quinta-feira, 26 de setembro de 2024

[#1307][Dez/98] GOEMON'S GREAT ADVENTURE (ou "Mystical Ninja 2 Starring Goemon" na Europa)

As aventuras do nosso herói baseado no Robin Hood japonês, Ishikawa Goemon, são realmente um caso bem curioso dentro da história dos videogames: é um jogo inegavelmente japonês, baseado em figuras folclóricas japonesas... que a cada iteração tenta ficar menos japonês e mais palatável ao público ocidental because Konami, obviamente.

Em uma tentativa de ocidentalizar mais o jogo, a abertura "Smile Again" cantada por Ichiro Mizuki e a cena de transformação do Impact foram tiradas da versão ocidental do jogo

Por isso eu quero dizer que os primeiros jogos da série, lançados ainda no saudoso Super Famicom que viverá para sempre em nossos corações e memórias, são de uma japonesice que pouta que o pareo, isso é japonês pra caceta. Eu falo sério:


Quer dizer, onde mais você encontraria um jogo onde um chefe é pescador com roupas tradicionais dos pescadores de Nagarawa e mascaras Hyotoko que andam em barcos com as próprias pernas e... jogam bombas? É esse nível de extreme japonesice extrema a que eu me refiro. Isso é realmente muito japonês.

Porém a Konami quis tornar a série mais acessível ao público ocidental (ou seja, vender para mais pessoas) e eles foram ficando menos... estranhos... com o passar das iterações. O último jogo da série, MYSTICAL NINJA STARRING GOEMON do Nintendo 64 é um jogo bastante comportado nesse sentido e você não o diferenciaria tanto assim de um action RPG 3D padrão não fosse alguns pontos aqui e acolá, tipo ter um robo gigante com música-tema do homem, da lenda, do mito das músicas de tokusatsu Ichiro Mizuki


Para a segunda (e última) iteração da franquia no Nintendo 64, a Konami tentou adaptar tanto o jogo aos gostos ocidentais ainda mais, de modo que ele passa inteiramente por um jogo de plataforma "normal" sem nada aberrantemente japonês, quase genérico na verdade. Morcegos, inimigos genéricos que disparam misseis, o que vc poderia esperar em qualquer um dos 309 jogos de plataforma nesse blog até aqui nesse jogo vc encontra.

Quer dizer, passaria totalmente por um jogo de plataforma não bizarro não fosse especificamente um único inimigo que ainda mostra as raízes japonesaças desse jogo. É apenas um no jogo inteiro, meio que como uma peça de museu do que Goemon já foi um dia:


... quê? 

... apenas... o quê?

... como assim tem um cara com a bunda empinada que dispara... não... espera, não pode ser... mas é...


Quer saber, Konami, esquece. Esse jogo tá japonês até demais. JAPONÊS ATÉ DEMAIS, EU TE DIGO! Mas puta merda, Konami... puta merda... puta... merda...

Mas enfim, tendo agora percebido que foi um erro começar o texto com esse fato, já que sei lá eu o que eu vou dizer agora, suponho que eu deva falar sobre o resto de Goemon 2 para o Nintendo 64 que não envolve ESSE cara:


Caralho viado, ele realmente te ataca disparando do olho do... ah, respira... então, Goemon 2 para Nintendo 64 é um jogo de plataforma que... não, gente, não dá. Não vai dar, o cara dispara amoebas do olho do cu (literalmente) em você. E no Nintendo 64, no console da empresa mais family friendly ever. O que é que eu vou dizer pra vocês depois disso? Esse cara acabou comigo.

E sabe o que é pior? Sabe o que é realmente pior? Esse inimigo é baseado em um yokai do folclore japonês realmente, um cara chamado de "Shirime". E sabe o que é pior ainda? Sabe o que é VERDADEIRAMENTE pior? Esse não é um yokai perigoso, segundo as lendas, mas você gostaria que ele fosse!

A história é a seguinte: Há muito tempo, um samurai estava caminhando à noite pela estrada para Kyoto, quando ouviu alguém dizer tipo "espera aí!". O samurai então perguntou nervosamente "Quem está aí?!", apenas para se virar e encontrar um homem tirando suas roupas e apontando suas nádegas nuas para o viajante estupefato. Um enorme olho brilhante então se abriu onde o ânus do homem estranho deveria estar.


E é isso, o Shirime não realmente machuca as pessoas, ele apenas gosta de assustar mostrando o seu olho do cu. Não, sério, é isso mesmo. Eu juro pra vocês que isso é o folclore real, eu não to inventando isso pq O QUE DIABOS TEM DE ERRADO COM VOCÊS, JAPÃO? QUAL É O MALDITO PROBLEMA DE VOCÊS QUE TEM O DEMONIO DO OLHO DO CU?!? JAPÃO, APENAS PARE!

Mas sabe o que é mais MAIS pior ainda? É que eu tava pensando... folclore normalmente é baseado em algum fato mundano e então "colorido" por alguma razão ou outra. O Boto da Amazonia que engravidava as mulheres, por exemplo, foi criado para ter uma explicação mais "lúdica" para casos de gravidez por sexo fora do casamento e não raramente de estupro na região.

Os ciclopes da mitologia grega são uma interpretação para os cranios de elefantes asiáticos que alguns viajantes relatavam em suas histórias:


O que inevitavelmente me remete a questão: eu rogo saber o que, exatamente, estava acontecendo na estrada para Kyoto que deu origem ao yokai do olho do cu? Que fato no mundo real amparou essa ideia? E, mais importante, será que nós realmente queremos saber? 

... ou talvez algumas perguntas sejam melhor não respondidas mesmo.


Seja como for, eu sei que eu deveria falar sobre A Grande Aventura do nosso Mano Goemon, um jogo de plataforma cooperativa (algo infelizmente raro, mesmo no Nintendo 64 que foi feito para jogos cooperativos) em que cada personagem tem habilidades únicas para avançar no cenário, é bem gostosinho e repleto de fases com saídas secretas aos moldes de SUPER MARIO WORLD. Eu até diria que é um dos melhores jogos de plataforma do Nintendo 64, mas não é como se houvessem pelo menos 5 jogos contra os quais competir então né...

A história também é o que vc poderia esperar de Goemon: um cientista inventou uma máquina que trás fantasmas de volta a vida, e nossos heróis queriam usar isso para encontrar Marylin Monroe e James Dean (mesmo eles estando em 1580). Entretanto nossa vilã travesti tem uma ideia diferente: roubar a máquina para libertar o Senhor dos Demonios... para ter um namorado. Yeah... isso faz sentido bacause Japan...


De qualquer forma, o ponto aqui é que analisar esse jogo... não dá, gente. Simplesmente não dá. Não tem como continuar. Apenas não. Então é isso, dessa vez vou deixar vocês na mão com essa review... e Japão, vai tomar no olho do Shirime antes que eu me esqueça!


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 060 (Março de 1999)


EDIÇÃO 062 (Maio de 1999)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 034 (Setembro de 1998)