Eu levei apenas 26 anos para perceber que essa capa é uma paródia da capa de Doom, eu realmente não sou o biscoitinho mais esperto do pacote...
A esse ponto eu suponho que não realmente preciso explicar DOOM, porque esse jogo é tão citado nas reviews (é o mais citado, na verdade), que não seria exagero dizer que mesmo três anos após o seu lançamento existiam apenas dois jogos de tiro em primeira pessoa: DOOM e qualquer jogo que não era DOOM.
O que é infinitamente merecido, a mistura de level design genial com rock'n roll, meter tiro de escopeta na fuça de demonios no inferno e uma tecnologia que fazia mágica em fazer um jogo 2D que parece 3D é uma fodenda obra-prima. Eu acho isso, e meio que todo mundo sabe disso.
Acho que todos podemos concordar que o marketing desse jogo não exatamente envelheceu bem... entre muitas outras coisas...
E também é um fato bastante documentado na história desse blog que DOOM 2: Hell on Earth é... desapontante. A ideia da batalha agora se passar na Terra, no meio de cidades ao invés de dungeons é deveras interessante... e meio que não é o que acontece. DOOM 2: Hell on Earth é apenas DOOM com outras fases. Mais um pacote de expansão do que um jogo verdadeiramente novo, infelizmente.
O que eu já desconfiava na época e confirmei agora, entretanto, é que DOOM de fato teve sim uma continuação. Um jogo que pega seu legado, seu espirito, sua mecanica e eleva a um novo patamar - de fato, tirando tudo que dá pra ser tirado dessa engine tanto conceitualmente quanto tecnicamente. Só que esse jogo não foi feito pela ID Software, e sim pela até então insignificante 3D Realms que só tinha uns joguinhos de plataforma meio bosta pra DOS em seu currículo.
A coisa mais importante sobre um jogo começa antes de você jogar ele. É o que eu sempre digo aqui: o jogo que você joga na sua cabeça é mais importante do que o jogo que você joga com seus dedos. O que quer dizer que um jogo tem que ser legal, tem que soar legal antes mesmo que você jogue ele. Claro, por "legal" eu não estou dizendo "wow, radical dude" e sim acho que "interessante" seria mais a palavra.
Por exemplo, atualmente eu estou jogando Hardspace: Shipbreaker que é sobre ser um estivador espacial desmontando naves em órbita. Enquanto esse conceito não é anos 90 radical, é deveras interessante pra mim essa pega mais relax de apenas executar uma tarefa manual satisfatória.
Isso sendo dito, Duke Nukem 3D investe pesado em se vender pelo seu conceito: você não é apenas um herói aleatório atirando em aliens que invadiram a Terra. Não, você é fucking Duke Nukem, o macho alfa mais alfa que jamais alfalizou em toda história da macholandia. Tudo que você faz é desnecessariamente máscula de uma forma estúpida a niveis nunca antes machoziados antes.
Dukão da massa nunca passa diante de um espelho, por exemplo, sem se olhar e dizer com sua voz de alfa predador: "Damn, i'm looking good". Ou atirar em aliens sem dizer uma frase de efeito dos anos 80 - e por isso eu quero dizer literalmente frases dos anos 80, ele fala muitas frases tiradas de machosidades do cinema.
Claro, é necessário observar que a percepção da persona machovska de Duke Nukem mudou ao longo dos anos. Nos anos 90, nós achavamos aquilo genuinamente cool. Uau, eu quero ser como esse cara, ser o machão mais machador ever e ganhar todas as babes. Não era ironico, era uma admiração genuína do quão aquilo era legal.
Hoje, Duke Nukem ainda é interessante... mas por motivos totalmente diferentes. Ele parece engraçado devido ao fato dele não ter a minima noção do quão ridiculo ele é. É fascinante ver o quão tosco Dukão consegue ser e ainda achar que está abafando. Enquanto FULLTHROTTLE consegue fazer isso de uma forma legal, sendo um exercicio de masculinidade mas evitando ser toxico a respeito disso, Duke Nukem vai com os dois pés pra lá da jaca e se torna fascinante em toda sua falta de noção.
Todo FPS tem um ataque desarmado pra quando sua munição termina, como um chute ou um soco. Mas só Duke Nukem 3D tem um item para aumentar seu ataque de botinada para BOTINADA DUPLA! ... espera, isso não faz o menor sentido...
Quando Duke Nukem Forever saiu em 2011, o jogo foi criticado duramente por seu humor de quinta série, sendo o equivalente videogamistico de um adolescente que desenha pintos e peitos no caderno enquanto acha a coisa mais subversiva (e engraçada) do mundo dizer "coco". Eu nunca entendi muito bem essa crítica porque bem, duh, é isso que Duke Nukem sempre foi. É como assistir um filme do Tarantino e achar ruim que tem violencia.
Alias sabe o que eu acho que seria realmente legal? Um reboot moderno de Duke Nukem. Mas tipo ele mesmo, só que nos dias de hoje: um tiozão dinossauro que ainda pensa como nos anos 90, só que em um mundo onde essas coisas não são mais "legais". O choque de cultura por si só já dá conflito o suficiente pra um jogo ou mesmo um filme interessante.
O que alias eu não sou o único que pensa assim, pq parece que está sendo estudado um filme com essa pegada com o John Cena como protagonista e feito pelos criadores de Cobra Kai, e eu realmente acho que isso pode dar certo - até porque John Cena já provou em Peacemaker que dá pra colocar um ser humano por baixo de um brucutu que mata gente e diz frases de efeito, e isso ser legal.
De qualquer forma, o ponto aqui é que enquanto a tonalidade de Doom envelheceu muito melhor (explodir tripas de demonios no inferno ao som de metal pesadão ainda é muito cool, obrigado), não dá pra dizer que Duke Nukem não seja lavado até a alma de tom e atitude. Com 20% mais boobs.
ATO II - Aspectos Tencicos and nerdy stuff
Dizer que a Duke 3D avançou o que a ID fez com jogos de tiro em primeira pessoa seria um puta eufemismo. Tirando tudo que dava pra tirar dessa ideia de fazer jogos pseudo-3D, a 3D Realms criou um jogo tão sofisticado quanto era tecnicamente possível, algo que é relativamente fácil de passar batido em meio à confusão de referências à cultura pop e strippers pixeladas.
O que DN3D faz de diferente dos outros jogos da época é como ele permitia que os devs criassem criassem salas com alturas diferentes ou até mesmo salas empilhadas acima de outras salas. Isso tudo foi criado para construir não apenas cidades dentro daquela engine, como construções com vários andares de altura - enquanto os jogos de tiro em primeira pessoa eram predominantemente horizontais.
Quase tão impressionante quanto isso é que o jogo se esforça para adicionar mira para cima e para baixo. Até então era norma atirar apenas no meio da tela, mas DN3D é o primeiro jogo que eu lembre que tenta aproximar o controle da mira como é nos jogos modernos de tiro. Funciona? Hã, é meio clunky, ainda não é a facilidade de andar com o teclado e mirar com o mouse que damos por garantido hoje, mas definitivamente é um esforço digno para a época.
ATO III - Because it's fun, Janice!
Da cabeça aos pés, DN3D foi construído apenas para ser divertido. Simples assim. O arsenal é composto das tipicas pistolas e espingardas, mas também tem armas que estão ali não para serem práticas, mas para serem divertidas - como armas congelantes e raios encolhedores. É divertido encolher um inimigo e depois pisar nele com um squish. Que mais razão você precisa para ter uma arma encolhedora em um jogo?
A outra coisa que faz Duke Nukem 3D divertido é o level design fantástico. Verdade, não é elegante como o design de John Romero, mas ainda sim é muito bom em especial pq explora um amor absoluto pela verticalidade. A simples adição de saltos e jetpacks garante que jogo pareça bastante diferente de tudo que havia na época.
A outra coisa que torna o jogo diferente e único é, como eu disse, o uso de cenários familiares. Ruas da cidade e clubes de strip. Prédios de escritórios e cenários de Hollywood. Cada episódio é baseado em um tema além de "dungeons" e isso é bastante interessante - a exceção sendo o segundo episódio, que é inteiramente ambientado no espaço e bem sem graça.
Tem também uma sensação de coesão entre cada um dos estágios. Cada final de fase é o começo da anterior, tipo você termina entrando em um bueiro e a próxima fase começa com vc caindo no esgoto, o que parece simples (e é), mas é um toque legal que nunca foi realmente testemunhado antes, e eu realmente gosto de como tudo parece conectado.
Ter espelhos funcionais em videogames é uma coisa muito complicada de se fazer ainda hoje, então méritos aos devs por terem se dado ao trabalho
Enfim, Duke Nukem tenta ao máximo ser divertido com as ferramentas das quais dispõe. Verdade que hoje essas ferramentas estão datadas (tanto o sexismo quanto os FPS em pseudo-3D), mas para a época era o melhor que era possível fazer. Nem todos os jogos são feitos para serem atemporais, e não tem nada de errado com isso.