Eis aqui um fato interessante para vocês, e um sobre o qual eu tenho pensado muito recentemente: até hoje doze pessoas já pisaram na Lua. A Lua cara, aquele pedrão voadora que você olha no céu, sabe? Então doze pessoas já subiram num foguetinho e piiiiiiiiiiiiiu vuuuuush foram até lá. E voltaram. Isso não é a coisa mais incrível que alguém pode fazer? Você olhar pra Lua e saber que alguém dando rolê por lá?
Pois é, doze pessoas. E eu... eu não sou uma dessas doze pessoas. Ao invés disso eu estou aqui, falando sobre a franquia "3 Ninjas". Eu sinto que falhei na vida, sabe?
Ai G-ZuiZ, esse vai ser um dia daqueles, não vai? |
De qualquer maneira, então... em 1992 as duas coisas mais quentes possíveis no cinema infantil eram "HOME ALONE" e "TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES". As crianças, eu incluso, perdiam seus marmores com essas porcarias e é fácil entender o porque. O que é mais fácil ainda é imaginar que alguém, em algum momento, pensou "hmm, e se a gente juntasse Tartarugas Ninja com Esqueceram de Mim para fazer mais dinheiro do que existem drogas no mundo para se gastar com elas?". O resultado dessa linha de pensamento foi o filme "3 Ninjas".
CARA, EU ACHO QUE VOCÊ ESTÁ GENERALIZANDO. UM FILME É UM PRODUTO COMPLEXO REALIZADO POR UMA CONCEPÇÃO ARTISTICA PROFUNDA, NÃO É SIMPLESMENTE ALGUÉM CHEGAR NA PREGUIÇA E DIZER "SE X E Y FAZ SUCESSO, E SE A GENTE JUNTASSE OS DOIS NUM FILME SÓ DE QUALQUER JEITO?"
Ah, Jorge, mas essa não é a minha opinião, não sou eu que estou dizendo que o filme foi feito por esse motivo. O próprio filme está dizendo isso na sua capa:
Eu não consegui ver isso e não lembrar do episódio de South Park que os meninos brincam com armas ninja |
O primeiro estágio da irritação é o espasmo, quando seu rosto se contrai involuntariamente em resposta a estímulos negativos. Em seguida, vem o que se chama de "slow burn", onde sua paciencia vai se esfacelando à medida que o grinding do desagradável parece interminável. Em terceiro lugar, é claro, está o tremor, pois todo o seu corpo emite um sinal fisico de alerta aquecendo seus músculos para correr ou lugar (é por isso também que as pessoas tremem quando estão assustadas, alias). E por último e quase no espectro final da sua alma vem o gemido, quando o puro desgosto da experiência o atinge e você gera espontaneamente uma grande explosão de agonia animal que deve ter suas origens nas partes mais primitivas do seu cérebro.
Como eu sei de tudo isso? Ora, eu assisti "3 Ninjas Kick Back", um verdadeiro simpósio sobre irritação. Só de pensar nesse filme me irrita profundamente.
Barulhento, imaturo, ofensivo, preguiçoso e irritante como o inferno, são palavras que eu usaria para descrever esse filme. Eu sei que não dá pra esperar muito de um filme infantil dos anos 90, mas puta que me pariu em tungalacatungatungatá, minhas expectativas eram baixas e ainda sim eu saí chocado da experiencia de ver esse filme. "Três Ninjas Contra Atacam" é uma dor de cabeça alimentada por um reator nuclear. Se você tem 6 anos de idade, talvez consiga superar ter assistido esse filme, mas suspeito que a maioria das crianças de 6 anos vai achar isso tão traumático quanto seus pais. Na verdade, pode ser a única coisa em que uma criança de 6 anos de idade concorde com seus pais.
Mas vamos começar do começo: os três Ninjas são três crianças tristes de subúrbio de Los Angeles que, por meio da magia de dublês ruins, parecem ter adquirido habilidades de ninjitsu de seu avô japonês que claramente está ali apenas porque Pat Morita recusou o papel. A sabedoria do Sr. Miyagi é realmente infinda.
Seja como for, temos três crianças aqui cada uma com um defining trait: o mais velho tá com a piroca em chamas e se apaixona por qualquer coisa vagamente feminina que lhe dê 0,5 segundos de atenção... o que pode ou não ser o personagem mais relacionavel desse filme, porque nessa idade é realmente... enfim, eu ouvi dizer... o do meio que é pra ser o hot head de atitude e o mais novo que... hã, imagine se tentassem fundir o Maccauly Culkin, o Pestinha e a Magali em um personage só, só que escrito por alguém que vagamente foi alfabetizado. E que quer desesperadamente emplacar um bordão a todo custo porque a centopeia humana de executivos que gerou esse filme ouviu dizer que crianças adoram bordões então um será socado goela abaixo do espectador a cada numero primo de minutos. Porque é assim que esse filme rola.
Enfim, temos então dois protagonistas esquecíveis e um que invoca a irá de Satanás sobre os homens de boa vontade, e o grande drama de suas vidas é um jogo do bairro de baseball contra um time de bullyies. Ok, eu sei que esse filme não foi feito para ninguém se importar, mas eu preciso perguntar mesmo assim: como que essas crianças que supostamente manjam do ninjutsu (alias "ninjutsu" não, de acordo com esse filme eles aprendem "ninja", Naruto me ensinou a falar errado olha só)... ao menos perdem tempo com tipos assim?
Eu não estou dizendo que você precisa hospitalizar o cara nem, como diz nosso irritante protagonista, "murdelize" ninguém. Apenas um pouco da exibição de skills NINDJÁ já botaria bullyies americanos gordinhos pra correr. Mas enfim, se acostume ao filme esquecer que eles são "NINDJÁS" quando é conveniente porque esse filme foi feito com mais preguiça que o cara que inventou a bandeira do Japão (sério, as cenas da menina que é uma super NINDJÁ tendo a cordenação motora de um molusco reumático ultrapassam o constrangimento em níveis que sequer existem palavras para descreve-la)
Enfim, o fiapo de trama gira em torno da configuração mais idiota: um industrial japonês cobiça a adaga de ouro do vovô, que dizem desbloquear um tesouro secreto. Então, é claro, sendo um milionário japonês ele contrata capangas... o que? Como é que é? Ele manda o seu sobrinho incompetenete que tem uma banda de rock grunge de terceira categoria e uma peruca muito mal colocada?
Aaah sim, entendi, o filme precisa de bandidos patetas para fazer as cenas de Esqueceram de Mim e eu pensando que eles iriam tentar justificar isso dentro da realidade do filme. Que cabeça a minha, por um momento eu esqueci que estava assistindo Três Ninjas. Por um momento eu fui feliz.
Enquanto isso, o vovô decidiu ir ao Japão para apresentar a adaga lendária do tesouro infinito... como prêmio de um torneio de ninjitsu infantil... sério filme, é com isso que a gente vai continuar mesmo? Tá bom... mas ele pegou a bolsa errada; então os 3 Ninjas vão atrás dele com a bolsa certa com os três ladrões logo atrás. Ou o contrário, sei lá, estou com danos cerebrais irreversíveis após as cenas hediondas que tentaram copiar Esqueceram de Mim quando as crianças "defendem a casa" dos bandidos incompetentes.
Daí pra frente o filme é basicamente uma plataforma para os três moleques serem crianças burras ou insuportaveis, dependendo do que a cena precisa, enquanto dublês mascarados entram para cenas não convincentes de artes marciais. Tá, vai, as acrobacias marciais dos dublês são minimamente interessantes, nesse filme é um exercicio de nada levando a lugar nenhum.
Porém o que mais irrita mesmo é o quando o filme quer que essas crianças "aconteçam". A câmera adora dar closes na "fofura" das crianças, com direito a close fechado para o bordão, e te faz desejar profundamente que espancar a cara de crianças não fosse apenas permitido por lei, te faz desejar que fosse um fucking esporte olímpico.
Eu achava que a "atuação" do Jake Loyd como o pequeno Anakin Skywalker uma coisa irritante, mas puta que o pariu . Se hoje o pequeno Evan Bonifant não está vivendo como um pet humano para uma dominatrix russa para sustentar seu vicio em crack, eu jamais poderei ser feliz novamente.
Porém esse filme consegue sim ter uma coisa mais irritante que o jovem Tum-Tum querendo emplacar um bordão a pau e corda, eu não achava que isso era sequer fisicamente possivel mas tem: a coisa mais irritante em "3 Ninjas Kick Back" é seu etnocentrismo doentio. Mais da metade do filme se passa no Japão e como bom weeaboo safado que sou pensei, em minha inocencia, que pelo menos eu teria algo pra ver no filme. Hey, são cenas filmadas nas ruas do Japão e isso sempre é legal, eu sou um otaku simples de gostos simples, sabe?
Mas não. Esse filme é inimigo declarado da felicidade, é onde a alegria vai para morrer. O filme parece que foi escrito por um comediante brasileiro dos anos 90 que parece que tudo que sabe do Japão é que eles se desculpam muito e falam coisas como "bing bong xing ping". A qualquer momento eu esperava ver alguém vendendo um "pastel de flango".
Olha lá um Japão, vamos apontar e rir! |
Porque os japoneses são retratados como um bando de incompetentes burros, que são facilmente enganados e superados pelas gloriosas e infinitamente superiores crianças brancas americanas. Oh, o que seria do mundo sem a grande e poderosa America para vence-la em sua própria cultura, o quão sorte temos de algo tão superior assim andar entre nós!
Sim, de fato como sobreviveriam os burrões japoneses onde seus ninjas treinados por uma vida inteira são derrotados com facilidade por crianças cujo maior problema na vida é um bully gordo que come feijão e solta peidos, porque é o que gordos fazem todo mundo sabe disso.
Enfim, esse é um filme infinitamente preguiçoso que parece ter sido feito como parte de um estudo cientifico para determinar o quão pouco esforço você pode colocar em um filme para crianças americanas antes que elas iniciem uma guerra civil.
Na versão de SNES vc tem a opção de jogar com um menino que tem cara de Ricardo, o Ferrugem ou o Chucky |
A resposta é, saiba você, bem pouco.
E sabe o que um filme ruim e preguiçoso pede? Ora, é claro que sabe! Um jogo igualmente ruim e preguiçoso! Claro que sim, como não? Pense no seguinte: esse filme é tão lame e tão preguiçoso que a Ocean não se dignou a fazer um jogo dele. Esse jogo NÃO é feito pela Ocean porque 3 Ninjas Kick Back foi rejeitado pela fodenda Ocean.
Eu vou te dar um momento para absorver o peso dessas palavras.
MAS ESPERA, O JOGO NÃO SER FEITO PELA OCEAN É UMA COISA BOA! PODE SER QUE ESSE JOGO SEJA BOM AFINAL!
Pode. E seria, não fosse que quem assumiu o rojão foi a Malibu Interactive. Você sabe, a empresa por detrás de jóias da humanidade como TIME TRAX e CLIFFHANGER. Caso você tenha se perguntado o que acontece com os filmes que não são bons o bastante nem para a Ocean, bem é aqui que eles vem parar. Malibu Interactive.
Então a pergunta que tem que ser feita é: o quão ruim esse jogo realmente é? A resposta é bem simples, na verdade:
Essa é a primeira tela da primeira fase. Sim, esse é um DAQUELES jogos. É.
Veja, a boa notícia é que no final de 1994 os hardwares da então geração vigente de consoles era conhecido o suficiente para que mesmo as empresas mais sarnentas, pestilentas, arruaceiras, gato polares, Coy do mercado pudessem fazer jogos minimamente funcionais. Como esse 3NKB, por exemplo, os controles funcionam decentemente, a hit detection é okay, o jogo em si mesmo funciona.
A noticia não tão boa é que isso obrigou os filhos da puta a serem criativos para fazer jogos ruins. E os miseraveis eram muito criativos, tipo colocar um obstáculo de 1-hit kill na primeira tela do jogo. Prepare-se, porque daí pra frente a coisa não melhora e eu não estou fucking brincando:
Corda meramente cenográfica pra não cair num poço de espinho? Temos! |
Esse é o pior problema desse jogo, o ódio no coração que ele tem contra o jogador fazendo com que ele seja um DAQUELES jogos. Os controles são okay, o level design é okay, mas a dificuldade é uma coisa nível holy momoli caneloni voador, qual a necessidade disso?
Mesmo o jogo para dois jogadores funciona decentemente aqui, o que não é algo que você poderia tomar por garantido naquela época. Como os bonecos são pequenos na tela, tem espaço suficiente para manobrar e evita na maior parte das vezes o problema de "faltar tela". Verdade que em algumas ocasiões os dois jogadores tem que pular juntos, mas não é algo tão comum assim.
AH C'MON!!! |
O problema do coop, mais uma vez, é a porra da dificuldade porque se UM jogador morrer então a fase volta pro último checkpoint. Pois é, alguma mente BRILHANTE DO CARALHO olhou para BATTLETOADS e pensou "hmm, esse jogo tem um dos piores cooperativos da história dos videogames, claro que vamos botar isso nesse jogo!"
ELES. QUEREM. ME. ENLOUQUECER.
É isso. Sério, não tem outra explicação. A indústria dos videogames vive e respira unicamente em função de cumprir a agenda de destruir para com a minha (frágil) sanidade, só isso explica essas escolhas. Porque me diz qual é a dificuldade de respawnar a porra do boneco só perdendo uma vida, ou se isso é realmente importante pra vcs então deixa o jogador fora até o próximo checkpoint mas não reinicia a fase porque um dos dois jogadores morreu!
ELES!!! QUEREM!!! ME!!! ENLOUQUECER!!!
Aff, respira... calma... então, visualmente, O Chute pra Trás de 3 Ninjas é abaixo da média mesmo para a época. Os personagens não apenas parecem todos iguais com apenas a paleta trocada e com alguma diferença de altura, como são pequenos e desinteressantes de se olhar. Se você estiver jogando a versão de Mega Drive/Sega CD com sua capacidade de exibir tipo umas 8 cores na tela ao mesmo tempo então... meua migo. Esse jogo saiu em 1994, mas você facilmente o confundiria com o um jogo da primeira leva do Mega Drive, como se tivesse saído em 1989.
Pra vc ter uma ideia da mediocridade absurda desse jogo, ele foi distribuido pela Sony Imagesoft e em momento algum ela sequer cogitou a possibilidade de portar essa bomba para o seu nascente Playstation. Acabar com a reputação dos concorrentes entulhando sua biblioteca com tralhas como esse para saturar o publico e ainda ganhar uns trocos com isso, agora isso sim foi uma jogada de mestre - ainda que um tanto cruel.
Mas o que realmente dói disso tudo é que esse jogo não precisava ser medíocre desse jeito. De verdade não precisava. Até porque ver o filme já é punição o suficiente.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 080