terça-feira, 17 de setembro de 2024

[#1300][Fev/1999] T'AI FU: Wrath of the Tiger

Uma das coisas mais incríveis desse projeto - que hoje chega a marca de 1300 joguetes resenhados alias, são todas as coisas inesperadas que jamais esperamos que vamos descobrir... o que é meio que a definição de inesperado, mas divago.

A história de hoje é sobre um jogo que talvez lhe seja bastante familiar: em um tempo mitologico em um lugar que parece mas oficialmente não é a China, os estilos de artes marciais são representados por personificações antropomorficas dos seus animais - o louva-deus, a garça, o macaco, etc.

HÃ, JÁ VI ONDE VOCÊ QUER CHEGAR COM ISSO. MAS NÃO É PORQUE UMA HISTÓRIA TEM ANIMAIS ANTROPORMOFICOS REPRESENTANDO OS ESTILOS DE KUNG-FU QUE É UMA REFEERNCIA A KUNG FU PANDA, NEM É UMA IDEIA TÃO EXCLUSIVA ASSIM...

Neste cenário temos então uma aventura envolvendo o Dragão Mestre e pandas mortos. Nosso herói então tem que ser treinado pelos mestres animais das artes marciais para...

TÁ, OKAY, VOU ADMITIR QUE PARECE UM POUCO COM KUNG FU PANDA, MAS TENHO CERTEZA QUE É APENAS COINCID...


A DREAMWORKS FEZ UM JOGO SOBRE ANIMAIS DO KUNG FU DEZ ANOS ANTES DE FAZER KUNG FU PANDA?

Skadoosh, Jorge, Skadoosh. Mas sim, uma decada antes de todo mundo querer lutar kung fu e ser mais rápido que um relampago, a Dreamworks já trabalhava com essa ideia - só que nesse protótipo aqui o tigre é o mocinho da história e o Dragão Guerreiro é o vilão.
Nossa história começa quando Kaido ataca nosso herói, URARARARARAOOO

A história é que Tai Fu é um tigre órfão que cresceu em um monastério com pandas, treinando Kung Fu. O Mestre Dragão, o mestre mais poderoso de todas as raças, vem, enche Tai de piaba e mata seus amigos pandas. Agora Tai Fu parte em busca de vingança, mas para isso primeiro ele deve aprender kung fu com os mestres leopardo, louva-a-deus, macaco e garça, matar muitos lacaios que se aliaram ao Mestre Dragão ao longo do caminho, e recebe os últimos segredos do kung fu do tigre de seu pai espiritual morto. Ele faz tudo isso sem uma montagem de treinamento também

Se isso não parece um early draft de Kung Fu Panda, eu não sei mais o que seria - e se está citado na página de Kung Fu Panda na wikipédia que foi uma das inspirações, quem sou eu para desdizer isso.

Bem, isso tendo sido esclarecido, vamos então a questão realmente relevante aqui: afinal, "T Apostrofe Ai Fu - A Boladice do Trigue Triste que Comia Três Pratos de Trigo" é realmente showdebolice? E a resposta para isso é, bem, sim, majoritariamente sim na verdade.

Mecanicamente, T Apostrofe Ai Fu é um hack'n slash - ou seja, é o sucessor espiritual dos beat'm ups só que com mais level design, plataformas e shenanigans do tipo. Mas isso quer dizer que a essencia da coisa ainda gira a respeito de socar o socão em tudo que respira... e até esse ponto esse sempre tinha sido um problema no PS1.

Isso pq devido as limitações técnicas do console, os hack'n slash normalmente são jogos lentos já que o PS1 não é muito bom com muitas coisas ultradinamicas acontecendo na tela ao mesmo tempo. Jogos como IAN LIVINGSTONE DEATHTRAP DUNGEONNINJA: Shadow of the Darkness ou NIGHTMARE CREATURES são conhecidos por não serem exatamente ultradinamicos, com efeito seus movimentos são meio travados e burocráticos.

A Dreamworks então pensou: "Hmm, e se tipo a gente não fizesse isso? E se a gente fizesse um hack'n slash diferente, um que fosse, sei lá... rápido?". E foi essa ideia OZADA que eles fizeram, saiba você.

Isso quer dizer que eles fizeram uma troca aqui: os bonecos de T Apostrofe Ai Fu tem um design relativamente simples e não são tão grandes na tela quanto os outros hack'n slash da época, mas em compensação isso permite com que eles se movam mais ultradinamicamente e deem combos e golpes kungfuzeiros ultradinamicos e a porra toda. E... isso é bem legal, na real.

Claro, usando a engine do altamente questionável THE LOST WORLD: Jurassic Park para isso, existem limites do quanto eles conseguem fazer com esse jogo. Tem um limite para a quantidade de personagens na tela em uma luta, há problemas ocasionais de detecção de colisão e o cenário normalmente é bastante simples, não tem um level design muito complexo e frequentemente esse jogo quase parece um beat'm up em que vc segue em linha reta esperando a mensagem "go!" (ou algo assim) aparecer depois de limpar todos inimigos na tela (com efeito, esse jogo realmente tem seções assim).

Só que, como eu disse, o objetivo da Dreamworks aqui sempre foi fazer uma experiencia ultradinamica e divertida, de modo que eles tomam alguns cuidados para que o jogo não fique cansativo. Em primeiro lugar tem a questão dos combos que são rápidos e fluídos como nenhum outro jogo de PS1 que eu consiga lembrar - no futuro hack'n slash rápidos e combeiros assim serão comuns em jogos como Devil May Cry ou Bayonetta, mas no presente momento é díficil lembrar de exemplares desse tipo na categoria dada as limitações do PS1. Ponto para o T Apostrofe Ai Fu, então.

A outra coisa que eles fazem para manter o jogo interessante é usar um favorito meu em beat'm ups e que poucos jogos realmente exploram isso satisfatoriamente: você pode usar o cenário para eliminar inimigos. Como o jogo é repleto de penhascos e beirais, esse jogo aqui não realmente faz muita cerimonia em deixar você agarrar os inimigos e jogar eles nos buracos. 

Isso é tão simples de fazer e tão divertido, tão satisfatório que eu realmente não entendo pq mais jogos não deixam mais jogos você fazer isso. Tem um buraco, você pode agarrar o inimigo, sério, pq não é padrão você meter um:


E embora os gráficos não sejam topo de linha, dadas as limitações para o que eles queriam fazer como explicado, não dá pra dizer que pelo menos os efeitos sonoros não valem a pena. Isso pq não apenas os tradicionais "hmmpf" e "ugh" de capangas foi substituído pelo som de animais - o que faz vc se sentir jogando MARIO PAINT THE FIGHTING GAME, como as vezes os caras piram na batatinha e colocam até inimigos que soam como - eu juro pra vocês - o Schwarzenegger.

Sério:

Espetacular. A outra coisa que mantem o jogo interessante, pero no mucho, é que a cada mestre você ganha uma habilidade nova - glide, roll jump, etc - mas isso é usado tão esparçamente que eu não posso dizer que realmente é um ponto de venda do jogo.

No fim, T'ai Fu não é um jogo particularmente ambicioso mas o pouco que ele faz é bem feito em quase todos os aspectos. O jogo é um hack'n slash e é bastante satisfatório em socar com seus combinhos e tal, mas não vai muito além disso, falta aquela cereja do bolo que marca os grandes hack'n slash da história como Devil May Cry ou God of War e T'ai Fu não tem essa centelha

Ainda sim, tenho que dizer que fiquei impressionado do quanto a Dreamworks tirou da engine de THE LOST WORLD: Jurassic Park, e definitivamente merece o título de uma das perolas esquecidas do PS1 - eu sei que os youtubers chamam qualquer jogo menos conhecido de "hidden gem", mas esse é um que claramente passou batido e que merece um cadinho mais de reconhecimento pq ele faz tudo certinho mesmo.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 135 (Janeiro de 1999)


EDIÇÃO 137 (Março de 1999)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 062 (Maio de 1999)