O 3DO foi lançado em outubro de 1993, o que significa que em fevereiro de 1995 ele já tinha quase um ano e meio de vida - definitivamente não é um console que dá mais pra chamar de "iniciante". Porém sabe quantos jogos "The Best Of" do 3DO eu joguei até aqui?
Um.
A capa japonesa não é nenhuma obra prima, mas definitivamente não é a abominação da capa americana |
Foram quinze jogos resenhados para o 3DO em um ano e meio de vida do console e apenas UM foi um jogo realmente pica das galaxias, sendo que esse um ainda é um port de jogo de PC e não um lançamento original para 3DO. Okay, méritos ao 3DO por ser o único lugar que você pode jogar uma versão de console do excelente STAR CONTROL 2, mas mesmo assim isso é muito pouco para um videogame de um ano e meio de vida. Pior ainda, um console de um ano e meio que saiu custando 600 dolares em 1993, o que é muito, muito dinheiro mesmo. Para você ter uma ideia, esse é o mesmo número de jogos foda que o fucking ATARI JAGUAR tem analisados! Isso mesmo, ATARI JAGUAR!
Com a vantagem pra Atari que o jogo bom do Jaguar (ALIEN VS PREDATOR) ainda é exclusivo do console e não um port, então parabéns aos envolvidos que conseguiram a façanha de fazer um console para competir com o maldito DO THE MATH.
Mas por que eu estou falando disso agora? Ora, porque parece que agora a coisa vai! Um jogo exclusivo do 3DO (ou que pelo menos seria pelos próximos dois anos antes de sair o port de PS1) que aponta na reta dos boxes liderando de ponta a ponta, um jogo com pinta de campeão, é hoje que sai o lendário "The Best of" do 3DO, ele vem na ponta dos dedos pra receber a bandeira quadriculada, é hoje que o 3DO não desaponta, hoje não...
... hoje sim. Hoje sim. Return Fire tinha tudo pra ser um estupendo jogo do 3DO... só que na ultima hora mijou fora do penico. E não tem nada haver com essa capa pavorosa do jogo. Bem, também tem, mas não é só isso.
Return Fire é conhecido por se um dos itens básicos na (curta) lista de “Melhores Jogos 3DO” e, junto com o já citado STAR CONTROL 2, é um dos melhores softwares já produzidos... o que não é dizer tanta coisa assim, mas o jogo não tem culpa pelas pataquadas do 3DO.
O conceito é simples: quatro veículos de combate saem de um bunker subterrâneo para destruir o maior número possível de estruturas inimigas, enquanto tentam limpar o caminho até a bandeira para que ela possa ser capturada do território amigo e trazida de volta a sua base. A jogabilidade não é particularmente nova ou inventiva, e não há montes de nuances e complexidade como seria de esperar em ofertas mais modernas, mas há uma certa elegância em quão direto e catártico o ato de dirigir (ou voar) ao redor e explodir coisas de modo que é é difícil não gostar deste jogo pelo menos um pouco.
O divertido nesse jogo é que cada veículo opera com regras levemente diferentes, atacam de formas diferentes e tem atributos diferentes, então existe bastante variedade com a qual brincar aqui. O helicoptero é o que tem maior mobilidade, mas mirar com ele é meio troncho. O tanque tem o melhor ataque e é o mais resistente, mas o mais lento. O caminhão de combate é o mais equilibrado dos três e o jipe é o mais frágil e quase não ataca, mas ele é o único que pode capturar a bandeira então sua missão no jogo é usar os outros veículos para abrir um caminho para o jipe ir voltar vivo.
Bastante inspirado em DESERT STRIKE, os veículos são equipados com uma quantidade finita de combustível e munição. Porém isso não é muito um problema porque você sempre pode voltar a base para recarregar seu combustível e munição, embora ambos possam ser encontrados em vários pontos durante as fases. Outra coisa que incentiva a exploraçaõ é que existe essencialmente um número infinito de veículos além do jipe. O jipe é o seu medido de vidas, então não existe muita punição por perder os outros veículos senão eles ficarem alguns minutos inacessíveis.
O que eu quero dizer é que Return Fire você progredir sem incontáveis tentativas e erros de recomeçar a fase mil vezes para memorizar onde está a bandeira, e isso é algo bom. É realmente surpreendente como este jogo simples é divertido. Horas de diversão podem ser derivadas de dirigir por aí explodindo coisas, e sem vidas para se preocupar com a dificuldade você tem um grande sandbox para brincar de guerrinha e abrir caminho para o jipe até a bandeira.
Esse aspecto de sandbox divertido é acentuado pela trilha sonora do jogo, que é estupelinda. O aspecto que diferencia Return Fire é o uso de música clássica para adicionar ao drama e bombástico da situação de guerra. Cada veículo tem seu próprio “tema” que toca enquanto ele está em jogo;
Para o Jipe toca “Flight of the Bumblebee” ...
Como não podia deixar de ser, “Ride of the Valkyries” para o helicóptero...
“Mars” da opera “The Planets” de Gustav Holst para o tanque ...
... e “In the Hall of the Mountain King ” para o HRSV.
Além disso, a abertura “William Tell” começa a tocar assim que a bandeira for obtida, criando uma experiência verdadeiramente majestosa e triunfante. Sério, pode parecer meio bobo, mas não há nada como ouvir todos os altos e baixos da música clássica em meio a explosões e tiros. Você fugindo com a bandeira por sua vida e o pipoco comendo, é realmente uma experiencia divertida.
Ah, e como eu poderia esquecer o glorioso "Hallelujah!" que toca após a missão concluída!
Então você tem um jogo sobre destruir coisas em um parquinho fechado (vários, na verdade são 9 mapas) com veículos diferentes e uma trilha sonora foda. O que possivelmente poderia dar errado? Porque como eu disse no começo do texto, esse é um jogo de 3DO e é claro que alguma coisa vai dar errada!
Pois bem, Return Fire tem dois problemas realmente e que sugam o prazer de jogar o jogo mais rápido que um dementador em um asilo geriátrico. O primeiro são as missões do jogo, ou mais precisamente, a ausencia delas. Em qualquer jogo single player o jogador tem estabelecidas missões que dão variedade ao jogo e explorando ao máximo todas as possibilidades da sua mecanica. DESERT STRIKE faz isso muito bem, as primeira missões são bem basiconas de só ir e destruir, mas as missões subsequentes adicionam camadas de complexidade para aproveitar mais o jogo. E nem precisa ser um jogo muito renomado pra fazer isso, BATTLETECH: A Game of Armored Combat por exemplo faz isso muito bem.
Aqui... não. A primeira missão que você tem na primeira fase (destruir prédios até achar o que tem a bandeira) é o que você fará até o fim do jogo. Não existe evolução do gameplay, não existem desafios adicionais senão que as próximas fases tem mais inimigos que causam mais dano. Isso é level design preguiçoso e, especialmente para um jogo que tem um set de ferramentas tão bom, desapontador.
Quando você destrói as tendas saem soldadinhos dela que podem ser atropelados com um som bem satisfatório, isso foi um toque legal e colabora com a sensação de ser um sandbox divertido |
Mas mesmo que isso não seja um problema pra você e você não tenha questões em repetir a mesma tarefa de novo e de novo... a camera vai ser. Isso porque esse jogo é todo em 3D e embora seja um 3D bem simples (não tem muitas coisas na tela ao mesmo tempo) foi feito de uma forma que o hardware do 3DO não aguenta o tranco. O resultado é que o framerate é todo escangalhado e isso torna o jogo muito desagradavel ao olho humano.
DEIXA DE SER CHATO, AGORA TU VAI SER DESSES QUE DIZ QUE UM JOGO NÃO TEM COMO JOGAR PORQUE NÃO TÁ A NÃO SEI QUANTOS QUADROS POR SEGUNDO E SEI LÁ O QUE MAIS?
Não é isso, Jorge. Eu concordo com você que o pessoal que fica enchendo o saco na internet porque o jogo roda numa taxa de quadros por segundo que não faz diferença ao olho humano é injogavel ao invés de roda em outra taxa de quadros por segundo. O problema aqui não é esse, e sim que a velocidade do jogo inconstante aliada ao efeito de zoom que a camera dá causa uma sensação de tontura ao jogador.
Sério cara, esse jogo parece que tá sendo filmado por um marinheiro bebado a bordo de um navio durante a pororoca, olha que coisa nojenta essas minitravadinhas com a camera indo e voltando, não dá pra aproveitar o jogo desse jeito cara. Quando pega o helicoptero que é o mais rápido dos quatro veículos então a coisa fica nojenta.
Essas balançadinhas de camera são demais pra mim aguentar uma hora disso, é claramente alguém sem experiencia com jogos 3D mexendo com a ferramenta. Tá, okay, nessa época praticamente ninguém tinha experiencia, mas isso não fez o jogo me deixar tonto como esse Return Fire fez.
Some a isso então o gameplay absolutamente primário e temos o beta do que poderia ser um jogo realmente bom, mas foi lançado de qualquer jeito antes da hora because 3DO. Você tem muitos motivos para achar que hoje seria o dia que não, que o 3DO quebra sua escrita e coloca sua marca com um grande jogo exclusivo do sistema, que hoje não... mas como diz o grande filosofo moderno Cleber Machado, hoje sim
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
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