sábado, 28 de setembro de 2024

[#1309][Nov/98] SiN


Dentro do genero dos FPS, existe um subgenero muito especifico que eu chamo de "jogo da CD Expert". Eu me refiro a jogos como SHOGO: Mobile Armor Division, que são jogos que ninguém jamais cogitaria comprar tipo ever, e ainda sim foram gravados na mente do jogador por ver ele um bazilhão de vezes na banca de revistas como brinde de revistas como a CD Expert.

Outro jogo que compõe essa categoria é esse garotão aqui de hoje. Talvez você não saiba o que é Sin, talvez vc sequer tenha ouvido falar desse FPS, mas uma coisa com certeza eu te garanto e é que você absolutamente já viu essa filha da mãe de encarando na banca de revistas dos anos 90:


Sim, hoje é dia de falar de PECADO, o jogo que eu não fazia a mais remota ideia do nome mas minha vida toda conheci como "o jogo da mulher feia que parece uma vilã rejeitada de REBOOT". Esse também é um subgenero muito especifico, saiba você, mas é como eu conhecia esse jogo!

E, verdade seja dita, depois de efetivamente vir a conhecer o jogo... eu vou te dizer que  não tem tanto assim sobre ele do que "é o jogo da mulher feia que vinha da CD Expert", mas vamos começar pelo começo...



O final de 1998 não era exatamente um bom momento para lançar um FPS para computador. A causa, motivo, razão e circunstancia disso foi um pequeno brinquedo que eu já falei aqui chamado HALF-LIFE, que abalou geral as estruturas do genero e as coisas nunca mais foram as mesmas desde então. Essa história eu já contei naquele review, o que importa para o dia de hoje é que HALF-LIFE não foi um fenomeno que surgiu do nada e tomou o mundo de assalto, pelas demos e matérias de revistas que se tinha antes do seu lançado ele já havia se tornado o jogo mais antecipado do ano para computador - todo mundo que batia o olho nesse filhote via que ali tinha uma coisinha especial.

O que, obviamente, foi muito bom para a Valve quando HALF-LIFE veio e atendeu as expectativas do enorme hype gerado pelo FPS que mudaria tudo (e de facto mudou). Foi menos bom, entretanto, para todo mundo mais que estava por lançar um FPS nessa época, aí sua vida ficava bem dificil. Era o caso da Ritual Enterteinment, que estava apostando em um FPSzinho maroto para o final de 1998, um FPSzinho moleque, um FPSzinho toco y mi voy.


Seus planos de serem alguém na fila do pão foram arruinados, entretanto, pelo menomeno panglobemico que foi HALF-LIFE e na tentativa de amortecer o golpe eles decidiram apressar a produção de Sin para o jogo lançar uma semana antes de Meia-Vida - foi o mais rápido que eles conseguiram e como consequencia ainda sim o jogo foi lançado cheio de bugs e problemas que mais atrapalharam que ajudaram.

Quer dizer, sério, a produção desse jogo foi tão "ai meu deus nossa única chance é lançar esse jogo antes de HALF-LIFE de ALGUM JEITO" que o menu de opções desse jogo é isso:


UÉ, NÃO TEM OPÇÕES PARA CONFIGURAR OS GRÁFICOS? EU NUNCA VI UM JOGO DE COMPUTADOR SEM ISSO...

Então, tem. Só que os settings gráficos desse jogo - resolução, tela cheia, qualidade de detalhes, etc - está dentro do menu de controles, por alguma razão. Isso não é realmente um grande problema per se, mas ilustra muito bem o quão a coisa foi feita no desabalo desesperado pq o jogo tinha pq tinha que lançar de qualquer jeito.

Um exemplo bem claro disso é a primeira fase do jogo, onde vc controla uma minigun a bordo de um helicoptero e não apenas faz passoca de bandidos usando balas do tamanho da bunda da sua mãe como pode destruir o cenário - o que, obviamente, é divertido pra caralho. Entretanto, essa feature de cenário destrutível e momentos awesome assim vão minguando durante o jogo ao passo que antes da metade já desaparecem completamente.


As primeiras tres, quatro fases de Sin são até que interessantes com algumas ideias curiosas de level design (como destruir as bases de um outdoor para criar uma rampa que serve de atalho para o segundo andar), mas chega em dado ponto que você vê claramente a hora que alguém gritou "vamo apurar a coisa gurizada, preteou o olho da gateada!". Se as primeiras fases de Sin são promissoras e interessantes, os outros 75% são muito feitos no piloto automático.

Sin é um jogo feito com a engine de QUAKE 2 e eu posso dizer que ele acrescenta muito pouco ao motor gráfico do jogo da ID Software. Com efeito, eu diria que o jogo até retrocede pq a maior parte dos combates desse jogo é simplório ao ponto que parece saído de jogos antigos como DUKE NUKEM 3D, e quando não é você gostaria que fosse.


Isso inclui coisas como colocar snipers logo no início de um nível (e você precisará morrer várias vezes antes de descobrir de onde eles estão atirando), enviar ondas infinitas de capangas em você durante um nível, áreas extremamente sombrias com poucas ou nenhuma fonte de luz, um nível de furtividade que pelas santas almas que me regem, um segmento de veículo (felizmente opcional), distribuição frequentemente mesquinha de munição/energia/armas, etc.

O level design tambem não faz lá muitos favores ao jogo, não é raro você descobrir o que tem que fazer depois de passar de 10 a 80 minutos vagando em círculos e ainda sim vai ficar preso que terá que procurar online por detonado — apenas para descobrir que a solução é bem "óbvia", mas implementada de uma forma que é tudo menos óbvia.



Por exemplo, tudo o que você precisa fazer para abaixar este elevador é apertar um pequeno botão. E por "pequeno botão", sim, estou falando dessa coisinha minúscula envolta em sombras que é muito, muito fácil de deixar passar batida se você já não saber o que estava procurando em primeiro lugar. E o jogo é apinhado de momentos assim, ugh. 

Em termos de level design e inimigos, bem, o jogo é aceitável e por isso eu quero dizer que ele faz muito pouco em cima do que já veio pronto da engine de QUAKE 2. Embora os níveis finais ofereçam armas um pouco mais interessantes e incluam uma variedade maior de inimigos, a imensa parte do jogo envolve principalmente lutar contra capangas quase idênticos (que são bastante semelhantes aos Strogg de QUAKE 2, apenas com gráficos diferentes) com a pistola, espingarda e rifle de assalto padrão. *bocejo*


Pra não dizer que esse jogo não faz nada NADA diferente, bem, esse jogo permite tiros na cabeça... o que meio que se torna um problema tambem, pq vc é obrigado a usar headshots do contrário os inimigos são são esponjas de bala e sua munição termina em dois tempos. Imagine um FPS onde vc é meio que obrigado a dar headshots em todo e cada filho da mãe que existe, OBRIGADO, então não espere que a coisa flua muito aloucadamente...

E se o pacing do jogo já não está lá essas coisas, por alguma razão o jogo ainda exige que você tem que pegar manualmente qualquer munição ou item que os inimigos dropem tendo que ficar apertando o botão de "usar". Pra que um negócio desses jamais saberemos, o que tem de errado em só passar por cima dos itens? Mas enfim, não é algo que acabe com o seu dia, só é... desnecessário, não melhora em nada a experiencia uma porra dessas.


O ponto principal é este: SiN não é um jogo de tiro ruim pq ele foi construído sobre a engine de um jogo muito bom (QUAKE 2), mas o que ele faz por conta própria em cima disso não envelheceu bem.

Isso é particularmente problemático quando você compara aos seus colegas FPS de 1998. De fato, esse jogo não se destaca em nada quando comparado as opções que existiam então. A escolha de uma temática e explora-la é muito melhor feito em SHOGO: Mobile Armor Division, o level desing de HALF-LIFE faz parecer que esse jogo foi programado com pedra lascada, apesar da engine ser boa a escolha estética dos bonecos é feia pra caceta! 



Tudo isso seria perdoável se SiN ainda funcionasse como um jogo de tiro divertido, mas não é o caso. O movimento parece solto, a mira é desleixada e os inimigos são sacos de carne idiotas que apenas absorvem balas a menos que você obrigatoriamente dê um headshot neles. 

Na classe de 1998, que foi realmente um ótimo ano na história dos jogos de tiro, SiN  desapareceu na obscuridade e olhando em retrospecto, ser esquecido como "um dos jogos já feitos" é exatamente o que ele merece. SiN não é um jogo ruim, é decentes de jogar, mas não tem recursos distintos o suficiente para se diferenciar de nada. Volta e meia você pode encontrar alguém na internet dizendoq ue "injustiçado por culpa de Half-Life", e embora eu tenha tido alguma simpatia pelo fato de SiN ser um jogo decente, eu preciso dizer que isso é uma asneira do tamanho do multiverso. 

SiN é um jogo de tiro decente, mas na real não é nem um dos cinco melhores jogos de FPS lançados em 1998.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 134 (Dezembro de 1998)


EDIÇÃO 139 (Maio de 1999)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 060 (Março de 1999)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 034 (Setembro de 1998)