terça-feira, 29 de março de 2022

[#850][SNES] PORKY PIG'S HAUNTED HOLIDAY [Outubro de 1995]

Quer dizer, sério mesmo? Serião? Jogo do Gaguinho? Mas é mesmo? Porque falando sério, eu nunca conheci, ouvi falar ou tive a menor ciência de que alguém nesse universo ou em qualquer outro que alguém seja fã do fucking Gaguinho. Quer dizer, quando se fala em personagens dos Looney Tunes tem quem goste do Pernalonga, os fãs do Patolino, alguns acham o Taz divertido... Coyote e Papaléguas, Frajola e Piu-piu e até quem goste do Marvin o Marciano... mas o Gaguinho? Quem caralhas se importa com o Gaguinho?

E sabe o que é mais impressionante? Até os anos 90, o Gaguinho era o segundo personagem dos Looney Tunes mais usado em desenhos animados, atrás apenas do Pernalonga. Tipo... why? Pq o personagem que ninguém se importa era tão recorrente assim?

Bem, acredite ou não a explicação faz mais sentido do que parece.

Bosko foi o primeiro personagem recorrente na série de desenhos animados de Looney Tunes, protagonizando 39 cartoons entre os anos 20 e os anos 30. Porém em 1933 os criadores do personagem tiveram uma dispita com a Warner Bros e no fim das contas levaram o personagem para a MGM.

O que deixou a Warner pendurada no pincel, eles precisavam de um novo protagonista para os seus cartoons e fizeram o que um estudio faz até hoje quando está desesperado: saiu atirando pra todo lado pra ver o que colava. E nesse caso não foi nem discreto, eles sairam tacando personagens a torto e a direito pra ver se alguma coisa podia ser o novo protagonista da porra toda. 

E eu quero dizer que eles literalmente fizeram um show de calouros pra ver o que colava, no cartoon "I Haven't got a hat" de 1935


E desses personagens o que acabou pegando foi justamente o porco gago com voz distorcida pq, sei lá, era um gimmick sem precedentes e todo mundo achou a coisa mais hilária ever. Os anos 30 foram estranhos...

Bem, seja como for assim a Warner teve o seu primeiro Looney Tunes da formação moderna... o problema é que a Warner não sabia muito bem o que fazer com ele ja que o personagem era literalmente só o gimmick, não é como se ele tivesse uma personalidade ou mesmo estabelecido se ele seria adulto ou criança. Seja como for, a Warner foi xuxando o personagem por alguns anos até que em 1937 eles descobriram o mapa da mina.

Isso porque nesse ano saiu o curta Porky’s Duck Hunt, em que o protagonista Gaguinho vivia altas confusões com um pato muito louco.

Foi com o cartoon de estreia do Patolino, esse daí, que a Warner se ligou que o Gaguinho não tinha muita personalidade por si só, mas ele era um escada perfeito para esquetes de comédia.

 "Escada" é um termo usado no teatro de comédia para definir um ator secundário que entrega a piada para o ator principal completar a ganhar os aplausos. Tipo o Dedé Santana. Ele não tinha a função de ser engraçado. Ele era o cara sério que era usado na piada do humorista - alias em inglês essa expressão é "straight man", justamente por causa disso.

Nessa cena, por exemplo, o Professor Girafales é o cara sério e a graça da cena é o Seu Madruga

Se em uma cena de comédia todo mundo for caótico e engraçadalho, qualquer coisa vira qualquer coisa então tanto faz. Por isso a forma mais consagrada de fazer comédia é alguém ser "normal" para as piadas terem chão e o comediante se destacar mais ainda, e foi essa formula que a Warner encontrou para os Looney Tunes com o Gaguinho como escada.

É por isso que ele aparece em taaantos cartoons mesmo ele particularmente não sendo muito engraçado. Na verdade, ele é tão usado justamente porque ele não é engraçado, ele é perfeito para fazer a escada sem roubar a cena. 

Agora que você já sabe quem é o Gaguinho na fila do pão... isso ainda não explica pq caralhas fizeram um jogo dele para Super Nintendo em 1995. Quer dizer, entender eu entendo, é um daqueles "jogos de presente", que a tia que quer dar um presente genérico vê no jogo do Gaguinho uma escolha segura o suficiente. 

E o conceito de "jogo feito para dar de presente genérico" não apenas é a explicação da existencia do jogo, mas detalha perfeitamente a lógica do game design por trás dele: é um jogo de plataforma genérico que joga seguro sem correr nenhum risco.

O Feriado Assombrado do Gaguinho é um jogo de plataforma tão básico quanto básico pode ser: você tem um botão que pula e... e... p-p-p-por hoje é só, pessoal! 


... viram o que eu fiz aqui? Eu sei, eu sou moh engraçadão mesmo. Mas falando sério, eu quero dizer que o jogo é literalmente isso: vc pula na cabeça dos inimigos e deu. Cara, sério, nem jogo de Nintendinho de 1985 é tão basicão do basicão, nem um power up pra dar uma variada nas coisas, nada! Nem jogo de Master System é tão simples quanto isso!!

Quer dizer, embora tecnicamente o jogo tenha power up de disparar projeteis eu vi isso uma única vez em uma hora de gameplay então suponho que podemos considerar que isso e nada é a mesma coisa... até porque é só um ataque de projeteis no fim das contas, não é como se fosse revolucionar a fisica quantica.


Então é, a Sunsoft colocou tanto esforço na gameplay aqui quanto vc poderia esperar em um jogo de "tia dar de presente". Shame.

Por outro lado, como é um jogo feito para chamar atenção pela presenteabilidade, então ao menos ele é bonito para sairem boas fotos na contracapa do jogo e nas revistas, ao menos isso! Os sprites do Gaguinho são bons, ele é bem detalhado, ele é gostoso de se olhar, e ele se comporta exatamente como vc esperaria que ele se movesse no desenho (o que não é muita coisa). 


É uma pena que esforços semelhantes não tenham sido feitos no resto dos gráficos: tem uma desconexão bem grande entre a qualidade dos sprites do personagens e todo o resto. O sprite do Gaguinho, em particular, é estranho de se ver em movimento porque ele se move de uma maneira muito cartunesca e animada enquanto os sprites dos inimigos quase não têm quadros de animação.  É uma sensação esquisita que ele parece ser um personagem de um jogo totalmente diferente (um com bem mais esforço colocado) apenas colado nesse jogo.

Os chefes, que variam de personagens estabelecidos como Eufrasino Puxabriga a personagens completamente inventados como “Spooky Sid”, parecem particularmente baratos como resultado e fazem parecer que Porky está travando uma batalha contra um clip-art gigante. 

Para tentar fazer o jogo mais apelativo aos jovens da época, ele tenta apelar para o espirito anos 90 de ser darki trevoso e du mau, e se passa inteiramente dentro dos pesadelos do Gaguinho que ele tem um dia antes de sair de férias - vc precisa completar o jogo para ele acordar e tal. O que pelo menos é mais honesto que apenas no fim descobrir que "foi apenas um sonho", pelo menos isso.

O resultado é que a paleta de cores do jogo é toda séria e lavada, e a sensação que eu tenho é que esse é um jogo de Mega Drive de tão poucas cores que ele usa. Para adicionar mais estranheza a esse tema "de terror anos 90", a trilha sonora desse jogo é realmente esquisita com músicas que variam parecer terem saídas do filme Brazil, a do chefe final que é apenas bipes computadorizados de fundo e nada mais.

Infelizmente, essa estranheza passageira é a única coisa que o jogo têm a seu favor... se é que dá pra chamar assim. Pq fora isso, você tem um jogo de plataforma constrangedoramente simples e muito fácil. Certamente não é o pior jogo de plataforma de mascote que já apareceu no SNES, embora seja um dos mais sem graça. 

Se você é um dos 5 fãs do Gaguinho na história da humanidade eu suponho que valha a pena jogar uma vez pela experiência e nunca mais. Mas para todo o resto da humanidade, suponho que a reação mais comum é a que eu tive quando vi esse jogo na locadora quando criança: quem caralhos se importa com o fucking Gaguinho?

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