quinta-feira, 13 de maio de 2021

[3DO/SEGA CD/SEGA CD 32X] SUPREME WARRIOR (Fevereiro de 1995) [#684]

Sim, esse jogo saiu para Sega CD E Sega CD 32X como dois lançamentos diferentes, because Sega

 Eis aqui um jogo que potencialmente teria mudado a minha vida, mas não mudou porque eu era pobre demais para isso.

Nossa história de hoje começa numa edição muito especial para mim, que é a Super Game Power número 11. Mais especificamente, essa é a edição de fevereiro de 1995 - que acontece de ser o mês do meu aniversário. Quer dizer, não fevereiro de 1995 especificamente, eu faço aniversário todo mês de fevereiro seja 1995 ou não, mas esse não é o ponto aqui. O ponto é que como presente de aniversário nesse ano eu ganhei uma revista de videogames. Sim, eu sei que uma revista não é exatamente o presente de aniversário mais glamuroso do mundo, mas... bem, era o que dava pra fazer. A gente era pobre dessa maneira.

ENTÃO A SUA IMPLICANCIA COM A SEGA É UMA FORMA DE RECONHECIMENTO QUE A SUA FAMILIA FEZ PARA TE DAR O MELHOR VIDEOGAME POSSÍVEL APESAR DE TODAS AS ENORMES DIFICULDADES?

Hã, não. Eu apenas gosto de falar mal da Sega mesmo. Mas enfim, essa edição da SGP foi uma que eu li de cabo a rabo inúmeras vezes... até porque na época eu não tinha muito mais o que fazer realmente, os anos 90 não foram uma boa época para não ter amigos... e um jogo em particular me chamou muito a atenção. Com efeito, era um dos jogos que eu estava realmente esperando para chegar nele quando comecei esse projeto e esse não é outro que senão mesmo Supreme Warrior.

A proposta do jogo é algo que eu achei incrivelmente surreal na época: um jogo de luta em primeira pessoa que era com imagens filmadas! Wow, mindblow, fucking blaster blow, pushhhhhhbaaaahhhh (esse é meu efeito sonoro de mindblow, tá bom?)


Veja, nessa época eu já estava familiarizado com o conceito de NIGHT TRAP: um filme que você podia interagir ativando armadilhas. Embora na época eu não soubesse como tecnicamente eles faziam isso, o conceito que eu tinha não estava errado... e não era algo que me impressionou taaaaaaanto assim. Era curioso e algo que eu gostaria de jogar um dia (e eu joguei AQUI), mas meio que era isso.

Já Supreme Warrior era uma história completamente diferente! Era um jogo de verdade que você podia realmente controlar o seu personagem em um filme, e um jogo de luta em primeira pessoa! Algo que mesmo hoje não é uma coisa realmente, o quão incrível isso seria! Em 1995 isso claramente era sem precedentes, era o futuro, era a nova geração, era...

... UMA ENGANAÇÃO, NÉ?

Completamente. Mas ainda sim, esse foi o jogo que me querer um 3DO. Obviamente que não tinha a mais remota possibilidade de ser real porque estamos falando de uma época que a grande estravagancia de aniversário que eu tive foi uma revista de 4 pila, imagine então um console de 600 dolares. Mas é, acredite ou não houve um momento na minha vida que eu quis um 3DO por causa de Supreme Warrior. Entendo se você precisar de alguns momentos para se recompor ao saber que o seu grande herói também erra.

EU DIRIA QUE EU VOU FICAR BEM, OBRIGADO.

Admiro seu estoicismo, Jorge. Seja como for, vamos ver mais de perto como essa rockonha funciona. Mesmo antes da Eletronic Arts (a maior acionista da 3DO Company) desligar os aparelhos que mantinham o 3DO vivo em 1996 (um ano mais tarde do que eu gostaria, diga-se) o sistema estava se esforçando para coletar uma biblioteca dos jogos mais esquecíveis do mundo. 

Eu entendo que a 3DO Company estava desesperada por números na sua biblioteca de jogos, mas nunca vou entender o por que. É muito melhor ter um console com 5 jogos realmente fodas do que com 50 pilhas de esterco, me parece tão obvio isso que eu não consigo entender nem a lógica disso. Mas seja como for, a resposta que eles achavam eram jogos com estava cheio de atores em baixa resolução lendo sem entusiasmo as suas falas. “Ei, estou realmente ansioso para o próximo jogo da Digital Pictures; Tom Zito está salvando videogames com suas ideias únicas”, foi algo que absolutamente ninguém jamais disse.


Bem, verdade que isso já era um problema do Sega CD (muitos jogos de FMV digitalizado) que apenas migrou para o 3DO com telas um pouco maiores e uma resolução melhor. Como se alguém acreditasse honestamente que o problema com esses jogos não era que eles eram chatos, limitados e nada interativos - apenas uma versão reempacotada de DRAGON'S LAIR - e sim que com uma resolução um pouco melhor a coisa ia que ia.

Não ia.

Para ser justo, até este momento esta introdução poderia ter sido cerca de metade da biblioteca condenada do 3DO (e do Sega CD/32X, diga-se de passagem). Mas não. Que deus me ajude, estou falando o Guerreiro Supremo.


... bastante bonito, na verdade. Não é algo que se diga "minha nooooooossa é praticamente um Senhor dos Anéis", mas tenho que dizer que a locação na China é bonita e os cenários são bem feitos. Não deve nada realmente a um filme de Kung Fu chinês de verdade, o que também não é exatamente a produção mais cara da história da humanidade mas e a proposta é essa, então a proposta é essa.

Com efeito, esse jogo foi filmado pela Shawn Brothers, o maior estúdio chinês com mais de mil filmes de gente voando pendurada em cabos enquanto se escatebefeia-se uns aos outros. Enquanto dá pra dizer que o kung fu apresentado é realmente bom...


... o mesmo não pode ser dito das atuações. Quer dizer, colocar fogo na barraquinha de fogos de artificio é meio brega, mas compreensível. Derrubar a barraquinha de cuecas samba-canção e ir comemorar na camera como se tivesse feito um gol foi realmente desnecessauro. Po cara, pra que a barraquinha de cuequinha, véi? Que que a cuequinha te fez?

Seja como for, a putaria generalizada é interrompida pela chega divonica do Big Baddie desse jogo!


Tenho que dizer que eu fiquei realmente desapontado que o vilão não chegou dizendo "my my my... name is, hmmmmmm Bettyyyyy" (apenas os fortes entenderão a referencia, temo dizer).


Existem várias coisas que eu realmente gosto nessa cena. Primeiro, quando hmmm...Bettyyyyy apresenta os seus temíveis warlords... a camera não enquadra eles fazendo com o vilão apresente pessoas fora da tela. Cinematografia top, eu te digo.
Quase tão top quanto não terem achado uma careca pro tiozinho esconder o cabelo da mesma cor da pele dele, dá pra ver claramente que a borracha é de uma cor diferente da testa. 

E por fim, mas não menos importante, esse é o primeiro vilão que eu vejo promete colocar cada coração humano em uma estaca. Normalmente overlords do mal colocam cabeças em estacas ou se estiverem sem saco pra isso, inimigos inteiros. Agora você está me dizendo que ele vai:

a) realizar uma cirurgia para retirar o coração sem danificar para que ainda fique um órgão reconhecível em toda e cada uma das pessoas dessa vila;
b) um coração humano não é uma coisa muito grande, é mais ou menos do tamanho do seu punho fechado. Você não pode realmente colocar eles em estacas, tem que ser no máximo em palitinhos. Então ele pretende ter uma vila com a entrada repleta de espetinhos de coração? Isso parece mais uma barraquinha de festa junina gaúcha do que um cenário de terror, estou confuso a respeito de qual mensagem hmmm...Bettyyyyy realmente quer passar aqui. E eu fiquei com fome agora.
c) eu realmente gosto como a camera não se move, se os warlords quiserem aparecer eles que deem um jeito de passar na frente da camera porque ela não vai até eles! Isso ae, gosto de um camera man que mostra dominancia!

Como dá pra ver, o objetivo do hmmm...Bettyyyyy é conseguir a outra metade da mascara do poder porque ela... hã, eu não sei, acho que ele só quer ser fabuloso como o Dio. O que é uma justificativa digna para ser um vilão, saiba você.


Eis então que chega nosso intrépido herói, portando a outra metade da máscara de Dio. Um fato que sabemos porque o tiozinho diz isso feliz e contente em voz alta... sendo que os generais do hmmm...Bettyyyyy não estão nem a 10 metros de distancia ainda. Praticamente todos os vilões ouviram que você está carregando a outra metade da máscara, o que deveria acontecer em seguida é que eles se juntariam e socariam você até virar tapioca.

Felizmente isso é proibido pelas leis dos filmes de Kung Fu e eles serão obrigados a te enfrentar um por um. É a lei do Kung Fu. E falando em enfrentar, pq vc simplesmente não usa a outra metade da máscara se ela é tão poderosa assim?

Não é dito que ela tem um poder corruptivo nem nada assim, até onde eu sei você poderia perfeitamente usar a outra metade e apenas lutar contra o mal com os poderes de... hã, os poderes da máscara, sejam eles quais forem. Mas hey, pelo menos os cenários são bonitos pra um jogo que teve o orçamento de um dogão morte-lenta e um ki-suco de graviola.


Eu realmente gosto como a mina olha pro véio com uma cara de "puta merda, não acredito que tu vai aplicar essa merda". Embora de fato ele pareça um véio bem veiado, eu não vi o tal do "too injured" da mina não. Pela cara dela, nem ela. Acho que ele quis ser gentil pra não ter que dizer que na cena anterior ela lutou com os capangas do vilão e fez um trabalho bem bosta.

O que parece mais plausível.


O que deixa essa cena realmente boa é o quanto full pistola essa mina está. Suponho que ela está moralmente ofendida por um forasteiro ter que defender a vila enquanto ela precisa ficar enrolando o braço por motivo nenhum, mas a certeza é que a grande motivação dessa atuação para sua pistolice é que a atriz lembrando que essa cena nesse jogo que saiu para 3DO, Sega CD, 32X e Sega CD 32X (só a nata dos videogames) é o ponto alto da sua carreira.

Isso considerado, ela até que está aceitando bastante bem.

 


E, bem, a partir desse ponto o jogo começa - o que quer dizer que é onde a diversão termina. Veja, eu realmente posso comprar um filme de kung fu com quick time events, especialmente se abraçar todas as más atuações e os erros de lógica que os primeiros poucos minutos iniciais mostram. E até pq, como eu disse, as coreografias de luta não são nada desprezíveis.

O problema é que não é. Toda parte do filme meio que termina por aí, daí pra frente o jogo é apenas um DRAGON'S LAIR da vida onde você tem que apertar o botão certo na hora certa indo de uma luta para outra sem quase nenhum filme entre eles.

E o pior ainda é que de alguma coisa eles conseguiram fracassar retumbantemente nisso, eu não faço ideia de como. Dragon's Lair não é o melhor gameplay do mundo, mas ao menos é funcional: vai rolando o filminho e então em alguns momentos você tem que apertar algum botão. O jogo inclusive dá uma dica visual que tá na hora de apertar o botão.


Como eu disse, simplório mas funcional. Supreme Warrior, no entanto...


Mano do céu fluorescente, que fucking bagunça! Não tem uma cue visual clara sobre a hora de apertar o botão, seu palpite é tão bom quanto o meu. Na verdade, se você jogar o controle numa cama elástica e ele ficar quicando e apertando os botões o resultado vai ser o mesmo que tentar jogar esse jogo. Pensando bem, a cama elástica provavelmente vai ter um desempenho melhor que você. 

Não apenas porque as cues de apertar o botão é uma casa da mãe Joana, porque esse jogo tem nada menos que TRINTA combinações possíveis. Sem exagero cara, existem TRINTA comandos possiveis, você tem que adivinhar qual dos TRINTA vai em cada dado momento de interação... que você não sabe qual é em primeiro lugar.

TE ERRE ERRE YPISSILON ERRA A - TRINTA!

Achou que eu tava brincando?

Mas puta que me pariu, como que alguém consegue errar TANTO em um FMV? Porra véi, essa é a forma mais básica de básica de "jogo" (se quiser chamar assim) e os caras conseguiram errar nessa merda? Eu to sem palavras pra um nível de incompetencia desse nível, mesmo para os padrões do 3DO isso é inconcebível, mesmo para os padrões do SEGA CD 32X! (sim, a abominação que EXIGE que você tenha um megazord de Mega Drive + Sega CD + 32X)

Pra tentar aliviar a injogabilidade desse FMV (que eu ainda não acredito que deixaram isso injogavel existem três vídeos de "treinamento". O termo deve ser usado vagamente, porque você faz nada realmente. Essencialmente assiste um video de dois caras chutando ou socando um ao outro quando uma abertura na defesa é exposta. Qualquer pessoa com metade do cérebro pode determinar que, se um oponente está bloqueando seu lado direito, você deve socar seu lado esquerdo. Só que isso é completamente inútil porque no combate real as coisas não são tão claras assim. Ou claras at all.

O jogo ainda vem em dois CDs (DOIS discos de Sega CD 32X, o plástico mais desperdiçado da história da humanidade) e dependendo dos adversários que você escolher tem que trocar o disco a cada luta, EITA DILICEEEEEEERA SO MODEUSO!

Um jogador pode (e vai) passar horas lutando e não vencer um único round, sem falar em uma luta inteira. Embora existam três modos de dificuldade, mesmo o mais fácil apresenta mais dificuldade do que qualquer outro jogo dos últimos trinta anos da história dos videogames. Você vai ter muita sorte se conseguir mais de um hit em seu oponente em qualquer luta.

Para adicionar ofensa a injúria aparecem pequenos ícones indicando qual movimento você deve fazer. Esse ícone deve ser ignorado sumariamente, porque ele naõ funciona. Não apenas ele não representa que tem uma janela de input de comando, como ele ainda mostra o comando errado. Ou seja, não basta o jogo não te dar deixas, ele ainda te induz a ERRAR!

Ah mas vão chupar um parafuso até virar prego, pqp...



Mas então, esse jogo tem ao menos ALGUMA qualidade redentora? Qualquer uma? Na verdade, tem.  O fato de ter um gerenciador de memória embutido. Veja, o 3DO originalmente não tem uma maneira de gerenciar o espaço limitado pra salvar os jogos na sua memória interna (MUITO limitado alias, são 32kb para arquivos de save e quando acaba o espaço o jogo apenas pergunta se você quer salvar por cima e você não pode ver o que está apagando, que COISA BEM PROJETADA DO CARALHO). A única maneira de gerenciar os seus saves é acessar através de por que tivessem um gerenciador de memória, o qual esse jogo tem.

Porque eles lançaram a merda de um console de 600 dolares que não tem um gerenciador de saves está além de mim, mas o fato é que esta é, de longe, a única razão para comprar um Guerreiro Supremo. A jogabilidade é tão ruim mesmo em um FMV, e você nem consegue apreciá-lo pela sua tosquice como muitos outros jogos FMV por que o "filme" mesmo dura apenas aquelas cenas que eu mostrei no começo.

Ser o pior jogo da história do 3DO/SEGA CD/32X é uma luta realmente acirrada, mas ninguém pode acusar Supreme Warrior de não ter entrado nela com os dois pés.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 007


Edição 011


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Edição 002