terça-feira, 8 de junho de 2021

[SEGA CD] KIDS ON SITE (Novembro de 1994) [#701]


Como Voltaire disse certa feita, "Se Tom Zito não existisse, ele precisaria ser inventado".

Bem, não foi exatamente isso que ele disse, mas como ele falou de alguém bem menos importante que o mago dos FMV eu tomei a liberdade de melhorar a frase dele. De qualquer forma, o ponto é que Tom Zito era o homem por trás da Digital Pictures, a empresa cuja missão na Terra era fazer com os jogos em filme interativo (full motion video, daí o nome FMV) fossem a próxima grande coisa dos videogames.

Suponho que você saiba como isso termina, tho.

Tom Zito era um homem com uma visão, e ela envolvia fazer cosplay do Spielberg

Seja como for, de longe a obra mais conhecida da DP é o seu clássico nada atemporal NIGHT TRAP (That boy will find you!), mas nem de perto é o único. Oh boy, com certeza não é. Isso porque a Sega estava completamente convencida que FMVs era a melhor forma de explorar todo o potencial do Sega CD, então continuou dando dinheiro e mais dinheiro na mão dele para produzir mais obras primas de filmes interativos. Alguns anos depois quando eles fizeram as contas e perceberam que isso não passou nem remotamente perto de dar certo, todos na Sega ficaram muito surpresos, eu te garanto.

Agora o interessante é que a saída mais óbvia que Tom Zito podia adotar era fazer jogos em FMV apenas de quick time event, a cena vai rolando e então você tem que apertar um botão na tela. Sim, ele poderia fazer isso, e muitos diriam que seria até melhor menos pior se ele o fizesse. Só que tinha um problema: Tom Zito era criativo e fazia questão de usar sua criatividade para levar o modelo do FMV a novas formulas, novos modos de tornar o jogo interativo cada vez melhor.


Aqui eu suponho que devo fazer um parentes e explicar que por criativo eu quero dizer que ele tinha muitas ideias no sentido de quantidade, não necessariamente que essas ideias eram boas. Como por exemplo a vez que ele quis fazer um jogo de luta em FMV e o resultado foi... hã... SUPREME WARRIOR.

Oh god, why...

Oh Tom Zito, why you must hurt me this way?

Porém fracassos como esse não desanimavam esse homem que era uma máquina de vomitar ideias, é de se perguntar se alguma coisa o deteria em sua cruzada pelos FMV. Provavelmente não, exceto talvez a morte ou a falência, o que viesse primeiro. E enquanto nenhum desses dois veio, ele continuou fazendo seus jogos em FMV e eis aqui um dos exemplos mais estranhos do genero: Kids on Site.

E quando eu digo que KoS é um jogo estranho, eu não estou falando "para os padrões de jogos em FMV", eu estou falando para os padrões dos videogames em geral e incluso nisso as bizarrices que os japoneses fazem apenas pq sim. Mas o que é Kids on Site?

Bem, como vou explicar... então, é basicamente, hã... um simulador de uma criança em um canteiro de obras. Não, é sério, é isso. Esse é o jogo.

 

Sabe quando você é criança e vê aquelas máquinas enormes no canteiro de construção e acha que seria muito legal destruir coisas com uma escavadeira ou uma bola de demolição? Pois é, o jogo é isso, você é uma criança que assume o controle de maquinário pesado e destrói coisas.

O que,colocando dessa forma, nem parece uma ideia tão ruim assim para um jogo. Destruir coisas é legal, nós gostamos de destruir coisas e verdade seja dita, a imensa maioria de nós não possui um rolo compressor a disposição para exercitar essa paixão reprimida por nossas incompreensivas mães.

A mecanica do jogo é bastante simples dado que esse é um jogo destinado a crianças em idade pré-escolar: tem três botões na tela. B faz a ação daquela tela, A e C trocam de tela. O objetivo do jogo é igualmente simples: utilize a tela do seu maquinário três vezes para concluí-la. Então com a patrola por exemplo você tem que empurrar uma pilha de coisas parada três vezes, bastante simples.

O interessante é que explorar o jogo é, para minha grande surpresa, interessante. Porque cada equipamento tem três ou quatro telas, em uma delas você faz a utilização "séria" do objeto como passar o rolo compressor para achatar asfalto por exemplo, mas se você usar as outras telas um videozinho interessante acontece.

Quando eu digo "interessante", eu não estou falando ironicamente: os caras realmente foram até um canteiro de obras e conseguiram equipamento de construção pesado para fazer coisas realmente estúpidas com eles como usar uma bola de demolição pra jogar boliche, ou usar um rolo compressor para esmagar frutas. Ah vai, não existe mal humor no mundo que resista a ver vinte melancias sendo esmagadas por um rolo compressor e isso é um fato científico.

E sabe, essa na real é a graça do jogo, você pode brincar com os equipamentos e ver que coisas estúpidas eles vão fazer a seguir. O melhor é que o jogo tem uma boa noção do que está tentando atingir, e as atuações são de acordo. Kids on Site parece um programa infantil para crianças nessa idade pré-escolar, e eu não digo isso de uma forma ruim. As atuações são idiotas e corny, mas idiotas e corny num sentido bom, como se fosse um programa da TV Cultura ou algo do tipo.

Quer dizer, os dois caras que te apresentam o equipamento são Dizzy e Nuts, e você vai ouvir a piada "i'm nuts/sure you are, pal" mais vezes do que poderá contar, mas então o jogo deixa você sacanear com eles e isso realmente entretem. Oh Dizzy e Nuts, que coisa idiota vocês farão agora? Oh vocês, heim?

Em geral, o Kids on Site parece um programa infantil que você veria sábado de manhã no Discovery Kids. O humor é pastelão e, às vezes, engraçado de verdade. Bertha e Dizzy são personagens de uma nota só, mas divertidos pelo que são e exagerados como só a televisão infantil pode ser e Nuts é quem faz o escada nas piadas de forma bastante competente. O que estou tentando dizer é que pelo que eles são, a atuação e os personagens funcionam.

A qualidade do vídeo na versão do Mega CD é surpreendentemente decente. Como os personagens vestem roupas de alta visibilidade muito brilhantes e os adereços e máquinas também são pintados em cores brilhantes, isso significa que eles aparecem bem contra o marrom sujo do canteiro de obras. 

Em geral, as Crianças no Canteiro são interessantes. Não sei se é “bom”, esse é o tipo de coisa que não se analisa como um jogo normal. O jogo foi feito para crianças e mostra pela apresentação, então eu acho que o jogo teve sucesso no que se propõe a fazer, já que o humor pastelão é perfeito para crianças. Minha recomendação pessoal é assistir da mesma forma que você pode desfrutaria de um filme B . Você sabe que não é muito bom, você sabe que é brega e sabe que tem momentos toscos. Mas o charme é justamente esse.

MATÉRIA NA GAMERS
Edição 002