domingo, 12 de março de 2023

[#1067][Abr/94] BUICHI TERESAWA TAKERU: The Letter of Law

A distribuidora brasileira Brasoft (caso o nome não tenha dado a deixa) pode não ter sido perfeita, mas uma coisa tinha que ser dita a respeito deles: eles não tinham medo de colocar a mão na massa e trabalhar. 

E quando eu digo isso, eu quero dizer que eles podiam muito bem só se escorar em relançar no Brasil nos titulos consagrados e dar o serviço por encerrado (tipo MAGIC THE GATHERING ou os jogos consagrados da Lucas Arts), mas eles iam além: eles caçavam títulos bem mais alternativos e metiam dinheiro nele não apenas traduzindo e legendando, mas até mesmo dublando o jogo.


O quão alternativo, vc pergunta? Bem, que tal a adaptação em jogo da obra de Buichi Terasawa?

O FAMOSO ... QUEM?

Eu não disse que era alternativo? Eu realmente não sei como esse jogo chegou as mãos da Brasoft, mas o fato é que chegou, a Super Game Power deu uma página pra ele e aqui estamos nós. Vamos começar do começo então...


Buichi Terasawa foi um mangaka japonês que se destacou dos demais por um motivo bem pitoresco: ele acreditava que computadores podiam ser uma ferramenta para auxiliar a produção de mangas.

SIM, ISSO É ÓBVIO. NÃO É COMO SE ALGUÉM EDITASSE MANGAS USANDO PAPEL E FOLHAS TRANSPARENTES, NÉ?

Completamente óbvio. Hoje. Só que estamos falando dos anos 80 e enquanto todo mundo usava lápis e borracha para acertar as falas, corrigir pequenos detalhes e até colorir algumas partes, Buichi já usava seu bom e velho Apple II para fazer o trabalho pesado.

Minigame de servir chá, o sonho é real! Foi por momentos assim que eu comecei esse blog!

Com o avanço da tecnologia, em 1992 o Buichão da Massa conseguiu realizar o seu sonho de longa data: produzir o primeiro manga 100% criado em computador. E esse viria a ser o nosso bom e velho Takeru.

NOSSA, O PRIMEIRO MANGA FEITO 100% NO COMPUTADOR, ISSO DEVE TER MUDADO AS COISAS!

Então... enquanto eu apenas posso imaginar que o processo de criação funciona diferente dadas as ferramentas que você tem a sua disposição, o que eu posso dizer é que para o leitor... esse novo tipo de manga é uma das coisas mais anos 80 que você verá na vida.

... e um minigame de memória com tentativas infinitas e sem limite de tempo, o sonho é real!

E por anos 80, eu estou dizendo que esse manga faz um checklist em tudo que configura essa era dos mangas: protagonistas invenciveis que nunca realmente passam aperto ou sequer desarrumam o penteado, mulheres seminuas no melhor estilo pulp raíz e uma aventura com pouco papo e muita ação.

Nosso herói aqui, o personagem título Takeru, é um caçador de recompensas que além de ser mestre de inúmeras artes marciais ainda tem um poder bastante único: ele pode criar kanjis com suas mãos e disparar eles causando o efeito descrito.

Então se uma porta tá fechada, ele pode formar o kanji "abrir" e então comandar a porta a abrir:


Assim, nosso herói pode Deus-Ex Machinar qualquer coisa que ele precisar através dessa tecnica. O que tem uma vibe meio Nome do Vento, só que mais manga anos 80. Ah sim, e é claro que ele também tem o seu golpe-assinatura próprio, como não poderia deixar de ser:


Para completar o pacote "uau, isso é anos 80 pra caceta", também é claro que Takeru tem um sidekick animal que quebra galhos e faz gracinhas engraçadelhas. Você sabe, é a lei dos mangas dos anos 80!


Porém se vc acha que Takeru não tem nada de realmente diferente dos clichês de manga machões, aha, saiba que você errou! Isso pq Takezilla aqui tem sim uma caracteristica única: ele é capaz de descobrir o que Deus-Ex Machina a história precisa que ele descubra... lambendo as pessoas!

Quer saber se alguém tá mentindo? Lambe ele! Quer saber se alguém é maligno? Lambe ele! Aha, aposto que vc nunca viu o Kenshiro fazendo isso! Quer saber se a novinha é a cocotinha certa pra mamãe chamar de nora?


É... isso parece bem... hã... é...

Então, sim, esse é um manga realmente estúpido que orbita alguma coisa entre Jojo e Conan o Barbaro, apenas com o diferencial que nesse mundo nenhuma mulher nunca, sob hipotese alguma, jamais usa calças. Nem que suas vidas dependam disso, é bunda de fora ou nada.


... mesmo que seja apenas uma figurante. Bunda. De. Fora. É a lei.

No fim do dia, Takeru é o seu tipico machão invencível que esbofeteia o quanto ele é incrível em tudo o tempo todo na cara de todo mundo. O que dá uma boa aventura se vc estiver na vibe para esse tipo de coisa, em especial pq o manga é muito bem desenhado e mais em especial ainda se vc gostar de ver novinhas com bundas de fora. O que o manga se propõe a fazer é isso, e é exatamente isso que ele entrega.


Isso sendo posto, como vc poderia esperar que um jogo eletronico de Takeru poderia ser? Plataforma? Luta? Simulador de penteado? Bem, sim, poderia (em especial com esse cabelo), mas definitivamente esse não é o caso aqui. O que esse jogo é... bem, é mais um walking simulator onde vc tem que ir para os lugares certos e isso desbloqueia cutscenes reproduzindo as cenas do manga.

Com efeito, como o manga foi feito todo no computador, as cenas apenas foram copiadas e coladas apenas para dar um efeito de faux-animação, como era uma ideia de que seria o futuro dos quadrinhos nas origens da internet. O jogo mesmo se auto-descreve como um "manga interativo", o que era essa vibe dos anos 90 a que eu me refiro quando os quadrinhos ainda não sabiam como usar a internet.


É uma curiosidade interessante como legado de uma época, mas por si só não é um jogo particularmente incrível. Pra quem é fã do manga e sempre quis ver ele reproduzido com dublagem e (vagamente) animado suponho que seja interessante.

Para quem não é tão fã assim do material original (vulgo toda raça humana), entretanto, é apenas curioso ver breguice, minas sem calças e alguns puzzles bem basicões. Não é muito, mas é o que a casa oferece.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 040 (Julho de 1997)