domingo, 15 de janeiro de 2023

[#1033][Fev/97] THE INCREDIBLE HULK: The Pantheon Saga

Das profissões que eu definitivamente não invejo, escrever uma HQ definitivamente não é uma delas. Não apenas vc não tem autonomia para mexer significativamente na história exceto em situações especiais (existe um status quo a ser mantido, afinal), como ainda por cima você tem que entregar uma história por mes ou a cada quinze dias.

E como se isso não fosse dificil o suficiente para se escrever, tem ainda que alguns personagens são REALMENTE dificeis de se escrever. Tipo o Super Homem, como você escreve uma história boa sobre um personagem que é basicamente invencível? Sim, tem como escrever sobre coisas que a superforça ou visão de Raio-X não conseguem resolver, mas são histórias especificas. Escrever uma dessas a cada 15 dias, as vezes com várias revistas do personagem ao mesmo tempo? Complicado.


Outro personagem que eu acho muito dificil de escrever é o Incrível Hulk. Quer dizer, o personagem tem um gimmick que é ser a versão da Marvel do Mr. Jeckyl/Dr. Hyde... mas existe um limite até onde vc consegue tirar do cientista atormentado/monstro brucutu. O resultado disso é que os roteiristas tinham que se virar nos 30 para deixar as coisas interessantes e como vc pode imaginar nem todas as ideias eram... harmonicas, vamos dizer assim.

No começo dos anos 60, Bruce Banner tinha várias personalidades no mesmo corpo, e por várias eu quero dizer várias mesmo: o pacato Dr. Banner; o Hulk clássico, verde, sem consciência de seus atos e que age por instinto; e o maligno Hulk Cinza, que só aparecia à noite. O caso do Hulk cinza era ainda pior, já que ele tinha até mesmo uma persona alternativa: Joe Fixit, que trabalhava para a máfia de Las Vegas.

Sim, é sério isso

Como dá pra ver, tava uma bagunça desgraçada. Tanto que a dupla Peter Davir (roteiro) e Dale Keown (ilustrações) decidiu não apenas resolver isso como abrir novas possibilidades para o personagem - só de uma forma organizada, não a salada da fruta que tava antes.

Assim eles fundiram todas as personalidades do Hulk em uma só e assim nasceu o Professor Hulk, uma criatura com a inteligencia do Dr. Banner, a força do Hulk verde e guarda resquicios da malícia do Hulk Cinza. Que é o personagem no qual foi baseado o Hulk que nós vemos em Vingadores Ultimato (sem a parte do Hulk Cinza), para quem não está ligando o nome a pessoa.

Esse novo Hulk inteligente abria um leque de possibilidades para personagem nunca antes exploradas, como por exemplo liderar uma equipe. Pois é, o Hulk liderando uma equipe, veja só você. No caso aqui, o Professor Hulk é contatado por uma organização secreta chamada Panteão, cujos membros superpoderosos utilizam os nomes dos heróis da Guerra de Tróia do escritor Homero: o líder Agamenon e seus “filhos” Aquiles, Heitor, Ulisses, Atalanta, Cassandra etc e se apresentam como uma força de paz e querem que o Hulk os lidere. 


Querendo usar seus poderes e inteligência para um bem maior, o cientista-monstro aceita e, com isso, se envolve em uma série de missões secretas e até uma intervenção no Iraque (numa história com críticas ao confronto real que ocorria na época). No fim das contas, o Professor Hulk termina descobrindo uma trama secreta e maligna por parte de Agamenon para dominar o mundo. 

O Panteão se divide em duas facções – uma aliada ao Hulk outra a Agamenon – enquanto descobrem as raízes de seus poderes: Agamenon é um adolescente que fez um pacto com uma raça alienígena que fundiu seu DNA aos dos seres humanos. Como resultado, além das habilidades especiais, eles não envelheceram. Mas essa raça alienígena vem cobrar favores não cumpridos e resulta em uma guerra contra o Hulk e o Panteão. E é aí que entra esse jogo, Hulk: The Pantheon Saga.


Nossa história aqui é que  a facção maligna do Panteão capturou o Professor Hulk enquanto ele estava em sua forma de Bruce Banner, e decidiu... leva-lo de volta para sua base preso desse jeito que é óbvio que não vai segurar o Hulk. Quer dizer, sério caras, é o motherfucking INCRÍVEL HULK. Não o mediano Hulk ou o "já vi melhores Hulk". É o INCRÍVEL.

Essas porcariazinhas não vão durar 1 minuto e vcs ainda pretendem soltar ele dentro da base de vocês? WORST PLAN EVER!!!


É uma coisa tão óbvia que o jogo sequer tenta elaborar mais que isso. O Hulk apenas já começa solto dentro da base dos caras pq é óbvio que isso ia acontecer, o que vcs esperavam realmente? Como dá pra ver, a Eidos não colocou muito esforço nessa história ... ou em qualquer coisa nesse jogo realmente. 

Os gráficos de The Pantheon Saga estão MUITO abaixo da média. Não apenas abaixo da média para o Playstation abaixo da média para o Super Nintendo até. Não apenas o Hulk parece terrível - sua cabeça é muito pequena para seu corpo - como faltam muitos quadros de animação aqui, fazendo os movimentos parecerem ridiculamente recortados. Sério, olha que coisa tosca é esse chutinho do Hulk!


Sério caras, já vi jogos do Mega Drive mais fluídos que isso, tá muito feio esse negócio...

E, como é de se esperar, a jogabilidade consegue ser menos inspirada ainda. Esse jogo é um beat'm up, e um extremamente básico nisso. Embora vc possa socar, chutar e esmagar tudo à sua vista e no papel isso parece divertido com um personagem como o Hulk, na prática nada passa a sensação de peso nenhum, tudo parece solto na tela e meio que tanto faz. Além das animações serem ridículas, tem isso.



O jogo não é quebrado, ele funciona okay, o problema é só que ele é incrivelmente sem graça já que tudo nele é muito simplório e o básico do básico que você faz é repetitivo e sem graça.

Honestamente, a maior diversão desse jogo é ver o quão ridiculo o Hulk é resolvendo tudo com esses chutinhos enquanto soca paredes que soltam imagens .jpg infinitamente. O que não é muito divertido, realmente.

Os cenários são - de alguma forma - ainda mais simplórios, usando as texturas mais simples que eu já vi em qualquer jogo. 

A minha teoria é que esse jogo foi criado apenas para ocupar os piores funcionários da empresa pra que eles estivessem ocupados e não atrapalhassem o próximo TOMB RAIDER, é uma das poucas coisas que justifica esse beat'm up completamente sem graça. Se tivessem me dito que esse era secretamente um jogo da Acclaim lançado na corrida para usar a licença, eu não saberia dizer a diferença.

E isso é uma das maiores ofensas que se pode fazer a um jogo na era 32 bits, saiba você. Se fazer jogos com um personagem capaz de quebrar tudo parece uma ideia mais fácil do que escrever uma revista em quadrinhos dele a cada quinze dias, esse jogo prova que não é.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 037 (Abril de 1997)