quinta-feira, 3 de junho de 2021

[SNES] NOSFERATU (Outubro de 1994) [#697]

Em uma virada surpreendente de eventos, dessa vez a arte da capa japonesa é a mesma da capa americana, veja só você...

Nosferatu, taí uma palavra interessante. A palavra "nosferatu" é como os romenos (não confundir com os romanos) chamam vampiros, mas por qualquer motivo que seja em seu clássico de 1897 Bram Stoker, Drácula, se referiu a nosferatu como um nome próprio e dado a popularidade do livro esse sentido da palavra pegou. No original romeno não existe um cara chamado Nosferatu, mas agora é assim que se usa essa palavra.

O que significa na prática que "Nosferatu" é o nome de vampiro famoso que você usa quando não tem os direitos para o usar o nome Dracula ou Michel Temer (acho que a esse ponto ninguém mais lembra dele, mas vou manter a piada mesmo assim). Como é o caso do famoso filme de 1922, Nosferatu foi um dos primeiros filmes de terror a serem feitos, que é basicamente uma versão alemã de Dracula de baixo orçamento mas sem usar o nome do vampiro mais famoso.

Com efeito, os descendentes do Bram Stoker entraram na justiça contra esse filme por plágio e a corte alemã mandou destruir todas as cópias dele que pudessem ser encontradas - porque é assim que os alemães do começo do século rolavam, como ficou notório mais tarde.

Mas não é apenas no cinema que Nosferatu acabou virando "o Dracula quando você não tem os direitos para usar o nome famoso", nos videogames também. Em 1990 a Seta começou a trabalhar num jogo do vampirão para o Super Nintendo que ainda estava para ser lançado, porém enquanto o nome "Drácula" não é mais um problema (a legislação europeia garante propriedade intelectual apenas durante 50 anos), no Japão a série Castlevania se chama "Akumajou Dracula" e isso deu ruim.

A terrível noite em que o castelo foi atacado pela Nação da Geléia

O resultado é que essa questão legal fez o jogo ficar rolando de lá pra cá nas gavetas da Seta, que também não tinha lá esses interesses todo em fazer o jogo afinal, e o resultado foi que Nosferatu (já que não dava pra usar Dracula) acabou sendo lançado apenas em outubro de 1994 - após quatro anos de seus anuncio, sendo que as revistas de 1990 já tinham imagens dele.

Em 1990 o jogo, sem título ainda, anunciado para o futuro Super Nintendo

Mas então, como se saiu um jogo anunciado antes do Super Nintendo nascer e lançado já quando ele começava a sair de cena? É o que veremos a seguir.

Hmm, então ele sai pra se alimentar na forma de morcego apenas quando tem uma lua de sangue? Uma "Lua de Sangue" é quando a Terra faz um eclipse da Lua - a cobrindo totalmente - mas a Lua está perto da Terra que uma parte da luz passa através da atmosfera da Terra e a ilumina mesmo assim, fazendo que ela a luz tenha um tom avermelhado devido a filtragem na atmosfera.


Como você pode imaginar, a Lua estar no seu ponto mais próximo da Terra E ao mesmo tempo acontecer um eclipse - que é o que gera a "Lua de Sangue" - é um efeito incrivelmente raro. Chutando por alto, acontece uma vez a cada 2500 ciclos lunares, então se é com essa frequencia que nosso conde Nosferatu sai pra se alimentar... heh, eu não diria que essa é a maior ameaça que a raça humana já enfrentou.

EU SEI QUE VOCÊ É BASTANTE DERIVATIVO NOS SEUS TEXTOS, MAS ACHO QUE ESSA LEVOU O PRÊMIO DE SE DESVIAR DO ASSUNTO, HEIM?

Pode ser, mas agora você sabe e saber é metade da batalha!

Adicionalmente, enquanto nosso Nosfeboy não é uma grande ameaça para a raça humana como um todo, eu diria que para aquela humana em especifico ele é uma ameaça. E para quem ouviu o grito dela, eu diria que esse é o grito mais agudo da história do Super Nintendo.

Espera, como assim "toda noite"? E a coisa da Lua de Sangue? Não apenas os caras mudaram o texto de literalmente vinte segundos atrás, como agora eu vou parecer um idiota tendo explicado o que é uma blood moon apenas para isso não fazer mais parte da história! E a minha imagem, como é que fica?

DE TODAS AS COISAS QUE PODEM DENEGRIR A SUA IMAGEM NESSE BLOG, EU DIRIA QUE ESSA É A MENOR DAS SUAS PREOCUPAÇÕES...

Vá, jovem mancebo que totalmente não é o Jonathan Harker do Keanu Reeves, cavalgue pelos campos da liberdade e da esperança, adentre o covil do mal e traga justiça com seus próprios punhos diante de tamanha atrós iniquidade!

UAU, VC REALMENTE GUARDA RESSENTIMENTO DAS MENORES COISAS, HEIM?

Eis ali, ó guerreiro, o antro nefasto de iniquidade da malignidade maleficente adentre seus portões e clame sua vitória com coragem e indomita bravura!


... ou apenas caia na masmorra feito um saco de batatas curtidas, pode ser assim também.

Isso posto vamos falar do jogo em si, e para grande surpresa de todos os envolvidos (e por "todos" eu quero dizer eu mesmo), Nosferatu é... basicamente Prince of Persia, só que menos pior.

E quando eu falo "basicamente Prince of Persia" é exatamente isso que eu quero dizer, porque seu herói aqui se move da exata mesma maneira e a disposição das plataformas também é muito, muito similar ao jogo do inefável e apocriléptico Jordan Mechner.


Como eu disse, basicamente Prince of Persia.

Felizmente, entretanto, a Seta não possui em seu coração o ódio para contra a raça humana e em especial os gamemaníacos para ser capaz de produzir um verdadeiro Prince of Persia (não acho que qualquer um tenha) e é aqui que a parte do "menos pior" entra.

Em primeiro lugar, o combate é muito melhor. Claro, verdade que pode ser argumentado que realizar um autotraqueostomia utilizando nada senão um canudo do Mcdonalds e uma Agenda do Estudante Tilibra 95 seria melhor que o combate de Prince of Persia, mas Nosferatu é melhor nesse sentido.


Como dá pra ver, o combate de Nosferatu funciona basicamente como um beat'm up. Claro que é uma pergunta extremamente válida o quão funcional é um beat'm up em um jogo que responde com a velocidade e dureza dos controles de Prince of Persia... e a resposta é "não muito". "Bom" não é uma palavra que eu usaria para descrever esse jogo, tanto que eu disse apenas que ele é melhor que Prince of Persia... o que também não é tão dificil assim...

Mas hey, pelo menos temos que apreciar um homem que entra no castelo do demonio armado com nada senão seu corpo e seu talento. Existe um charme inegavel em meter o pontapé em zumbis, frankensteins, orango-tangos zumbis como na imagem acima...


... a enciclopédia Barsa voadora, eu acho...


... e, hã, o Barão Harkonnen de Duna? Okay, sempre é bom meter o tabefe em um Harkonnen quando se tem a chance, é o que eu digo.

Mas bem, o ponto é que o combate não é bom exatamente, mas ao menos não é PoP. Eu teria me divertido muito mais se tivessem feito um jogo de plataforma normal e não com os controles duros de um puzzle plataformer, mas é o que a casa oferece, fazer o que.

Quando você entra numa sala, dá pra ver os monstros que estão no corredor da onde vc veio passando - isso é um toque bem legal

A segunda coisa que esse jogo faz parecido com PoP mas "menos pior" é o level design. Lembra quando Jordna Mechner dedicou sua vida e sua existencia em prol de desenhar um jogo que cada pixel da tela é criado especificamente para causar sofrimento e dor ao jogador? Nosferatu apenas não faz isso.

O level design de Nosferatu é curioso, na verdade: ao invés de fazer um grande level que você tem que acionar alavancas e apertar botões para abrir uma porta... em algum lugar... aqui o design é bem linear na verdade. Qualquer lado que você for vai ter uma saída, não existe muito backtracking e você pode apenas ir adiante.


O que rola é que cada lado que você for sai em um sub level diferente, eu achei essa uma boa saída que não apenas evita que você fique pateteando por aí como dá até um fator replay se (sei lá por qual motivo) quiser jogar esse jogo novamente. É uma tentativa original de concertar um level design tacanho, esse crédito tem que ser dado a Seta.

Como dá pra ver, o jogo tenta o seu melhor para concertar os problemas de Prince of Persia e isso ele realmente faz. Mas a pergunta que realmente tem que ser feita é: isso é o suficiente?

    

- Solta eu ae, seu Keanu Reeves fake! Nunca te pedi nada por favor!
- Bah amigo, não vai dar, nem tenho a chave dessa cela!
- Que chave, eu acabei de ver um esmurrar um golem de ferro com as mãos!
- É, mas fica pra outra hora, valeu?

Hã, eu gostaria de poder dizer a você que sim, mas temo que não seja bom o suficiente. Não é horroroso como o jogo que o inspirou, mas bom BOOOOOM também não é.

Isso não quer dizer que o Nosferatu não tenha seus pontos positivos. Os gráficos são muito legais e embora o cenário pareça um tanto repetitivo, os visuais realmente dão um clima único e sombrio que não era tão comum assim em jogos de SNES. A animação do personagem é muito bonita (ainda que lenta), o que faz os golpes de kung fu contra monstros serem mais espetaculosos ainda. Afinal é jogo sobre dar combos em zumbis, eu posso respeitar isso.

Uma coisa que parece pequena, mas todo mundo repara nisso quando fala nesse jogo - inclusive eu: porque o jogo não te dá todos os itens do baú de uma vez ao invés de você ter que ficar apertando pra cima varias vezes pra ver se tem mais coisas nele?


É uma pena, então, que os controles não sejam tão responsivos quanto se esperava. A animação de rotoscopia é muito bonita como eu disse, mas ela não foi feita para ser usada em jogos de ação - definitivamente não em um com aspirações de beat'm up, isso é certo. 

Não apenas a lentidão de Kyle é problemática, como as escolhas de design nos controles não são boas.  Para correr, você tem que dar dois toques para frente e fazer o jogo reconhecer issoé muito mais difícil do que deveria ser. Por que não apenas fazer o “R” correr? O SNES tem seis botões no controle, esse jogo usa apenas dois.

Nos níveis posteriores, o jogo também abusa de armadilhas tipo "aha! Te peguei!" e coloca inimigos em posições que, combinadas com o controle nada estelar, tornam o jogo muito mais difícil do que deveria ser. 

Sério que vocês vão colocar uma armadilha de 1 hit kill aí numa janela de intervalo a qual eu não tenho quase nenhum controle com esses controles?

O visual dos inimigos e os detalhes são de primeira linha na maior parte, mas eu gostaria que o jogo jogasse tão bem quanto parece. Mas a falta de controle e a dificuldade insana (frequentemente pelos motivos errados) realmente atrapalham as coisas. 

Falando sério, eu queria muito gostar do Nosferatu. Eu zoo com Prince of Persia, mas eu gosto de puzzles platafomers. A ideia de um jogo de plataforma em que você tem que tomar o seu tempo e pensar antes de agir me interessa. E na superfície, parece que tem todos os ingredientes para ser uma grande gema obscura que de alguma forma passou batida. Mas então você joga e percebe porque ninguém nunca fala sobre esse jogo. 

Ganha o Prêmio "pelo menos é melhor que Prince of Persia", mas isso não quer dizer tanta coisa assim também né...

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 065


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 004


Edição 012


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 003