[#1070][Mai/97] FELONY 11-79 (ou "Runabout" no Japão)

Hoje eu abrirei o texto afirmando que eu cometi um erro. E isso... hmm... ué, não vai falar nada, Jorge?

E ARRISCAR ESTRAGAR A MAGIA DESSE MOMENTO MÁGICO?

Suspeitei desde o principio. Mas bem, eu dizia que eu abrirei esse texto dizendo que eu cometi um erro: usualmente eu não falo sobre jogos de corrida (ou de esportes em geral) nesse blog. Porém para esse jogo em particular eu realmente achei que seria um jogo mais mundo aberto, tipo a fase do carro em DIE HARD TRILOGY, ou como uma versão prototipo do que viria a ser nas séries Driver e GTA.

Bem, não é. Eu admito que errei. Esse jogo não é um jogo de mundo aberto, ele é mais um OUT RUN com eventualmente alguns objetivos. E por isso eu quero dizer jogo de corrida de passar no checkpoint antes do tempo acabar, simples assim.

Mas já que eu efetivamente me dei ao trabalho de jogar todo esse jogo, suponho que não vá fazer mal tirar um tempinho para falar dele mesmo sendo um jogo de corrida, dado que eu notei algumas coisas curiosas a respeito desse título. Isso sendo dito, vamos começar do começo...

Pra começar, eu queria falar sobre o nome desse jogo. No Japão, esse jogo se chama "Runabout", o que significa veículo pequeno e leve. Ou seja, o jogo se chama "carrinho" e não é o licenciado da Hot Wheels. O que rola aqui é que vc tem diversos veículos para escolher, mas o "principal" (e eu digo principal pq ele aparece na capa, cutscenes e é o primeiro na lista de seleção) tem o apelido de "carrinho".

Não posso dizer que vocês me deixaram empolgados para jogar o jogo de vocês até aqui, caras...

Porém vendo que esse nome era bem meio merda, quando esse jogo foi lançado no ocidente ele recebeu um nome MUITO mais legal: Felony 11-79. Ou seja, "Delito 11-79"... o que imediatamente nos faz perguntar o que é um Delito código 11-79. Parece alguma coisa fora da lei séria!

Então eu tentei pesquisar o que um delito 11-79 realmente É no sentido criminal e tudo o que eu encontrei foram referencias a esse jogo. Então aparentemente o delito 11-79 é jogar esse jogo? É possível. Seja como for, o que eu encontrei foi que o código americano de policia 11-79 (não necessariamente um delito) se refere a "acidente de transito com ambulancia enviada". Com alguma generosa ginástica mental tem como encaixar num jogo que vc corre no meio da cidade... eu acho?

Bem, o que eu sei com certeza é que eu estou colocando mais esforço mental no nome desse jogo que os chapas da Climax. Alias a Climax era o estúdio responsavel pela série SHINING FORCE e LANDSTALKER, e eu nunca vou falhar em me impressionar com os caras que fizeram uma continuação chamada LADY STALKER e não viram nenhum problema com esse nome. Mas divago.

Outra coisa que eu nunca vou falhar em me impressionar é com o plot desse jogo. Sim, é um jogo de corrida com história, saiba você. Na sequência de abertura de um jogo que envolve chegar nos lugares antes do limite de tempo, um famoso arqueólogo descobriu uma tumba antiga com um caixão que não podia ser aberto e, no entanto, MAGICAMENTE todas as três peças necessárias para abrir o caixão estão na América. 

Como diabos as três chaves MÍSTICAS para um caixão MÍSTICO aparecem no reino tão MÍSTICO dos ESTADOS UNIDOS? A escavação foi na inexplorada Cidade de Ouro - bem longe de mim querer desdizer especialistas ficticios de videogame, mas claramente essa Cidade já TINHA sido explorado porque, caso contrário, como as três partes da chave para abrir o caixão foram parar nos Estados Unidos?

Então vamos recaptiular o que o jogo me contou até aqui: uma expedição foi até a inexplorada Cidade do Ouro (que obviamente já tinha sido explorada) e achou um caixão que está lacrado. Então algum milionário pagou 2 milhões de dolares num leilão para ter o caixão e mais sei lá quanta grana para o nosso personagem recuperar as chaves na expectativa de que o que quer que estivesse dentro do caixão valesse muito mais do que isso.

Isso é simplesmente um investimento pior que o Urubu do Pix. Quer dizer, que garantias o cara tem que o que quer que tenha no caixão realmente vale mais que do que ele gastou? Alem disso é um fucking caixão, não um bau do tesouro, grandes são as chances de que só tenha ossos dentro dele pq, novamente, É UM CAIXÃO!

E isso sendo otimista, pq ele pode estar cheio de abelhas carnívoras ou o Coronga Virus 23 ou algo assim. Alem disso é só um caixão de pedra, vc não pode apenas, sei lá, quebrar a tampa se o que vc quer é o que tem dentro? É só pedra, não é como se ele tivesse sido feito do material estelar indestrutível TUMALAKA ou algo do tipo...

Enfim... basicamente, esse é um jogo de corrida onde existem três pistas onde vc tem que passar em algum checkpoint para recuperar os pedaços da chave e depois ir até o final da fase dentro de um limite de tempo. Normalmente isso leva 3 a 4 minutos ... o que quer dizer que esse jogo pode ser terminado em 15 minutos, sendo generoso... 

Tirando jogos de luta, eu não lembro de nenhum outro jogo de PS1 até aqui que pode ser terminado em 15 minutos e isso não é algo do qual o Nintendinho poderia se orgulhar, imagina então pagar 50, 60 dolares para jogar 15 minutos e não ter mais o que fazer no jogo? Show de bola, Climax.

Por alguma razão incompreensível, por padrão o jogo tem essa coisa que a camera despiroca quando vc encosta em alguma coisa e fica uma merda dirigir. Felizmente isso é fácil mudar no menu de pause

Só que a Climax aqui tomou decisões mais estranhas ainda a respeito desse jogo: esse é um jogo onde vc pode bater nas coisas e destruir o cenário e outros carros com o seu carro, como um prototipo da série Burnout. Não apenas isso, mas o jogo informa o que vc destruiu e quanto custou o que vc destruiu, com direito a desbloquear novos carros (que parecem iguais, mas enfim) se vc causar danos o suficiente!

EU TENHO QUE DIZER QUE ISSO PARECE REALMENTE LEGAL

Parece, né? Só tem o pequeno, minusculo detalhe que... SEU CARRO TOMA UMA QUANTIDADE ENORME DE DANO A CADA BATIDA E VC NÃO TERMINA A FASE SE BATER MUITO, então mecanicamente o jogo quer que você evite as coisas.

Okay, eu realmente estou recebendo sinais muito confusos aqui. Por um lado, o jogo mecanicamente não quer que eu bata nas coisas e me pune brutalmente se eu fize-lo. Por outro, ELE MOSTRA O VALOR DA DESTRUIÇÃO O QUE CLARAMENTE É UM INCENTIVO PQ CAUSAR PREJUÍZO É MUITO DIVERTIDO!

Então qual é a sua, jogo? Eu tenho que destruir as coisas ou não?

Então resumidamente, apesar do nome esse não é o jogo mais felonesco do mundo puramente porque a coisa toda parece muito sem foco e pequeno. E mesmo que o jogo decidisse se ele quer ou não que vc destrua as coisas, 15 minutos de gameplay é muito pouco. Isso é tipo 3 dolares por minuto de jogo, o que é bem mais caro do que um fliperama!

Infelizmente não é muito divertido quebrar as coisas e ver o dano causado aumentar pq sua vida termina muito rápido, e a falta do que fazer nesse jogo diminui ainda mais a já pequena experiencia. Bem, sim, tecnicamente vc pode desbloquear uma tonelada de carros extras, mas se é para dirigir nas mesmas 3 pistas fazendo as mesmas 3 missões, qual é realmente o ponto? 

Quando RIDGE RACER começou a vida do Playstation com uma única pista em 1995 era aceitável pq eles ainda estavam aprendendo a programar para o PS1 sem fazer a coisa implodir numa bola de chamas, mas depois de dois anos de jogos o jogo ter uma pista, duas pistas ou três pistas não é suficientes. Ter apenas duas faixas de música não é suficiente. Uma história que durava 20 segundos... tá, é um jogo de corrida, essa parte pode sim ser suficiente.

Então eu suponho que o Delito 11-79 deva se referir a cobrar 50 dolares por um jogo de 15 minutos?

Porém, o real delito desse jogo é que no fim não eram abelhas carnívoras dentro do caixão no caixão, mas sim alguma coisa que derrete o rosto do seu empregador. Nem eram abelhas que cospem fogo. Ou abelhas de lava. Nem mesmo abelhas feitas de ácido. O fato de não ser nenhum tipo de abelha dentro do caixão é de fato um episódio muito triste dentro da história dos video games.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 118 (Agosto de 1997)

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 041 (Agosto de 1997)