domingo, 15 de outubro de 2023

[#1169][Fev/98] GEX: Enter the Gecko


Gex é uma daquelas franquias que eu sempre soube que existia, mas nunca realmente dei muito pensamento a respeito. Quer dizer, o primeiro jogo da série - GEX - nasceu como o mais perto que o 3DO já chegou ter um jogo exclusivo bom... e foi quase bom. Mas então, vocês vão me desculpar mas "quase bom para o 3DO" não é algo que realmente marca muitas vidas, né?

De alguma forma, entretanto, Gex conseguiu continuar ganhando jogos após o passamento do fracassado console da Eletronic Arts e eu diria que até mesmo um dos personagens de videogame mais reconhecidos da década de 1990 - talvez nem todo mundo jogou os seus jogos, mas definitivamente todo mundo sabia que essa coisa existia.

Vc pode ser cool, mas nunca será tão cool quanto nosso geckoboy na capa japonesa desse jogo

Isso sendo dito, é hora de ver a segunda entrada do jogo na série e já começamos com nosso falastrão calango fazendo a transição para o 3D, então o quão bem podemos dizer que ele se saiu? Bem, vou resumir da seguinte maneira: "Gex: Entra o Lagartixo" é essencialmente o SUPER MARIO 64 do PS1.

NÃO É UMA METAFORA MEIO PREGUIÇOSA CHAMAR QUALQUER JOGO DE PLATAFORMA 3D DE CLONE DE "SUPER MARIO 64"?

Sim, é. Bastante. Entretanto, Jorge, acho que vc não entendeu: ele é literalmente o SUPER MARIO 64 do PS1, ele copia a mesma formula de fazer das fases sandboxes onde vc tem que cumprir objetivos diferentes dentro dela e até mesmo rejoga-la várias vezes para conseguir todas estrelas controles remotos. E você precisa de um número minimo de estrelas controles remotos para abrir novas fases no hub central do jogo, saiba você. É literalmente a mecanica de SUPER MARIO 64, só que não feita pelo mestre, pelo homem, pela lenda, pelo mito. Então a pergunta que realmente importa aqui é... o quão bem isso funciona realmente?

Para responder a isso, bem, vamos começar do começo...


Antes de começarmos, suponho que primeiro eu precise explicar sobre o que exatamente a franquia Gex é. Embora minha experiência na franquia seja mínima, eu meio que só joguei GEX, provavelmente ainda sim tenho mais experiência do que a maioria das pessoas com ela. O resumo da história é que a Crystal Dynamic queria lucrar com a mania dos jogos plataforma de mascotes cheios de atitude (SEU COROA!), então em 1994 eles desenvolveram um jogo de plataformas único que era moderno, legal e cheio de atitude. Bem, a produção do jogo teve inumeros problemas e eu recomendo ler meu texto sobre GEX para maiores detalhes sobre isso, mas a ideia é essa.

O que é relevante aqui é que a série como um todo é conhecida por seu humor e referências ​​à cultura pop. Com efeito, o humor é o que diferencia esse jogo dos outros jogos de plataforma (e agora plataforma 3D) e os desenvolvedores estavam cientes disso, tanto que contrataram o comediante Dana Gould (que alem de stand ups, foi roteirista dos Simpsons por 7 anos) para apresentar as falas de Gex. 

E eu tenho que dizer que gostei do resultado, Dana tem uma voz estranhamente suave e sarcástica para um jogo da época, onde a moda era ser o machão mais machoso que já machou heterotopmente na história da machosidade. Ao contrário disso, Gex aqui tem uma voz bem mais suave, um tom de dizer para a camera "dá pra acreditar nesse cara?" ao ver as coisas ridiculas de um videogame, sabe?

Ajuda muito que as referencias fujam um pouco do óbvio, e tenham algumas frases muito bem sacadas nesse jogo. Por exemplo, na fase espacial, Gex fala imitando a voz do Sr. Spock: "Capitão, essa é uma bizarra raça alienígina que acha o Adam Sandler engraçado". Ouch. Ou então, ainda na mesma fase que é repleta de homenzinhos verdes, ele solta um "Algum de vocês viu a irmã do Fox Mulder?". Genial.


O jogo até mesmo tem um humor questionavelmente ácido bem ao estilo do Saturday Night Live, em que Gex fala "Nota pra mim mesmo: nunca beber água da torneira na casa do Jerry Garcia". Jerry Garcia foi um músico americano (escolhido pela Rolling Stone como 46o melhor guitarrista de todos os tempos) notoriamente conhecido por seus problemas com drogas e que havia falecido disso pouco antes, em 1995. OZADO.

As referencias a cultura pop não param por nas falas do nosso Gexter, entretanto, e seguem até o level design. Cada fase tem um tema relacionado a televisão, sendo que um dos primeiros mundos é o "mundo do cartoon" onde não apenas tem uma area onde bigorna caem do céu por razão nenhuma, o jogo vai mais especifico ainda e existe uma sessão inteira da fase dedicada ao episódio clássico "Caça ao Coelho/Caça ao Pato". Vc sabe que episódio eu estou falando.


O jogo também cobre as referencias mais óbvias também, claro, como uma luta de chefe que é Gexzilla vs Mechagexzilla, ou uma fase de bonus baseada em INDIANA JONES AND THE LAST CRUSADE. O que é cool, sabe, cubra o genérico mas não tema arriscar no especifico, eu posso viver com isso. Isso confere infinitos pontos de charme ao jogo e vc fica curioso para ver  que eles vão parodiar a seguir e que coisas engraçadelhas nosso geckomante dirá a seguir. E eu não sei vocês, mas um jogo que te dá curiosidade de ver o que tem a seguir é definitivamente uma boa coisa.

E seria até mesmo uma grande coisa, não fosse o fato que... bem, o resto do jogo não realmente acompanha o ritmo, sabe? GetG é - como diria Nelson Rodrigues - bonitinho, mas ordinário. Sim, eu cito Nelson Rodrigues analisando Gex, esse blog não é a coisa mais única na história da humanidade?


Seje como for, adelante. Continuando do jogo original, Gex se encontra em mais uma batalhando contra Rez, o senhor da dimensão da mídia ou alguma coisa assim. Em um esforço para impedir que Rez assuma o controle, Gex entra na dimensão da mídia e começa sua missão para impedir Rez mais uma vez... e é isso a história. Bem meh, pra não dizer “preguiçosa”. Tá, SUPER MARIO 64 também não tem uma história e é o fucking SUPER MARIO 64... só que vocês não tem o Miyamoto a seu favor, meninos e meninas da Cristal Dynamics, então um pouco mais de esforço poderia ter ajudado.

E quando eu digo que toda ajuda seria bem vinda, eu me refiro que assim que o jogo começa vc sente exatamente que está jogando uma versão sem inspiração (ou sem o toque de genialidade do Miyamoto) de SUPER MARIO 64. Sério! Jogar Gex é tipo fazer compras em um posto de gasolina quando o verdadeiro supermercado fica na mesma rua - especialmente no caso do port para Nintendo 64 que saiu um tempo depois. Por que alguém jogaria isso quando poderia jogar SUPER MARIO 64? Gex É um jogo perfeitamente okay, não me interpretem mal, mas ele faz tantas coisas parecidas com SUPER MARIO 64 que não tem como pensar que o jogo da Nintendo é uma versão muito melhorada disso.

Quero dizer, sério, senão vejamos:

  • Gex entra em uma TV para jogar uma fase.
  • Mario deve entrar em uma pintura para jogar um nível.

  • Gex coletar controles remotos suficientes para entrar em um nível.
  • Mario deve coletar estrelas suficientes para entrar em um nível.

  • Cada nível do Gex 64 tem uma série de tarefas a serem concluídas, como encontrar 5 cogumelos roxos colocados aleatoriamente.
  • Cada nível de Super Mario 64 tem uma série de tarefas a serem concluídas, como encontrar 8 moedas vermelhas colocadas aleatoriamente.

  • Gex é uma lagartixa e come cenouras.
  • Mario é encanador e tem bigode.

Tá, talvez eu tenha forçado um pouco nesse último, mas vc pegou a ideia da coisa. O conceito e design do Gex são muito semelhantes para você jogar um sem se lembrar do outro. Porém se deixarmos de lado a comparação com SUPER MARIO 64 e analisar Gex objetivamente pelo que ele é... bem, Gex é um jogo divertido mas com alguns problemas bem notáveis. Problemas esses que - enquanto não quebram o jogo realmente - também não são desprezíveis.

Vamos lá: temos que começar abrindo com a declaração que Gex é um raro jogo de plataforma 3D do PS1 dessa época que não usa os malfadados controles de tanque! 


Ao contrário dos outros jogos de plataforma 3D do PS1 como CROC: The Legend of Gobbos e TOMB RAIDER 2 Starring Lara Croft, Gex usa os mesmos controles fluídos de SUPER MARIO 64. Aperte pra direita ele vai pra direita, aperte pra frente ele vai pra frente, aperte pra trás ele vai pra trás. Uau, conceito louco, né? Ainda sim tão poucos jogos do PS1 dessa época faziam algo tão simples que eu estava me questionando se era alguma impossibilidade técnica ou algo do tipo, porém parece que não era. Os caras só não queriam mesmo.

Então kudos onde kudos são devidos, o seu calanguinho se mexe direitinho aqui. O mesmo não pode ser dito da camera, entretanto, e esse é o maior problema desse jogo - o momento em que você lembra que o PS1 não tem o poder do Nintendo 64, e os caras da Crystal Dynamics não são o Miyamoto. Os ângulos padrão da câmera nesse jogo são terríveis e os controles da câmera são bastante complicados.


Quer dizer, não botãozisticamente complicados (L1 e R1 giram a camera), mas sim no sentido que isso não funciona tão bem assim e haverá muitos casos em que a câmera fica “travada” em uma posição que não favorece a sua manobrabilidade como jogador. Isso normalmente acontece quando Gex está perto de uma parede. A câmera ficará voltada para a parede, forçando Gex a vagar cegamente, muitas vezes  te obrigando a dar saltos de fé.

Esses problemas horríveis de câmera fazem com que os controles pareçam muito mais desajeitados e estranhos do que eles são realmente. Sério, todas as coisas que Gex faz funcionam relativamente bem: seu pulo é okay (com o bonus que ele se agarra em plataformas com a lingua, então o jogo é permissivo com pulos menos do que perfeitos), seu ataque de cauda tem uma boa hit detection. Na verdade, mais do que isso até: Gex faz uma coisa que eu raramente vejo jogos fazerem que é quando o jogo está em dúvida sobre quem acertou quem primeiro, geralmente o jogo dá a vantagem pra vc.


Em 99,98% dos casos é o contrário, na dúvida o jogo registra dano contra vc, mas aqui não, na dúvida o jogo dá a hit detection a seu favor e isso torna a experiencia toda bem menos terrível do que ela poderia ser de outra forma. Adicionalmente a isso, como no jogo anterior, a mecanica de grudar nas paredes também funciona razoavelmente bem (você é uma lagartixa, afinal), embora por questões de level design não é em qualquer parede que vc pode grudar - essas são reservadas a paredes especificas, que são usadas como elemento de level design

Então a coisa é essa, não fosse a questão da camera ser realmente, realmente ruim, nosso calango simulator poderia ser um jogo 10/10 porque ele faz todo o resto de forma bastante agradável. Tá, 9/10. Pensando bem, um 8/10 sólido.


Isso pq o jogo é bastante esforçado para um jogo de PS1 (com várias partes moveis nas fases e elevadores dinamicos), eu sinto que o level design está muito mais para CROC: The Legend of Gobbos do que SUPER MARIO 64. É um joguinho de plataforma esforçado, mas é um esforçado feito por gente mediana no máximo.

Gex: Enter the Gecko é um jogo mediano que se eleva vagamente da média por causa do seu esforço no humor e nas referencias, mas se tirarmos isso... não é um jogo particularmente memorável. O que é realmente uma pena, sabe? Eu queria amar esse jogo. Eu queria amar essa pequena lagartixa. Quero dizer, com sua voz mansa e seu tom meio sarcástico, ele é um lagartinho tão legal! 

Mas... bem, eu posso sentar aqui e dizer que me diverti muito jogando este jogo. Eu me diverti um pouco, mas me divertiria muito mais se a camera não fosse a profissão de SOFRIMENTO E DOR que é, e se o level design fosse menos... básico. 

Gex: Enter the Gecko é um jogo de plataformas 3D digno, e verdade seja dita não tinha concorrencia MUITO melhor no PS1 (pq embora TOMB RAIDER 2 Starring Lara Croft fosse tecnicamente um jogo de plataformja 3D também... eu não colocaria os dois como concorrentes). É okay. No seu port para Nintendo 64, entretanto, a concorrencia seria bem mais pesada e eu entendo pq esse jogo não levantou muitas penas no console da Nintendo. Definitivamente ele não está na mesma categoria que Banjo-Kazooie (que até saiu na mesma edição da Ação Games que o port desse jogo pra N64) e com certeza não é nenhum SUPER MARIO 64. Com efeito, eu diria que até BOMBERMAN 64 tenta ser menos básico do que o level design desse jogo.

No fim, Gex é um jogo curioso. Não é incrivel nem horrível, não impressiona, mas de alguma forma dá pra lembrar dele com um certo carinho.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES

Edição 127 (Maio de 1998)

Edição 132 (Outubro de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 040 (Julho de 1997)


Edição 049 (Abril de 1998)


Edição 050 (Maio de 1998)


Edição 052 (Julho de 1998)


Edição 055 (Outubro de 1998)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 029 (Abril de 1998)


Edição 034 (Setembro de 1998)