quarta-feira, 4 de setembro de 2024

[#1292][Fev/1999] FINAL FANTASY 8



Não é exatamente um segredo de estado nesse blog que eu sou um grande fã da série Final Fantasy. Quer dizer, diabos, esse blog literalmente nasceu da minha ideia de jogar e analisar todos os FF desde o primeiro, quando então evoluiu para analisar todos os jogos da Ação Games e aqui estamos nós, rumo a 1300 reviews.

Não apenas isso, mas todos os Final Fantasy que passaram por aqui sempre foram recebidos com grande carinho porque tinham todos os méritos para isso, tanto que para FINAL FANTASY 7 foi reservada a prestigiosa posição de review numero 1000 desse blog, e FINAL FANTASY TACTICS é um forte concorrente a ser o melhor jogo da quinta geração (que ainda está longe de acabar por aqui, mas ainda sim).

Isto sendo dito, hoje é dia então de falar de um Final Fantasy bastante especial para mim: o primeiro que eu joguei, e acredite ou não eu joguei ele em locadora de 1 real a hora. Sim, eu jogava RPG em locadora enquanto toda molecada estava no Wing É Leve, pra vocês verem como eu sou descoladão.


Mas seja como for, Final Fantasy 8 foi um jogo que eu revisitei algumas vezes ao longo da minha vida, e no fim sempre acabo tirando algo diferente dele. Em comum, entretanto, é que cada vez que eu jogo eu fico com a sensação de "... então... né?". Eu não vou enrolar morcilha aqui e vou dizer que FF8 tem sim problemas bem graves... ms curiosamente, fazia mais de uma decada que eu não jogava esse jogo e eu acabei descobrindo que os problemas que eu achavam que eram a pior coisa nesse jogo na verdade são sua melhor qualidade, ao passo que o que eu achava que o pessoal pegava pesado demais... na verdade merece mesmo.

E por isso eu quero dizer que, ao contrário do que eu lembrava, Squall é na verdade um bom protagonista - diabos, eu diria que um dos melhores da série - ao passo que eu achava a história não era tão ruim assim, mas jogando hoje... minha nossa senhora... é uma caçamba de lixo. Pegando foco. Repleta de cadaveres de bebês foca dentro. Mas vamos a isso...

Memes a parte, o Squall é de fato um cara bonito. E a Rinoa diz que foi nele pq achou ele gateeeenhu... o que é surpreendentemente realista pra um japones

Vamos então começar pela coisa positiva que mais me surpreendeu nesse jogo: eu achava que o protagonista, nosso menino dos anos 90, Squall, era o pior personagem que já pisou na face de um jRPG na vida. Rejogando o jogo, eu consigo entender porque eu achava isso... mas o que eu aprendi a ver com a experiencia dos anos é que na verdade isso é apenas uma parte do seu arco de personagem.

Começando do começo: a primeira... e a segunda, e a terceira... impressão que você tem do nosso protagonista é que ele é tão babaca, mas tão babaca que se botar uma risada nele ele vira um vilão de One Piece. Sério, eu totalmente consigo ver meterem um "ALARIRIRIRARARA" nele e ele trocando uma ideia com o Donquixote Doflamingo.


O que a Square tentou atingir aqui foi o classico edgelord dos anos 90, total vibe de Sasuke Uchiha, que é o cara fechadão que não liga pra nada nem pra ninguém pq ele é indiferente a tudo e a todos - pq é o que a gurizada curtia na época - mas minha nossa senhora do passaquatro molhado, eles pesaram a mão na brincadeira aqui.

Vocês acham que eu estou exagerando, mas o Squall é tão cuzão, tão cuzão que numa cena com poucas horas de jogo ainda a sua instrutora Quistis chama ele num canto para desabafar que ela tinha sido comunicada pela direção da escola que estava demitida como instrutora, e obviamente ela estava bem mal com isso. Qual é a reação do nosso nepomucenico herói, você pergunta?


Serião mesmo que ele mete um Bully Mcguire e ele é assim o primeiro CD inteiro. Tudo é "que saco" ou "não é problema meu", tanto que o bordão dele é literalmente "... whatever". Nosso herói, senhoras e senhores, cuja frase de efeito é literalmente "tá, tanto faz, que seja" de tão poucas fodas que ele está distribuindo hoje.

Tá, essa imagem é um meme, mas passa bem a imagem que o personagem transmite

Logo, eu não estava realmente errado em achar que um dos maiores problemas do jogo era o seu protagonista ultramente babaca. E não estava mesmo, exceto que eu não considerei o que acontece no final do primeiro CD.

Porque você sabe, eu sei, todo mundo que tem mais de 17 anos sabe que a vida está cagando para as besteiras que você pensa quando tem 17 anos. Vc pode se achar o fodão, o lobo solitário, o que não precisa de ninguém, o senhor-whatever, a porra que for... mas vem cá, meu amigo aborrescente, deixa eu te contar uma coisa a respeito de como a vida REALMENTE funciona:


No caso especifico de Squall, seu princesismo de "sou um adolescente foda que não precisa de ninguém" literalmente toma um tirambaço no meio dos peito pra ele deixar de ser trouxa, pq é assim que a vida rola. E eu estou sendo bem literal nesse sentido:


Mas calma que piora. Squall só sobrevive a isso pq ele é captura pelo inimigo que quer informações dele. Ou seja, ele apenas sobrevive a tomar um tiro nas teta pra ser torturado. Eu não sei se você já foi torturado, e eu sei que não estou falando com muita propriedade aqui porque nunca fui nem pretendo ser, mas eu realmente acho que ser TORTURADO não é uma coisa que vc apenas depois bate a poeira do ombro e diz "outra terça-feira, hã...".

Com efeito, nosso herói fodelão que não liga pra ninguém e trata todo mundo como lixo sente o MEDO DO SENHOR JESUS H. CHRISTO em seu coração, pq lembrando que apesar de toda sua pose de marrombombom, ele na real é só um moleque de 17 anos que quase morreu e agora está sendo torturado.

Nosso menino das artimanhas só escapa dessa, saiba você, porque ele é salvo sabe por quem? Pelos seus mesmos companheiros que ele tratava que nem lixo, olha só como o mundo dá voltas, não é verdade?

Squall, um amigão para toda hora!


Entretanto, e é aqui que entra o grande ponto forte de FF8, esse não é uma cena isolada. Essa experiencia traumática de quase morte e tortura muda a percepção do personagem pq é meio que um evento grande na vida de uma pessoa, sabe? Ele começa a considerar que ele não é tão foda quanto achava que era e que ele precisa sim das outras pessoas.

Isso, claro, muda o personagem mas o jogo faz melhor ainda pq essa mudança não é mágica nem simples para Squall: por conta do seu passado de abandono ele não quer depender dos outros, e mesmo que ele queira ser mais gentil com as pessoas ele não é exatamente muito bom isso. Quer dizer, não é como se você saísse de um cavalo antissocial que só quer ficar no seu canto sem interagir com ninguém para um ser humano com sentimentos bem desenvolvidos de uma cena para outra.

Esse arco de desenvolvimento do personagem é uma coisa dolorida e confusa para Squall, especialmente pq quando se é adolescente tudo é doloroso e confuso, e que FF8 faz muito bem. Com efeito, eu diria que Squall é uma das melhores - senão a melhor - representação de um adolescente em videojogos. E novamente, eu não lembrava que FF8 faz isso tão bem, foi realmente uma grata surpresa descobrir que uma das coisas que eu mais detestava no jogo - seu protagonista - é na verdade a melhor coisa a respeito dele, e eu digo isso de uma forma não ironica.

Porra Renata, canhão de cachorro?!?

Infelizmente, entretanto (e sempre tem que ter um entretanto, né), eu também não lembrava que tudo mais a respeito desse jogo é... bem, não tem forma mais simples de colocar isso do que dizer que MINHA NOSSA SENHORA MAS ISSO É UMA ZONA DA PORRA. Sério, poucas vezes na minha vida, e eu falo sério mesmo, eu vi um jogo tão, mas TÃO bagunçado em tudo que esse jogo tenta fazer. Mas puta que le pareo com mertiolate, FF8 parece que foi dirigido por um dirigente de clube de futebol brasileiro, na moralzinha!

Nossa história aqui é que Squall foi criado numa escola que treina mercenários mágicos para fazer missões pelo mundo. Pouco depois de se formar na academia e se tornar um SeeD de pleno direito, ele recebe a missão de ajudar uma mulher chamada Rinoa a derrubar um ditador tirânico e libertar a terra natal dela. Enquanto isso, ele e seus amigos têm sonhos misteriosos sobre o passado.

AH CARA, VOCÊ ESTÁ EXAGERANDO. ESSA PREMISSA É BASTANTE BOA E MUITO INTERESSANTE!

Com certeza é, Jorjoleto. Eu adoraria ver um jogo sobre ISSO, não tenho a menor duvida. Mas, infelizmente, antes que você perceba o jogo se torna a respeito de chuva de aliens da Lua, uma feiticeira maligna em seu castelo no futuro e compressão do tempo, entre diversas inúmeras outras coisas que são jogadas apenas para serem esquecidas quinze segundos depois, pq esse jogo claramente foi escrito pelos peixe-boi de Family Guy

VOCÊ FALA "COMPRESSÃO DO TEMPO" COMO SE ISSO DEVE SER ALGO QUE EU DEVESSE IMAGINAR DO QUE SE TRATA

Parabens, Jorge, agora você está começando a entender a experiencia de jogar FF8! Você pode achar que eu estou exagerando, mas tem uma cena muito iconica de como as coisas funcionam nesse jogo: nenhuma cena é mais clara do que a cena do basquete. Onde é revelado — e não estou inventando nada disso — que todos os membros do grupo (que até aquele ponto tinham se juntado ao longo da aventura, como em qualquer RPG), exceto Rinoa, têm amnésia. 

Acontece que todos eles foram criados no mesmo orfanato juntos. Um orfanato administrado por Edea, a principal vilã na época dessa revelação. E todos eles simplesmente esqueceram porque a magia do universo causa amnésia. Um fato que nunca foi estabelecido, nem mesmo sugerido, na história antes desse momento.

NUNCA FOI SUGERIDO QUE MAGIA CAUSA AMNÉSIA?

Não. Mas pior, nunca nem tinha sido sugerido que eles sequer tinham amnésia! Imagina se uma série lá pela terceira temporada apenas decide dizer que "ah, e a proposito, nenhum dos personagens lembra da sua infancia... apenas eles nunca tocaram no assunto em tantas horas até aqui... mas na verdade eles foram criados juntos, e pelo vilão ainda por cima". Do nada. Lá pela metade do jogo.

QUEM. ESCREVEU. ISSO?!?

Desesperador, né Jorge? E depois disso o assunto da amnésia nunca mais é mencionado novamente, é apenas tratado como se eles sempre souberam que cresceram juntos e reagem de acordo inclusive com sentimentos pela matrona do orfanato que até um momento atrás eles nem lembravam que existia! Viu o que eu quero dizer com a sensação que eles simplesmente vão inventando no meio do caminho e bumba meu boi?


E Final Fantasy 8 é todo assim, ele passa muito a impressão que ele simplesmente vai inventando as coisas conforme vai fazendo. Tipo a vilã do jogo é uma "Feiticeira". Nunca é explicado exatamente o que é uma "Feiticeira", só dá pra entender que é um tipo de bruxa e que esse mundo tem uma longa história de preconceito contra esse tipo

PRECONCEITO CONTRA BRUXAS? MAS ESSE NÃO É UM MUNDO ONDE, TIPO, MAGIA EXISTE AMPLAMENTE? O QUE É QUE TORNA A "FEITICEIRA" PIOR, ESPECIFICAMENTE?

Jamais saberemos, Jorge. Jamais saberemos. Mas tá, então do nada é estabelecido que uma hora a coissa de "Feiticeira" existe e isso é ruim, não apenas isso mas parece que existe uma a cada geração e a ultima causou uma guerra brutal que gerou toda a porrada de órfãos que posterioramente perderiam as memórias. Mas tá, aí o presidente do país que lutou diretamente contra a última Feiticeira anuncia que está escolhendo a próxima Feiticeira para ser sua embaixadora. Seria tipo o presidente americano de 1946 anunciar um nazista como seu braço direito, e tá todo mundo de boa, tá tudo certo com isso.

O pior que eu pensei isso na hora, mas fiz mesmo assim pq ele tem umas cartas boas kkk


O que por si só já seria estranho, mas piora quando no seu discurso de posse ela assassina o presidente na frente de todo mundo e anuncia que o bicho vai pegar, que eles tão fudido na mão dela e que ela é ruinzona MERMO e que o pau vai canta na casa de noca pra todo mundo pq a mãe ta on. Lembrando, tudo isso num comício publico, na frente de dezenas, talvez centenas de milhares de pessoas. E qual a reação do publico diante dessa sequencia de eventos, vc pergunta?


Eu juro pra vocês que essa cena acontece DEPOIS que a Feiticeira assassina o presidente de Galbadia (o país que mais lutou contra a Feiticeira anterior), diz que vai fazer e acontecer, que vai pintar e bordar com o rabo de todo mundo. Mais uma vez, eu sou obrigado a perguntar:

Quem. Escreveu. Isso?!? 

Vc depender de estar com HP baixo para usar os Limit Breaks não é sem precedentes na ´serie, mas definitivamente gera situações estranhas. Porém dado como os LB são fortes, faz sentido o risco de vc ter que estar perto da morte

A coisa é feita tão no bumba meu boi que beira o ridiculo. Por exemplo, em dado ponto é estabelecido que a função dos mercenários SeeD é lutar contra a Feiticeira através das eras, as missões eram apenas para financiar o projeto. Beleuza... exceto que Squall se formou um SeeD e não sabia disso. E sequer existe um motivo para ele não saber, o mundo literalmente tinha acabado de sair de uma guerra contra a ultima Feiticeira, elas tão com uma imagem bem queimada na praça, sabe? Ainda sim Squall apenas não sabe, e não lhe é dito nada, pq no começo do jogo essa coisa de Feiticeira não tinha sido inventada ainda. Simples assim.

Agora imagine umas 60 horas disso, e eu não estou brincando. Assim que a história começa a se afastar da coisa de ajudar Rinoa a conquistar a independencia pro país dela, o jogo se perde na caminha numa forma que eu nunca tinha visto na história dos videogames até então. Acredite que eu estou falando muito sério que com a mesma elegancia e sutileza que eu descrevi a cena do comício acima, o jogo te atocha também viagem no tempo, aliens da Lua, a escola na verdade tem um dono maligno que ninguem nunca viu pq ele vive no porão (sério) aparece em uma cena e nunca mais é mencionado novamente e toda uma segunda narrativa com outro grupo de protagonistas que nunca dá em nada relevante para a história, entre dezenas de outras coisas que vc apenas pensa "pff, eles estão inventando isso agora, que seja". Whatever indeed, Squall.



Grande parte do problema do enredo desse jogo parecer ser escrito por um foragido do CAPS é que ele na verdade deveriam ser duas histórias separadas: a história de Squall, que é o que ficou na versão final do jogo, e a outra METADE do jogo deveria ser sobre as andanças de Laguna Loire pelo mundo. Segundo o diretor, quase toda parte do Laguna foi cortada pq o jogo já tinha 4 CDs de duração, fazer um jogo de 8 CDs não era economicamente interessante para a Squaresoft e nem para o consumidor. Ergo, a faca foi metida sem dó.

Laguna era um soldado raso de Galbadia na época da guerra contra a última Feiticeira, e ele era apaixonado pela cantora mais popular da capital - que por razões de anime, gostava dele tambem mesmo ele tendo a eloquencia pra se expressar de um tamanduá bandeira, se bem que o Laguna é bonitão, vá lá. Mas por várias razões relacionadas a guerra, Laguna nunca fica com a mulher que ele amava e após ser ferido em combate acaba sendo salvo e atendido numa vilazinha do interior da puta que pariu de Galbadia. Ele acaba se apaixonando pela vida do interior e por uma residente local, assim como pela menina órfã de guerra que ela tinha adotado como se fosse sua própria filha.

TÁ, CARA DA CIDADE GRANDE QUE FICA PRESO NO INTERIOR E SE APAIXONA PELA VIDA SIMPLES, ISSO É ESSENCIALMENTE O ROTEIRO DE DR. HOLLYWOOD

Sim, até porque Carros não exista na época. Mas meu ponto é que a história de Laguna, além de ser uma história interessante e com valores emocionais mais maduros que se contraporiam a aborrescencia de Squall, forneceria a exposição necessária sobre o mundo.

É dedicada toda uma sequencia dedicada a história de Laguna, mesmo que no jogo final ele realmente seja apenas flashbacks

O que é, exatamente, a Feiticeira? Por que Squall, recem formado como SeeD, é apontado como comandante da coisa toda? Alias cade os SeeDs veteranos? Alias ainda, como CARALHAS a escola é uma fodenda NAVE e ninguém, eu juro, NINGUÉM na escola sabia disso? Pq NORG, que supostamente é tão desesperado por dinheiro, gastou essa grana extra pra fazer a escola voadora e nunca falou isso pra ninguém? A troco de que levar a Rinoa para o espaço, e da onde caralhos surge uma nave em toda imensidão do espaço com as portas abertas pra salvar eles? Como Seifer conseguiu encontrar e reativar a Lunatic Pandora... Alias o que é a Lunatic Pandora em primeiro lugar? O que também é o Lunar Cry, por que eles existem e qual seu propósito maior na história? O que exatamente significa "Compressão do Tempo" e porque a Feiticeira do Futuro está tão obcecada em fazer isso? Só é dado a entender que é uma coisa ruim, mas não é dito o que EXATAMENTE acontece ou porque a vilã final - que literalmente só aparece na última luta do jogo - está tão louca para destruir tudo. E eu me recuso a aceitar a resposta que "ela é apenas má" pq o primeiro Final Fantasy de Nintendinho, um jogo com 8kb de tamanho tinha ao menos uma motivação para o vilão, vão se foderem na Nutella com Mertiolate, na moralzinha.

Como dá pra ver, eu poderia passar o dia fazendo perguntas de coisas que o jogo apenas faz e que não faz sentido nenhum e que a resposta é apenas que eles não pensaram muito nisso. Mas isso é apenas parte da resposta, pq a outra parte é que parte da explicativa também foi tirada junto com quase tudo do Laguna no jogo - ficaram apenas alguns flashbacks e alguns artigos de revista - então a impressão que vc tem é que o jogo apenas joga nomes que vc nunca tinha ouvido falar antes como se fosse algo  super importante, e isso grita muito "estão inventando na hora essa merda, só pode".

Se você realmente tivesse jogado as parte do Laguna com calma, a de um soldado chinelão durante os anos da guerra e ver as coisas pela perspectiva dele ajudaria a estabelecer algumas regras importantes para o mundo - como o que, exatamente, é a "Feiticeira", o que é a Lunatic Pandora, o que é o Lunar Cry, o que exatamente são GF, pq a Feiticeira do futuro tem o anel da Rinoa ou o que ela quer, exatamente... mostrar o cenário, sabe? Mas então como essa parte foi jogar no Vasco, vc só tem esse mundo onde as coisas simplesmente acontecem.

Prioridades

Mas tá, eu até tankaria um jogo com uma história que claramente foi inventada em cima da hora se os personagens fossem interessantes... o problema é que a exceção de Squall e o que sobrou do esqueleto da vida do Laguna, não tem exatamente personagens nesse jogo. Pq sério, se os outros membros do seu grupo tem um único traço de personalidade, eles são um dos sortudos. O negócio todo de Seifer é que ele é o rival. Selphie realmente gosta de trens e ela realmente é empolgada. Zell é enérgico e burro. Rinoa é uma Manic Pixie Dream Girl.

TÁ, MAS É UM RPG DOS ANOS 90, OS PERSONAGENS NÃO PRECISAM SER LITERATURA RUSSA TAMBEM

Não precisam, de fato, mas então ALGUMA coisa eles tem que ter. Porra cara, FINAL FANTASY 6 é um jogo de CINCO ANOS antes com CATORZE personagens e ainda sim o jogo dá pelo menos uma ceninha ou duas para desenvolver um pouquinho de cada um que seja. Tem uma cena bem triste que mostra pq o Setzer é daquele jeito, tem toda a história do Edgar e do Sabin, e até uma cena maravilhosa onde a galera sai pra fazer compras. E novamente, estou falando de um RPG de Super Nintendo de MIL NOVECENTOS E NOVENTA E QUATRO. Cinco antes disso aqui.

E ainda sim, aqui não tem nada de porra nenhuma. Quistis, Irvine, Zell e Selphie não tem nenhum problema para adereçar, não tem nada para desenvolver, não tem uma cena deles que seja. Ah, não, minto, a Quistis tem aquela UMA cena em que ela conta pro Squall que ela vai ser demitida ele defeca forte para ela, apenas para isso jamais ser tocado novamente. Aí os senhores estão de sacanagem comigo, né amizade?



Tudo bem, vamos falar sobre a jogabilidade agora. Final Fantasy VIII é diferente de qualquer jogo da série até aqui... e honestamente, é diferente de qualquer coisa que eu já vi na vida até hoje. Claro, vc ainda luta como em um jRPG de turnos e tal, mas construir seus personagens é completamente diferente de qualquer RPG anterior ou posterior.

Veja, seus personagens não ficam mais fortes ao subir de nível. Em vez disso, você precisa usar o novo sistema Junction. Basicamente, ao equipar um GF (invocação), você pode anexar magia às suas várias estatísticas para aumentá-las (depois de selecionar esta habilidade para o GF aprender com os AP ganho após o combate). Por exemplo, você pode  mandar um GF (que tenha essa opção) junction de HP para colocar uma magia de cura, como Cure, para aumentar seu HP máximo. Ou você pode aumentar sua STR conectando Berserk, ou aumentar suas estatísticas defensivas com Shell.

Como você anexa magia às suas estatísticas? Bem, primeiro, você precisa obtê-la usando o sistema Draw. Basicamente, cada inimigo no jogo tem uma lista definida de magias que você pode Draw deles, essencialmente como roubar um item. Você rouba um numero aleatório de magias de cada vez (mas nunca mais que 9), e vc pode ter até 100 de qualquer magia de até 48 magias diferentes.

ESPERA, ESPERA, ESPERA, TEMPO... VOCÊ ROUBA DE POUQUINHO EM POUQUINHO PARA FECHAR 100 MAGIAS ESTOCADAS... E TEM QUE FAZER ISSO 48 VEZES PARA CADA UM DOS TRES PERSONAGENS? 

Sim, exatamente.

MAS ISSO NÃO É, VC SABE, TIPO A COISA MAIS CHATA DO MUNDO?

Agora você está entendendo a mecanica de Final Fantasy 8, Jorge. Eu daria os parabens, mas não acho correto parabenizar alguém por entrar num caminhão de dor.


Exatamente a minha cara quando eu entendi sobre o que o Draw realmente é, Jorge. Exatamente a minha cara.

E tudo isso foi feito para supostamente reduzir o grinding. Na verdade, Final Fantasy VIII realmente pune você por níveis de grinding! Os inimigos escalam de nível com você neste jogo, então será mais fácil terminar se você mantiver os níveis do seu personagem baixos, mas suas Junções altas.

Os personagens em si não tem muitas caracteristicas particulares (a exceção do limit break, que só ativa quando a vida está baixa), então tudo depende dos comandos que os GF  equipados em cada personagem aprenderem ou das junções que eles permitirem equipar.


NÃO VOU MENTIR PRA VOCÊ, TUDO ISSO QUE VC DISSE PARECEU... BEM, É UM MONTE DE TERMOS E TENHO CERTEZA QUE É UM MONTE DE MENUS TAMBÉM

Se tudo isso parece desnecessariamente complicado e meio confuso, é porque é exatamente o que é. Especialmente porque o jogo faz um péssimo trabalho em explicar essas mecânicas para você. Você é bombardeado por caixa de texto após caixa de texto após caixa de texto ensinando como usá-lo logo no início do jogo, então você é jogado na selva para descobrir.

Como mostrado acima, Diablos precisa de 120 AP para aprender Hit-J, o que permite ao jogador aumentar a precisão do personagem que estiver com o Diablo equipado.

Felizmente, depois que vc configura os GF, comandos e junções que vem com ele, e lista de magias que um personagem tem estocado, você pode transferir as junções e suprimentos mágicos entre personagens. Dessa forma, quando o jogo força você a usar membros do grupo que você não estava usando, você pode apenas transferir os seus settings.

Digamos que vc esta usando um grupo com dois porradores e um healer, se o jogo te obrigar a trocar de personagem é só transferir as junções já que, como eu disse, os atributos dos personagens individuais não fazem diferença nenhuma - só as junções importam. Isso é, claro, quando o jogo apenas não decide te obrigar a usar outros personagens e apaga as suas configurações de quais GF estavam equipados em cada personagem, quais junções e quais comandos... porque isso é uma coisa que ele faz, então é recomendado ter anotado num papel mesmo suas configurações... porque são 16 GF nesse jogo e lembrar de cabeça quem estava em qual personagem... eu não vou dizer que era divertido em 1999, e certamente não ficou mais divertido hoje.

Ah, eu falei de equipar as magias nas junções para seus atributos, então me permita falar um pouco sobre como a magia é tratada neste jogo. Lembre-se: magia é basicamente um item, vc tem ela em quantidades para usar não diferentes do que tem Potions ou Phoenix Down. Um item vinculado diretamente às estatísticas do seu personagem (ter 100 magias Triple anexadas ao atributo STR te dá mais beneficio que ter 20 ou 30 magias, por exemplo). O que significa que se você usar magia, você não estará apenas perdendo um item valioso, você estará baixando qualquer atributo à qual ele possa estar vinculado. Não, sério, o jogo ativamente te pune por usar magia!



Eu não sei quem foi o DJENIO que teve essa ideia, mas meio que explica porque nenhum outro jogo nunca mais usou um sistema parecido, né? Tratar as magias como itens e te punir por usar elas, depois disso vem o que? Vc ter um espaço limitado de magias que vc pode estocar e nenhuma forma de jogar fora as magias que estão defasadas?

Ah... espera... Tá, tecnicamente vc pode aprender uma habilidade com alguns GF para refinar magias, o que abre outro menu que vc pode converter tipo 10 Fire em 1 Fira, então é a forma de lidar com a falta de espaço no inventário - navegando entre quatro menus e 8 telas diferentes para talvez resolver isso

OU ELES SÓ PODIAM TER DADO UMA OPÇÃO DE DROPAR AS MAGIAS DEFASADAS

Ou eles só podiam ter dado uma opção de dropar as magias defasadas, Jorge. Mas esse é o ponto aqui: tudo nesse jogo é feito da forma mais burocrática possível. Verdade que isso tambem permite combos e poucas pessoas serão mais advogadas do que eu para quebrar um RPG com combos, mas aqui até fazer os combos é tão burocrático que aff, cansa minha beleza.


Então, sim, vc pode fazer coisas como colocar o comando Darkside no personagem que causa 3x o dano mas toma dano de volta, mas equipar o St-At como magia de efeito no seu ataque e causar drain toda vez que vc ataca (ou seja, vc automaticamente cura o dano causado), coloque aí um Counter para atacar e se curar toda vez que for atacado, um auto-haste e vamo que vamo.

Isso não pode ser tirado do jogo, fato: tudo é imensamente configuravel. Como vc não tem equipamento nesse jogo, todos itens que vc ganha são para ensinar comandos e junções para os seus GF, e eu realmente gosto do que da pra fazer na teoria. Eu só queria que a prática fosse tão, mas TÃO menos clunky... ou que o jogo não decidisse apenas apagar suas configurações de tempos em tempos...

Mas tá, se a junction é uma ideia interessante implementada da forma mais obnoxiosa possível, ao menos algo de genuinamente bom pode ser dito desse jogo: na época, Final Fantasy 8 foi o jogo mais bonito do PS1 e não tem nem como sequer começar a comparar com qualquer coisa similar, nem os jogos de Dreamcast estavam saindo tão bonitos assim. 



Os modelos de personagens são muito mais ricamente detalhados do que qualquer outro jogo da época, e os fundos pré-renderizados eram — e ainda são — muito bonitos de se ver. Sem mencionar o quão perfeitamente o jogo mescla fundos pré-renderizados que se mexem em alta qualidade para a jogabilidade e vice-versa. FINAL FANTASY 7 tem algumas telas com fundos renderizados que se movem, mas aqui é tão frequente e fica tão bom que parece um jogo de uma geração a frente do que seu antecessor de dois anos antes. Era um jogo visualmente muito incrível.

As cutscenes em computação gráfica são mais bonitas ainda, muito gostosas de se assistir ainda hoje. Sabe aquele meme de que a gente dizia na época que não imaginava como os gráficos de jogos não tinham como ser melhor que isso? Bem, no caso de FF8 não é meme, eu fechava por um jogo com os gráficos das cutscenes desse jogo mesmo hoje.



E, claro, a música é incrível. Mestre Uematsu na batuta, isso não é sequer permitido estar em dúvida. Mas vale a pena ser dito que FF8 tem uma OST especialmente boa. Ele até tem uma música com letra, "Eyes on Me", que funciona perfeitamente para o enredo romântico do jogo.

Então temos nosso lado bom. O jogo parece e soa incrível. Ele fez algumas coisas realmente revolucionárias para um jogo de Playstation 1, e como eu disse se mantem agradável até hoje.


O lado ruim é só que o jogo não indica onde ficam as saídas de tela. Se em FINAL FANTASY 7 vc podia apertar Select pro jogo te mostrar onde trocava de tela, aqui vc vai passar algumas horas andando em circulos procurando como passar de um cenário para o outro pq as vezes é uma coisa bem random mesmo.

A outra coisa que tem que ser elogiada nesse jogo, e não é pouco, é que ele tem o melhor jogo de cartas da história dos videogames - apenas Gwent pode rivalizar com o Triple Triad, e honestamente a Squaresoft não precisava ter ido tão hard para fazer um minigame tão bom. Com efeito, se só esse minigame fosse lançado standalone ganhava um "The Best Of" fácil.

Verdade que vc pode trocar as cartas por itens (usando uma habilidade aprendida de GF), e itens bons até, mas o minigame é tão bom que eu jogava só por colecionar as cartas raras mesmo.



Semelhante a Magic: The Gathering (cuja popularidade inspirou o diretor Yoshinori Kitase a incluir um jogo de cartas em FF8), a coisa da coleção é muito importante - tem cartas raras e poderosas para todos os personagens principais e invocações GF também. Conseguir essas cartas geralmente envolve derrotar NPCs especificos nas cartas — e em alguns casos até mesmo perder algumas cartas. Encontrar cada carta é uma missão secundária épica por si só, e uma vez que você tem a ideia de completar a coleção em sua cabeça, é difícil se livrar dela.

As coisas ficam mais complicadas quando as regras entram em jogo. Cada região do mundo tem sua própria maneira distinta de jogar Triple Triad, e algumas dessas diferenças podem ser extremamente frustrantes — especialmente quando começam a se espalhar entre as regiões. A regra Random é a pior de todas, impedindo que vc escolha suas cartas. Existem outras também, incluindo Elemental, Combo, Plus, Sudden Death e Same, algumas das quais podem alterar drasticamente o fluxo e a estratégia de um jogo. Existem tantas camadas no Triple Triad que chamá-lo de minigame parece quase um insulto.


Então... estamos quase em 5 mil palavras e está na hora de encerrar essa review. O que significa que eu deveria dar meu veredito final... mas a coisa é que quando FF8 é apontado como o Final Fantasy mais divisivo da série, está absolutamente correto.

Esse foi o primeiro FF qu eu joguei na vida, e mais de 25 anos depois não posso dizer que tenho muita certeza sobre o que acho dele. Quer dizer, as coisas que eu gosto dele eu gosto bastante - os gráficos, a Triple Triad e nessa jogada descobri que o Squall é um personagem bastante bom realmente.


Por outro lado, as coisas que eu detesto nele são abismais - a história que parece inventada conforme eles iam fazendo, a inexistencia de qualquer desenvolvimento dos outros personagens, ter que estocar magias roubando dos monstros (sim, vc pode refinar itens especificos em magias especificas com as habilidades dos GF, mas transformar ter magias em um sistema de crafting, correr atrás de itens e tal só torna as coisas ainda piores) ou o jogo te punir por usar magia, então é dificil dar uma opinião simples

Tipo eu gosto do sistema de Junction pelo que dá pra fazer com ele - é a maior customização e potencial para combos da série inteira, mas para isso vc tem que se afundar em menus dentro de menus que faziam eu me sentir jogando OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen. Então... eu gosto do sistema ou não gosto? Dificil dizer.

O que eu sei com certeza é que se tem um jogo que URRA por remake, é esse. E remake eu digo completo: sentar a bunda na cadeira e reescrever quase tudo. A ideia geral da coisa é okay, mas tudo - a história, os personagens (exceto o arco de personagem do Squall), a UI do Junction System, tudo mesmo tem que ser refeito com calma e carinho.

Existe um magistral jogo dentro de FF8, mas ele está enterrado debaixo de 20 minutos numa luta fazendo draw (sério, quem achou que isso era divertido tem que ir preso), tonelada de menus para configurar as coisas, personagens inexistentes e uma história que toda fundação do cenário foi cortada no desenvolvimento.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 131 (Setembro de 1998)


EDIÇÃO 137 (Março de 1999)


EDIÇÃO 138 (Abril de 1999)


EDIÇÃO 143 (Setembro de 1999)

















EDIÇÃO 145 (Novembro de 1999)






MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 052 (Julho de 1998)



EDIÇÃO 061 (Abril de 1999)





EDIÇÃO 062 (Maio de 1999)













EDIÇÃO 067 (Outubro de 1999)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 031 (Junho de 1998)


EDIÇÃO 032 (Julho de 1998)



EDIÇÃO 034 (Setembro de 1998)



EDIÇÃO 036 (Dezembro de 1998)


EDIÇÃO 037 (Janeiro de 1999)


EDIÇÃO 038 (Fevereiro de 1999)





EDIÇÃO 039 (Março de 1999)







EDIÇÃO 040 (Abril de 1999)










EDIÇÃO 041 (Junho de 1999)










EDIÇÃO 042 (Julho de 1999)







EDIÇÃO 044 (Setembro de 1999)


EDIÇÃO 054 (Fevereiro de 2000 - Semana 4)