Pouca gente parou para pensar que Toy Story 2 tem, em seu amago, uma discussão sobre a maior mudança de paradigma da cultura pop do século passado. Até os anos 60, os filmes de faroeste eram mais ou menos o que os filmes de super heróis são hoje. Embora não fossem amados pela crítica, eram absurdamente populares com o público.
Mas o que aconteceu com o faroeste que praticamente desapareceu da cultura pop nos anos seguintes, ao ponto que só voltou a ser lembrado com os faroestes italianos de baixissimo orçamento? (os famigerados "Spaghetti Western" que o Leonardo Di Caprio faz em "Era uma vez em Hollywood).
O espaço. A fronteira final.
Nos anos 60 a humanidade fez a coisa mais inacreditavel dos seus 250 mil anos de história: o homem foi a Lua. A Lua, sabe a Lua, aquele pedrão voador que você olha no céu sobre a sua cabeça a noite? Então, fumus e voltumos. Radical demais, não? Ora, não é de se surpreender que todas as crianças da nação queriam agora serem astronautas e sci-fi mais do que bang-bang.
E isso inclui a geração que criou os videogames a partir dos anos 80. Por causa disso, por causa dessa mudança de paradigma é que temos centenas, milhares de jogos sobre naves espaciais, robos e aliens. Mas existem muito poucos jogos de velho oeste. E não é uma pena que não tenhamos um jogo sobre homens durões cavalgando ao por do sol e falando frases de efeito enquanto atiram em bandidos ridiculamente maus?
Em 1991, a Konami achou que sim. Então prepare suas melhores frases de efeito em portunhol e vamos cavalgar em direção a justiça e recompensas! Vamo-nos, gringo!
Mas... como você faz um jogo de faroeste, exatamente?
Bem, não é realmente dificil, quando você pensa sobre isso. Games de run'n gun não são exatamente novidade no mundo dos games. Jogos de andar para direita abrindo caminho a bala, as vezes alternando entre dois níveis. Jogos como Rolling Thunder 2, The Revenge of Shinobi ou o mega famoso CONTRA da própria Konami.
Rolling Thunder 2, o famoso jogo da dupla Leila e Albatroz |
O que a Konami precisava fazer era apenas pegar um esqueleto de run'n gun e colocar todas as camadas de western que podia nele. E foi exatamente o que eles fizeram aqui.
E se tinha algo que a Konami sabia fazer naquela época, eram arcades bonitos, com personagens grandes e tudo muito colorido. Só lembrar que é dela o Tartarugas Ninja 2 e o arcade de beat'm up dos X-Men baseado em um episódio piloto de um desenho cancelado (mas oi?)
Sim, aquele arcade dos X-Men que tinha a Dazzler. Foda-se a Dazzler. |
Sunset Riders tem tudo que você pode esperar de um jogo baseado em faroeste, eles não pouparam ideias aqui... e tambem porque não tem tanta coisa assim que se pode fazer de diferente com faroeste, não é exatamente o genero mais aberto a originalidade...
... mas enfim, você tem tiroteios, obviamente...
... evitar assaltos a trens...
... perseguições a cavalo, naturalmente...
... e que western realmente poderia se chamar assim sem um bom e velho tiroreio em um saloon onde dançarinas de cancan dançam entre cadaveres baleados, não é mesmo?
... espera, o que? Err, e claro, tem também a tradicional corrida sobre um estouro da boiada, tão famosa nos westerns... eu acho...?
e, hã, o famoso também massacre de indios, porque alguém tem que ensinar a esses piltres, um dos pilares mais fundamentais do faroeste raíz que por algum motivo os americanos começaram a achar que não era tão politicamente correto assim. Jamais saberemos o porque.
Enfim, meu ponto é que Sunset Riders tem o pacote completo de tudo que você poderia esperar de um jogo de faroeste. Na verdade tem tanto de tudo que não sobrou nada para os outros jogos, dado que eu não consigo lembrar de outro jogo de faroeste até a série Red Dead da Rockstar, dali uns bons 10, 15 anos.
Adicione a isso vozes digitalizadas para os vilões em uma época que isso era raro (hoje qualquer jogo indie tem mais dialogo que Guerra e Paz narrada pelo Cid Moreira) e temos frases de efeito que marcaram uma geração. Afinal o que pode ser mais delicioso do que encher um chefão de balas e ver ele despencar do segundo andar para dizer como ultimas palavras "Bury me with my money..."?
... hmm, várias coisas, pensando bem. Acho que eu preciso sair mais de casa...
Porém sabe o que seria realmente legal? Se a Konami esquecesse que esse jogo é um arcade e não dedicasse cada misero segundo do jogo a te virar de ponta cabeça e arrancar suas ultimas moedas. O que é definitivamente que a Konami de hoje faria se não envolvesse ter algum trabalho, mas enfim.
Inacreditavelmente... a Konami decidiu não fazer isso. Sunset Riders não é um game especialmente difícil, ainda mais se comparado aos outros run'n gun como Contra
(especialmente a versão do NES) ou Rolling Thunder, ele é uma ida ao McDonalds. Não é
complicado desviar dos ataques inimigos, os Power Ups ajudam um bocado e
os chefes possuem padrões de ataques bem definidos, que podem ser
enfrentados com alguma estratégia.
Não é doido esse conceito de fazer um jogo que pode ser divertido de se jogar? Acredite, acontecia nos arcades com menos frequencia do que o bom senso recomendaria. Adicionalmente, Sunset Riders pode ser jogado por até quatro pessoas e até onde me consta é o único run'n gun que pode ser jogado por quatro maconheiros sem banho a quinze ciclos lunares em um ambiente fechado sem ventilação.
Bons tempos, eu te digo, bons tempos...
Então é isso. Cavaleiros do Por do Sol não é um jogo particularmente complexo, porém bastante divertido no que se propõe a fazer e que definitivamente envelheceu bem melhor do que os pares da época. Die, gringo!