sábado, 12 de junho de 2021

[PC] SOLAR WINDS: THE ESCAPE (Dezembro de 1993) [#704]

 

No nosso jogo de número 700 (indo audaciosamente rumo ao milão, onde nenhum gamemaníaco jamais esteve), tiraremos um momento para falar sobre a revista Gamers.

Bem, então... a Gamers é uma revista estranha. Alias, estranha não e sim zoneada pra caralho. Eles não tem uma diagramação, claramente é um moleque que "sabe mexer com Word" que faz a diagramação com espaçamento todo errado e cores que tornam a leitura frequentemente impossível, não tem sequer uma periodicidade, internamente a revista diz que é mensal mas na pratica ela é as vezes bimestral isso quando tem uma periodicidade porque não é raro ficar quatro ou cinco meses sem lançar, e definitivamente não tem uma curadoria de jogos. Eles publicam na revista o que eles conseguirem publicar, tenham jogado ou não - como as constrangedoras matérias sobre os primeiros jogos do 3DO que claramente foram feitas apenas vendo as matérias nas revistas americanas.

Além do que eu sempre achei as capas da Gamers bem feias, eu falo mesmo

Essa farra do boi louco que qualquer coisa vale acabava desencavando algumas situações estranhas, como o caso do jogo que não era um jogo realmente: Solar Winds é um shareware. O que quer dizer que a sua distribuidora dava uma demo do jogo de graça, usualmente em um disquete distribuido em revistas, e se você gostasse podia comprar o resto. Esse modelo não foi inventado pela Id Software, numa das tantas coisa que DOOM revolucionou os videogames (no caso de Doom, as primeiras quatro fases eram distribuidas de graça).

Então esse Solar Winds: The Escape não é o jogo inteiro e sim apenas uma demo dele. O problema é que esse jogo era comercializado por uma publisher não realmente muito grande na Inglaterra, então realisticamente a única forma de adquirir a versão completa dele era ir até uma casa de cambio, comprar algumas libras esterlinas e mandar numa carta para eles. O que me parece algo bastante prático de se fazer em 1995 para uma criança brasileira, obviamente. Então a Gamers meio que publicou sobre esse jogo porque caiu na mão deles e foda-se. Porque é como a Gamers rola.


O que é ironico é que hoje a Epic é uma das publishers mais ricas do mundo e você não consegue dar meia duzia de passos sem esbarrar neles, então um jogo deles chamar atenção sobre o quão dificil era conseguir acaba constrastando muito em como as coisas são hoje.

VOCÊ ESTÁ EXAGERANDO TAMBÉM, A EPIC NÃO É TÃO POPULAR ASSIM

Ah não? Então vou deixar esse GIF do atacante da seleção campeã do mundo fazendo uma dancinha de Fortnite após marcar um gol na copa de 2018:


Pois é, e não é apenas por causa do sucesso multiplanetário de Fortnite que a Epic tem mais dinheiro do que sabe o que fazer com ele, ela também a única loja online que realisticamente consegue competir com a Steam, além de que a sua engine de gráficos (a Unreal Engine) é usada por... bem, basicamente toda indústria. Tirando alguns grandes estúdios que usam a sua própria engine, você teria muita dificuldade em encontrar um jogo que não tenha sido construído em cima da Unreal Engine.


Muita dificuldade MESMO em encontrar um jogo que não rode em cima da Unreal Engine.

Mas isso é hoje, porque em 1994 a Epic ainda não era feita de dinheiro e não tinha salões forrados por lolis calcificadas, de modo que eles vendiam seus jogos por carta mesmo. Todo mundo tem que começar de algum lugar, afinal.

Em tempo: vocês crianças que estão acostumadas com só comprar jogos no Steam ou rodar emuladores não podem começar a compreender o horror que era instalar e jogar um jogo em disquetes no DOS. O horror, eu te digo!

E, de todas as coisas, Solar Winds não é um mal começo afinal. Não dá pra julgar o jogo todo porque literalmente não tem o jogo todo nesse shareware, mas o que tem é definitivamente interessante.

A grosso modo, Solar Winds não é um jogo construído sobre uma base muito boa: ele é um jogo de navezinhas inerciais, aqueles onde sua nave tem momentum e "escorrega", não muito diferente de Asteroids ou Lovers in a Dangerous Spacetime. O que num jogo de PC de 1994 resulta num combate bem merda, na real:


E é isso basicamente. As vezes você luta com duas naves ao mesmo tempo, mas isso não muda muito que o cerne, o core do jogo é realmente bem merda.


HÃ, VOCÊ SABE QUE DESCREVEU O JOGO COMO "INTERESSANTE" E ISSO É O CONTRÁRIO DE SER INTERESSANTE, NÉ?

De fato. Só que enquanto o cerne do jogo não é lá essas Brastemp, a Epic colocou coisas que o tornam interessante. Em primeiro lugar, existe o sistema de gerenciamento de energia: ao derrotar inimigos você ganha energia, que seria tipo o XP do jogo, e você pode distribuir a energia entre os vários sistemas da nave.

A parte legal é que você pode fazer isso através de teclas de atalho que ficam na tela, então é bem fácil você redirecionar a energia para onde está precisando durante o combate, on the fly. Isso passa uma grande sensação de estar jogando algo como Star Trek onde você pode dizer "perdemos os defletores dianteiros, redirecione a energia dos escudos trazeiros!". Ou enquanto você está apenas indo de um lugar para o outro, pode redirecionar toda sua energia para os motores pra ir mais rápido e para o scan, para aumentar o alcance do seu mapa.

Então enquanto a parte do combate é de longe a menos interessante do jogo, o simulador de nave funciona bem.

Ai corre Bergueeeee

Outra coisa que funciona bem é o sistema de quests porque a história do jogo parece ser interessante. Como não é o jogo completo jamais saberemos, mas a premissa parece promissora:


Nesse universo, existem humanos habitando um sistema solar do outro lado do universo e nenhum dos humanos (nem os da Terra, nem os desse outro sistema) sabem da existencia um do outro. Essa é a história do seu herói, Jake Stone, que não apenas vai descobrir essa outra cepa de seres humanos, mas a horrível verdade de porque eles foram separados.

Que verdade horrível é essa? Como eu disse não dá pra saber pq não é o jogo completo, mas hey, vai dizer que não é uma premissa interessante para um sci-fi?

É uma pergunta válida, sabe

O desenrolar das quests também não é medíocre, saiba você. Você começa com um mercenário contratado para fazer um serviço simples: capturar ou matar um prisioneiro foragido. A partir daí isso se desenrola em uma grande conspiração em que o governo galáctico está envolvido para ocultar a terrível verdade, e você acaba se tornando inimigo publico por saber demais. É tipo Identidade Bourne, mas no espaço e sobre o grande segredo da "outra humanidade". Interessante.

O sistema do jogo também não é ruim: a galaxia é um grande sandbox em que você se orienta por cordenadas na tela. Então as quests são basicamente "vá até as coordenadas 58,47" e você tem que acelerar sua navezinha e ir até lá. O que pode levar algum tempo, e posteriormente as cordeenadas ficam tão longe que você precisa dar zoom out no mapa e usar o motor de salto para acelerar a hypervelocidade. Mais uma coisa para você brincar de capitão da sua navezinha.

Embora dê pra mexer na distribuição de energia com o mouse, é muito mais legal fazer com os botões. Toda potência a frente, senhor Sulu!

A grosso modo, esse jogo é uma versão do homem pobre de STAR CONTROL 2 e eu digo isso em um bom sentido. Uma versão mais simples de uma coisa boa ainda é uma coisa boa, só que mais simples. Então esse jogo tem uma boa história, tem um bom sistema de quests e o gerenciamento da nave é legal. Se tivesse um combate realmente bom seria um dos grandes clássicos dos videogames, mas do jeito que está... ainda é okay. Especialmente pra um jogo que era distribuido de graça, afinal.

MATÉRIA NA GAMERS
Edição 002