domingo, 21 de fevereiro de 2021

[SNES/MD] PAC-MAN 2: The New Adventures (ou "Hello! Pac-Man!" no Japão) [Outubro de 1994][#639]


Antes de começar, eu realmente PRECISO chamar a atenção para a diferença entre a capa americana do jogo (essa aí em cima) e a capa europeia do mesmo (abaixo). Se você precisar explicar os anos 90 culturalmente em apenas uma ideia, as capas do comilão (como foi dublado no Brasil no cartoon de 1982) fazem o trabalho por você.


Isso sendo dito, para o nosso jogo número 628 desse blog, temos a entrada mais... aleatória de todas até então. Eu só não digo "surpreendente" porque eu aluguei esse jogo quando era criança uma vez e nunca mais encontrei ele. Todo fim de semana eu voltava na locadora e procurava esse jogo e nenhum sinal dele na prateleira. E dada a natureza bizarra desse jogo, eu considerei possível que ele jamais tivesse existido e eu apenas imaginei ele na minha cabeça, seria a explicação mais plausível.

VOCÊ IMAGINANDO COISAS NA SUA CABEÇA COM TANTA CONVICÇÃO QUE CHEGARIA ATÉ O PONTO DE CONVERSAR COM ELAS, NÃO CONSIGO VISUALIZAR UMA COISA DESSAS...

E não é? Hmm, agora me ocorre que eu podia simplesmente ter perguntado ao funcionário, mas eu nunca tinha realmente considerado isso sequer uma possibilidade. Algumas coisas nunca mudam, afinal. Mas então, o que esse jogo tem de tão único, tão bizarro, tão randomico que é realmente plausível eu achar que tinha imaginado ele do o jogo simplesmente existir?

Bem, eu não realmente preciso explicar Pac-Man, certo? Todo o universo observável e pelo menos as 8 dimensões vizinhas a nossa sabem do que se trata o grande sucesso dos arcades dos anos 80:


Verdade que algumas dimensões conhecem o jogo apenas pelo porto PA-VO-RO-SO do jogo para o Atari, e por essa razão juraram acabar com a nossa realidade espaço-temporal. Ao que eu não os posso culpar.

Mesmo para os padrões do Atari isso é horrendo

Então você vê na prateleira um jogo chamado "Pac-Man 2" e se pergunta que tipo de jogo seria esse. A primeira imagem mental que você faz é que seria, obviamente, um jogo arcade-like com o mesmo gameplay só que levemente alterado, uma continuação bem aos moldes de TETRIS 2 por exemplo. Mas... não é isso.

Okay, se não é um jogo tipo arcade você pode então imaginar que a Namco percebeu que a era desses jogos tinha passado e decidiu modernizar o personagem o colocando em um jogo de plataforma moderno, que é como as coisas rolavam em 1994. Não muito diferente do que foi feito com PITFALL: The Mayan Adventure e... não é isso também.

Um próximo palpite seria que então eles decidiram chutar o balde e fazer um jogo de luta logo porque é isso que era popular na época e foda-se, como foi feito com DOUBLE DRAGON 5: The Shadows Fall e... também não.


O que a Namco fez transformar a continuação de Pac-Man em... um point'n click. Mais especificamente um point'n click para crianças que é também uma missão de escolta.

OK, AGORA VOCÊ ESTÁ APENAS JOGANDO PALAVRAS.

Olha, eu vou te dizer que ficarei muito surpreso se o processo criativo para a formação desse jogo foi qualquer coisa diferente de usar os peixes-boi de South Park, porque realmente parece que foram só jogando palavras aleatoriamente. Entretanto é inegavel que esse é o jogo que Pac-Man 2 é.


Vamos então tentar explicar como isso funciona: o cenário do jogo é baseado no cartoon de 1982 em que Pac-Man mora numa casinha suburbana com sua Pac-Esposa e seus dois Pac-filhos, enquanto os fantasmas do jogo original tem o trabalho de ficar enchendo o saco do Pac-dude agora Pac-Paidefamília porque sei lá, é o que fantasmas fazem eu acho.



O jogo é basicamente o Pac-Man de boa na lagoa, então algum problema cotidiano familiar acontece e a Pac-Patroa manda ele levantar sua Pac-Bunda da cadeira e resolver alguma coisa porque a vida é uma eterna sitcom dos anos 60 e essas MOLIERES que não podem ver um cara em paz, amirite?


Vê, você não realmente controla nosso Pac-dude em sua crise de meia idade imaginando onde foi parar o seu six-pac, não. Pac-Bro sai andando aleatoriamente e você controla um estilingue que pode interagir com os objetos do cenário, e você PEDIR para o Pac-Man mudar de direção ou olhar para cima ou para baixo.

Então como eu disse, é um point'n click com missão de escolta.


Okay, então aponte pra que lado Pac-Man tem que ir, interaja com o cenário para abrir caminho pra ele, parece realmente simples, não? E é. como eu disse esse jogo foi pensado para ser um point'n click para crianças e extremamente básico.

Isso não é um defeito, contudo. Quer dizer, a proposta do jogo é ser o primeiro jogo do genero para uma criança e eu acho que ele realmente tem sucesso nisso. Claro que você pode ser perguntar porque usar o Pac-Man para isso, ou porque introduzir point'n click para crianças em consoles que praticamente não tem jogos desse genero, e todas essas são perguntas muito válidas.

E a resposta a elas, até onde eu consigo formular uma, envolve drogas, basicamente. Muitas e variadas drogas, só isso explica essa sequencia de decisões pouco comuns da Namco ainda que não sejam decisões ruins. São só estranhas mesmo.


Porém o jogo não é apenas mandar Paconcio do ponto A ao ponto B, o jogo seria chato se fosse apenas isso. De modo que a Namco decidiu tornar a experiencia mais... interativa, e é aqui que as coisas ficam realmente estranhas. 

Você pode interagir com um numero realmente grande de itens no jogo, e nem todos são relacionados a cumprir a missão da fase. Algumas vezes você tem que proteger o cara dos perigos no cenário, mas grande maioria das interações, na verdade, é para sacanear o Pac-Man e deixa-lo full pistola, porque esse jogo é mais conhecido por ser o Pac-Bullying simulator. Sim, alguém realmente pensou em algum ponto "Sabe o que a gente realmente precisa? De verdade? Um jogo para fazer bullying com o Pac-Man!".

Eu não sei exatamente a que ponto das drogas estamos quando alguém teve essa ideia, mas posso te dizer que é pelo que esse jogo é mais lembrado. Em todos os meus anos nessa industria vital, taí algo que eu não imaginaria.


Porém enquanto você PODE sacanear o Pac-Man, e definitivamente é divertido encontrar várias formas disso, não é o seu melhor interesse faze-lo porque o Pac-Man não te obedece se ele não estiver no humor para isso.

"Humor?", você perguntaria e sim, como o Pac-Man está se sentindo tem uma grande influencia no jogo.

Claro, Pac-Man pode parecer um sujeito alegre, mas aparentemente ter decaído do status de estrela, a vida de casado e a paternidade deixaram o cara um tanto quanto emotivo. Se as coisas derem errado (ele se estrepar com os perigos no caminho ou você intencionalmente ferrar com a vida dele), ele vai ficar pistola. E isso altera a forma que ele interage com os objetos, usualmente as coisas dão errado e ele fica mais pistola ainda.


É basicamente um cartoon do Pato Donald, sabe? Que ele fica puto, então tenta fazer as coisas puto elas dão mais errado ainda e ele fica mais puto ainda. Embora seja engraçado, não é o que você quer para conseguir jogar o jogo. A boa noticia é que Pac-Man é um sujeito simples e é fácil acalma-lo. 

Se você quiser mantê-lo feliz, derrube uma maçã de uma árvore para ele comer, faça-o sentar no banco da praça para relaxar ou deixe-o visitar a loja de instrumentos de música para ele brincar um pouco. Seu humor vai melhorar em breve, tornando-o muito mais propenso a seguir as instruções. Outras vezes Pac-Man está se sentindo "aprontão" e vai mexer com as pessoas pra sacanear ela, e você tem que dar umas estilingadas nele para ele comportar.

Eu achei essa sacada realmente inspirada da Namco, porque dá uma personalidade ao Pac-Man onde não havia nenhuma (mesmo que a personalidade seja a do Pato Donald, mas enfim)

Entretanto, nem tudo funciona tão bem assim. Mesmo sem essas mudanças de humor selvagens, a ausência de um controle direto sobre o dude pode ser frustrante as vezes. Várias vezes eu estava clicando furiosamente no que pensei ser uma instrução clara para olhar para cima ou para baixo apenas para o jogo interpretá-lo como uma instrução para ir para a direita ou para a esquerda. Outras vezes, eu apertava desesperadamente o botão "olhar" para um objeto de interesse apenas para que Pac o ignorasse, apenas reconhecendo sua existência quando ele estava precisamente no pixel certo (e com o humor certo para isso).

Não que seja o maior problema do mundo, já que este não é um jogo em que você "morre". No máximo quando o Pac-Man se estrepa o jogo reinicia a tela e dá a você outra chance, embora com Pac ficando cada vez mais deprimido. Não é muito dificil achar coisas para melhorar o humor dele, então é mais um incoveniente do que uma dificuldade mesmo.

O que torna o jogo dificil mesmo, e aí sim é meu problema com ele, é a solução dos puzzles. As duas primeiras fases são faceis, você precisa ir até a vaca pegar leite para o Pac-Baby e na segunda precisa ir pegar flores para seu Pac-Pimpolho dar de presente de aniversário para a crush dele (Pac-Man, pai/wingman).

Propaganda zoando, pelo que eu pude deduzir, Sonic, Bubsy, Earthworm Jim, Mario e Donkey Kong.

Na terceira fase é que as coisas complicam. Vc precisa recuperar uma guitarra do Pac Jr que foi roubada pelos fantasmas e a forma de fazer isso é absolutamente aleatória: você tem que estar com o Pac-Man full pistola, fazer ele interagir com um hidrante três vezes seguida e na terceira ele vai ficar tão puto que vai passar fita tape na porra toda. A água represada então vai acumular e explodir a boca do esgoto, abrindo passagem para ir até a fabrica onde os fantasmas se esconderam.

A partir daí o jogo passa a exigir mais uma par de vezes que você esteja num humor especifico para interagir repetidas vezes com um objeto aparentemente aleatório para progredir. O que, num jogo até então para crianças é um tiro no pé do tamanho de maracangalha.


Pac-Man andando no modo full pistola

Enfim, este é um jogo difícil de resumir.

Por um lado, esta é uma abordagem interessante e única de um personagem conhecido. Teria sido muito fácil para a Namco só ter inventado qualquer porcaria levemente diferente e ter chamado de Pac-Man 2, mas essa é uma ideia original e até mesmo complexa de ser executada em 1994 - não é uma época conhecida pelo seu gerenciamento de inteligencia artificial, afinal. Por outro lado, clicar nas coisas com o Pac-Man em movimento as vezes é frustrante, ele não reconhecer seus comandos também cansa e a solução de puzzles pula do completamente obvio para o "não tem como jogar sem walkthroug" do nada.

E no modo felicidade máxima

Ainda sim, eu não quero ser critico demais com esse jogo. Podia ser melhor, com certeza, mas eu me diverti jogando, vendo todas as coisas que dá para interagir e com o Pac-Man reage a elas. Claramente muito esforço e pensamento foi colocado nesse jogo e isso é algo que eu respeito.

Afinal este é um dos jogos mais originais que joguei nesse projeto e eu acho que a experiencia vale, se mais nada, pela criatividade da coisa. Até porque, o que mais eles poderiam fazer de diferente com Pac-Man?


Hã, melhor não deixar Hollywood saber disso...

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 072


Edição 077


Edição 142 (Agosto de 1999)




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