quinta-feira, 19 de setembro de 2024

[#1301][Dez/98] MARIO PARTY

Em 1998, John Nintendo - dono das indústrias Nintendo - estava contando seu Nintendomoney recebeu uma ligação estranha da sua secretária: havia uns caras que queriam ve-lo. Isso não era a parte estranha, a presença de John Nintendo era requisitada quase o tempo todo, o que era estranho era quem queria ve-lo: os caras da Hudson.

QUEM?

Foi exatamente o que John Nintendo se perguntou, Jorge. Aí ele lembrou de quem eram, os caras que faziam os jogos de BOMBERMAN e mais especificamente ainda, no ano de 1998 tinham lançado quatro jogos no intervalo de menos de um ano: BOMBERMAN 64BOMBERMAN WORLDBOMBERMAN HERO e BOMBERMAN WARS. Ou seja, pra lançar um jogo a cada três meses mais ou menos os caras já não sabiam o que era dormir fazia muito tempo.

Tutorial de como fazer uma festa, 1998 style

Por isso não foi com surpresa que John Nintendo recebeu um bando de caras desgrenhados, com olheiras profundas e cheiro de café molhado em sua sala. Ainda sim a Nintendo tinha uma boa relação com a Hudson e eles não podiam se dar ao luxo de espantar mais desenvolvedores - dado a escassez de lançamentos para o Nintendo 64. Assim sendo, John Nintendo decidiu ouvir qual era, afinal, a proposta dos caras.

Ao que um homem de olhas maníaco de ser mais café com energético a esse ponto, barba por fazer a tres semanas e hálito de quem vive de pizza a quatro semanas, disse em uma voz rouca e gutural: "FESTA DURO".

Confuso, John Nintendo perguntou sem entender o que ele tinha ouvido: "Festa... duro?", ao que o homem desmazelado confirmou sem piscar: "FESTA. DURO." E assim nasceu o jogo de hoje.

Mas vamos começar do começo: Mario Party, acredite você ou não, tem sim uma história. E que história é essa, você pergunta? Bem, tudo começa numa terça-feira que o Bowser estava com lumbago e não raptou a princesa Peach, o que deixou Mario e seus amigos desocupados para papear. Sabe quando o professor falta e vc tem período livre na escola? Tipo isso.


É, eu diria que o que tem de estranho aqui é incluir o Wario na relação de BONS AMIGOS do Mario, mas afinal quem é Jesus H. Cristo perto da capacidade de Mario amar o próximo, eu te digo. Seja como for, eis o que rola aqui:


Então nossos amigos estão discutindo quem é o mais Superstar entre eles, e é claro que essa discussão não é sobre quem seria o mais GANG-STAR entre eles pq senão a resposta seria óbvia. Seja como for, como sanar essa profunda questão existencial?

QUE TAL OLHAR NA CAPA DOS JOGOS O NOME DE QUEM ESTÁ LÁ?

Era uma. Outra opção, no entanto... É FAZER UMA GINCANA! Tudo não fica melhor se fosse resolvido com gincanas? O oriente médio se resolveria em dois palitos, era só colocar uma corrida do saco e um cabo de guerra que tá tudo certo! Mas enfim, essa gincana agora para ver quem é o mais estrela dos estrelinhas do mundo do Mario é o jogo que viemos a conhecer como MARIO FESTA.


Desenvolvido pela Hudson, Mario Party é essencialmente uma coleção de 50 minigames bastante simples mas que...

ESPERA, ENTÃO ESSE JOGO É SÓ UMA COLEÇÃO DE MINIGAMES QUE NEM FEITO PELA NINTENDO FOI? TEM LITERALMENTE OUTROS 39 JOGOS QUE SÃO COLEÇÕES DE MINIGAMES NESSE BLOG E RARAMENTE TU FALA BEM DESSE TIPO DE COISA, O QUE ESSE TEM DE ESPECIAL?

Tem de especial nesse que a Hudson acertou numa coisa muito importante que eleva esse jogo acima dos demais da categoria. Uma coisa bem simples, na verdade, mas tão antiga e tão fascinante quanto a humanidade em si: 


 Competitividade. A febre, a raiva, o sentimento de impotência que transformam homens bons em cruéis. Isso pq enquanto a vasta maioria dos minigames desse jogo são competitivos, a Hudson foi alguns passos além para garantir que todos se formem na escola Itachi Utiha da vida jamais lhes falte ódio.

Para entender isso, eu preciso explicar como funciona o jogo: existe um tabuleiro com multiplos caminhos e em algum lugar desse tabuleiro é colocada uma estrela - o objetivo do jogo é coletar estrelas, quem tiver mais no final de X turnos ganha. Cada turno você joga um dado e anda o número de casas que sair no dado, sendo que a maioria das casas onde vc para apenas te dão algumas moedas enquanto algumas ativam efeitos especiais. No final de cada turno, depois que todo mundo jogou, é sorteado um dos minigames do cartucho e o vencedor do minigame ganha mais moedas.


Moedas nesse jogo servem como critério de desempate (ganha quem tiver mais estrelas, se empatar ganha quem tiver mais moedas), mas também servem para pagar a ativação das casas especiais onde vc pode cair andando no tabuleiro... e é aqui que a real magia de MARIO FESTA começa.

Como dá pra ver, estrelas são o item mais precioso do jogo já que é o que determina a vitória. Algumas das casas que você para permitem que você roube estrelas dos coleguinhas usando moedas, ou que roube moedas, ou mais frustrantemente ainda, impeça que alguém pegue uma estrela. Digamos que o Joãozinho passou cinco turnos andando no tabuleiro para chegar até uma estrela... e no jogador antes dele chegar o desgraçado para numa casa que muda o mapa ou muda a estrela de lugar. 


Ou então, custa 20 moedas comprar uma estrela uma vez que vc chega nela no tabuleiro. Seria realmente uma pena se na rodada antes de vc chegar lá vc tivesse 22 moedas e alguém roubasse apenas 3, não? Casamentos já terminaram por menos que isso.

Adicione isso ao fato que o jogo está a cada turno não apenas jogando minigames competitivos na cara de todo mundo, ele ativamente está fomentando a competitividade dado que nem todos os minigames são de "cada um por si". Alguns dos jogos são de duplas mas os mais especiais são os de 3 contra 1 - sendo que 1 usualmente é o cara que está liderando o jogo. E se é verdade que poucas coisas unem mais as pessoas do que ter um inimigo em comum, menos coisas ainda deixam as pessoas putas do que a sensação de injustiça de quando todo mundo se junta contra você. 


Mesmo nas partidas "cada um por si" é possível se juntar para pegar um jogador específico por livre e espontanea vontade dos jogadores, o que tambem serve para despertar a raiva primitiva de você contra o mundo - e Mario Party conta exatamente com isso para funcionar.

Claro, a esse ponto vc deve ter reparado que tudo aqui é bastante caótico e depende muito da sorte - afinal vc não controla nem em que casa você cai, muito menos as casas que os outros jogadores ativam. Entretanto esse jogo não é INTEIRAMENTE baseado em sorte porque os minigames são baseados em skill, então existe uma sensação premente de que conquistar estrelas envolve algum mérito e esforço seu - o que torna a questão de perder suas estrelas mais frustrante ainda, mas esse é o ponto.


Mario Party, como o próprio nome diz, não é um jogo exatamente tecnico. Ele é sobre festa, é dedo no cu e gritaria, é sobre bagunça e zoeira com os amigos e para esse proposito poucos jogos fazem melhor uso dos 4 controles que o N64 tem nativamente do que esse. No que se propõe a fazer ele faz muito bem, e o que ele se propõe a fazer é ser um jogo inteiro baseado no casco azul de MARIO KART 64.

Definitivamente a falta de sono e de contato com a luz do Sol pelos caras da Hudson em 1998 os fez  transcender os limites da humanidade.


MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 137 (Março de 1999)


EDIÇÃO 139 (Maio de 1999)






MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 061 (Abril de 1999)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 038 (Março de 1999)