Tem uns jogos, eu juro pra vocês que eu jogo, fico olhando aquela coisa, aí pesquiso a história desse jogo... e eu fico pensando "but why?". E não é nem que o jogo é ruim nem nada, mas é que a história de como esse Kid Klown veio parar nessa edição da Ação Games é tão randomica que eu não consigo deixar
de pensar:
Vamos começar do começo: em 1992, a Kemco conseguiu a licença no Japão para fazer um jogo do Mickey para o Nintendinho. Até aí nada
demais, ela já fazia jogos do Mickey para o Game Boy e fazer um jogo para o Nintendinho não era muito fora do proposito. Alias é por isso que esse jogo se chama “Mickey Mouse 3: Dream Ballon”,
porque o Mickey 1 e 2 sairam para o portátil - uma prática comum nos consoles da Nintendo, da mesma forma que SECRET OF MANA no Japão se chama “Seiken Densetsu 2” pq o primeiro saiu no GB.
O tema desse jogo, para grande surpresa de zero pessoas, são balões: Mickey não apenas dispara balões, como você pode usar eles para como cama elástica para alcançar
lugares mais altos, ou segurar o balão enquanto cai para planar lentamente. Não parece nada muuuuuuito diferente dos jogos de plataforma tradicional... e não é mesmo. O resto do jogo infelizmente
é mais esquecível ainda. Os gráficos e som não são nada para escrever para casa a respeito, a animação é semi-decente com o personagem principal, mas nada que não
tenhamos visto feito melhor em outro lugar - mesmo nessa época.
Os chefes tem padrões embaraçosamente fáceis, mas okay, afinal esse é um jogo infantil. Os controles são mais duros do que eu gostaria
que fossem. Você acaba caindo em buracos e coisas assim por culpa dos controles volta e meia, mas não é nada que atrapalhe tanto assim o jogo porque os checkpoints são bem localizados e vidas extras
são abundantes - esse é um jogo relativamente fácil, afinal.
O maior ponto positivo do jogo é que o level design é interessante. A regra essencial para fazer um bom jogo de plataforma é não ter nenhum espaço
"morto" entediante, onde não se faça nada além de caminhar em linha reta (o que é um grande problema nos jogos do Sonic). Sempre tem algo acontecendo aqui, e isso é algo positivo.
Nada que eleve o jogo acima o medíocre, mas impede que o jogo seja ruim.
Enfim, é um jogo de plataforma simplezinho que é bastante esquecível, mas não é ruim realmente. Também não é bom,
mas para um jogo de Nintendinho de 1992 é aceitável. Porém é aqui que a normalidade do jogo termina, porque as coisas ficam realmente estranhas a partir desse ponto.
Isso porque nos Estados Unidos o direito de jogos dos personagens da Disney para os sistemas da Nintendo pertenciam a Capcom, de modo que a Kemco não poderia lançar
esse jogo do Mickey. Só que eles tinham um jogo pronto, e um jogo relativamente decente para um sistema que em 1992 não estava morto ainda, era realmente interessante aos interesses da Kemco não perder
esse mercado.
Mas como fazer? Bem, a solução mais simples seria mudar os gráficos do jogo e usar alguma outra marca que eles tivessem (já que criar do zero
levaria tempo, ou seja dinheiro). O problema é... que marcas a Kemco tem, exatamente? Todo mundo lembra de Top Gear, claro, mas acho que isso seria de pouca valia para um jogo de plataforma. Então, o que mais
eles tem?
Hã... Kid Klown?
QUEM?
Você sabe... Kid Klown, lembra?
NÃO, NÃO POSSO DIZER QUE EU LEMBRO...
Eu não posso te culpar por isso, mas eu falei de um jogo dele esses dias, KID KLOWN in CRAZY CHASE.
AAAAAAH, LEMBREI. NOSSA, ESTOU É IMPRESSIONADO QUE ELES SEQUER LEMBRAVAM QUE TINHAM ESSA MARCA
Todos estamos. Mas sim, o jogo do Mickey então foi lançado em 1993 no ocidente como um jogo da franquia (e sabe-se lá deus pq isso é uma franquia) Kid Klown. Mais especificamente, Kid Klown no mundo do prefeito da noite.
O que faz zero sentido pra mim, pq sério, eu nunca conheci uma criança que gostasse de palhaços. Quer dizer, crianças bem pequenas gostam de coisas como Patati e Patata, mas até então crianças nessa idade gostam de qualquer coisa colorida e com voz engraçada. Mas o publico que tem idade para jogar videojogos eu não consigo imaginar algum palhaçomaniaco vibrando com o Garoto Palhaço.
Até porque ele é feio pra caralho.
Não, sério, olha se essa tela de Press Start não parece que você recebeu um daqueles convites de festa infantil comprados fiado no boteco do Seu Pancinha. Eu praticamente consigo ouvir as tia ralhando com as crianças babando pra pegar um docinho na mesa posta"tem que esperar o parabéns" e o pobre enchendo a bolsa de salgadinho.
Mas onde eu estava mesmo? Ah sim, o Menino Palhaço...
Eu tenho que dizer que fiquei bem confuso com essa introdução, porque eu entendo que ela se passe em um mundo de fantasia que tem uma família de palhaços literalmente chamados "Sr. e Sra. Palhaço" com sua família de palhacinhos. Até aí tudo certo. O estranho é... que isso acontece no Kansas. Pq o Kansas? Não é como se fosse relevante para o jogo ou sequer citado novamente, apenas tocaram um Kansas ali do nada.
Eis então que nessa noite chuvosa, porque é claro que é uma noite chuvosa né, surge o maligno e terrível Prefeito da Noite. Como podemos ter certeza que ele é malignamente do mal e odeia o bem?
Yep, definitivamente maligno do mal.
O Prefeito da Noite, este ser maligno de odiosidade... pede ajuda para abrir um cofre do tesouro dos palhaços (aparentemente isso é uma coisa do Kansas), e até oferece uma parte do tesouro como recompensa. Considerando que é uma familia se mudando de A PÉ, NA CHUVA, não me parece a pior proposta do mundo. Olha só, esse Prefeito da Noite até que não é uma pessoa de todo mal...
Porém Kid Klown, que é o porta-voz da sua família já que seu pai está claramente de saco cheio dessa merda e sua mãe parece muito constrangida por estar nesse jogo, recusa a oferta já que parece que andar na chuva com sua familia é uma opção muito melhor. Obviamente.
Hã, eu não vejo como sequestrar a familia dos Klowns vai ajudar com a coisa do seu vault, pal. Mas entendo que é uma reação de ficarputice, não resolve mas é compreensível. Então assim Kid Klown parte em uma jornada para recuperar sua família do ataque de piti do Prefeito da Noite.
O que ainda é o jogo do Mickey que eu descrevi antes, só que com o menino palhaço feio. Eu entendo um jogo mediano ter algum destaque porque é baseado em um personagem reconhecivel, mas sem isso não é surpresa que quase ninguém lembra desse jogo... e porque deveriam? Eu não consigo pensar em nenhum motivo realmente senão como um presente barato aleatório para um sobrinho que você não particularmente gosta.
Mas para um jogo lançado em 1993 é okay.
ESPERA, 1993? E PORQUE ESTAMOS FALANDO DELE NUMA AÇÃO GAMES DE DOIS ANOS DEPOIS?
Então... em 1995 não é exatamente discutir fisica quantica dizer que o Nintendinho já estava terminado. Com efeito, mesmo o Super Nintendo e o Mega Drive não tinham MUITO mais lenha para queimar, estamos numa fase de começo da transição de gerações.
Só que aí está uma coisa interessante: hoje é algo perfeitamente sabido que videogames tem ciclos. O Playstation 4 encerrou e agora estamos nos dias do PS5, e um dia iremos para o PS6. Ou então o Xbox Qualquerquesejaonomedele passará para o Xbox Sériojádesistideacompanhar. E não é apenas restrito aos videogames, as proprias midias passam por ciclos: o VHS deu lugar ao DVD, que virou o Blu-Ray, e agora estamos no streaming. Sabe-se lá o que virá depois, mas certamente algo virá um dia.
Só que nessa época foi a primeira vez que algo do tipo acontecia, muitas pessoas do Nintendinho sequer entendiam essa possibilidade, porque não era uma coisa cotidiana. No Brasil esse aspecto é amplificado pela pobreza, já que não era assim simplesmente largar tudo e comprar um sistema novo. Quando você tem recursos a coisa de "essa geração acabou, bora seguir em frente" é bem fácil de assimilar, mas estamos falando de um país pobre.
O resultado é que mensalmente a Ação Games era bombardeada pelo que eu chamo de "Nintendinhos", chorando para que esses sistemas continuassem sendo suportados. Não que a revista ajudasse, frequentemente defendendo que os lançamentos atuais tivessem versões para os consoles antigos (o que não faz sentido nenhum do ponto de vista do desenvolvedor que precisa dar motivos para você investir num novo sistema, não mina-los). E verdade seja dita, é algo que a Sega também fazia isso lançando sempre que possível os jogos do Saturno para o 32X ou mesmo o Mega Drive. Não surpreendentemente, a Sega atualmente não mais participa desse mercado.
O que nos leva a pressão que a Ação Games tinha para publicar jogos de Nintendinho. Como não tinham jogos novos de Nintendinho para publicar...
E essa é a história improvavel de como um jogo japonês do Mickey de 1992 virou um jogo de um mascote absurdamente esquecível e foi parar numa Ação Games de 1995. Ajudaria se fosse um jogo mais memorável, especialmente ME ajudaria que tenho que falar sobre ele, mas a gente se vira com o que tem a mão.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 079