Das profissões que eu definitivamente não invejo, escrever uma HQ definitivamente não é uma delas. Não apenas vc não tem autonomia para mexer significativamente na história exceto em situações especiais (existe um status quo a ser mantido, afinal), como ainda por cima você tem que entregar uma história por mes ou a cada quinze dias.
E como se isso não fosse dificil o suficiente para se escrever, tem ainda que alguns personagens são REALMENTE dificeis de se escrever. Tipo o Super Homem, como você escreve uma história boa sobre um personagem que é basicamente invencível? Sim, tem como escrever sobre coisas que a superforça ou visão de Raio-X não conseguem resolver, mas são histórias especificas. Escrever uma dessas a cada 15 dias, as vezes com várias revistas do personagem ao mesmo tempo? Complicado.
Outro personagem que eu acho muito dificil de escrever é o Incrível Hulk. Quer dizer, o personagem tem um gimmick que é ser a versão da Marvel do Mr. Jeckyl/Dr. Hyde... mas existe um limite até onde vc consegue tirar do cientista atormentado/monstro brucutu. O resultado disso é que os roteiristas tinham que se virar nos 30 para deixar as coisas interessantes e como vc pode imaginar nem todas as ideias eram... harmonicas, vamos dizer assim.
No começo dos anos 60, Bruce Banner tinha várias personalidades no mesmo corpo, e por várias eu quero dizer várias mesmo: o pacato Dr. Banner; o Hulk clássico, verde, sem consciência de seus atos e que age por instinto; e o maligno Hulk Cinza, que só aparecia à noite. O caso do Hulk cinza era ainda pior, já que ele tinha até mesmo uma persona alternativa: Joe Fixit, que trabalhava para a máfia de Las Vegas.
Sim, é sério isso |
Como dá pra ver, tava uma bagunça desgraçada. Tanto que a dupla Peter Davir (roteiro) e Dale Keown (ilustrações) decidiu não apenas resolver isso como abrir novas possibilidades para o personagem - só de uma forma organizada, não a salada da fruta que tava antes.
Assim eles fundiram todas as personalidades do Hulk em uma só e assim nasceu o Professor Hulk, uma criatura com a inteligencia do Dr. Banner, a força do Hulk verde e guarda resquicios da malícia do Hulk Cinza. Que é o personagem no qual foi baseado o Hulk que nós vemos em Vingadores Ultimato (sem a parte do Hulk Cinza), para quem não está ligando o nome a pessoa.
Esse novo Hulk inteligente abria um leque de possibilidades para personagem nunca antes exploradas, como por exemplo liderar uma equipe. Pois é, o Hulk liderando uma equipe, veja só você. No caso aqui, o Professor Hulk é contatado por uma organização secreta chamada Panteão, cujos membros superpoderosos utilizam os nomes dos heróis da Guerra de Tróia do escritor Homero: o líder Agamenon e seus “filhos” Aquiles, Heitor, Ulisses, Atalanta, Cassandra etc e se apresentam como uma força de paz e querem que o Hulk os lidere.
Querendo usar seus poderes e inteligência para um bem maior, o cientista-monstro aceita e, com isso, se envolve em uma série de missões secretas e até uma intervenção no Iraque (numa história com críticas ao confronto real que ocorria na época). No fim das contas, o Professor Hulk termina descobrindo uma trama secreta e maligna por parte de Agamenon para dominar o mundo.
O Panteão se divide em duas facções – uma aliada ao Hulk outra a Agamenon – enquanto descobrem as raízes de seus poderes: Agamenon é um adolescente que fez um pacto com uma raça alienígena que fundiu seu DNA aos dos seres humanos. Como resultado, além das habilidades especiais, eles não envelheceram. Mas essa raça alienígena vem cobrar favores não cumpridos e resulta em uma guerra contra o Hulk e o Panteão. E é aí que entra esse jogo, Hulk: The Pantheon Saga.
Os cenários são - de alguma forma - ainda mais simplórios, usando as texturas mais simples que eu já vi em qualquer jogo. |
Edição 037 (Abril de 1997)