sábado, 5 de dezembro de 2020

[SUPER NINTENDO] LEGEND (Abril de 1994)[#575]

Quando você na capa um de nossos protagonistas tentando entender porque um quilo de algodão não pesa mais do que um quilo de chumbo com toda força do seu cerebelo, você sabe que estamos prestes a embarcar em algo especial

Eis um fato curioso para você: você está assistindo uma aula ou palestra e começa a ficar com sono. Mas por que? Bem, os cientistas descobriram porque a gente tem vontade de dormir quando está entediado. Isso acontece por conta de uma parte da atividade ligada à motivação e ao prazer, chamada de núcleo accumbens, que os pesquisadores descobriram que também afetam nossa vontade de dormir. Quanto mais interessado você está, mais ativo o núcleo accumbens está e isso impede o processo quimico que te faz ter sono.

E por que eu estou dizendo isso? Bem, porque esse é o nível de atividade do seu núcleo accumbens jogando Legend:


Mas vamos começar do começo.


A primeira coisa que chama atenção nesse jogo é justamente o quanto seu nome não chama atenção nenhuma. Quer dizer, quem é que decide chamar o seu jogo de “Legend”? “Legend” é a parte do título que você ignora, é basicamente um artigo para o título. Tipo “Legend of Kyrandia”, “Legend of Zelda” ou até mesmo “A Lenda do Herói” que seja. Quem, me diz, quem olha pra isso e pensa “o Legend é a parte que bombou, o nome do nosso jogo vai ser só isso!”. Ta merda mesmo...

 Beldor, o MALÉGUINO, foi um despota que teve um reinado de terror que durou mil anos. O curioso é que não diz que ele era um demonio ou algum tipo de monstro, então eu vou imaginar apenas que ele era um velhinho tipo o Mestre Ancião. E como é comum aos boomers, fez um reinado de terror e destruição. Durante muitos anos cavaleiros e heróis tentaram acabar com o velhote tinhoso, todos sem sucesso. Isso só mudou no dia que as pessoas e se uniram...


 ... e construiram heróis energizados? Que? O que ao menos isso significa?

BEM, DEVE SER UM ERRO DE TRADUÇÃO DO JAPONÊS. NÃO É TÃO INCOMUM A ESSA ÉPOCA REALMENTE

Verdade... exceto que esse não é um jogo japonês. Com efeito, é o único beat’m up ocidental dessa época que eu consigo lembrar de cabeça e até agora eu não tinha pensado nisso, mas realmente não se fazia jogos desse tipo fora do Japão. Bem, vendo Legend eu não posso dizer que foi realmente uma grande perda para a história dos videogames. O que aconteceu nesse caso foi só que os programadores do jogo tem dificuldades em escrever uma frase no seu idioma nativo.

OH BOY...

Pois é. Continuando a história, os heróis energizados... seja lá o que isso for... conseguem selar Beldor. Depois de um tempo não especificado, o que pode ser algo entre 3 segundo e 4 milhões de anos, o filho do rei de Sellech chamado Clovis decide drenar o poder do Beldor aprisionado para si. O que é incrivelmente confuso para uma história tão simples. Clovis é quem, exatamente? Ele é filho do Beldor? Ou ele é filho de um rei de Sellech que veio depois, mas se esse é o caso então pra que ele quer dominar o reino se ele já é filho do rei? No máximo ele precisa sapecar seu coroa, não drenar os poderes do Belzebu.



Não, sério, como é que os caras conseguem se atrapalhar com uma história que deve ter sido escrita num guardanapo? Mas bem, chega de falar de história e vamos falar do jogo e... hã, bem... podemos ficar só na história?

Se eu tivesse que resumir a “Lenda” em uma palavra, seria incompetencia. O jogo tenta ser semelhante ao Golden Axe, desde o seu cenário até a sua ação. Só que tudo nesse jogo é feito de forma incompetente, a começar pelo seu conjunto de movimentos muito limitado. Você tem um ataque combo de três golpes e ... é isso. Não existem agarrões, também não tem armas temporárias para usar. Mesmo para os padrões de um beat’m up, isso é triste. Para um beat’m up de 1994, é inaceitável.

Ser atacado por algo que vc não pode ver porque colocaram  um pilar no meiod a tela is TIGHT


Para dar uma apimentada nas coisas, o jogo tenta imitar a ideia de Golden Axe de coletar poções mágicas para desencadear ataques mágicos de limpeza de tela, mesmo que não possa escolher o feitiço usado. Não é o mesmo que chutar gnomos no Golden Axe, mas a ideia não é ruim. Só tem um problema: o jogo é muito, muito muquirana com a distribuição de poções. E você precisa de duas poções para usar o nível 1 do ataque especial, o que são dois problemas. Três se você considerar que o ataque especial causa menos dano que o seu ataque normal dando soco. Ah, e elas mal arranham a vida dos chefes, o que são quatro problemas. Honestamente, tudo que o “ataque especial” serve nesse jogo é para matar uns corvos que ficam voando e são chatinhos de acertar com voadeira... e só.

Tamo bem, heim...

Sério como esses morceguinhos são irritantes

Mas se o ataque especial é uma pilha fumegante de ki-suco dos Power Rangers (dor de barriga por apenas dez centavos!), o ataque normal consegue ser pior ainda. Pra começar, sua velocidade de ataque geral é dolorosamente lenta a um nível que não posso acreditar. No tempo que leva para completar um combo simples, o inimigo se recuperou, resolveu um sudoku e retaliou. Existem orbes relâmpago que aumentam a velocidade de ataque, mas você perde o power up assim que perde uma vida. E mesmo que não perdesse, se você for o bichão das bichrias e jogar sem morrer... basicamente o que ela fazem é deixar o jogjo da maneira que deveria desde o início.

Alias, esqueça o ataque: todo o jogo é lento. Legend implora por um botão de corrida, porque esse é o beat’m up mais lento que eu já vi na vida. Parece que seu personagem anda na tela como se estivesse num poço de piche até a cintura. Eu não consigo, de forma alguma, em cenário algum, em hipotese nenhuma, conceber que alguém fez esse jogo, testou isso e disse “é, tá divertido desse jeito”. Cavalo manco de Guadalajara!

BEM, VAMOS OLHAR PELO LADO POSITIVO: PELO MENOS NÃO TEM COMO FICAR PIOR QUE ISSO.

Aí é que você se engana, kiddo. Porque a segunda fase é um FUCKING PANTANO e o jogo fica mais lento ainda. Esse é um daqueles momentos mágicos, Jordan Mechenerianos que você coloca larga o controle em descredito e começa a rir de desespero. O cerebro humano só consegue interpretar informações até determinado ponto, quando uma coisa é muito alienígina o cerebro não consegue interpretar essa informação porque não tem uma memória para associar. A jogabilidade desse jogo é nesse nível, seu cerebro tem dificuldade em registrar o que acontece.


A única forma de se deslocar nesse jogo é através da voadeira, o que é eficaz até certo ponto, mas é uma das coisas mais terrivelmente chatas que você pode fazer na vida já que cada inimigo precisa de 4 a 5 voadeiras para morrer. Não tem para onde correr aqui... o que é meio que o problema desse jogo.

Ainda falando sobre o combate, Legend não é tão difícil quanto frustrante. Os inimigos vêm em ondas de três a cinco o tempo todo. Com um ataque corpo a corpo inútil, você passará a maior parte do seu tempo dando voadoras pela tela, só que Legend tem tantas ondas de inimigos em cada estágio que antes do primeiro terminr você não aguenta mais esse jogo. Para piorar, todos os níveis às vezes são terrivelmente longos. Além disso, a voadera funciona em inimigos normais buch de canhão, mas vai pela janela contra os chefes. Todo chefe é uma porra de um pesadelo, até mesmo os malditos minibosses. A primeira fase apresenta um cara com uma vara cujo alcance de ataque cobre metade da tela, e o verdadeiro chefe final da fase é ainda pior. E só desce daí pra baixo, porque não queira saber dos chefes que ficam voando e te dão apenas intervalos de poucos segundos para bater nele quando ele desce... para então voltar a voar e mandar ondas de minions para você matar (com toda sua vagareza excruciante) até ele descer de novo.

Caralho, não tem nada que se salve nesse jogo? Eu fico pensando nisso, e tenho dificuldade em apontar alguma coisa. Legend poderia pelo menos ser jogavel se seu equilíbrio não fosse tão bagunçado. Sua barra de vida é muito pequena e se esgota rapidamente. Não há barris ou outros itens para quebrar para power-ups como em outros beat’m ups. 

Você tem que confiar em inimigos dropando comida, o que acontece regularmente... só que cada coxa de frango (em nenhum momento aparece um frango inteiro, eles não deviam ter sido inventados ainda eu acho) recupera menos vida do que você perde levando um único hit. Porque foda-se você, é por isso. Era melhor apenas não ter nada do que ter essa bosta na tela que você leva dois dias pra chegar até ela com seu passo de tartaruga e não recuperar nem um baconzito de vida.

A única área de que não deveria reclamar da Legend são os gráficos. Legend tem personagens grandes e bem detalhados, até mais do que vários jogos da Capcom, o que seria realmente é um jogo incrivelmente bonito ... se eles não tivessem tomado decisões artisticas pavorosas. A estética foi inspirada no Leste Europeu e como consequencia todo mundo parece sujo e monocromático. 

Vocês acham que eu to implicando com o jogo, mas acredite ou não tem dois jogadores nesa imagem. Boa sorte com isso.

Ok, pode ser mais realista do que jogos com personagens flamboiantes coloridos, mas em um videogame da 4a geração só faz tudo parecer lavado e sem graça. Não, sério, quem é o gênio que achou que colocar o player 2 vestido de cinza-bituca-de-cinzeiro era uma grande ideia? Sério, o seu protagonista consegue a façanha de ser a coisa menos interessante de se olhar em um jogo em que todo mundo já é feio e sem graça, mas o player 2 é confundido com o mob o tempo todo de tão genérico que ele é! Mas que desgraça, vocês não pensam em merda nenhuma?

Falando em apresentação, eu queria aproveitar para ilustrar todo o problema com a concepção artistisca de Legend. O que são palavras bonitas pra um jogo tão ruim, mas acompanhe meu raciocinio: 


Essa é a cena da luta contra o chefe final em Golden Axe 2, um jogo lançado três anos antes de Legend e no qual ele se inspirou grandemente. E é uma luta que tem uma boa apresentação do chefe final: ele está ali no fundo assistindo você lutar contra os minions, e quando você limpa a tela ele se levanta e você começa a lutar com alguém bem maior que você. Setup, execução.

Legend... não recebeu o memorando. 


O chefe final é só um cara qualquer, não realmente diferente de qualquer brucutu que você já enfrentou dezenas até então. Mesmo os chefes do jogo ao menos são visualmente chamativos, mas o último aqui é só mais um cara ao ponto que quando eu tava lutando contra ele eu disse “vou guardar minhas magias pros ads do chefão final”. E ele era o chefão final! Pra vc ver como a arte desse jogo é sem graça, taqueopareo viu...

Existem outra coisa que esse jogo faz no departamento visual que é simplesmente inconcebível, e você pode argumentar que essa é a característica que distingue esse jogo como único (além da lentidão) e inesquecível (pelos motivos errados), que é a paixão que esse jogo tem por colocar coisas no primeiro plano da tela. Sabe quando um adolescente está aprendendo a programar jogos e aprendeu a usar um recurso novo, e então coloca esse recurso em absolutamente tudo que ele pode porque ele acha aquilo a coisa mais legal do mundo?

Olha uma merda dessas, tão tampando metade da tela com esses pilares e esse nem é o pior momento do jogo disso!


Legend faz isso com colocar coisas no primeiro plano, mais de uma vez passando de voadera pelo limite do ridiculo. Verdade que eu entendo o desejo de esconder essa gente feia da porra que eles desenharam, mas eu ainda preciso ver o jogo pra jogar ele! (não que eu saiba responder pq estou jogando isso, tho)

 Bem, então esse acidente de trem radioativo carregado de chiuauas mutantes foi Legend, um jogo que felizmente recebeu todo o esquecimento que merece...

... ou pelo menos eu gostaria de poder dizer isso. Ah, como eu gostaria. Isso porque a Ação Games decidiu que esse pedaço modorrento de Mordor não era apenas um jogo incrível, ele também devia ser a CAPA da revista! Sim, na primeira quinzena de junho de 1994, a Ação Games pensou sobre isso e decidiu que de todas as coisas LEGEND seria o jogo mais interessante, mais chamativo, mais bonito para colocar na capa da revista! Esse pedaço de lixo que eu acabei de descrever foi o ponto alto daquela quinzena? 

Tá, tudo bem que essa edição é bem fraca mesmo com alguns jogos que induzem pesadelos como ROCKO'S MODERN LIFE: Spunky's Dangerous Day ou INSTRUMENT OF CHAOS STARRING YOUNG INDIANA JONES, mas porra LEGEND NÃO, NÉ? Se é pra colocar um homão da porra na capa, na mesma edição saiu Knights of the Round, um beat'm up da Capcom que é muito, mas muito, mas muito menos terrível que esse (não que cortar suas unhas com uma faca de manteiga não seja menos terrível), ou mesmo SOS que daria uma capa bonita com o navio naufragando e tal... mas não, de todas as coisas eles escolheram LEGEND. Este fucking LEGEND! 

Mas okay, pelo menos agora terminei de fala dessa ABOMINAÇÃO que é esse jogo e...

ESPERA, ESPERA, PARA AÍ! VOCÊ NÃO VAI FALAR DA NINTENDO?

Como assim? O que a Nintendo tem haver com isso? Não foi ela que fez esse jogo.

MAS QUANDO UMA DESGRAÇA DESSAS É UM EXCLUSIVO DO MEGA DRIVE, VC NÃO POUPA FARPAS PRA DIZER O QUANTO A SEGA É CO-RESPONSÁVEL POR PERMITIR UM ATENTADO DESSES NO SEU CONSOLE. E AGORA QUE ESSA PORCARIA É EXCLUSIVO DO SUPER NINTENDO, NÃO VAI DIZER NADA?

Jorge, essa forma que você vê o mundo não é realmente saudável, sabe? Esse ciclo de ódio gerado pelo prazer de apontar o dedo não leva a nada senão a mais raiva e negatividade. Se liberte dessa vida de trevas e cresça.

MAS... MAS... SEU SAFADO PARCIAL... SEU... SEU...

Estude, trabalhe, evolua. Beijos de luz!

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 060



MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 004