quarta-feira, 1 de junho de 2022

[#900][PC] COMMAND & CONQUER: Tiberian Dawn [Setembro de 1995]

Ao longo da história dos videogames é muito famosa a rivalidade entre fabricantes de consoles (Nintendo vs Sega, ou Microsoft vs Sony atualmente), mas tão relevante quanto são as rivalidades de desenvolvedoras de jogos. Capcom e SNK, por exemplo, lutaram pelo trono dos jogos de luta ferrenhamente. Ou a Lucas Arts e a Sierra pelos point'n click.

E o genero recem-nascido RTS (para os padrões de 1996) ficou mundialmente conhecido pela rivalidade entre a Blizzard e a Westwood. Quando o genero de Real Time Strategy começou com DUNE: The Battle for Arrakis da Westwood, a Blizzard respondeu fazendo a sua interpretação da ideia com WARCRAFT: Orcs and Humans.

Eita Preula, marketing hardcore véi

Obviamente era só questão de tempo até ambos jogos - tanto o da Westwood quanto o da Blizzard - ganharem continuações mais dinamicas, chocolantes e tresloucadas. Curiosamente, ambos os jogos foram desenvolvidos mais ou menos simultaneamente e lançados com poucos meses de diferença e o que é curioso nisso é justamente que como um não influenciou o outro (já que ambos estavam em desenvolvimento ao mesmo tempo) então as séries caminharam por rumos conceitualmente diferentes.

Enquanto WARCRAFT 2: Tides of Darkness tem o seu próprio texto entrando em mais detalhes, mas a ideia da coisa é que enquanto ele é mais focado em coletar recursos e desenvolver seu exercito, a empreitada da Westwood é menos focada na coleta de recursos (em Duna existe apenas o spice como recurso, e é isso que foi mantido) e mais em microgerenciar o combate. Com efeito no jogo da Westwood o combate é muito mais dinamico: as unidades morrem e são criadas muito mais rápido, então é criar maluco e mandar eles pro pau direto, ao passo que em Warcraft tudo leva muito tempo para fazer e perder uma batalha doi profundamente pq demora muito para montar aquele pelotão.

A sensação que dá de jogar CandC é que a guerra é menos um jogo estratégico e sim um desumano moedor de carne glorificado... o que não está errado. Então kudos pela tonalidade, isso tem que ser dito.

Como eu disse, são propostas conceituais bastante diferentes de modo que não dá pra dizer qual é o melhor realmente pq eles tentam fazer coisas idealisticamente diferentes, eles se focam em ser melhor em coisas diferentes. O que NÃO DÁ pra dizer que é só uma "questão de gosto" é a apresentação: o jogo da Westwood é muito mais bem polido e tem muito mais esforço colocado em apresentação, narrativa e experiencia geral. Enquanto WC2 tem uma história que é essencialmente uma pagina de texto que não realmente impacta muita coisa, a Westwood realmente botou gente trabalhando nisso.

Em parte porque a Westwood meio que foi obrigada a fazer isso: sua ideia original era fazer Dune 3, mas eles decidiram não trabalhar com uma licença de terceiros e sim fazer a sua própria coisa. Assim nasceu Command and Conquer, mas jogando vc vê que ele é claramente uma continuação de DUNE: The Battle for Arrakis só que com outra skin. Isso quer dizer que no lugar de harvesters de spice, agora vc tem colheitadeiras de "Tiberium"... mas na prática continua a mesma coisa. 


Na lore do jogo, o Tiberium é uma forma de vida alienigina que chegou a Terra através de um meteoro que caiu no rio Tibes (na Italia) em 1995. Nomeado de "Tiberium" em homenagem a isso, essa forma de vida absorve os elementos com que entra em contato e os transforma em cristais de pura energia. Na pratica funciona basicamente como Duna: o Tiberium cresce espontaneamente em dados locais e seus cristais podem ser coletados por UNLIMITEEEEEED PAUAAAAA.

O que, como vc pode imaginar, significa treta. Se tem algo que dá poder energetico ilimitado, é claro que tem mais de um alguém querendo ele e mais ainda disposto a meter pipoco no galere em razão disso.


Nesse caso em especial, duas facções competem pelo controle do mundo usando o Tiberium: a Irmandade de Nod, e a GDI - Global Defense Iniciative. O primeiro é um grupo terrorista religioso que clama que o Tiberium é um presente enviado dos céus para acelerar a evolução da humanidade - o que está tecnicamente correto, o Tiberium de fato caiu do céu e a exposição a ele tem a mutação do que ele entra em contato como efeito colateral. Então tão logo o Tiberium começou a se espalhar pelo mundo, a Irmandade de NOD começou ataques terroristas contra a "exploração do Tiberium para que os ricos e poderosos fiquem mais ricos e poderosos".

O líder da NOD, um cara conhecido apenas como "Kane", se nomeia como um profeta que previu a vinda do Tiberium, e clama ele proprio ter descoberto o meteoro - se isso é verdade ou não, jamais saberemos.


O que sabemos é que em resposta aos ataques terroristas da NOD, as Nações Unidas fundaram a Global Defense Iniciative.

AH, ENTÃO A GDI SÃO OS MOCINHOS E A IRMANDADE DE NOD SÃO OS VILÕES. PARECE SIMPLES.

Então... não tanto. Embora seja verdade que a NOD sejam terroristas e a GDI seja uma força sancionada pela ONU, também é verdade que a GDI  passou a investir pesado no desenvolvimento de armas baseadas em Tiberium, além de não ter a menor vergonha de tomar o controle do governo, estrutura e comunicações dos países que eles defendiam para "esforços de guerra" e... "esquecer" de devolver depois. Pois é.

Entre os efeitos inesperados da exposição ao Tiberium, está um grave caso de acne

Ao ponto a NOD se aproveitou da já desconfortavel pressão publica para divulgar falsa propaganda e com isso forçar a ONU a cortar o orçamento da GDI, embora a essa altura a organização já tenha se tornado autossuficiente e fora do controle da ONU. Então a Terra tem dois futuros possiveis: uma ditadura fascista tomando o controle do mundo, ou um bando de fanaticos religiosos dispostos a espalhar o Tiberium pelo mundo inteiro e viver com os outros mutantes que sobreviverem a contaminação.

Não importa quem vença, é como diz a grande filosofa moderna: não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.


Porém o REALMENTE interessante é que isso que eu estou dizendo não é contado no manual do jogo ou em um blocão de texto apenas jogado entre as missões (né, WARCRAFT 2: Tides of Darkness?), e sim que a Westwood realmente colocou esforço nisso: vc assiste a história sendo contada através de reportagens de telenoticiarios, transmissões piratas de televisão e videochamadas dos soldados em campo. Embora a atuação não seja estelar, obviamente, dá pra ver que a Westwood realmente se esforçou para criar uma parada com seu próprio estilo visual e narrativo pra contar a história que vai se desenrolando durante o jogo.

Isso explica em parte porque CandC levou três anos desde Dune 2 para ser lançado: longe de ser uma "continuação de update anual" como se fazia na época, tudo foi pensado e polido a exaustão enquanto a Westwood sobrevivia lançando os Point'n Click de THE LEGEND OF KYRANDIA que variam entre o "é, okay" e o "isso é uma punição para contra a humanidade".


Mecanicamente o jogo é, tal como WARCRAFT 2: Tides of Darkness, o jogo seminal que popularizou o genero RTS - só que com as diferenças que eu citei no começo, em que CanC é mais focado no combate e microgerenciamento do que em gerenciar recursos. Não que coletar Tiberium não seja importante, e mais importante ainda cortar o acesso do oponente aos campos de Tiberium, mas o foco aqui realmente é mais tiro porrada e bomba.

Com efeito, em várias missões você não vai construir nada: tem que lutar com as unidades que o jogo te dá e tem até mesmo umas missões muito criativas de infiltração, em que vc ganha uma unidade com ataque sniper e tem que achar um caminho em que precise matar no máximo um ou dois inimigos de cada vez pq mais do que isso eles tocam o alarme e fodeu.

De modo geral, eu tenho que dizer que pessoalmente prefiro mais o estilo de Warcraft já que microgerenciar em tempo real e combates frenéticos não são muito a minha coisa, eu realmente fico mais confortável com o jogo dando mais tempo e recompensando mais as escolhas na montagem do que a ação na hora do combate. Mas então isso é um gosto pessoal, não é como se fosse um defeito de CandC.

Na verdade, de um ponto de vista tecnico ele é um jogo bem mais impressionante do que WC2 permitindo que vc controle até 68 unidades ao mesmo tempo, enquanto no jogo da Blizzard o limite é 9. E caso não tenha ficado claro, 68 é coisa pra caralho, vira realmente um embate de enxames e que realmente tem que ser microgerenciado já que algumas unidades são massacradas se você lutar com elas com os soldados errados. 

Um APC blindado atropela os soldados a pé antes que eles possam atirar, por exempo, mas é destruído rapidamente se granadeiros atirarem nele sem poder ser atropelados - de modo que a melhor estratégia é mandar um veículo na frente pra "tankar" e então os granadeiros a pé atrás. Agora aplique isso até 68 malucos no seu time e... ssshhheeesshh, é muito trabalho pra mim. Novamente não é ruim, só não é a minha coisa.

Por outro lado, eu gostei bastante da apresentação e das cutscenes em filme, cria um mundo próprio e original com a sua própria politica, e mais importante seu próprio tom. Em um mundo ideal, eu gostaria de um jogo com o ritmo mais paceado do WARCRAFT 2: Tides of Darkness, mas com a apresentação e cutscenes de CandC. Mas como não pode se pode ter tudo, eu posso viver com os dois jogos separados. Ambos são divertidos a sua propria maneira e justamente por focarem em coisas diferentes a briga entre eles acabou moldando o que viria a ser o proprio genero inteiro.

O que não é algo que acontece todo dia, afinal.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 103 (Maio de 1996)

Edição 113 (Março de 1997)


Edição 115 (Maio de 1997)

Edição 139 (Maio de 1999)

Edição 144 (Outubro de 1999)



MATÉRIA NA SUPER GAME POWER

Edição 017 (Agosto de 1995)


Edição 038 (Maio de 1997)

Edição 062 (Maio de 1999)