sábado, 18 de abril de 2020

[AÇÃO GAMES 030] OUTLANDER (SNES e Mega Drive, 1993) [#351]

 

Hoje, Mad Max é lembrado por todos como uma puta aula sobre como fazer um filme de ação. Mas nem sempre foi assim, nos anos 80 Mad Max era conhecido por outros motivos. Na época o perigo de Mad Max se tornar uma história real era algo bastante presente, com Estados Unidos e a União Soviética tendo o dedo nervoso em cima do botão para liberar um arsenal nuclear que tornaria a Terra um Australiãozão pelos próximos 500 milhões de anos.

Em 1979 George Miller pegou o australiano mais pancada da cabeça (a.k.a. Mel Gibson) que ele conseguiu achar e filmou sobre um cara muito pistola indo atrás de motoqueiros pós-apocalipticos que mataram sua família, sendo este um dos grandes legados culturais da decada e inspirando outros a fazerem seus próprios mundos pós-apocalipticos. Muitos deles com mais sucesso do que o do próprio Miller, já que Mad Max original não é um filme TÃO bom assim.



Entre os que se inspiraram por Mad estão a Black Isle, que desenvolveu a franquia Fallout, e Yoshiuki Okamura, que mudou seu nome artístico para Buronson (em homenagem a Charles Bronson) e escreveu  o manga mais testosteronico concebido pelo homem até este dia: Hokuto no Ken.


Hokuto no Ken, saiba você, foi o manga que popularizou o famoso "Nani?!?" quando o protagonista dava um golpe, nada acontecia e então ele dizia "você já está morto" (Omae wa mou shindeiru!) e o inimigo soltava um "Nani?!?" antes de implodir por dentro. Sim, porque implodir por fora teria sido meio dificil também, né?


Enfim, Mad Max era quente e todo mundo queria um pedaço de terra desolada radioativa para chamar de seu, incluindo a Mindscape. Em 1990 a Mindscape lançou um jogo do guerreiro das estradas para o Nintendinho e... como eu posso colocar... ele teria que melhorar MUITO para poder ser chamado de bosta.



Ter um jogo reconhecidamente aclamado como um pedaço flamejante de esterco de pulga poderia ter desmotivado muitos, mas não a Mindscape. Ela prontamente começou a trabalhar numa versão de Mad Max para os consoles de 16 bits - Super Nintendo e Mega Drive - o que é um otimismo impressionante da parte dela.

Infelizmente para ela, o fracasso do jogo anterior desmotivou a Warner Bros que não liberou os direitos para um "Super Mad Max" ou qualquer coisa assim. O que foi meio que um problema, porque a altura que eles descobriram que não poderiam fazer um jogo de Mad Max a Mindscape já estava com o jogo quase pronto. Comofas?

Ora, bastante simples: mude o nome do seu jogo para Outlander e torça pro processinho não vir. E assim nascia o jogo de Mad Max que não podia se chamar Mad Max!

Imagens da versão para Mega Drive
Mas que tipo de jogo é Outlander? Certamente um que você não precisa de um herói, hã? hã? ... deixa pra lá, ninguém mais lembra quem é a Tina Turner hoje...

Enfim, a primeira coisa que você vai perceber que Outlander é um jogo que não faz questão de te explicar absolutamente nada. O jogo começa, sabe jogar então joga, não sabe então se fode aí. Achei tematicamente apropriado.

Enfim, o jogo te larga com um carro que totalmente não é o Interceptor do Mad Max cercado por todos os motoqueiros furiosos do mundo. Como o jogo não tem história - suponho que ela teve que ser descartada por ser referente a Mad Max - você pode imaginar o que deve ter feito para despertar tanta raiva de motoquinhas assim.


Meu palpite é que você aplicou esse clássico neles:


Bem, seja qual for o motivo, o fato é que todos os motoqueiros da Australia te querem morto. O que, na Australia, honestamente é o menor dos seus problemas. A noticia boa é que seu carro é uma arma mais do capaz para lidar com meliantes motoquizados, e atropelar todo mundo como um idoso frenético é sim uma opção viavel e muito divertida.

Para aprimorar este momento, finja que esses motoqueiros são nazistas da KKK
Você pode até frear para derrubar os motoqueiros que estão colados atrás de você. Como na vida real.

Infelizmente a Mindscape decidiu que no jogo dela não ia ter essas frescuras de "diversão" e decidiu estragar a brincadeira: atropelar os motoqueiros consome sua vida. Na versão do Mega Drive até menos, mas no Super Nintendo bater nos motoqueiros tira quase tanta vida quanto ser atingido por eles. Bummer. Super bummer weak.

Seu carro também está equipado com uma minigun que tem a façanha de não servir para absolutamente nada, não conseguindo causar dano em ninguém, nem mesmo na Fafa de Belém.

Essa fumacinha na frente do carro é a sua metralhadora bosta
A terceira forma de ataque que o jogo te dá é que quando um motoqueiro passa do seu lado abre uma janelinha para você atirar nele com a escopeta -o que você faz no SNES com L e R, mas no Mega Drive é com o mesmo botão de tiro normal, fazendo você gastar munição bem frequentemente.

Tal como atropelar os motoqueiros, atirar neles com a escopeta é muito satisfatório. Dar um tiro e ver pelo retrovisor a moto de estabacar e explodir é deveras legal mesmo. Porém, tal qual atropelar, é algo realmente legal que a Mindscape decidiu que não deixaria você se divertir com isso. A munição de escopeta é terrivelmente escaça e nem de perto para lidar com o enxame de motoqueiros que circundam o seu possante.

Na versão do Mega Drive, a principal diferença é que a direção do carro é em primeira pessoa. O que torna mais dificil ver os ininigos ao redor e atrás do seu carro, mas por outro lado torna mais maneiro atropelar motoqueiros.
Adicione a esta abundancia (meu irmão) de inimigos, uma pista repleta de obstáculos e teremos que sua barra de life acaba mais rapido do que acabaria o uso de cybermaidcatlolis para uso doméstico na mão dos grupos de "direitos humanos", pff.

Sério, embora não tenha nada de errado com controlar o carro (parece muito com Top Gear), o jogo é dificil daqueles que são dificeis porque te atiram um milhão de coisas ao mesmo tempo e você não tem ferramentas suficientes para lidar com isso - mesmo que você fosse um coreano movido a cafeína.



A este ponto você pode estar se perguntando se não seria mais justo, ou pelo menos durar mais que três minutos, se você tivesse como recuperar vida, ou munição. Ou gasolina. Bem, tem. Ao parar seu carro o protagonista (que totalmente não se chama Max) desce e você pode fazer uma fase de plataforma para recolher recursos.

Moça, voce ja fez o seu cartão Renner?
Como tudo mais nesse jogo, conceitualmente as sessões de sidescroller são uma ideia legal para dar uma apimentada no tempero da vida. Na pratica, a Mindscape transforma essa jornada em apenas dor. Isso porque existem apenas dois tipos de inimigo nesse jogo: os motoqueiros e essas mulheres da imagem aí acima. 

As mulheres punks pós apocalipticas atacam com tiros de escopeta, então sua única saída é atirar nelas antes que elas atirem em você. O que poderia ser fixe, não fosse o fato que de que você entrou nessa fase justamente porque estava atrás de recursos - então gastar as poucas balas que porventura tenha sobrado é exatamente o contrário do que você queria.

Cada mulher precisa de dois tiros para morrer, e existem dezenas delas. Balas, você só tem 8. Boa sorte com isso. E olha que esse nem é o maior problema dessas fases, esta dubitosa honra pertencendo aos motoqueiros.


Eles vem a um milhão por hora e se você não atirar neles no milissegundo que eles entrarem na tela, eles atiram um molotov que acerta quase a tela toda e é instakill. Morreu na hora, já eras. O problema é mesmo que você tivesse munição e reflexos de tungstenio para atirar nos motoqueiros, normalmente você já vai estar ocupado lutando com as mulheres punks ou outros motoqueiros. Não raramente, uma combinação de ambos.


Mesmo que você fosse o coreano mais cracudo do mundo, o jogo não responde rápido o suficiente para dar conta de tudo isso. É como o enxame de motoqueiros que cerca o seu carro, só que aqui eles tem instakill. 

Porque foda-se, apenas por isso.


O objetivo do jogo é passar pelas 20 cidades para chegar ao final do jogo. Com muito esforço e savestate eu consegui chegar até a metade da primeira. Porra. PORRA. MAS QUE MERDA, MEU!

Outlander tem verdadeiramente ideias boas que dariam um bom jogo de Mad Max, são conceitos realmente maneiros que dariam um jogo do balacobaco... mas a Mindscape cagou em todo e cada um deles, tornando esquecível um jogo que tinha tudo para ser um dos top da sua geração. Medíocre!


VERSÃO DE SNES EDIÇÃO 035