quinta-feira, 12 de setembro de 2024

[#1296][Set/98] BLOODY ROAR 2: The New Breed


E hoje é o dia, do que? Da alegriaaaaaa! E diga lá, e diga lá, espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz do que?

QUANTA FELICIDADE, DEIXA EU ADIVINHAR... JOGO DE LUTA FURRY DE NOVO, NÉ?

Não apenas qualquer jogo de luta furry, Jorge, um RUGIDO SANGRENTO DOIS, nada menos do que isso! Ou seja, hoje é um dia deveras especial de rapozinhas felpudas com cheiro de baunilha em um sabado de manhã de sol da primavera!

EU NÃO SOU PAGO O BASTANTE PRA ISSO... NA VERDADE EU NEM PAGO SOU...

Seja como for, vamos começar do começo: em algum ponto da sua civilização, a raça humana atingiu o ápice da engenharia genética e descobriu como ativar genes de animais nas pessoas. A boa noticia é que isso gerou toda uma geração de furries com cheirinho de baunilha, a noticia ruim é que a Tyron Corporation decidiu usar isso como arma biologica pq afinal estamos nos anos 90 e esse é o limite da criatividade das corporações malignas do mal que odeiam o bem.

Essa luta resultou no que foi o primeiro BLOODY ROAR: Hyper Beast DuelCinco anos após os eventos do primeiro jogo (ou pouco mais de um ano no mundo real), os zoanthropes que se envolveram no conflito contra a Tyron Corporation retomaram suas vidas normais e pacíficas. No entanto, a paz não dura muito, pois uma nova ameaça surge. Com a revelação da existência dos zoanthropes sendo feita e conhecida completamente para o mundo, as tensões e hostilidades entre humanos e zoanthropes começam a aumentar em um ritmo alarmante e perigoso.

Se vc já assistiu qualquer coisa de X-Men... ou deu uma volta na quadra onde vc mora... sabe perfeitamente como o racismo funciona, nesse caso sendo bem literal dado que os bonecos viram bichos de outra espécie mesmo. Mas enfim, a treta dá origem a uma organização chamada Frente de Libertação Zoanthrope, ou ZLF para abreviar, que defende a supremacia zoanthrope, ameaçando tanto humanos quanto zoanthropes não membros - pq, como eu disse, alguém claramente assistiu X-Men aqui e foi full Magneto.

Assim começa a treta entre os zoantropos da ZLF, que querem acabar com a raça humana e reinar como a espécie dominante, e os zoantropos do professor Xavier que querem conviver com os humanos e ter seu lugar ao sol como as coisas furries e cheirosas que são.


Seja como for, BLOODY ROAR: Hyper Beast Duel não era um jogo de luta muito original na sua época, quer dizer, era o jogo de luta 3D número 8796 com o único diferencial é que o ataque especial ao invés de dar um hadouken que enchia a tela, você podia transformar seus humanos em versões furries deles mesmos. Se um dia me verem reclamando disso, saibam que meu dia chegou e a Skynet me pegou e me substituiu por um clone androide. Porém furrecagens a parte, não tem como negar que era definitivamente um jogo de apertar botões sem muita profundidade ou nada que chamasse muita atenção tirando as transformações. 

Bloody Roar 2 é exatamente o mesmo nesse aspecto, não é profundo, é muito simples... apenas mais melhorado, pero no mucho asi. Mecanicamente, Bloody Roar 2 joga praticamente como o jogo anterior, há um botão de soco e um de chute, enquanto o círculo é usado para se transformar em sua forma de besta, e então age como um terceiro botão de ataque. 


O Modo Besta dura enquanto seu medidor de besta tiver alguma energia, e que vai gastando com o tempo e você perde tb quando é atingido (eu não entendo pq ser atingido não deixa as feras mais furiosas, devem ser tudo furries BDSM). Uma vez fora do Modo Besta você deve encher todo o medidor novamente, acertando golpes, para se transformar novamente. A única real adição mesmo são os Beast Drives, super movimentos devastadores que gastam tudo que tiver no seu seu medidor e te transformam de volta em um humano, em troca de um super ataque especial que até joga o cara pra fora do ringue se for o ultimo golpe da luta. Isso gerou um efeito legal, tenho que admitir.

No geral, a ideia da coisa é bem simples, o que obviamente é mais voltada para o público casual do que para o pro-player querendo minucias tecnicas em jogos de luta. Enquanto jogadores casuais podem entrar direto e se divertir apertando botões, BR2 deixa a desejar para um público mais competitivo. O sistema de combo tem seus momentos (e há de fato algumas possibilidades legais de combo envolvendo usar as paredes) e é menos quebrado que o primeiro jogo (embora ainda de pra fazer combos infinitos), mas o sistema tem seus limites em termos de variedade pq as ferramentas que o jogo te dá são limitadas.


Isso quer dizer que o grande atrativo do jogo é, de fato, seu elenco de personagens. Mais precisamente ainda, é meio que o tipo de jogo que vc pega pra ver os personagens, ver o que eles "viram" e passada essa curiosidade meio que você já viu tudo que tinha pra ver no jogo. Ao que a própria produtora estava ciente, pq os personagens transformados definitivamente têm polígonos e animações mais interessantes do que suas contrapartes humanas... então Bloody Roar 2 foi feito para brilhar durante as transformações. 

Até pq fora disso, bem, os gráficos normais de Bloody Roar 2 são razoavelmente "sólidos" para um título de PS1 de 1999, ainda que parecendo um pouco datados para um jogo dessa época. As texturas e efeitos de iluminação são bem nítidos, mas a maioria dos designs de cenários e modelos de personagens humanos estão mais para o lado insosso das coisas. 

VC TÁ DESAPONTADO COM O JOGO TIRARAM A RAPOSINHA CROSSDESSER, NÉ?

Dá pra acreditar numa coisa dessas? Tiraram a raposinha crossdresser! Aqueles monstros sem alma! Mas tá, tirando esse erro indesculpável de design que certamente faz com que os produtores mereçam arder no marmore do inferno nesse exato momento...

... EU ACHO QUE ELES AINDA ESTÃO VIVOS, MAJORITARIAMENTE

... e é exatamente por isso que eu quero que eles ardam, quem é que tortura cadaveres? Eu heim, Jorge, tu tem umas ideeias bem creepy as vezes, me assusta... mas como eu dizia antes de ser interrompido pelos devaneios insanos de Jorge, o elenco desse jogo (do qual apenas quatro personagens do jogo anterior retornaram) é bem interessante especialmente em sua forma animal.

... POR ELENCO BEM INTERESSANTE EU VOU ASSUMIR QUE TEM UMA CATGIRL, UMA BUNNYGIRL...

... uma leopardgirl e uma batgirl, sim... hã, não, eu digo, não é apenas por isso que... tá, vai, isso é meio que tudo que esse jogo tem a seu favor, feliz agora? Ele é o mais perto que tem de atender os fetiches furries desde a decepção de  BRUTAL: Paws of Fury, tá bom? É isso que vc queria de mim, é isso que vc queria que eu dissesse? Ta aí, eu disse! Tá dito, feliz agora?

NÃO, CARA, CALMA, EU SÓ QUERIA...

Não, Jorge, eu não estou calmo. Poxa, vc implica tanto com a minha coisa com furries, mas é pedir demais que eu pudesse ter uma escapatória da minha vida por apenas alguns momentos? Eu sei que eu sou uma pessoa pouco atraente e desinteressante na vida real, e que nenhuma mulher humana vai se atrair por mim. Então é realmente tão fora de proposito desejar uma criatura com o interesse e a atenção de um animal?

Eu sei que nunca vai ser real, mas então ter um relacionamento tambem é tão irreal quanto. Isso sendo posto, todos nós precisamos de escapes, e só porque o meu é um pouco incomum não significa que seja prejudicial ou que mereça seu escárnio.

NÃO FOI ISSO QUE EU QUIS DIZER, NA VERDADE...

E tem mais! Quase 40% da comunidade furry se identifica como um gênero fora do binário masculino/feminino, e apenas 10% dos furries são heterossexuais. Furries autistas totalizam quase 12% da comunidade, o que é um grande salto da média global de 1% . Quando se considera esses fatos, começa a ficar cada vez mais claro o porquê de essa comunidade ser vista negativamente pela sociedade em geral. 


Basicamente é um caldeirão de grupos que já são menosprezados — gênero não conforme, não heterossexuais, socialmente não convencionais. O fato de que todos esses grupos se fundiram nas últimas décadas para formar a comunidade furry não é coincidência. Esses grupos historicamente enfrentam níveis astronômicos de desumanização. Ou seja, eles são privados de receber qualidades humanas positivas do público em geral. Pessoas autistas são frequentemente comparadas a robôs insensíveis, indivíduos gays como uma curiosidade exótica e pessoas trans* como um fetiche desumanizado. E esses são apenas alguns exemplos. Então não é surpresa que depois de uma vida inteira consistentemente tratado como algo menos do que humano, existam indivíduos que gostariam de reivindicar esse status como algo libertador. "Se você me considera menos que humano, então é isso que eu vou ser, e eu vou me divertir muito fazendo isso!"

Eu pessoalmente acredito que o desconforto em torno do fandom furry é que a sociedade não espera que as pessoas apreciem sua desumanização. Espera-se que as pessoas tenham vergonha e auto-aversão, sempre tentando mascarar suas características disformes do padrão. 

Em um mundo onde a normalização do ódio ao gênero, sexualidade e neurodiversidade de alguém está se tornando mais comum, também o são aqueles que buscam um espaço seguro. Nos últimos anos, as convenções furry em todo o mundo tiveram um grande aumento no comparecimento, e não acho que seja mera coincidência. Mais pessoas na sociedade que antes se sentiam simplesmente "socialmente excluídas" agora têm um nome para suas experiências e procuram aqueles com rótulos correspondentes. Felizmente, a comunidade furry construiu um refúgio seguro onde ser gay, não confirmar o gênero e/ou neurodiverso é a norma em vez do atípico. 


Isso não quer dizer que a comunidade furry seja um apanhado perfeito para todos os grupos minoritários que pode fornecer proteção indiscriminada, afinal ainda é um espaço majoritariamente branco que ainda luta frequentemente contra a misoginia. Mas em um mundo onde ser uma minoria sexual pinta um alvo tão intenso nas costas de alguém, já é alguma coisa pensar que existe um espaço onde sua identidade é totalmente não ofensiva. 

Não apenas isso, mas um espaço onde você pode reivindicar a dor que foi infligida a você durante toda a sua vida. Em vez de se encolher diante de acusações de que você merece ser tratado mais como um bicho do que como um ser humano, a comunidade furry fornece um lar acolhedor onde você pode ser não humano, mas da maneira mais humana possível. 

HÃ... OKAY, CARA, EU IMAGINO QUE VC ESTÁ CONSTRUINDO ESSAS IDEIAS A ALGUM TEMPO... DESCULPA, EU SÓ ACHEI QUE AINDA ESTAVAMOS FALANDO DE BLOODY ROAR 2...

Ah sim, eu só precisava desabafar um momento... mas sim, Bloody Roar 2. Enfim, assim como a prequela, Bloody Roar 2 oferece um conceito "único" para os jogos de luta... mas não entrega elementos mais profundos de jogabilidade ou rejogabilidade para tirar tanta coisa assim dele. O período de 1998/1999 foi uma era incrivelmente competitiva para os jogos de luta (Marvel Vs Capcom 2, SOULCALIBUR, Dead or Alive 2) e Bloody Roar 2... embora interessante por alguns momentos, não tem substância ou conteúdo para passar além da curiosidade inicial de ver as transformações.

Não é ruim, mas dificilmente tem muito lugar fora de partidas de um real a hora na locadora só pra matar a curiosidade.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 137 (Março de 1999)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 053 (Agosto de 1998)


EDIÇÃO 061 (Abril de 1999)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 038 (Fevereiro de 1999)