domingo, 27 de dezembro de 2020

[SNES/MEGA DRIVE] DOUBLE DRAGON V: The Shadow Falls (Agosto de 1994) [#597]


Em 1994, os grandes executivos ocidentais ainda não haviam realmente "entendido" os videogames, mas entenderam uma coisa mais relevante ainda para os seus negócios: por algum motivo, as crianças se importavam com aquela merda. 

Quer dizer, verdadeiramente se importavam com aquilo, com aqueles personagens e tudo mais. E por se importar eu quero dizer que estavam dispostos a colocar dinheiro em camisetas, bonecos e spin-offs em outras mídias. Enquanto os executivos não realmente entendiam sentimentos (como é da natureza dos executivos), eles entendiam que havia uma oportunidade a ser explorada aí.

Assim começou a grande corrida do ouro para tirar o máximo de dinheiro das crianças no menor espaço de tempo possível, o que nos levou a trágica série de adaptações cinematográficas de 1994. Tirando o filme do Mortal Kombat, que é okay para a época, todo mundo lembra dos desastres conhecidos como Street Fighter e Super Mario. Quer dizer, o filme do Street Fighter não é TÃO ruim apenas porque o Raul Julia compreendeu a bizonhice que ele tinha se metido e entregou uma atuação brilhantemente insana como M. Bison. Não que tenha algo haver com os jogos, mas é de longe uma das melhores coisas daquela década.


Já o filme do Mario, não. É só sofrimento e dor mesmo. Dor.


Então nesse afã de fazer um dinheiro rápido e fácil, os executivos scoutearam os videogames em busca de marcas que fossem reconheciveis para ser exploradas... mas que não fossem muito caras também. Nada como marcas da Sega ou da Nintendo, essas coisas custariam muito. O segredo era procurar algo que os gamemaníacos reconhecessem, mas tivesse uma produtora meio merda que aceitasse dois pingados e um pão com mortadela como pagamento.

Como prova de que existe uma força maior zelando por nós, as duas primeiras tentativas nesse sentido fracassaram retumbantemente e jamais passaram do episódio piloto.

SE NUNCA PASSARAM DO EPISÓDIO PILOTO, COMO TU SABE QUE É RUIM?

Porque eram cartoons de BATTLETOADS e BUBSY. O que possivelmente poderia dar errado?

IAICKS...

Pois é. Adicionalmente,  os desenhos eram tão ruins, mas tão ruins, mas tão ruins que foram rejeitados pelas audiencias teste. Você faz idéia do quão ruim um desenho dos anos 90 precisa ser para ser rejeitado? 

Porém ao mexer com essas coisas, os executivos se depararam com um spin-off curioso chamado de BATTLETOADS AND DOUBLE DRAGON: THE ULTIMATE TEAM. E, para grande surpresa dos executivos, esse tal de "Double Dragon" atendia os dois requisitos que eles tinham estabelecido:

a) Era uma franquia reconhecida por qualquer gamer, afinal Double Dragon foi o primeiro grande título de beat'm up a explodir em popularidade no ocidente;
b) Era uma marca barata, já que após anos de jogos ruins a licença podia ser adquirida por um pacote de Whiskas Sachê;

ESPERA, SE ERA BARATO... TALVEZ SEJA BARATO POR UM MOTIVO, NÃO?

Você obviamente não é talhado para ser um executivo dos anos 90, Jorge.

OBRIGADO... EU ACHO?

Pois é, então através de uma combinação obscura de ligações, os executivos decidiram que Double Dragon seria a próxima grande vaca a ser ordenhada pela industria com um longa metragem e um cartoon que viria, obviamente, com sua própria linha de brinquedos. Mais uma vez, o que possivelmente poderia dar errado?


Mas você acha que o filme do Double Dragon é ruim... você está certo, é uma das maiores abominações da sétima arte jamais produzidas. Mas não realmente menos ruim é o cartoon produzido para ser passado sabado de manha. Mas hey, pra que falar a respeito se eu posso mostrar a vcs?

EU REALMENTE PREFIRO NÃO...

Não é como se você tivesse escolha, Jorge. Aqui está:


OK, PARECE BEM RUIM MESMO. MAS TEM UMA COISA QUE NÃO FAZ SENTIDO...

Só uma?

... VÁRIAS, NA VERDADE, MAS UMA EM PARTICULAR: COMO É QUE VOCÊ TRANSFORMA DOUBLE DRAGON EM UMA FRANQUIA? QUER DIZER, O JOGO NÃO É SOBRE NADA EM PARTICULAR ALÉM DE BATER EM PUNKS QUE SEQUESTRAM NAMORADAS ALEATORIAMENTE.

Então, de fato esse é um grande problema. A trama do primeiro Double Dragon é que a namorada de um dos irmãos é sequestrada por punks e eles tem que resgata-la - não sem antes lutarem entre si para decidir de quem ela é namorada. Realmente bom material para um cartoon. 


A solução que eles arranjaram para isso, tanto no filme quanto no cartoon, foi... basicamente nenhuma, na verdade. Hã, alguma coisa, chosen one, marca do dragão que nunca tem um lore desenvolvido além dessa frase, alguma coisa. Quer dizer, é anos 90, você sabe o tipo de patifaria que eles são capazes de fazer. 


Eu não disse?

Mas então... Double Dragon, o cartoon pavorosamente ruim, ganharia um joguinho licenciado porque Deus especificamente me odeia. Problema: os beat'm ups de Double Dragon estavam flopando violentamente porque... bem, eles eram ruins, simples assim. Desde DOUBLE DRAGON 3: The Rosetta Stone (que teve a genial ideia de criar um sistema pay-to-win no arcades e você tinha que colocar moedas para ganhar itens de cura e power ups) a série entrou numa espiral descendente e quando SUPER DOUBLE DRAGON ninguém mais se importava. E não que o jogo se ajude. 



Alias só por curiosidade, esse é o Double Dragon 5, que vem depois do 3. Não existia um Double Dragon 4 (tanto que foi lançado um jogo em 2017 com messe nome), então vou assumir que não-oficialmente o SUPER DOUBLE DRAGON é o Double Dragon 4.


- Eca, cara tem uma minhoca radioativa no teu peitoral sarado. mano!
- Nos teus musculos de macho super definidos também, mano! Que nojo, mano!

Mas onde eu estava? Ah sim, beat'm ups estavam flopando. Hmm, o que os jovens de 1994 consideravam maneiro e descolado então? Ora, jogos de luta! É o que todos os jovens ultradinamicos querem! Então o jogo baseado no cartoon de Double Dragon passou de beat'm up para jogo de luta um contra um, SEU COROA!

Hmm, um jogo que tenta misturar Street Fighter e Mortal Kombat apenas pra embolsar uma grana fácil baseada em um cartoon bosta e que nunca fez um jogo de luta na vida. Na verdade, a Leland Corporation fez apenas um jogo de futebol americano bem ruim, um jogo de corrida não realmente melhor e DRAGON'S LAIR II ...o que possivelmente poderia dar errado?


Bem, me permita colocar assim: alguns jogos são bons, alguns jogos são ruins e alguns jogos são Double Dragon 5: The Shadow Falls. Chamar DD5 de clone de Street Fighter é um insulto aos clones de Street Fighter, ele no máximo um clone de WORLD HEROES (que já é um clone bem marromeno de Street Fighter)

O elenco do jogo é composto por Bimmy e Jimmy, digo Billy e Jimmy... e depois disso apenas um bando de vilões da semana do cartoon que honestamente nem os produtores vão lembrar deles quinze minutos após ter entregue o trabalho. Existem também alguns personagens criados exclusivamente para o jogo, mas eles meio que se misturam com o miasma de mediocridade desse jogo.

Mas okay, você provavelmente quer saber o que faz desse um jogo de luta tão ruim assim, certo?


NÃO REALMENTE. MAS EU TENHO OPÇÃO?

Não. O maior problema com o combate aqui é que se você fizer qualquer contato com seu oponente ele é empurrados para trás um pouco, então esse é um jogo de luta absolutamente sem potencial para combos ou construção de momentum ou estratégia de combate ou qualquer coisa. Mesmo se você conseguir um prender o oponente no canto da tela você é que vai ser empurrado pra trás. 

O segundo maior problema é que enquanto existem movimentos especiais como bolas de fogo e eletrocuções e toda essa coisa de jogos de luta, eles tiram pouca energia e não vale o esforço para usa-los. Mesmo que você use, muito provavalmente o computador vai te interromper de qualquer jeito então esse jogo se resume aos golpes fisicos dos personagens. Quer dizer, eu estou falando sério, olha como é uma luta tipica de Double Dragon 5:



Eu não estou de sacanagem com vocês, é isso o jogo: Voadera e Rasteira, the fighting game. Uau, isso já seria inaceitável em 1991, mas em 1994 não é nada senão um tapa na cara que você pagou 60 dolares para levar (R$539,80 ajustados para valores de hoje). Ah mas vão arranjar um lote de terra pra carpir, sério mesmo.

Tem também um sistema de alocação de pontos de atributo, permitindo que você configure seu lutador. Você pode remover e colocar pontos extras em defesa ou ataque ou movimentos especiais. É uma boa ideia no papel, só que implementada com o padrão Double Dragon de qualidade. Ajustar um ponto aqui ou ali não faz diferença, a unica coisa que você pode fazer que fará alguma diferença é tirar todos os pontos dos ataques especiais para aumentar o seu dano - já que mesmo no máximo eles não são realmente melhores que voadora e rasteira. 


Pra não dizer que esse jogo não tem NADA de bom, Dragão Duplo 5 tem seu próprio sistema de fatalities que são chamados de overkills. Só que eles funcionam de uma forma diferente: o comando do overkill não depende do seu personagem e sim de quem você está enfrentando, então você não tem que aprender os golpes apenas do seu personagem, você tem que decorar os overkills de TODOS os personagens do jogo se quiser usar eles.

O que parece mais terrível do que é realmente, porque são comandos bem simples. Por exemplo, quando você derrotar o Icepick a overkill é acionada apenas por um soco médio abaixado. Então pelo menos isso não é terrível.


Outra coisa não tão terrível é o manual do jogo, que é toda uma revista em quadrinhos na qual os personagens explicam as coisas do jogo dentro dos quadrinhos. O que... ficou legal, na verdade...


Olha, vou te dizer que o manual é de longe a melhor coisa do jogo... o que não é realmente dizer boas coisas sobre ele. Quer dizer, sério, a melhor coisa que eu posso dizer sobre o jogo é que ele "tem um bom manual"? Sério?

Bem, pelo menos a versão do Super Nintendo e Mega Drive tem isso. A versão no Jaguar vem sem esse manual em quadrinhos, assim como várias outras coisas foram cortadas do port para Jaguar: elenco menor, nenhum modo de história, os controles são ainda mais duros e os personagens que causam ainda menos danos do que antes. Tá aí o supostamente console mais avançado, né, DO THE MATH Luis Renato!

Enfim, Double Dragon 5 é um jogo enfadonho que a parte da luta não funciona devido a jogabilidade tenebrosa. O que, para um jogo baseado em um cartoon enfadonho e terrível, não pode ser acusado de injustiça. 

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