domingo, 25 de setembro de 2022

[#985][Dez/96] STAR WARS: Shadows of the Empire

Nos dias de hoje vivemos em um tempo incrível em que a ciência foi capaz de tirar uma fotografia de um buraco negro, algo que pelo próprio conceito por muito tempo parecia impossível já que o ponto do buraco negro é que ele absorve até mesmo a luz que cai nele. COMO, exatamente, essas imagens foram feitas não é algo que eu sou capaz de explicar mas o que importa é que isso é uma coisa que existe hoje.


Porém antes desses dias miraculosos, nós já sabiamos que buracos negros existiam porque embora não tivessemos como ve-los era bastante notavel o efeito que eles tinham nas suas vizinhanças. Se a gravidade e orbita de uma estrela está sendo mortalmente atraída pelo CTRL+DEL do universo, é o tipo de coisa que tem como perceber - mesmo que o QUE esteja causando essa perturbação seja invisivel.

Mas porque eu estou falando isso? Bem, porque em 1996 George Lucas deu inicio a operação buraco negro no universo de Star Wars. Mas para explicar isso, é preciso voltar um pouco mais ainda no tempo e explicar o que foi Star Wars.

HÃ, FILMES SOBRE MONGES ESPACIAIS COM ESPADINHAS DE LUZ?

Também, mas não é disso que eu to falando. O que eu quero dizer é o que foi Star Wars no mundo real, essa é um a história muito curiosa. George Lucas teve a ideia de um filme de fantasia espacial em 1971, e originalmente ele queria adaptar os quadrinhos de Flash Gordon em seus próprios filmes, tendo sido fã do herói pulp desde jovem.


Só que isso não deu certo, os direitos do personagem já haviam sido vendidos e ele decidiu escrever a sua space opera original (até certo ponto, pq as semelhanças com Valerian e DUNE nem tentam ser sutis). O estúdio até achou a ideia bacaninha, mas nem fodendo de verde e amarelo que eles iam bancar esse tal de "Star Wars". Era muito dinheiro para algo que eles não tinham ideia se ia dar certo, não era como se sci-fi pulp fosse a coisa mais prestigiosa do cinema da época.

Para convencer o estúdio, Georjão da massa propos o seguinte acordo com o estúdio: eles poderiam ficar com a maior parte da bilheteria, enquanto Georjão teria 100% dos direitos sobre os produtos associados ao filme como bonecos e navezinhas.


A Fox então coçou a cabeça, aquele cara tava doido de tóxicos? Não é como se houvesse uma indústria de transformar filmes em máquinas corporativas de brinquedos e penduricalhos na época. No Japão já se fazia isso - sendo esse todo o ponto da franquia MOBILE SUIT GUNDAM, afinal - mas no ocidente filmes não vendiam brinquedos. Então tá né, a Fox pensou "deixa o trouxa, se demo bem" e... todo mundo sabe como essa história termina.

Star Wars não foi apenas um sucesso de bilheteria que praticamente inventou o conceito de "blockbuster", como os produtos associados acabaram faturando MUITO mais do que o filme em si e olha que o filme fez dinheiro pra caceta!


Hoje é um fato bem sabido que um blockbuster movimenta mais dinheiro nos produtos licenciados do que no filme em si, tanto que hoje a Disney topa fazer os filmes do Homem-Aranha com a Sony sem ficar com as bilheterias, apenas pela grana do merchan, mas foi Star Wars que ensinou essa lição ao ocidente.

Tá, história legal, mas... o que isso tem haver com o jogo de hoje? Bem, na metade dos anos 90 não haviam filmes de Star Wars faz algum tempo e como todo mundo sabe hoje, não haveriam até o fim da decada. O que era meio que um problema, a Lucas Studios gostaria de ganhar uma grana... mas não tinha filme, então não tinha grana, certo?


Exceto se... veja bem... E SE eles fizessem todo merchandising associado com um filme de Star Wars, mas sem o trabalho de fazer o filme? Quer dizer, se o que dava dinheiro DE VERDADE eram os acessórios, será que eles não conseguiam meter essa sem ter que fazer a parte chata? (vulgo, o filme).

Nascia assim o projeto "Shadows of the Empire".


E é aqui que entra a analogia que eu fiz com um buraco negro no começo do texto, porque Shadows of Empire é um conjunto de coisas que normalmente se vê orbitando o lançamento de um filme... exceto que o filme não estava lá. A Lucas Films pulou direto apenas para "a parte que interessava" e fez toda campanha associada ao lançamento de um filme - só que sem o filme.

Isso quer dizer que Shadow of the Empire tem tudo que você poderia esperar na época: linha de brinquedos...


... histórias em quadrinhos ...


... e, como todo filme que se preza, um videogame bosta. É claro. O curioso é que esse ano, em 2022, começaram a surgir rumores de que a adaptação em filme do projeto Shadows of the Empire estaria em desenvolvimento... apenas 26 anos depois, huh? Mas bem, por hora o que temos é nos focar no videogame bosta.

E a bostosidade desse jogo vem de uma combinação magnifica de coisas, de prazo de lançamento apertado a inexperiencia em lidar com jogos 3D (que naquela época ninguém era realmente veterano nisso).

ESPERA, COMO ASSIM "PRAZO DE LANÇAMENTO"? SE NÃO TINHA UM FILME PRA SER LANÇADO SIMULTANEAMENTE...

Mas tinha um videogame pra ser lançado. Pq a ideia era que Shadows of the Empire fosse um dos jogos do lançamento do Nintendo 64 e aí taca-lhe pau na máquina. O que, olhando em retrospecto, não foi uma boa ideia.


Os jogos anteriores de Star Wars para Super Nintendo, tipo Super Star Wars: The Return of the Jedi, tinham vários estilos e gêneros no mesmo jogo - tinha fases de nave, fases de corrida, fases de plataforma com tiro - então a ideia era apenas "hey, vamos continuar fazendo isso... só que em 3D agora!" 

Shadows of the Empire pode ser acusado de muitas coisas, mas não de não ser um jogo ambicioso: ele tem fases de nave com vôo em baixa altitude, tiro em terceira pessoa, corrida em alta velocidade, shooter on rais, fases em plataformas em movimento de alta velocidade e até voo espacial completo. O que é legal no papel, mas definitivamente uma coisa é fazer um jogo com variedade assim no Super Nintendo, outra é fazer isso em um console que eles mal tinham um protótipo em mãos.


O que você faz com os pés do personagem quando você gira a câmera para a esquerda ou para a direita? Isso é um problema bem básico ao fazer um jogo 3D e hoje existe muita documentação explicando como resolver uma questão tão básica, mas na época era vc e Deus no sertão tentando descobrir como resolve o básico do básico.

E tinha ainda a questão da falta de tempo, adicionando ofensa a injúria. O jogo não foi lançado a tempo do lançamento do N64, mas o barata voa que se sucedeu no desenvolvimento ainda conseguiu lançar o jogo a tempo para o Natal. Junte essas duas coisas e... o que possivelmente poderia dar errado?

Mas calma que piora...


Isso porque tinha a questão que o Nintendo 64 era um segredo ainda. A Lucas Arts conseguiu, após muita insistencia, um protótipo com a Nintendo mas com severas restrições para não vazar nada do novo console. Os desenvolvedores contam que trabalharam com o controle escondido em uma caixa que você colocava as mãos dentro, porque ninguém podia ver o famoso controle do N64 - o popular bitocão e seu revolucionário controle analógico era segredo de estado.

Ainda sim, desenvolver um jogo desse jeito é simplesmente ridículo. Mas bem, seja como for o jogo saiu então vamos falar do jogo em si, eu suponho.


Situado entre os eventos de Empire Strikes Back e Return of the Jedi, Shadows of the Empire é estrelado por Dash Rendar, um parsa do Han Solo. Dash Rendar ajuda a Aliança Rebelde enquanto eles enfrentam o Império e uma nova ameaça, The Black Sun Syndicate. Seu líder, o príncipe Xizor, planeja matar Luke para difamar Darth Vader e tomar seu lugar como braço direito do imperador e você deve detê-lo. Os eventos do jogo recontam os principais momentos de ambos os filmes mas sob a perspectiva de Dash, o que poderia dar errado?

No papel, Shadows of the Empire seria um sonho molhado para os fãs de Star Wars, pronto para conquistar o mundo. E, eu tenho que dizer, as primeiras impressões de Shadows of the Empire começam bem fortes. A Batalha de Hoth é recriada em 3D pela primeira vez e é espetacular para a época. 


A sensação de amarrar AT ATs com cabos é emocionante, câmera estranha à parte. Tem uma fase parecida em SUPER STAR WARS: THE EMPIRE STRIKES BACK no Super Nintendo, mas nem de perto se compara a isso. A taxa de quadros é meio ruim, mas não estraga a diversão. 

A primeira fase é pelo qual o jogo é mais lembrado, mas definitivamente as coisas só vão ladeira abaixo daqui pra frente A maioria das fases são fases de ação em terceira pessoa e é aqui que começam os problemas. A versão curta da história é que os controles ... meu deus, eles são horríveis. 


Dash Rendar é um herói pesado, floaty, devagar pra responder e slippery quando vc precisa de precisão nos saltos. Depois de jogar SUPER MARIO 64 é honestamente chocante o quão frouxo e ruim são os controles. Aqui em mais da metade do tempo Dash vai cair em buracos tentando fazer os saltos mais básico. Ele é lento demais para virar (o que é um problema quando o tiro tá pipocando na sua bunda) e nada do que ele faz é realmente satisfatório.

Existem quatro opções de câmera e três são simplesmente injogaveis. O jogo tem uma camera fixa ao estilo RESIDENT EVIL que é pavorosa e nunca mostra nda, eu questiono por que a visão aérea foi adicionada porque ela simplesmente não é jogavel e jogar em primeira pessoa não funciona muito bem com jogos de plataforma.


O design de níveis de Shadows of the Empire acaba sendo a maior vitima desses controles horríveis, pq eles não são ruins, só ficam injogaveis devido aos controles. A ideia de saltar dos vagões de um trem em movimento no Junkyard Ord Mantell é divertido e impressionante para a época, por exemplo. 

Outro problema que quase todos os níveis se arrastam por muito tempo - e quanto maior o nível, mais tempo as falhas do jogo se destacam. O que pega aqui é que devido ao espaço limitado do cartucho, eles reciclam muito os assets em um mesmo nível. Quando você vê exatamente o mesmo corredor seis ou sete vezes em menos de dez minutos, isso é um problema. A IA dos chefes ser basicamente inexistente e vc poder derrota-los apenas andando ao redor deles é outro problema.


Enfim, eu queria gostar de Shadows of the Empire. De certa forma, eu não odeio o jogo apesar de todos os seus problemas. Mas não tem como não classificar isso como uma grande decepção. Tem valores de produção decentes para a época, mas isso não é suficiente para salvar sua jogabilidade miseravel. 

Mas amarrar os andadores imperiais com cabos é pika, isso tem que ser dito.




MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 097 (Janeiro de 1996)


Edição 115 (Maio de 1997)


Edição 141 (Julho de 1999)




MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 025 (Abril de 1996)


Edição 033 (Dezembro de 1996)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 016 (Março de 1997)