Imagine a seguinte situação: durante a era de ouro do Nintendinho, a sua IP se tornou parametro do que sequer significa videogames. Vc realmente não consegue pensar em jogos de NES dos anos 80 sem pensar na família Belmont chicoteando o conde Drácula e não sem razão, eram jogos realmente bons. Quer dizer, o segundo jogo era ambicioso porém se tornou injogável devido a erros de tradução e escolhas de design .... excentricas, vamos dizer assim... mas ainda sim, o primeiro e o terceiro Castlevania são paragões do que videogames representam.
Em grande parte porque tem uma trilha sonora do cacetovski, tá, não tem como não não observar isso também.
Ainda bem que a capa japonesa do jogo avisa que é um Action Game, pq com um delicia desses na capa podia muito bem ser um dating sim e estaria tudo certo |
Porém, então, algo aconteceu: o tempo passou. Castlevania perdeu sua relevancia completamente, deixou de ser "a série que é sinonimo de videogames" e se tornou "ah, tem esses jogos, né?". A geração 16 bits não foi clemente com a caçada secular ao conde Dracula.
Embora seja verdade que CASTLEVANIA: BLOODLINES seja um dos melhores jogos do Mega Drive, o mesmo não pode ser dito a respeito do Super Nintendo. SUPER CASTLEVANIA IV é apenas okay e CASTLEVANIA: Dracula X passa raspando do apenas medíocre. Castlevania havia perdido seu trono de relevancia nos videogames, essa é a dura realidade.
Eis o lendário CASTELO DO VANIA! |
E foi isso mesmo que a Konami percebeu quando a oportunidade de começar uma nova geração. O plano da Konami era simples e bruto: ao chegar no pátio da nova prisão eles iriam atrás do maior e mais ameaçador cara que eles pudessem encontrar e dariam uma bifa na cara ele. Isso definitivamente ganharia o respeito dos demais detentos... a várias facadas no chuveiro, mas não se pode ter tudo.
Seja como for, foi exatamente o que a Konami fez nessa geração: pegou o melhor e mais fodendo jogo de Super Nintendo e chamou pro pau. "Ô cara de agua viva, é contigo mesmo que eu to falado, o da armadura de Naruto!". Sim, O novo Castlevania do PS1 peitaria de frente com o maior jogo da história dos videogames até até então, o melhor jogo do Super Nintendo, um iconone tão grandioso que mesmo os bootlegs tremiam em apenas conceber imitar fodenda obra de arte.
Em outras palavras, Castlevania largou tudo que não estava mais funcionando até então e chamou na xinxa ninguém menos do que fucking SUPER METROID. Houve silencio no mundo dos videogames, exceto por murmuros de "eles piraram..."
Pra vc ter uma ideia do tamanho disso, a Sony não costumava endossar lançar jogos 2D no ocidente porque seu principal cavalo de vende era justamente o marketing do quanto o Playstation era diferente do SNES e essa coisa dos gráficos era uma grande coisa. Porém quando a Konami anunciou que ia lançar um jogo estilo SUPER METROID para o PS1 e que seria com gráficos em 2D e que seria lançado no ocidente com toda pompa e gala, a reação da Sony foi apenas dizer "hã... sim senhor... como quiser senhor..."
A genialidade da Konami começa fazendo com que o jogo inicie exatamente no final do jogo anterior da franquia, CASTLEVANIA: Dracula X (ou Rondo of Blood no Japão), e por isso eu quero dizer LITERALMENTE no final do jogo anterior:
Em uma das jogadas mais inteligentes da história dos videogames, você aqui começa Richter Belmont e sua primeira missão é despachar o Dracula em um luta muito menos miseravel do que naquele jogo anterior. Isso, é claro, e também um dos melhores dialogos já escritos na história da humanidade:
Bem, eu realmente não preciso dizer que "what is a man" é um dos maiores memes videogamisticos da internet e provavelmente até mesmo quem não manja de videojogos já ouviu esse texto que parece peça de teatro lido por gente que claramente não queria estar ali fazendo isso. Quer dizer, é o meme do What is a Man, né?
Porém o que menos gente sabe é que no original japones, embora o texto seja parecido em ideia, a dublagem não parece que foi gravada as 4:15 da manhã após os dubladores serem obrigados a passar a noite assistindo uma maratona de telecurso 2000. Quer dizer, é bem menos pior mesmo!
Porém passada essa introdução (e que forma de introduzir um jogo!), é que ele começa de verdade. Alucard, o filho meio-humano e meio-vampiro de Drácula, invade o castelo para saber que poutaria era aquela. A boa noticia aqui é que Alucard era um apersonagem terrivel em Castlevania 3 - embora pudesse se transformar em um morcego, ele era ainda mais lento que Trevor Belmont e não tinha tanto alcance quanto Sypha Belnades).
Em Symphony of the Night, fica claro que Alucard andou malhando nos últimos 300 anos. Ele É tão forte que explode wargs com um único golpe, ele é tão rápido que ele deixa um rastro de sombra por onde passa (o que é um efeito muito, muito maneiro, saiba você).
Isto é, até que a Morte aparece. Sim, a MORTE mesmo, Dracula é tão fodelão da fodelandia que a fucking MORTE trabalha pra ele, isso sim é que é ser foda. Ao fundo, lanças com cadáveres e um vórtice rodopiante no céu. A Morte pergunta que putaria era aquela, e Alucard responde que vai virar o pai dele do avesso.
Essa é a uma situação complicada para Morte, tenho que me por no lugar delas. Se meter em brigas de familia nunca acaba bem, e quando a familia é alguem que faz o belzebu se borrar perna abaixo... hã... complicado. Como a Morte não pode apenas matar o filho do chefe, mas também não pode deixar o chefe ser incomodado, e como Alucard está irredutível em dar meia volta e ir ler as HQs de One Piece (ele tem a eternidade toda, afinal), o que a Morte devide fazer então é tirar o dela da reta todas as armas e poderes de Alucard, deixando-o apenas como um mortal cuja única habilidade é socar coisas. E precisam vários socos para derrotar qualquer coisa, pq afinal ele agora é só um cara.
Mas a Morte realmente subestimou a metade humana de Alucard, tenho que dizer. Quer dizer, socar coisas é uma das coisas mais nos satisfaz enquanto espécie e assim começa sua jornada pelo castelo do tinhoso para recuperar seu equipamento, poderes, e por fim de uma vez por todas as mandraquices do seu pai.
Emocionalmente, Alucard não está enfrentando apenas demonios, sucucus e... minha mão molhada da epaminondas, seja lá que porra por isso...
O pentagrama eu entendo, mas alguém mais se pergunta pq ela dropa tortas...? Enfim... |
Enfim, a jornada de Alucard não é apenas para recuperar suas habilidades, mas para explorar as profundezas do castelo do Drácula. Metaforicamente, é Alucard forjando sua humanidade em um ambiente que permanece como um lembrete contínuo de sua metade mais sombria. O chefe Doppelganger, que espelha Alucard, é o único chefe que é vulneravel ao item de ser congelado no tempo - tire disso as lições metaforicas que quiser, mas te garanto que aleatório não é.
Isso confere a Alucard uma alma atormentada e gótica, mas não no sentido dos anos 90 sasukiana de ninguem me entende, e sim que ele carrega sozinho o fardo de desfazer as malivilancias do seu pai-pai. Ou ele acredita que ele tem que fazer isso sozinho.
Isso, combinado as árias e harmonias que compõe a trilha sonora compoe um ambiente de melancolia e desesperança. Veja, Castlevania não é um jogo de terror exatamente, é um jogo de lamento. O Castelo do Vania é um vórtice dimensional que atrai todas as almas sofredores que não tem para onde ir, e isso gera em resultados lindos.
Tem uma area do castelo que é repleto pelos espiritos amaldiçoados das bruxas de Salem, e embora você queimar seus espiritos novamente com "fogo santo" não é algo que me faça particularmente fez, infelizmente é necessário. Castlevania é. como eu disse, um jogo melancólico e belo.
E bem, tem tambem áreas no Symphony que eu não queria sair apenas porque a música é muito boa. A “Crystal Teardrop” nas Cavernas Subterrâneas é linda, serena, enquanto escorre com o mistério do que habita nas catacumbas do castelo. Os solos de violão de "Wandering Ghosts" no Coliseu me fizeram dedilhar meu violão imaginário enquanto Alucard corta almas almadiçoadas a lutar até o fim dos tempos
Sejamos honestos, quantos jogos vc consegue um item dando repetidamente cabeçadas na bunda de um velho? |
Se vampiros tem medo de cruzes, uma que Jesus ainda tá nela é overkill. Gosto dessa forma de pensar |
Edição 116 (Maio de 1997)
Edição 032 (Novembro de 1996)
MATÉRIA NA GAMERS
Edição 013 (Dezembro de 1996)
Edição 018 (Maio de 1997)