terça-feira, 14 de junho de 2022

[#907][PS1/SAT] SKELETON WARRIORS [Abril de 1996]

Frequentemente eu falo nesse blog sobre cartoons, afinal a conexão entre cartoons e videogames é bastante recorrente, e por essa razão frequentemente eu digo aqui que se tem algo pelo qual eu não tenho absolutamente amor nessa vida são os cartoons dos anos 80.

Felizmente os tempos mudaram e a partir dos anos 90 alguns criadores (não todos) passaram a tentar contar histórias de verdade, com personagens de verdade e propositos narrativos de verdade - você sabe, o que é mais legal do que apenas um comercial de brinquedo de meia hora onde a história é inexistente e os personagens não são mais complexos do que os bonecos de plástico o qual tentam vender.


Isso sendo dito, porém, não é como se com a passagem da decada os tiozões que faziam cartoon nos anos 80 simplesmente se liquefizeram com a virada da decada. Assim sendo, em 1994 o produtor Gary Goddard pensou: "as crianças não mudaram tanto assim, aposto que fazer um He-Man mais hardcore ia vender que nem chuchu na serra..."

VOCÊ SABE QUE A EXPRESSÃO NÃO É ESSA, NÉ?

Diz isso para o Gary! Seja como for, caso você alguma vez na sua vida se perguntou como seria He-Man refeito na era ATITUDE SEU COROA dos anos 90... é essencialmente Skeleton Warriors. Senão vejamos: existe um vilão esquelético que fala engraçado e é cartunescamente maligno (mas aquela maldade inofensiva dos anos 80, não é como se ele realmente cometesse alguma atrocidade), auxiliado por toda sorte de capangas exóticos e tão paspalhos quanto.


Do lado dos bonzinhos, temos o jovem principe que é um banana, o guerreiro estóico super sério da justiça (que em He-Man são duas faces do mesmo personagem, mas aqui são dois personagens separados), a mulher guerreira ruiva que tá ali só pra não dizer que não tem nenhuma mulher na história mas não realmente ganha nenhum papel importante e o mentor tiozão que cuida da parte de logistica e tecnologia (que em He-Man literalmente se chama Mentor, e aqui ele é literalmente tio dos garotos).

Alias falando em tecnologia, a história também se passa em um mundo de fantasia porém com tecnologia avançada, mas não avançada a ponto de realmente poder resolver algum problema. Como eu disse, é literalmente He-Man refeito nos anos 90.

E O QUE TEM DE ANOS 90 NISSO?

Bem, tem que os inimigos aqui são CAVEIRAS DARKI TREVOSAS DUMAUUUUUU because anos 90. O que, eu vou ser sincero com vocês, nisso eles acertaram: o visual dos personagens parece saído de uma capa do Iron Maiden e é realmente legal. Então uma ideia boa eles tiveram... que veio com um preço. 

A Teela ficou full pistola, justificadamente, pelo Mentor não ter dado mamilos perfurantes pra ela também

O que isso significa é que uma ideia simples e atraente - esqueletos maneiros vestindo roupas engraçadas e carregando armas - é enfeitado com uma história de fundo apenas o suficiente para justificar um episódio de cartoon e personagens com biografias preenchidas com grandes doses de encheção de linguiça, piadas sarcásticas e traços de personalidade provavelmente escritos em negrito.

O resultado disso é uma série que demonstra desconhecer a palavra "meio-termo", onde  tudo é levado excessivamente a sério, pingando aquela energia EXTREMA dos anos noventa, ao mesmo tempo que também é incrivelmente pateta, com o lado comercial para vender brinquedos se intrometendo no enredo sem a menor vergonha.

Só porque você é um overlord esqueleto do mal que odeia o bem que vc não pode fazer conferencias de imprensa, né

Como estabelecido no primeiro episódio (que tem quatro escritores creditados, sempre um bom sinal né?), a série segue as dificuldades dos irmãos Steele, a família real de Luminicty. Eles vivem no tipo de mundo onde a maioria das pessoas se veste com túnicas pseudo-medievais, mas estão em uma gigantesca cidade futurista com carros voadores e televisão (em um ponto, eles mostram uma guilhotina a laser cujo design eu não pude nem remotamente começar a compreender). 

O mais novo dos três irmãos reais, Joshua, é principezinho mimado que está full putinho pq o rei morreu e o seu irmão mais velho será o novo regente e não ele. O principezinho mimado então é enganado pelo Barão Dark, que com esse nome obviamente não tem como ser um cara mau, para lhe dar acesso à principal fonte de energia da cidade num esquema que faria Joshua ser rei... de alguma forma. 

"Peguem nossas armas e as deixem mais... esqueléticas!"

Na confusão o Cristal Lightstar é dividido ao meio na luta entre Dark e o irmão mais velho, Justin. Metade do cristal dá superpoderes ao nosso trio de heróis, enquanto a metade de Dark o transforma em um esqueleto vivo coberto de pequenas caveiras – é bastante óbvio quem se deu bem nessa história.  

Dark passa a usar seu poder de esqueleto - isso é uma coisa agora - para transformar as pessoas de coração mau em em sacos de ossos para que eles possam começar uma campanha de conquista contra Luminicity, enquanto Justin e sua turma se unem ao tio Ursak, especialista em tecnologia, que aparentemente morava em uma cabana no meio do nada mas isso não o impediu de ter todos os recursos disponíveis para construir supercomputadores e torres de mísseis para dar a resistencia material para lutar também, agora sob o apelido de Legião da Luz. 

Enfim, é o velho formato de time de mocinhos versus time de bandidos, a espinha dorsal de tantos desenhos animados ruins baseados em brinquedos.

Essas capas alternativas dos discos do Iron Maiden estão cada vez mais loucas

Claro, esta configuração também demonstra totalmente a falha central com a ideia: que criança iria querer os brinquedos da Legião da Luz, quando a coisa toda é chamada de Guerreiros Esqueletos? As crianças estão aqui por causa dos malditos guerreiros que são esqueletos, não alguns idiotas dos anos 90 com rabo de cavalo com uma espada, ou um cara barbudo de meia-idade usando equipamento de lasertag. 

Eles deviam ter ido full-Transformers, com um time de de esqueletos lutando com outro time de esqueletos. Eu não posso acreditar quantas vezes os vendedores de brinquedos cometeram o mesmo erro! Ninguém gosta ou se importa com os personagens humanos normais nessas coisas!

Isso é particularmente verdade nesse cartoon, pq os personagens humanos variam entre o esquecível e o "tomara que uma bigorna caia nesse desgraçado". Quando os irmãos reais ganham superpoderes, o que eles conseguem é bem básico e desinteressante (mãos de laser! Vôo! E é isso...). O único que ganha poderes legais é Justin, que pode se transportar através das sombras mas por causa de sua traição se torna um zumbi de aparência ressecada, o elo perdido entre o homem e o homem-esqueleto. 

Os heróis tem poderes genéricos e mal animados, ainda por cima

Quando eles vão ver seu tio em sua cabana G.I. Joe, ele imediatamente entrega aos três seus trajes mais brinquedologicos do nada – que por algum motivo ele já tinha pronto. Cada um de seus uniformes feito para vender brinquedos tem um tema de esqueleto (incluindo, no caso de Justin e Joshua, um crânio no peito com pontas saindo das órbitas oculares na altura dos mamilos), o que faz sentido ao fazer brinquedos, mas por que eles parecem assim no programa? É para intimidar os esqueletos? 

Esse episódio também termina com eles se dando mais nomes de super-heróis sem nenhuma razão em particular, com Joshua se tornando "Grimskull", que é a coisa mais anos 90 ever, e que a cada duas falas lembra que ele precisa se redimir do que fez. O que mostra o quão pode dar errado misturar um comercial de brinquedos com uma narrativa que se leva se muito a sério.

O que nos leva ao Barão Dark e seus Skeleton Warriors do título. Apesar de serem tratados como uma séria ameaça na batalha do bem contra o mal, eles com certeza parecem tudo menos ameaçadores. Sério, eles não conseguem andar por aí em suas motocicletas voadoras por mais de cinco minutos sem bater ou explodir, ou ser atingido por um laser ou ter uma pedra atirada neles. O que acontece é que como eles são esqueletos eles podem ser desmontados e se remontar sem danos, então o cartoon adora fazer isso com eles. O que faz sentido para pegar leve com a violencia because mães desocupadas da América, mas na prática só faz com que os vilões pareçam patetas inofensivos.

Um dos problemas dos heróis é que os vilões não podem ser mortos. Tá, mas... eles são explodidos e se remontam com tanta frequencia que você não tem como não se perguntar então pq os heróis simplesmente não pegam a cabeça dos esqueletos e guardam numa caixa ou algo assim, sei lá. Pronto, problema resolvido.

Todos os vilões são igualmente incompetentes e patetas em todos os aspectos (mesmo a senhora-esqueleto que usa um peitoral para que você saiba que ela deveria ser... atraente?). Até o próprio Barão Dark, que é um esqueleto coberto de caveiras, consegue minar sua própria aparência intimidadora. É muito estranho ter vilões tão patetas assim pq os mocinhos por outro lado se levam ultra a sério e o show tenta se vender como “sombrio” – eu adoro essa estética dos anos noventa de “sombras em tudo, independentemente de qual seja a fonte de iluminação”.

Verdade seja dita, as patetadas dos dos esqueletos pelo menos são mais interessantes do que os protagonistas e seus dramas pessoais, que são puro material para curar insonia de tão chatos. Ainda sim, parece que eles tentaram juntar dois cartoons inteiramente diferentes em um só.

Oh não, esqueletos voadores animados porcamente na China,  minha única fraqueza!

Skeleton Warriors parece que tenta ser como os cartoons mais dramáticos da época, como X-MEN ou THE ADVENTURES OF BATMAN & ROBIN, mas ao mesmo tempo tenta ser um cartoon para vender brinquedo dos anos 80. Para cada vez que nossos heróis gritam “Nããão!” em alguma perda devastadora, ou um crânio em CGI filosofa sobre a natureza da guerra ou do sacrifício, há uma piada ruim ou um design bobo exigido pela empresa de brinquedos para não deixar vc esquecer que essa coisa é só um comercial de brinquedos. 

Tem uma cena muito iconica onde o herói jura solenemente que vingará a morte do seu pai e todo o sofrimento e perda causa pelo Barão Dark, ao passo que o Barão Dark apenas responde "uhuu, estou vendo vocêeee!". Skeleton Warriors, senhoras e senhores.

Pouco surpreendentemente, Skeleton Warriors teve apenas 13 episódios, porém o que É surpreendente é que é um cartoon que tem final. Ou seja, mesmo seus criadores não tavam botando muita fé que isso ia colar.

E lá vem o jogo bosta, oh noes!

Mas bem, e que produto comercial dos anos 90 estaria realmente completo sem um jogo associado, né? A diferença é que agora o jogo é para Saturn e PS1 ao invés de Super Nintendo e Mega Drive, sinal dos tempos. 

Verdade seja dita, com gráficos pré-renderizados e uma boa trilha sonora com um ar gótico, Skeleton Warriors é melhor como jogo do que como desenho animado. O que não quer dizer muita coisa realmente, mas né?

A coisa mais notável sobre o jogo de Skeleton Warriors são realmente seus gráficos, o jogo faz um bom uso do poder dos 32 bits para fazer uma animação suave aos moldes de DONKEY KONG COUNTRY. Quando os esqueletos são destruídos, seus ossos se espalham pela tela, deixando um cristal onde antes estava o esqueleto. Se você não conseguir esse cristal a tempo, o esqueleto se regenera e volta a lutar, se você pegar o cristal, cada osso explode independentemente de onde quer que esteja na tela. É um efeito muito bonito, isso precisa ser dito.

Depois de se acostumar com os gráficos, a próxima coisa que você nota é a música. Sombria e agourenta, a música realmente puxa você para o jogo - Skeleton Warriors realmente aproveita bem o som que o CD pode oferecer. Os efeitos sonoros, por outro lado, são péssimos e precisavam de mais uma mão de trabalho. Tipo quando você aperta o botão de bloqueio, um som metálico é emitido mesmo se você não estiver bloqueando nada. 


EU REPAREI QUE VOCÊ ESTÁ GASTANDO UM BOM TEMPO FALANDO DOS ASPECTOS TECNICOS E ISSO É ALGO QUE VOCÊ NÃO FAZ TANTO NAS REVIEWS. SERIA PQ TEM ALGUM PROBLEMA COM O GAMEPLAY?

Olha, antes fosse dizer que tem algo de errado com o gameplay pq pelo menos eu teria algo pra falar a respeito. Você bate e anda em linha reta... e é isso o jogo. Não é como se a detecção de colisão, os controles respondessem mal ou o alcance do seu ataque fosse ruim, apenas que a coisa toda é chata. Apenas isso, é um jogo chato. Chop chop chop, anda, chop chop chop. E é isso.

É um jogo absolutamente medíocre e esquecível... para um cartoon medíocre e esquecível. Colocando dessa forma, tá, é justo.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES

Edição 104 (Junho de 1996)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 029 (Agosto de 1996)

MATÉRIA NA GAMERS
Edição 010 (Agosto de 1996)