Após alguns anos de trabalho, diretores invariavelmente acabam desenvolvendo traços narrativos que são plenamente identificaveis a ponto que você não precisa realmente saber que o filme é desse diretor. Por exemplo, se você ver dada quantidade de ultraviolencia, pés femininos e cenas de dialogo realmente longas porém tensas, sabe que é um filme do Tarantino mesmo não tenha sido informado disso antes de começar a assistir. Uso insano de slow motion em quae tudo, tomadas super escuras, cenas individualmente de fraes fortes porém que não se conectam no todo e todos os personagens são Sasuke? Zack Snyder. Babação de ovo pelo militarismo, sexismo blatante, humor pré-adolescente e cenas de ação que você não consegue entender nada do que está acontecendo na tela? Michael Bay.
Nesse sentido, Roland Emmerich é um direto bastante único porque seu defining trait como diretor é fazer filmes “que não foram sucessos inabalaveis, mas eu lembro de ter assistido na época e gostado bastante. Até eu reassistir mais recentemente e me chocar o quão pouco sentido esses filmes fazem e eles são bem meh, na real”. É uma sensação bastante especifica, eu diria, mas realmente precisa para descrever os filmes do Rolandão.
Por exemplo, eu lembro de ter assistido o Godzilla americano de 1998 e ter achado bacana quando eu era criança, legal para ver no Cinema em Casa (a versão do SBT da Sessão da Tarde, pra quem não lembra). Até eu reassistir esse filme e...
... Jesus na cruz no pogobol, que filme tosco...
Roland Emmerich também é conhecido por sua grande compulsão em destruir a Casa Branca, o que lhe rende frequentes visitas do FBI just in case |
E assim é toda a carreira do cara. UNIVERSAL SOLDIER, lembrava como um filme okay, divertidinho. Quando eu reassisti... cara, muita coisa nesse filme não faz sentido e o resto é okayish (com exceção das cenas de Dolph Lundgreen, não tem como errar nas cenas com o Ivan Drago). O que nos leva a Stargate.
Quando eu era criança, eu realmente tinha para mim que esse era um filme de ação bastante maneiro, uma parada nível A Múmia, Homens de Preto, sabe? Então... não é.
Tu não faz a mais remota ideia de como computadores funcionam, né Rolandão? |
Stargate não é um filme ruim, mas ao contrário do que eu lembrava das minhas memórias de infancia, definitivamente eu não usaria uma palavra forte como “bom” para descreve-lo. Essencialmente é um filme B com orçamento de blockbuster, mas acaba não funcionando muito nem como um nem como outro. Não é tosco o suficiente para divertir pela trashice, e ele não estabelece nada o suficiente para que você se importe com as cenas de ação.
As falas são bem basiconas/bregas (nada do nível George Lucas, mas definitivamente brega), a motivação dos personagens faz pouco ou nenhum sentido e o que está em jogo é questionável na melhor das hipoteses. Novamente, não é ruim, mas eu não posso realmente dizer que me importei com qualquer uma daquelas pessoas realmente.
Apesar disso, é um filme de ação assistivel. Eu definitivamente diria que é mais um filme de ação do que de ficção científica, apesar das viagens espaciais e alienígenas. Afinal, todos os personagens, exceto um, são humanos, e a ênfase é muito mais militarista do que sobre se maravilhar de ir para outro planeta. Ninguém na equipe millitar parece muito impressionado (ou sequer interessado) de estar em outro planeta do outro lado do universo.
As cenas de ação não são ruins, mas também não são boas boas. O que você mais vai lembrar desse filme é que durante boa parte dele você se pega fazendo todo tipo de pergunta sobre coisas a ver com o enredo. Por exemplo, onde o Rá estava antes da nave dele pousar sobre o Stargate? Como eles ativaram o Stargate no outro planeta sem um computador? Afinal, a Força Aérea precisou de um setup gigante para abrir o portão da Terra, então vocês estão me dizendo que todo aquele esquema do caralho era só pq o exército americano não quis contratar uma assistente de palco do Silvio Santos para rodar a roda Jequiti?
Alias falando em rodar a roda, como que os símbolos ainda funcionam se não apenas as estrelas visíveis não são as mesmas em todo o universo, como as estrelas vistas na Terra hoje não são as mesmas vistas a 8 mil anos atrás? E falando em 8 mil anos, como um idioma mudou tão pouco em 8000 anos que Daniel é capaz de entendê-lo em cerca de uma hora, sem nunca ter ouvido ninguém falar nele antes?
Alias até hoje os estudiosos não sabem exatamente como o egipcio antigo soa, porque o egipcio do tempo dos faraós não tem vogais e nunca foi encontrado material de referencia fonética, então sabe-se lá como que as pessoas falavam aquilo. Ainda sim, nosso herói não apenas sabe falar egipcio antigo apenas corrigindo um som ou outro.
Também é difícil não reparar nos estereótipos culturais bem datados presentes (sobre a cultura egípcia moderna e antiga), embora dados quando o filme foi feito, isso era meio que esperado.
Os efeitos especiais são mínimos (o Stargate é o maior, com seu portal de água), o que ajuda o filme a não parecer muito datado. Os uniformes militares também ajudam nisso, embora o cabelo do Coronel O'Neil tenha me feito achar que ele ficou um cabelo de Guile melhor que o do filme do Street Fighter. Fora isso, a única coisa que parece datada foi a criatura animatrônica ou camelo Bantha boibumbá de marionete que eles montam. É meio esquisito porque é a única coisa de animatronico em um filme que é basicamente militar, então parece bem deslocado (não é que nem Star Wars que tem muppets a torto a direito o tempo todo).
Então, o filme vale a pena? Eu acho que se estiver passando você pode assistir ele, mas não é algo que você iria atrás dele. É um marco da ficção científica pelo universo de séries que nasceram desse filme, e um filme de ação ok se você puder suspender sua descrença e não fazer muitas perguntas sobre os furos de roteiro. Na verdade, não fazer nenhuma pergunta sobre os furos de roteiro porque um portão que transporta para o outro lado do universo sem nenhuma fonte de energia é a coisa mais crível desse filme.
De modo geral, a coisa toda lembra um filme tipo Indiana Jones, com os socos mal coreografados e as generalizações de culturas e o romance brega, e nada disso é ruim per se. Apenas que foi feito por gente não particularmente muito talentosa, o que normalmente é o caso dos filmes do Roland Emmerich.
E nesse sentido, a versão videogamistica de Stargate é uma adaptação fiel da sensação de ver um filme do Roland Emmerich: eu tinha na memória que era um jogo muito melhor do que é realmente, mas não chega a ser ruim também.
Isso não acontece no filme! Eles estão apenas inventando coisas agora!
... bem, ok, tecnicamente tem uma tempestade de areia e tecnicamente ela separa O'Neil de alguns dos outros soldados, mas ele não está sozinho e eles são os únicos em território hostil.
Okay, acho que as coisas escalonaram rapidamente. É uma coisa curiosa para mencionar casualmente assim que “ah, e a proposito ele também trouxe uma bomba nuclear, suponho que eu deveria mencionar isso”.
Ok, então seu trabalho aqui é encontrar o Daniel, encontrar o “batalhão” do O'Neil, encontrar uma bomba nuclear e depois voltar para o Stargate. Parece simples o bastante.
E o jogo é um jogo de plataforma! Grande surpresa.
Mas o Kurt Russel tem cabelo castanho claro e uma camiseta preta! Os caras desse jogo ao menos viram o filme?
NA VERDADE ELE ESTÁ USANDO BOINA PRETA COMO NO FILME
... eu vou apenas ficar quieto sobre o meu erro cometido tal qual a produçao do filme ficou quieta ao perceber que dar óculos reflexivos para o ator e fazer ele olhar para a camera não era uma boa ideia.
A propósito, não sou eu quem está movendo o personagem, se deixar ele parado o Kurt Russel fica balançando assim como uma criança que comeu todos os toblerones da loja. Além disso, Kurt Russel é um cara tão foda que consegue mudar o lado em que está o coldre da arma quando vira de lado, pode reparar no GIF
Mas okay, vamos então explorar o deserto porque é o que tem.
Por outro lado, SUPER STAR WARS: The Return of the Jedi ...
Nah, ainda é muito diferente de Stargate. Claro que os dois jogos são sobre correr para a direita e atirar em coisas com armas multidirecionais, mas SUPER STAR WARS: The Return of the Jedi joga muitos inimigos em você e as coisas tendem a levar vários e vários tiros para morrer.
Yeah, about that ...
De certa forma esse jogo parece uma versão do homem pobre de SUPER STAR WARS: The Return of the Jedi, apenas com controles mais duros (ou seja, seu personagem responde mais lentamente). Em compensação existem muitos menos inimigos sendo atirados em você, o que torna esse jogo menos dificil e ser injogavel devido a dificuldade é o defining trait de SUPER STAR WARS: The Return of the Jedi.
Embora esse jogo de Stargate também tenha inimigos baixinhos que são difíceis de acertar - o que é definitivamente uma coisa do Super Star Wars.
A mecanica definidora desse jogo é que você tem dois tipos de ataque: a metralhadora e a granada em arco. É funcional e definitivamente é satisfatório acertar os filhosdaputa, porém como aspecto negativo você pode argumentar que isso é um tanto quanto raso para sustentar um jogo inteiro...
... e você estaria completamente certo nisso. Tal qual o filme no qual se baseia, Stargate não faz nada particularmente ruim, mas o que ele faz não vai muito além do raso também. Como eu disse, arremessar bombas funciona bem e é satisfatório, mas meio que não vai além disso.
Gosto da cara do Kurt Russel nessa cena, definitivamente é a cara que qualquer um de nós faria ao ouvir essa explicação.
Em termos de level design, o jogo é um run’n gun bastante simples: vá para a direita, atire em besouros ou anubis... esse jogo também não tem uma grande variedade de inimigos. Algumas fases exigem que você entre em cavernas para pegar itens colecionaveis (5 bombas, destruir 4 computadores de Rá, 8 pacotes de M&M’s sabor manteiguinha), mas não é nada de outro mundo ou particularmente filho da puta. Felizmente não é um jogo da Ocean nesse sentido... embora não seja o level design de um jogo da Nintendo também.
Dos run’n gun meio bosta, acho que Stargate é o menos irritante dessa turma (definitivamente menos irritante que os jogos como JURASSIC PARK: Rampage Edition ou ALIEN 3 para Mega Drive). Não estou dizendo que é divertido, só não te faz querer esmagar seu joystick.
Ajuda o fato de o jogo estar apenas vagamente conectado ao filme, acho que seria dificil fazer um jogo sobre o Ultron tentando falar a lingua dos nativos, encontrar o amor e se tornar um herói de ação apesar de ser um nerdão safado.
Por outro lado, esse jogo é pior do que poderia ser porque entrar cavernas cheias de bugs dificeis de acertar por serem pequenos demais e levam uma eternidade para morrer a menos que você se distancia e os acerte com uma granada. Os controles são aceitaveis, exceto a coisa de abaixar e atirar ser meio travada.
Enfim, não é ruim, mas eu lembrava dele ser muito melhor quando joguei ele na infancia. A Roland Emmerich game.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
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