COMMAND & CONQUER: Tiberian Dawn foi um grande sucesso da Westwood e definiu a batalha pelo trono dos RTS contra a Blizzard - com seu WARCRAFT e daqui a pouco a série Starcraft - e realmente é um jogo muito bom. E o que você faz quando tem um jogo muito bom nos anos 90? ... ou mesmo um mais ou menos... e frequentemente até um terrível... sim, isso mesmo, vc lança o mesmo jogo de novo em um ano com ligeiras atualizações como uma continuação.
É o que chamamos nesse blog de "continuação patch de update", pq ao invés de simplesmente baixar um patch no jogo (o que não era possível, por razoes obvias) eles vendiam uma "continuação" que era o mesmo jogo versão 1.2. A Capcom ficou famosa por fazer isso com suas 58 versões de Street Fighter, mas na real todo mundo fazia isso. Todo mundo, da mãe do Badanha ao Lagartixa e o Tripa Seca.
E é aqui que eu digo que a Westwood foi espertinha espertinha, menina danada!
Isso pq Conquistar e Comandar: Alerta Vermelho, é essencialmente COMMAND & CONQUER: Tiberian Dawn versão 1.2, com algumas melhorias tecnicas mas nada particularmente enlouquecedor. A UI está mais amigável, a seleção de unidades funciona melhor, as facções estão mais diferentes entre si sem ser desiquilibradas, tem novas unidades (mas nada que mude radicalmente o jogo) os gráficos receberam um tapa, você sabe, o bom e velho boogie oogie de sempre.
Então se vc queria apenas novas missões para COMMAND & CONQUER: Tiberian Dawn e não se importa em pagar um jogo inteiramente novo, em 1996 tinha esse jogo aqui. O que, não me entenda errado, não é uma coisa ruim realmente. Eu dou uma zoada no pessoal que diz que "nos bons e velhos tempos não tinha essa patifaria de DLC", mas na real não tem nada errado com isso.
Só que a parte onde eu digo que a Westwood foi danada danada paratitundá foi que a narrativa do jogo foi tão alterada, o tema é tão radicalmente diferente que parece de fato um jogo inteiramente diferente. Como todos lembram, COMMAND & CONQUER: Tiberian Dawn é sobre um mundo onde um meteoro caiu no rio Tibre. Esse meteoro tinha um mineral alienigina, batizado de Tiberium, que se provou uma fonte inenarravel de energia e isso levou altas guerris e putarias selvagis entre duas facções graças a essa nova fonte de energia.
Pois bem, Alerta Vermelho não tem absolutamente nada haver... a ver... odeio esse idioma... com isso, é uma premissa totalmente diferente. E que premissa é essa, você diz?
Em 1946, no estado do Novo México - USA, um cientista trabalha em um projeto realmente ambicioso: alterar o curso da história para que a Segunda Guerra nunca tenha acontecido! Ou seja, fazendo o que está no checklist de todo viajante do tempo: matar Hitler.
Felizmente esse cientista em particular tem o conjunto certo de habilidades para isso, já que poucas pessoas na história da humanidade podem dizer que entendem mais a respeito do tempo e sua relatividade com o espaço. Sim, exatamente, estou falando dele, do Alberto como dá pra ver na imagem abaixo:
Como NÃO dá pra ver na imagem! O que foi um toque elegante da Westwood pra não baixar o valor da produção já que todo mundo sabe como Einstein parece e eles no máximo podiam pagar um fardo de Itaipava pra um Papai Noel de shopping como "ator".
Seja como for, Einstein então viaja no tempo para 1924 para assassinar o jovem Hitler... embora seja um ponto recorrente de viajantes no tempo voltar para matar o bebê Hitler, a Westwood não quis entrar na polemica de matar bebes - sejam eles Hitlers ou não - e decidiu apenas matar o mancebo quando ele saiu da prisão em 1924 mesmo.
Hã, okay, isso faz sentido. Seja como for, Einstein mata Hitler... com germes do futuro eu acho... o bem vence o mal e espanta o temporal, certo?
Eu ainda acho que seria melhor ter... seja lá o que fizeram com ele... antes do Hitler ter escrito Mein Kampf, mas hey, um Hitler morto é melhor do que nenhum, certo?
Então... não. Apesar do que Hollywood passou os últimos 80 anos dizendo, o maior adversário dos nazistas na Segunda Guerra não foram os Estados Unidos e sim a União Soviética. As perdas dos nazistas no lado oriental da guerra foram incomensuravelmente maiores, você pode dizer que foram os comunistas que efetivamente quebraram a máquina de guerra nazista.
É claro que o contrário também é verdadeiro, e a guerra teve um custo em vidas, equipamento e infraestrutura para União Soviética colossal. Então ao fazer com que a segunda guerra mundial nunca tenha acontecido, o que você efetivamente está fazendo é tirar o maior dente na engrenagem de um sistema tão cruel - se não pior - que o nazismo.
Então eis o cenário do jogo: o Alerta Vermelho aqui é uma linha do tempo alternativa em que a Segunda Guerra Mundial acontece entre os Aliados e a União Soviética, com possibilidade de não apenas você jogar com o time Mãe Rússia como tem cutscenes do camarada Stalin fazendo suas commie stuffs!
Se vc não começa o dia testando armas quimicas em milhares de pessoas, vc realmente pode se chamar de comunista?
É uma premissa bem pouco explorada, tenho que dar isso a eles, e que diz muito sobre a mentalidade dos Westwood Studios na época. O C&C original, embora não seja exatamente um jogo tematicamente pesado, era mais baseado em realidades políticas. O GDI foi fortemente inspirado pelo Exército dos EUA na época da da Operação Tempestade no Deserto, enquanto a Irmandade de Nod era uma personificação das ansiedades de meados dos anos noventa em torno das organizações terroristas.
Essa atitude se vê bastante no design das missões, já que o começo o Red Alert começa tentando explorar a engine criada no jogo anterior. Quer você execute uma ousada missão aliada para resgatar Einstein das garras soviéticas, ou embarque em um genocidio sangrento de uma aldeia da Europa Oriental como o general mais implacável de Stalin, as missões de abertura do Red Alert são bem marcantes. O ritmo de Red Alert, combinado com sua predileção por explosões, muitas vezes faz com que pareça mais um top down shooter do que um RTS, como já era no primeiro jogo só que aqui a ação é mais intensa.
Enfim, como eu disse, Red Alert é mais um DLC com novas missões e unidades do que um jogo realmente novo, só que a Westwood colocou tanta pirotecnia temática que de fato parece um jogo - e posteriormente série - completamente diferente. Como eu disse, espertinha ela.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES Edição 113 (Março de 1997)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER Edição 037 (Abril de 1997)