Eu vou contar uma coisa pra vocês: o meu método de experimentar jogos novos é, hoje em 2024, exatamente o mesmo que era quando eu tinha 8 anos de idade. Naquela época eu pegava um jogo sobre o qual eu não sabia absolutamente nada na locadora - até porque informação era uma comodidade rara, hoje antes do jogo sair já tem todo o walkthrough no youtube - sexta-feira de noite, jogava um pouco pra ver qual era a do jogo e então ia tomar banho e estudar sobre ele, seja lendo o manual ou fosse lendo a Ação Games quando tinha.
Pois muito que bem, hoje em 2024 isso não mudou tanto assim: quando eu pego um jogo que eu não conheço - e acreditem ou não, tem uns jogos aí que eu nunca tinha sequer ouvido falar na vida, como o de ontem mesmo TOURYUU DENSETSU: Elan Doree - eu jogo um pouco ele pra ver qual é a do bicho, depois vou pesquisar a respeito pra entender o contexto da coisa, sendo a principal diferença que hoje eu tenho a internet e meu eu de 8 anos tinha o manual da Gradiente, quando tinha.
Eu estou falando isso pq hoje aconteceu uma coisa bem curiosa: eu comecei a jogar esse Legend e de cara percebi que é um beat'm up bem bosta, tipo muito mesmo. Mas já chego nisso, meu ponto aqui é que depois de experimentar um preludio das minhas próximas horas de sofrimento e dor, eu fui tomar meu banho de sexta e depois pesquisar um pouco a respeito desse jogo - como eu disse, é o meu modus operandi desde criança.
Mas tá, e o que eu descobri pesquisando a respeito dele? Que Legend do PS1 é na verdade um remake do beat'm up de Super Nintendo de mesmo nome, ao que eu imediatamente senti pena da pobre alma que sofreu isso no Super Nintendo em primeiro lugar. Levou alguns longos momentos até então cair a ficha...
... eu lembrei que eu já tinha jogado esse jogo no Super Nintendo sim! Não apenas isso,
LEGEND do SNES foi até capa da Ação Games!
... tá que foi um mês bem merda aquele, mas enfim, como que eu não lembrava absolutamente nada sobre um jogo que não apenas foi capa da Ação Games como eu escrevi quase 2500 palavras sobre ele? Mas aí então eu lembrei pq eu não lembrava dele:
LEGEND é aquele beat'm up de Super Nintendo desesperadoramente lento que vc se mexe como se estivesse caminhando até a cintura no piche. Oh god. E agora ele recebeu um remake para PS1, G-ZuZ no Pogobol alguém me salve...
Mas bem, a boa noticia é que definitivamente este Legend não é nem de perto a atrocidade desumana que é o primeiro Legendoca. A notícia ruim é que isso não quer dizer tanta coisa assim também né, e pra chamar esse jogo de "bom" vai uma longa caminhada. Uma que esse jogo aqui nem consegue dar direito o primeiro passo. Mas vamos começar do começo...
Nossa história aqui é que há caos e desespero no reino de Tovakia. O irmão criminoso do rei foi exilado para viver como um fora da lei nas bordas externas do mundo após várias tentativas violentas de assassinar o rei e assumir o trono. Claro, alguém poderia argumentar que exilio talvez não resolva o problema com alguém que fez VARIAS tentativas de assassinato brutal, algo me diz que esse tipo de pessoa não vai apenas deixar pra lá...
... mas o que eu realmente sei de direito Tovakiano, né?
Seja como for, para surpresa de ninguem além do próprio rei, saturado de ódio e ganância, o irmão não permaneceu no esquecimento por muito tempo. Ele busca um Feiticeiro das Trevas™ para aprender os poderes do mal e da magia negra, e algo me diz que não será para descobrir a cura para a bursite cronica.
Após anos de estudos, o irmão maligno se torna um Feiticeiro das Trevas™ e está pronto para se levantar contra seu irmão, que ele odeia com todo o seu coração frio. Mas ele não pode fazer isso sozinho. Ele precisa de um exército, uma força de guerreiros para romper as defesas de seu irmão. Ele, portanto, recorre a Morlock, o Ladrão de Almas, para obter ajuda e apoio. Os demônios malignos concordam com os esquemas cruéis do irmão do rei sob uma circunstância: todas as almas no reino pertencerão a Morlock para sua satisfação pessoal. Sendo assim, Morlock e o irmão maligno se tornam aliados. Me pergunto o que o cara ganha sendo o rei de uma terra em que todo mundo foi morto por demonios, mas então eu suponho que sei tanto sobre ser um overlord do mal quanto sei sobre direito tovakiano...
Mais tarde, no castelo do Rei, os leais guardas Axel, Tara e Karo estão de guarda em frente à porta da sala do trono. De repente, eles ouvem um barulho ensurdecedor e o grito de socorro do Rei. Rapidamente, eles se viram e abrem a porta com suas armas bem a tempo de ver uma gárgula hedionda parada com o Rei em seus braços. Enquanto Axel avança para parar a gárgula, dois monstros saem da escuridão e atacam o trio destemido. A gárgula foge com o corpo imóvel do Rei e após uma curta batalha sangrenta, Axel, Tara e Karo estão sozinhos na sala do trono do Rei, olhando pela janela espalhada, onde podem ver a forma da gárgula desaparecendo no horizonte.
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Tenho que admitir que ficou mais épico na minha descrição do que na CG de abrtura, eles parecem meio... é, né? |
Tempos sombrios estão chegando e Axel, Tara e Karo se preparam para uma missão. A missão de encontrar o Rei e destruir a aliança maligna do irmão maligno sem nome e Morlock, o Ladrão de Almas. Felizmente para nossos heróis, esses vilões seguem as convenções de sequestros dos anos 90 e o rei está vivo para ser resgatado, sabe-se lá pra que exatamente ele foi mantido vivo...
Desenvolvido pela Toka (fundada por ex-funcionários da Arcade Zone, os monstros desumanos que fizeram o primeiro jogo) e publicado pela Funsoft, esta versão de 32 bits salta para os gráficos 3D mas muda muito pouco na ideia geral da coisa: um personagem ultra lento avança da esquerda para a direita batendo em tudo que existe - felizmente, não tão lento quanto o horror lançado para o Super Nintendo.
E por "bater em tudo que existe", é claro, eu estou falando de homens-porcos, dinossauros, homões de armadura e outros elementos de fantasia ao ponto que descrevê-lo como um
GOLDEN AXE 3D não está errado realmente. Aqui nossos heróis Axel, Tara e Karo podem pegar espadas, machados e facas, e lançar algumas magias que atinge alguns inimigos de uma vez. Felizmente, novamente, aqui o jogo é bem menos tacanho com repor sua mana do que o jogo anterior e vc pode efetivamente usar magia sim. Não é algo que se diga "minha nossa, isso salva o jogo" mas não vou negar que ajuda.
Legend foi lançado no final de 1998 – quando a maioria dos desenvolvedores tinha um domínio bastante bom sobre o hardware do PSone – e os visuais refletem isso, com uma variedade decente de texturas e grandes personagens bem detalhados. No entanto, isso também teve um custo – a memória RAM limitada do PS1 só consegue lidar com poucos inimigos detalhados assim na tela ao mesmo tempo, criando uma experiência previsível e repetitiva. Você é essencialmente conduzido de um pequeno cercadinho para outro, lutando contra não mais do que três inimigos de cada vez. O cenário não importa muito, vc sempre luta em caixinhas delimitadas e mesmo que o jogo te dê algumas armas com abundancia, não é o suficiente para você sentir que está fazendo alguma coisa diferente do que lutar de uma caixinha atrás da outra.
Também não é um beat'm up particularmente técnico, com o agarrão sendo meio burocrático pra sair eas opções de defesa não muito mais ricas do que "bata neles antes que eles batam em você". Tirando os chefes que aguentam mais hits, com 10 minutos de jogo você já viu tudo que esse título tem a oferecer - e por isso eu quero dizer bater nos mesmos três caras na mesma tela cercadinha de 5x5. Repita isso por duas horas e meia e aí está o seu jogo. Se essa descrição não soa terrivelmente divertida, é pq vc começou a entender o que Legend é, afinal.
Não que esse jogo não tenha nada NADA de interessante, ao menos você pode visitar o menu de opções e aumentar a quantidade de sangue. Isso não só faz os inimigos cuspirem mais ketchup, mas também faz com que sejam cortados em dois ou terem membros mutilados quando são derrotados - o que definitivamente é a coisa mais interessante a respeito desse jogo... mas meio que a única também.
Enfim, como dá pra ver Legend do PS1 é um jogo bem pouco ambicioso, doentemente repetitivo e que a raça humana não é mais pobre por não lembrar nada dele - a maioria das reviews da época em torno de 6/10, o que parece justo (eu daria um pouco menos, mas não tanto assim). Pouco surpreendentemente, a THQ nunca conseguiu ninguem interessado para lançar esse jogo nos US and A, e obviamente menos ainda no Japão, sendo um título exclusivo da Europa - o que sempre diz tudo que vc precisa saber a respeito de um jogo, jogos europeus dos anos 90 foram uma das sete pragas de Deus para o faraó do Egito, afinal.
O resumo da coisa é que Legend é um beat'm up muito lento e muito chato e de forma alguma merece nenhuma recomendação a não ser "hey, ao menos é melhor que a versão original de Super Nintendo". Mas então, ir no almoço de domingo da familia e se oferecer para fazer o imposto de renda da familia toda também é preferível a jogar aquela coisa.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 138 (Abril de 1999)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWEREdição 060 (Março de 1999)