[#1038][Jun/88] ALTERED BEAST

Uma das benesses desse projeto é que, após mais de mil reviews se tornou quase uma segunda natureza entender como certas desenvolvedoras de jogos pensam.

OU SEJA, MAIS UM DIA PARA ESCULHAMBAR COM A SEGA, JÁ VI TUDO

Eu não escolho as cartas que me são dadas nesse jogo que chamamos de vida, Jorge. Bem, quer dizer, tecnicamente eu escolhi fazer isso mas vc entendeu a ideia. Seja como for, sim, vamos falar da Sega porque o jogo de hoje não tem como ser mais iconico do Mega Drive mesmo que tentasse... o que ele tentou fazer, é meio que todo o ponto aqui e eu não tenho muita certeza da onde estou indo com isso... mas enfim, estou falando do jogo que antes de SANIC DE RÉDIRROGUI era o jogo que vinha com o Mega Drive na caixa.

Isso quer dizer que quando uma criança chegava em casa da loja e finalmente poderia desfrutar do seu epifemural videogame de DEZESSEIS BITS!!! (não que alguém soubesse o que são bits na época, ou mesmo hoje), o escolhido pela Sega para dar a essa criança um gosto do que o seu videogame era capaz de fazer não era outro senão BESTA ALTERADA - o port do arcade de 1988.

E é aqui que entra minha expertize, meu connosseuir, meu crem de l’crem, para entender como a Sega pensava.

ESSAS EXPRESSÕES NEM SEQUER... DEIXA PRA LÁ, EU NÃO SEI PQ EU AINDA TENTO...

Veja, a estratégia da Sega para os consoles era a seguinte: como a Sega era pica das galaxias nos arcades, e era mesmo tendo experiencias únicas em troca da sua moedinha como a cabine que se mexia de AFTER BURNER II ou sentar na poltrona de uma Ferrari em OUT RUN, seu plano era apenas oferecer para os crianços ports domésticos desses mesmos jogos com fichas ilimitadas. Yay, fun! ... right?

Então, tinha um problema e esse problema era toda a cruz do plano da Sega: essas experiencias de Arcade... bem, eram experiencias de Arcade, duh. Isso quer dizer que elas foram concebidas para serem jogadas por 2 minutos por uma ficha e então acabou. O que, parece obvio dizer isso mas a Sega não parece muito brilhante com coisas óbvias, funciona em um arcade onde vc joga uma ficha por 2 minutos e acabou.

Em casa, com todo o tempo do mundo para jogar quantas vezes quise... bem, os jogos precisam de um pouco mais de conteúdo do que isso, né? Claro, soava muito legal dizer "JOGUE BESTA ALTERADA INFINITAMENTE NA SUA CASA", mas a real é que isso soava legal até o terceiro minuto de jogo, pq depois disso vc meio que percebia que não tinha muita coisa realmente nesse jogo. E menos ainda para te manter entretido por horas e horas, ele realmente foi um jogo desenhado para ser jogado por apenas 2 minutos e é exatamente isso que BESTA ALTERADA entrega: 2 minutos de conteúdo, tchau e benção.

 Hã, e eu ainda me pergunto pq o Mega Drive nunca emplacou no Japão.

Devido a placa de som altamente limitada do Mega Drive, que soava como duas bisnaguinhas de Tandy Pump amarradas por um filamento de amianto juntas, acabou se tornando um classico da lingua presa o imortal "GWISE FOM YOU GWAVE!"

... seja como for, nossa trama aqui é bastante simples: um vilão chamado Nerf sequestrou Atena. Porque como os advogatos do Kurumada não conseguiram um contrato de exclusividade, nessa época então todo mundo achou que sequestrar Athena era a forma mais rápida de conseguir o seu proprio anime/manga

Enfim, Nerf sequestra Atena e Zeus ressuscita um soldado romano falecido para resgatar a menina.  Pq um soldado romano especificamente e não um dos famosos guerreiros gregos eu não faço ideia, suponho que os devs não sabiam quem eram os equivalentes romanos de Zeus e Athena para fazer o jogo tematicamente coerente. Seja como for, aparentemente Zeus está ocupado demais infernizando Kratos/Seiya e sendo um babaca com a Grecia antiga para dedicar 15 minutos do seu dia para salvar sua filha.

Mas bem, é algo que eu esperaria de Zeus, dado sua fama. Suponho que o "premio" para o nosso herói em cumprir sua missão deve ser pior, mais doloroso e eterno ainda pq é assim que Zeus rola!

Pois bem, resta ao herói sem nome sair espancando criatura bubônicas e grotescas para salvar Atena e quem sabe ganhar um pedaço do seu nono sentido ou seja lá em que contagem essa bagunça esteja a essa altura. Kurumada não acredita em planejamento, eu digo.

De qualquer forma, O jogo é um run'n gun... ou beat'm up.... é dificil dizer.... EXTREMAMENTE, mas dá pra dizer que ele é primitivo mesmo para os padrões de 1988. Isso pq aqui nosso herói basicamente soca tudo com poses jojonicas tudo que veem pela frente, como é esperado de um zumbi grego maromba... e é isso.

Derrotando os inimigos vc recolhe power ups que te deixam mais no shape ainda, e depois da terceira trembolona recolhida vc literalmente vira um bicho diferente a cada fase - que é o fator de venda do jogo em primeiro lugar.

Não me entenda errado, no arcade era realmente impressionante ver o herói virar um bicho semi-digitalizado com aquele tipo som de fliperama no talo que dava pra ouvir do outro lado do sistema solar era algo que valia sua ficha e os 2 minutos gastos nesse jogo. O problema, como eu disse, é que em casa fazendo pela milesima vez em uma hora deixa de ser algo especial e vc se dá conta do real aspecto desse jogo: sua jogabilidade

Jogar o jogo é a pior parte de Altered Beast

Primeiro pq o game nasceu como um título para fliperamas e todos sabemos o que isso significa: tirar suas fichas no menos espaço de tempo possível. Os inimigos vem em hordas e tem muito mais precisão que o herói na hora de atacar. O fato dos personagens serem enormes pra ficar bonito na tela se torna um problema - outra marca registrada da Sega que priorizava aparencia sobre conteúdo, pois é bastante difícil desviar de certos ataques.

O herói também é bem mais lento que a maioria dos inimigos, o que também não facilita na hora de desviar dos ataques. E acontece muito frequentemente, para adicionar sal na ferida, sempre que apanhar uma das esferas de power up o herói fica paralisado enquanto se transforma, o que o deixa aberto para ser atingido por algum inimigo próximo.

É raro, mas acontece muito.

Aliás, para conseguir as esferas de poder, é preciso matar um inimigo especifico em cada fase, e que é relativamente fácil de perder ele, o que faz a a fase se repetir em um looping infinito até que você consiga transformar o herói adequadamente, uma vez que o chefe não aparece enquanto você estiver na forma humana.

E não como se fosse fácil terminar o jogo logo de primeira, estendendo as fases com loop de grind até o inimigo certo aparecer enquanto o jogo tenta comer suas fichas com fúria de mil sóis amarelos... não é exatamente um experiencia divertida, eu te digo.

Então temos aqui um run'n gun cuja movimentação é dolorosa, a hit detection é questionavel, seu bonecão na tela não desvia muito bem de nada, o jogo tenta de comer fichas como se estivesse sendo pago pra isso... e suas opções não são muito variadas. Quer dizer, é curioso ver o que uma transformação faz, mas não vai muito além disso realmente. 

É redundante dizer que esse jogo não envelheceu bem hoje, mas a verdade é que mesmo em 1988 já era um jogo ultrapassado quando NINJA GAIDEN saiu no mesmo ano. Eu entendo toda a adoração que os fãs que cresceram com um Mega Drive possuem por este game, mas é difícil jogar Altered Beast hoje em dia e não sentir que isso é mais sindrome de Estocolmo do que qualquer outra coisa.

Esse jogo é considerado um clássico simplesmente pela nostalgia, para nos lembramos de nossa juventude, infância, de quando ganhamos nosso primeiro video game, de tardes que passavamos com amigos que há muito tempo não vemos ou de algo que nos era querido na época.

Mas como jogo mesmo, Altered Beast deixa muito a desejar e a Sega deveria ter pensado melhor antes de escolher um dos seus titulos mais fracos como cavalo de batalha acompanhando o Mega Drive, e deveria saber mais ainda que o funciona em 3 minutos de arcade não necessariamente vai funcionar em casa como um jogo doméstico. O que ela acabou nunca aprendendo afinal, já que até o Saturn tem como sua grande chamada "jogue arcades na sua casa".

Mas bem, pelo menos a caixa do Mega Drive de Alterated Beast ficou bonitona, isso eu tenho que dar a eles

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 038 (Maio de 1997)