnel em Battletoads. É, boa sorte com isso...


Chacolito tem algumas coisas a seu favor, sendo a mais óbvia delas a apresentação visual. Era um jogo que parecia saído das páginas de revistas como Heavy Metal ou aquelas revistas de tatuagem que eu nunca vi ninguém comprar mas que de alguma forma estão nas bancas até hoje. Quer dizer, sério, existe tanto público assim que faz tatuagens com tanta frequencia a ponto de ter uma revista apenas ajudar com isso? Eu sei lá, mas onde eu estava? Ah sim, Chacolote. Como eu dizia, o jogo tem aquela estética heavy metal anos 90 que marcou a década porque se você não fosse darki, trevoso e du mauuuuu nos anos 90, então você não era ninguém na fila do pão.


A segunda coisa a favor de Chacote é que ele realmente incorpora o conceito do jogo a sua mecanica: Chacão é, de fato, imortal e isso significa que você tem vidas infinitas. Ok, legal, porém isso também é a ruína do jogo: a Sega considerou que ter vidas infinitas era mamão com açucar demais e decidiu que para compensar faria deste o jogo mais dificil já criado sob o Sol. O que é meio que a missão de todo jogo bosta de Amiga, e a Sega não apenas foi fiel a esse conceito como teve amplo exito em sua empreitada.

A coisa é, no entanto, é que Chacovsk é dificil por todos os motivos errados.


Em primeiro lugar, a detecção de colisão desse jogo é a coisa mais pavorosa que eu já vi em um cartucho. Não, corrijo, ela não é apenas ruim, ela ativamente trabalha contra você o tempo inteiro.

Detecção de colisão é uma expressão chique ...

NÃO PARECE TÃO CHIQUE ASSIM, TÁ...

... caham... significa o jogo computar quem acertou em quem primeiro. Embora no desenho Chacote tenha um alcance muito longo com suas espadas, na prática o jogo apenas registra o hit nos inimigos quando ele está com vontade. E ele raramente tem vontade.



Nesta imagem, por exemplo, Chacão tem que passar mais da metade do corpo em cima da poção para o jogo registrar que você encostou nela. O contrário não se aplica, entretanto: cada minimo pixel do seu personagem que for tocado o jogo registra como dano. Tal qual as chances em Hunger Games, a detecção de colisão nunca está a seu favor.

Não que esse seja o único problema do jogo, claro. Sabe uma forma bem simples de identificar se o seu level design é bem bosta? Mas tipo ultrajantemente, amiga-level bosta? Fácil: saltos de fé. Se o jogo exige que você pule sem ver para onde está indo, e pior, o jogo exige que você acerte saltos com precisão pixelar sem mostrar na tela onde você tem que chegar, então temos lixo da pior qualidade.


Parece um conceito bem simples, não? Você vê onde você quer ir, você pula e acerta ou erra baseado na sua própria habilidade. Simples mesmo.  Exceto que Chacran decide não fazer isso.


God... fucking... dammit... Sega...

E mesmo que você soubesse para onde você quer pular, o que você não sabe, o jogo ainda precisaria que o controle registrasse os comandos que você aperta. Teoricamente Chacão tem um pulo duplo apertando salto duas vezes. Supostamente você pode até mesmo dar um ataque giratório no ar, ajudando a eliminar os inimigos.


 Na prática, aperte quantos botões quiser, o jogo faz isso funcionar apenas quando ele sente vontade. Mas tudo bem, não é como se fosse um jogo de plataforma que exige precisão milimétrica de saltos e... oh, não, espere...

E claro, nenhum jogo absolutamente bostolístico está completo sem o velho truque de dar aos inimigos vida demais, de modo que você não tem como mata-los antes que eles gangbangueiem você por todos os lados. Seu ataque apenas não é forte o bastante para impedir que  eles cheguem até você.


Mas bem, suponho que nenhum jogo bosta está realmente completo sem aspectos tecnicos que envergonhariam um Atari 5200. Porque é fato notório e sabido que a placa de som do Mega Drive é composta por 5 gatos dentro de uma caixa feita de telhas Brasillit roland uma escadaria de 4783 degraus. Porém, de alguma forma, Chakan consegue elevar a mediocridade sonora do Mega Drive a um status de arte, criando uma trilha sonora que é composta exclusivamente de barulhos aleatórios, sendo a maior parte deles descrito como "arranhando quadro-negro com as unhas".

Sério, uma coisa é fazer música ruim, o que Chakan faz é apenas empilhar barulhos porque foda-se.

O jogo também emprega um sistema de alquimia onde você mistura e combina poções coletadas durante suas viagens. Combos diferentes resultam em poderes extras, como uma espada eletrificada ou desaceleração dos inimigos. Ótimas coisas, certo? Bem, como tudo mais aqui, não. Não realmente. 

Nem o jogo nem o manual dão dicas reais sobre como encontrar essas combinações, e mesmo que você acerte a combinação de poções, o jogo não explica o que elas fazem. Hã, seu personagem agora brilha em laranja, isso é bom porque...?

Essa poção deixa ele invisivel (mas não suas espadas)... e isso me ajuda como mesmo?
 
Eu não quero que o jogo inteiro seja explicado, mas ao menos dar uma pequena pista do que os power ups estão fazendo ou deixando de fazer não seria a coisa mais ofensiva que já me aconteceu, ok? Olha, se eu quisesse tentar coisas sem saber o que eu estou fazendo e ser recompensado apenas com frustração, eu teria tentado conversar com garotas, ok?

Ah, e coletar essas poções também é uma merda. Sua tentativa nesses mundos é cronometrada. Isso não é problema, você tem vidas infinitas, certo? Mas se o tempo acabar você será devolvido ao hub central sem nada do que pegou. Os céus proíbam que você mantenha as poções para que possa experimentar combos de alquimia, esperando que aprender o que as coisas façam torne o jogo divertido. Qualquer coisa para esse jogo não ser divertido, esse era o lema da Sega.



Finalmente, Chakan não tem nenhum recurso de save ou password. Você tem que completar este jogo de ação decentemente longo em uma única sentada. Não que não fosse possível ou que isso prejudicaria a experiencia do jogo, apenas que a Sega decidiu que você tem mais é que se foder e era isso. Quando você associa mais esse problema à dificuldade miserável do jogo e aos controles pavorosos, qualquer mérito que a apresentação gráfica mais anos 90 de todos os tempos (isso é um mérito?) se evapora. Porque foda-se.

Foda-se você.

Foda-se a Sega.

Foda-se o Chacrete. Puta jogo da porra, que merda.

 

EDIÇÃO 30