quarta-feira, 16 de março de 2022

[#843][PS1] ZERO DIVIDE [Agosto de 1995]


Se você é tão velho quanto eu, ou apenas tem problemas psiquiátricos e acompanha esse blog, então você vai lembrar de RISE OF THE ROBOTS. A Ascensão dos Robôs, para os não iniciados, foi um jogo lavado de propaganda e superhypado antes do seu lançamento. Para surpresa de absolutamente ninguém quando você coloca as coisas dessa forma, foi um desastre absoluto para todos os envolvidos - especialmente quem jogou o jogo. 

Era um jogo de luta de robôs que foi criado para ser o jogo de luta definitivo, a próxima grande coisa: um gigante matador de jogos de todos os jogos. Ninguém se lembra do PORQUÊ, só nos disseram que seria incrível. O resultado foi um dos maiores golpes publicitários na história dos videogames - eu contei a história completa no texto de RISE OF THE ROBOTS.

Então, por que estou falando sobre A Ascensão dos Robôs? Porque essencialmente, Zero Divide é tudo o que aquele jogo queria ser... apenas dez vezes melhor. Mas dez vezes melhor que zero ainda é zero. E zero dividido por zero é... zero dividido?

Na verdade essa equação não existe, mas TROCADILHO COM O NOME DO JOGO, rola os créditos produção!

Zero Divide é um jogo de luta 3D no PS1 que tenta - como muitos da época - ser o próximo TEKKEN. A história do jogo é que ten oito criaturas robóticas e elas lutam umas contra as outras em uma batalha pela supremacia sobre… er… alguma coisa. Então cada um dos robôs quer... er... bem... quem sabe? Não tem uma história de verdade aqui e tudo o que é contado neste jogo é através de um narrador realmente irritante. 

O narrador do jogo claramente não é um robô, mas com toda a honestidade, pelo jeito que ele fala poderia muito bem ser. Ele não nos diz nada além de nos apresentar ao que está por vir e que no fim a gente pode socar ele. 


Acontece que ele é a voz de XTal (ou Xbox, dependendo do sotaque dele), o chefe final do jogo. E ele organizou as lutas para descobrir quem é o melhor robô de todas as suas unidades… porque é um jogo de luta e é assim que vai ser. E já que estamos nos cliches, o chefe final é um supercomputador na forma de cerebro gigante. CLARO QUE ELE É. Não tenho mais palavras.

Mas boa gente da das interwebs, deixando o boss com voz irriante de lado, talvez a coisa que mais me incomodou em Zero Divide foi algo bem problemático para não ser legal em um jogo de luta de robos: os próprios robôs.

Vamos colocar assim: esse jogo é o mais perto que o PS1 (ou qualquer sistema, na verdade) vai ter de um jogo de luta baseado no Transformers do Michael Bay. Isso porque os robos nesse jogo são uma massaroca poluida visualmente, em movimento então transcendem para o reino do incompreensível. São apenas borrões coloridos que você não faz ideia do que realmente está vendo na tela... se bem que eles são coloridos, o que os coloca um patamar de vantagem acima dos Decepticons do Michael Bay pelo menos... 

É sério, eu nem faço ideia de para o que eu estou olhando aqui

Os personagens são sem brilho e desinteressantes, mas, novamente, se você tem robôs tentando parecer vagamente humanos, por que não apenas… fazer humanos? Ou pelo menos fazer humanos pilotando robôs ou... não sei. Olha, os personagens são péssimos, ok? Zero é o tipo de protagonista, daí o título do jogo, e ele é acompanhado por Wild-3 que tem camuflagem militar, Io deveria ser uma catgirl mas Jezuis, tem o dragão-robô Draco e… alguns outros personagens que realmente não importam muito. Eles não exibem nenhum padrão de fala ou comportamento ou qualquer coisa que os torne minimamente memoraveis. Eles lutam como humanos e muito raramente exibem algum tipo de técnica interessante que apenas um robô seria realmente capaz de fazer. 

Os modelos de personagens são bastante sem graça e, embora possa ser ARGUMENTADO que eles se parecem com robôs, você poderia ter colocado alguns cubos na tela e dito “robôs” e isso provavelmente se safaria até certo ponto. Mas infelizmente, essa abominação Michaelbayana passa muito desse ponto.

Enfim, toda a coisa desse jogo é que ele parece uma produção rushada e barata. Não tem cutscene de abertura, em uma época em que a gente aceitava qualquer merda, não tem dialogos entre as lutas, não tem golpes especiais únicos, não tem nenhuma mecanica própria... enfim, não parece ter esforço nenhum em qualquer lado que você olhe esse jogo. 

Jogando esse jogo é dificil não imaginar que o processo de desenvolvimento se deu da seguinte maneira:

- Quero fazer um jogo de luta 3D, mas nunca fiz um antes.
- Foque na luta e não se preocupe com mais nada.
- Eu também quero robôs.
- Que boa ideia, robôs em jogos de combate são ideais pq é mais facil fazer eles com poligonos do que pessoas. E são robos, ninguém vai se perguntar pq eles estão lutando, é isso que os robôs fazem.
- Eu sou um gênio.
- Mas certifique-se de não incluir uma história.
- Uma o que?
- Exatamente.

O que Zero Divide tenta oferecer é um jogo de luta 3D e nada mais que isso. Se alguma coisa, parecia que eles estavam simplesmente testando as águas, meio que o que acontece quando um desenvolvedor quer criar um jogo, mas sem investir muito esforço apenas para ver o que as pessoas pensam dele. É uma forma meio covarde de começar uma nova IP, sem querer correr riscos.

A luta é bastante comum: um contra um, em um ringue, um ringue que a luta termina se um dos dois cair. Não tem uma grande quantidade de combos. Você tem um soco, um chute e um botão de defesa, que é praticamente o molde do Virtua Fighter. Não tem nada inerentemente ERRADO com o combate em si, mas meio que não existem golpes especiais então é apenas socos e chutes genéricos na maior parte do tempo

Em suma, a luta é lamentavelmente curta e parece ter havido pouca ou nenhuma imaginação ou criatividade real na criação dos personagens OU seus estilos de luta. Certamente era uma oportunidade para fazer algo interessante, eles são malditos robôs! Por que não estamos recebendo algo como Roboxing? Ou AI-kido? Ou Muay Thai-borg? Veja quantas possibilidades tinhamos! Mas não, são apenas socos e chutes regulares mesmo.

E eu sei que já disse isso, mas eu realmente não faço ideia do que é isso na tela

Tem muito pouco nesse jogo para fugir em termos de genericalidade. O som é meh, os gráficos são ... isso aí... o combate é meh, todo o jogo meio que me parece uma tentativa razoável de criar o equivalente em um jogo de luta 3D dos jogos da Jaleco, que são jogaveis mas... meio que é só isso que dá pra dizer deles. 

A única coisa diferente que se pode notar nesse jogo é que eles incluíam um pequeno mapa da lataria ao lado dos personagens que dizem em que parte do corpo o robô tomou dano durante a luta. Se você for atingido lá, o mapa do corpo muda de cor e... é isso, eu não percebi nada diferente além disso realmente. É mais um exemplo de oportunidade desperdiçada. Imagine ter que se defender contra um ataque de um robô batendo em você e seu braço não aguenta mais o dano… e então? O que você faz?


É por isso que jogos como este DEVERIAM ser bons e não são. A falta de criatividade, ou pelo menos a preguiça de não se dar ao trabalho de implementá-la, é palpável. Muito poucos jogos parecem ter tentado implementar um sistema semelhante, exceto pelo PAVOROSO COSMIC CARNAGE. Na verdade, essa pode ter sido a razão pela qual NÃO implementaram essa mecanica, o que eu não posso culpa-los realmente.

Mas eu vou ser honesto com vocês, eu joguei esse jogo ontem e é um grande esforço lembrar dele apenas um dia depois. Eu lembro que é meio chato e que o combate é monótono e insosso. Eu me lembrei de alguns dos nomes dos personagens, mas fora isso… Vou perguntar à Cortana quanto é 0 dividido por 0, isso é muito mais interessante que jogar esse jogo.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 015


Edição 021


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 006