Eu gostaria que você visualizasse a seguinte cena: o ano é 1997 e você está andando pela locadora, pela banca de camelô, pelo shopping ou a maloca onde vc compra CDsde jogo a 3 por dez reais. Aí, de repente, não mais que de repente, vc vê a seguinte capa:
Imediatamente vc pensa que é um joguim de Magic The Gathering para você jogarzis e fica todo "boy oh boy, eu finalmente poderei jogar A Magia do Arrecadamento sem comprar decks de cartas e eu gosto de não gastar dinheiros que eu não tenhos!". Se esse foi o seu caso, e certamente o grande ponto de venda desse jogo era que fosse de milhares de jovens ultradinamicos, a resposta da Acclaim a isso seria simplesmente:
Então, esse jogo não é exatamente MtG na forma de videojogo, ao contrário de MAGIC THE GATHERING esse aqui não é um card game. O que ele é, é um RTS vagamente baseado no card game, porque foda-se você. E isso forçando bastante a barra na definição da palavra "baseado"
Bem, ao menos a versão de PS1 tem a decencia de avisar que vc não está levando um card game pra casa e sim um RTS, ao menos isso...
Verdade que o jogo (na sua versão original de PC) já abrir querendo dar um pega ratão no consumidor não faz necessariamente o jogo ser ruim, isso é mais culpa da publisher do que dos desenvolvedores, então o pessoal que fez o jogo mesmo não tem culpa disso. O que eles tem culpa, entretanto, é por todo resto do jogo e aí que as coisas ficam complicadas...
Então, vamos começar do começo: Magia do Arrecadamento - Baita Magos tem dois modos de jogo, o Duel e o Modo Campanha. Parece bastante simples, não? Em um vc tem uma luta aleatória, no outro tem historinha, certo?
Então... não exatamente. É mais complicado que isso.
Porém antes de começar, eu gostaria de realmente mostrar como esse jogo tem o manual mais útil e informativo que eu já vi em toda minha vida nessa indústria vital:
Essa foi uma dúvida que eu sempre tive e fico realmente feliz em ve-la finalmente sanada: aparentemente, não vamos nos precipitar a respeito disso, mas o botão X do controle é o botão X, o botão triangulo é o botão triangulo, o botão bolinha é de fato a bolinha e assim por diante. Realmente útil, realmente informativo.
Porém, zoeiras a parte (embora essa seja uma imagem real do manual), eu realmente recomendo ler o manual do jogo pq sem ele vc não consegue nem começar a batalha. Sim, esse é um DAQUELES jogos que não tem sequer uma tooltip para te ajudar, quanto mais um tutorial. O que é uma escolha realmente estranha, pq grande parte do apelo de Magic como Card Game é que qualquer um pode pegar uma carta e entender o básico do jogo:
Nem todas as cartas são autoexplicativas, mas mais sim do que não dá pra entender o jogo de boas. O videogame aqui, no entanto, é tudo menos user friendly.
Eis como a coisa funciona: tal qual no card game, vc começa com 7 cartas na sua mão e precisa jogar cartas de terreno para ganhar mana. Até aí tudo bem (bem, não exatamente, mas entraremos em detalhes sobre isso mais tarde), o problema é que a partir daí vc usa as cartas de magia e monstros como se usam as habilidades das unidades em um RTS.
Parece simples, huh? Bem, então, e se eu te dissesse que o jogo NÃO DIZ O QUE AS CARTAS FAZEM?! Sério, o máximo que você consegue é abrir uma foto dela durante a batalha!
Então como possivelmente você poderia saber o que uma carta faz? Ora, altamente simples: antes do combate vc vai no menu de gerenciamento de cartas e lá tem essa informação. Tudo que vc precisa fazer é decorar! Não tem como ser mais básico que isso, não?
MAS QUE PORRA É ESSA?!? Como assim o jogo quer que você decore o que as cartas fazem quando o próprio cardgame da vida real tem essa informação? Pq diabos eles pioraram o jogo quando um videogame deveria facilitar as coisas!
Considere que o seu deck tem 60 cartas, e mesmo que descontando as cartas de mana que são obvias, são muitas cartas para decorar. E eu não estou zoando, o manual do jogo recomenda vc decorar o que as cartas fazem e sugere vc usar a ilustração para não perder tempo!
HÃ, EU NÃO ESTOU DIZENDO QUE ISSO É O IDEAL, MAS VC NÃO PODE AO MENOS ANOTAR EM UM PAPEL AS CARTAS QUE VC TEM E O QUE ELAS FAZEM?
Poder, pode. É uma forma bosta de jogar, mas é possível. Só não funciona, só isso, pq não esqueça que esse jogo é um RTS, então imagine no meio de uma partida de COMAND AND CONQUER: Red Alert vc tendo que procurar nas suas anotações o que cada uma das suas unidades faz, não apenas é uma merda como o adversário obviamente não espera por você.
PARA PARA PARA TUUUUUUDOOOOOOOOEnquanto eu estava editando esse texto eu descobri que é possível sim ver a descrição da carta durante o jogo, então, sim, eu sou uma anta. Mas também é uma verdade que é uma combinação tão arcana de botões que vão se foderem no mertiolate. E não muda o fato que o RTS não para enquanto vc apanha para os menus terríveis para conseguir fazer isso, então tem isso.Agora, de volta a nossa programação normal.
É um empilhamento de ideias ruins que eu não vejo desde que a primeira bacteria achou que seria uma boa ideia sair do oceano, eu te digo...
Isso fora, a ideia do jogo (não a execução, a ideia) não é a pior coisa do mundo: vc sumona as criaturas (que são o equivalente a construir unidades nos outros RTS) ou usa magias, conforme as cartas que você tem na mão. O jogo repõe suas cartas e sua mana em determinados intervalos de tempo (a cada X segundos, não existem turnos aqui) e os monstros mais ou menos batalham como no cardgame, seguindo as regras de vida e tal, com a diferença que vc tem que comandar eles pelo mapa para fisicamente encontrar outros monstros e desviar de obstaculos do terreno. O que funciona mais ou menos como o episódio do labirinto do Yu-Gi-Oh, só que com menos rimas.
O problema aqui nem é tanto a ideia, mas sua execução: esse é o sistema mais desgraçadamente clunky que eu já na minha vida e você não consegue fazer NADA no jogo sem abrir pelo menos três menus, isso supondo que vc sabe quais são os menus certos a serem abertos (sem tutorial e o manual tem apenas 13 páginas, então não espere milagre), o que no PS1 é mais agravante ainda pq exige combinações de botões tão arcanas que eu tenho absoluta certeza que adiantei o despertar de Cthullu em uns 15 anos jogando esse jogo.
Nada em jogar esse jogo é fluído, intuitivo ou, para esse proposito, remotamente divertido. E aí tem o modo campanha, o que de alguma forma consegue ser pior ainda!
O modo campanha funciona basicamente como uma partida de War. Sim, o board game mesmo. Aquela coisa. O que rola aqui é que você começa em um território em cada turno do jogo você pode atacar um território vizinho. Se for um território ocupado por um adversário então vcs vão pra arena RTS onde resolvem a coisa na mecanica horrível de combate, porém se o território estiver vazio... é aqui que as coisas ficam estranhas.
Isso pq o jogo escolhe aleatoriamente um resultado para o seu ataque: não acontecer nada e você perde uma rodada, ou você tem uma ceninha que vc precisa escolher uma resposta tipo naqueles livro-aventura. A resposta "certa" te dá cartas, a resposta errada encerra o dialogo e vc perde a rodada.
O problema é que, até eu pude experimentar, o que acontece é completamente aleatório. Não apenas o jogo pode te dar várias rodadas de "hmm, não tem nada nesse terreno, perdeu a rodada" seguidas, como ele efetivamente FAZ isso. O que resulta que esta totalmente fora do seu controle os adversários dominarem o mapa e quando vc enfrentar ele estar sem cartas boas pq essa é a principal forma de ganhar novas cartas... e, você sabe, é exatamente o que vc quer em um board game, não ter chance nenhuma de ganhar por pura aleatoriedade fora do seu controle. Simplesmente delicioso.
Chega a ser artistico o quanto esse jogo consegue falhar em tudo que ele faz: os gráfcos seriam bem palhosos mesmo no Mega Drive, a mecanica é a coisa mais clunky que eu já vi em toda minha vida, o RTS não funciona bem com vc gerenciar seu deck, o modo campanha simplesmente depende de sorte pro jogo não acabar em poucas rodadas... caralho, é um clusterfuck de sofrimento e dor isso...
MAS O JOGO NÃO FAZ NADA DE BOM MESMO?
Hã... então, eu suponho que as telas dos cenários são bonitas? Yep, e se isso é o melhor que eu tenho a dizer a respeito do jogo, definitivamente um uso melhor do seu tempo é pegar um baralho de Magic e jogar sozinho contra si mesmo. Não é divertido ou emocionalmente saudavel ter chego a essa situação, mas definitivamente ainda é melhor do que jogar essa atrocidade aqui...
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 117 (Julho de 1997)
Edição 117 (Julho de 1997)
Edição 121 (Novembro de 1997)
MATÉRIA NA GAMERS
Edição 014 (Janeiro de 1997)
Edição 014 (Janeiro de 1997)