quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

[#1044][Mar/97] TEKKEN 3



Em 1997, o mundo era um lugar muito diferente. O maior recorde de bilheteria panglobal era um filme do James Cameroon envolvendo água, South Park era uma das melhores coisas da televisão e fliperamas ainda eram uma coisa. Hmm, tá, só essa última parte mudou realmente...

Mas seja como for, meu ponto é que se haviam fliperamas, então havia filas para ver a máquina mais quente, cobiçada e chocolatante daquele ano. Estou falando, é claro, de Tekken 3.


Vê, desde que os primeiros conquistadores espanhóis se lançaram ao mar com o intuíto de fazer um escambo de genocídio, estupro e pandemia em troca de ouro, o ser humano tem um único grande sonho: criar um jogo de luta 3D que fosse um meio termo filhadaputamente divertido entre a fisica calculada por computadores de VIRTUA FIGHTER com o esmagamento de botões divertido e noob-friendly do primeiro TEKKEN.

Durante anos, cientistas dos jogos de luta 3D trabalharam nesse Eldorado dos jogos, o equilibrio perfeito entre tecnicidade e diversão, a lendária Shambala dos poligonos. Porém foi apenas em março de 1997, mais de três anos de pesquisas e muita pouca luz do sol (para falar em banhos) depois, foi que a Namco conseguiu. E, meu deus, eles conseguiram! 


O jogo de luta 3D perfeito, o tão sonhado ponto de equilibrio entre uma fisica consistente e combos divertidos porém fáceis de fazer! O sonho era real, Tekken 3 finalmente era real e a imaginação era o limite. Ergo, fliperamas lotados! O SONHO É REAL, EU TE DIGO!

E uma das formas inteligentes que Tekão da Massa fez isso, foi - além de atualizando a jogabilidade, gráficos, hit detection e o de sempre esperado em uma continuação - implementando uma mecanica de sidestep. Isso quer dizer que jogadores noobs poderiam spawnar botões como se suas vidas dependessem disso para fazer combos irados da marioladapeteca, enquanto jogadores experientes poderiam dar o bom e velho "passinho a frente faz favor ae quem não passa dá o lado". Pronto, um jogo que era ao mesmo  tempo divertido a novatos enquanto quem quisesse se dedicar a aprende-lo de verdade poderia realizar altas misérias.

Zum-zum-zum, capoeira mata um!

Porém isso não era tudo que a Namco fez para esse jogo chamar a atenção: para Tekken 3 realmente parecer seu próprio jogo e não um patch de update, o elenco do jogo anterior foi pesadamente reformulado. O que se provou uma ideia genial!

HÃ... A NAMCO NÃO FOI A PRIMEIRA A TER ESSA IDEIA DE RENOVAR UM ELENCO JÁ AMADO PELO PÚBLICO, E TODAS AS VEZES QUE ISSO FOI TENTADO FALHOU MISERAVALMENTE COMO EM SAMURAI SHODOWN 3 OU STREET FIGHTER 3: The New Generation

Então, a grande sacada genial aqui é que a Namco mudou não mudando. Vamos explicar isso: Tekken 3 se passa 20 anos após o jogo anterior, então isso quer dizer que os personagens agora são versões maduras e experientes dos personagens anteriores, ou seus sucessores. Que meio foi o que a Capcom fez muitos anos depois com Street Fighter 5 e quebrou a internet com seu Ryu DILF de barba


Por exemplo, em TEKKEN 2 Lei Wulong é um jovem policial, repleto de sonhos e esperanças. 

20 anos depois, Lei agora é um detetive calejado e que não tem mais saco pra essas merdas. O que totalmente fecha com seu estilo de luta drunken fist. Nice.


Ou então Jun Kazama, que veio a contrair óbito quando seu pai finalmente o jogou dentro de um vulcão ativo (pq é assim que os Michima rolam, vida a história de TEKKEN 2) e seu equivalente agora é o novinho e não menos endemoinhado filho dele, Jin Kazama.

Alias, suponho que esse seja um bom momento para recapitular a história: após resolver as tretas na sua família (e por isso eu quero dizer jogar o filho em um vulcão), Heihashi Michima... meio que ficou sem oposição a altura e a corporação Michima dominou o mundo. Sabe o que isso significa?



Exatamente, uma era de paz e progresso sem precedentes na história da humanidade. Porque se só existe um lado não existe conflito, e o manual do jogo realmente diz que Heihashi deu inicio a era de paz mundial. Chupa essa ONU, vcs nunca jogaram ninguém em vulcões, é por isso que não resolveram as tretas ainda!

Porém como se está tudo bem não tem história, acontece que a equipe de pesquisas da zaibatsu Michima encontrou no México nada menos do que... 


Não, sério, eles soltaram um Pillar Man asteca chamado "Ogre", e como bom homem-pilar que era ele despertou de seu sono milenar procurando os guerreiros mais fortes do mundo para ver se ainda cacetava geral. O que ele fez, fazendo com que uma nova geração de lutadores seja mobilizada em vingança (como o King desse jogo, que é uma das crianças do orfanato que assume o manto do luchador após o King original vir a contrair óbito atacado pelo Ogre)

Querendo atrair Ogre para captura-lo e... dominar ainda MAIS o mundo pq sei lá, ele deve estar jogando o New Game+ ou algo assim... Heihashi organiza um novo torneio do punho de ferro e TEEEEEEEEEMOOOOOSSSSS UNNNNNNN DIOOOOOOGGGGGOOOOOOO!


Seja como for, o ponto é que Tekken 3 tem bem poucos personagens 100% originais (incluindo entre eles o lendário capoeirista Eddy Gordo), todos os demais ou são versões maduras dos personagens anteriores, ou tem alguma relação com eles sendo um tipo de "sucessor espiritual". Dessa forma, Tekken 3 consegue o que tantos jogos de luta tentaram antes dele e falharam hecatombicamente: reformular o elenco para manter as coisas interessantes, porém sem fazer os jogadores perderem a conexão com os personagens a quem eles já tinham se apegado. O melhor de dois mundos, todo mundo ganha.

Então Tekken 3 tem o sistema de luta 3D que todos os jogos de luta 3D sempre sonharam ter, a pedra filosofal da porradaria de poligonos, e uma revitalização do elenco executada de forma absolutamente brilhante. O que mais alguém poderia querer de um jogo de luta?


Bem, vamos agora pular um ano e ir até 1998, porque vamos falar do port do jogo para Playstation 1. Que na época era apenas Playstation, obviamente. Que o PS1 não tinha capacidade para rodar o arcade com todos os poligonos e quadros de animação do arcade, todo mundo esperava. O que menos gente esperava era COMO a Namco compensou isso.

Em primeiro lugar, assim como foi feito em TEKKEN 2, existem personagens extras. A diferença é que aqui a Namco foi realmente longe na loucura, pq o que Tekken 2 fazia era que ao terminar o jogo com um personagem vc liberava o equivalente dele com outra skin. Tipo a Nina Williams é essencialmente o moveset e programação da Michelle Williams com outra skin.

Aqui não, os personagens novos são personagens inteiramente novos, com programação inteiramente diferente. Não apenas isso, mas a Namco realmente desbloqueou o sétimo sentido com os tóxicos e os personagens extras aqui são... únicos, vamos dizer assim.


Como Mokujin, que é um tronco de arvore capaz de copiar os golpes dos outros lutadores (tipo o Spinal desse jogo)...


... ou o Gon, que é um dinossauro peidorreiro. Poi sé. Eu vou te dar um momento para você assimilar o peso dessas palavras.


O jogo tem 10 personagens disponíveis, sendo extensível a mais dez personagens secretos na versão para PS1 - sendo que nem todos são apenas reskins. Porém se apenas ter mais personagens já seria suficiente para colocar a capacidade do PS1 a urrar YAMETE KUDASAI, a Namco simplesmente respondeu com:


Isso pq Tekken 3 para PS1 não tem apenas um, mas DOIS modos de jogo adicionais. E não apenas isso, mas cada um desses modos de jogo poderia ser um jogo inteiramente a parte, podem não ser grandes jogos solos per se, mas definitivamente são melhores que muita coisa no mesmo genero que eu joguei mesmo dentro do próprio PS1.

Tekken Force, por exemplo, é um beat'm up que usa a engine do jogo para fazer um beat'm up bem simplão: siga em linha reta batendo em capangas e no final lute contra um personagem. Usar os comandos do jogo de luta não traduzem perfeitamente para um beat'm up, isso tem que ser dito, mas funciona OITO BAZILHÕES DE VEZES MELHOR que outros jogos que tentaram adaptar jogo de luta como beat'm up - como a ATROCIDADE chamada BATMAN FOREVER.



E os aspectos básicos do modo beat'm up - que, novamente, É um modo bem básico - são ERAS e ERAS a frente de atrocidades que foram lançadas como um jogo solo, como THE CROW: City of Angels e PERFECT WEAPON. Eu poderia tecer algumas críticas se a Namco cobrasse 60 dolares por esse beat'm up, mas como apenas um MODO DE JOGO BONUS, é absurdamente impressionante o quão bem Tekken Force funciona.

E adicionalmente vc desbloqueia mais um personagem se terminar o Tekken Force 4 vezes, o grande cientista louco da zaibatsu Michima, o Dr. Bosconovich.


O outro modo de jogo, e que igualmente poderia ser lançado como um jogo a parte, é o modo de... acreditem ou não, modo de volei de praia. Pois é. Funciona assim: cada personagem não pode passar da sua metade da tela e enquanto eles podem se meter a porrada um no outro, o lance aqui é que tem uma bola de praia rolando na tela que causa dano se cair na "quadra" do personagem ou vc pode dar um porradão nela pra usa-la como arma e machucar o coleguinha.

Vc sabe, como Deus pretendia que fosse quando inventou o volei.


Trocentos personagens interessantes (mais da metade dele desbloqueaveis, o que só torna mais legal) com diferentes estilos de luta próprios e reconheciveis (com efeito, você consegue facilmente identificar quem o Mokujin está imitando), cutscenes em CG para todos eles (algo que adoravamos na época), modos de jogo, combate refinado no auge dos jogos de luta 3D, modos de jogo opcionais melhores que jogos solo inteiros... geez, não é atoa que Tekken 3 se tornou um símbolo indossiavel do PS1 até os dias de hoje.

O quinto jogo mais vendido da história do Playstation (atrás apenas dos dois primeiros Gran Turismo e dos FINAL FANTASY 7 e 8) faz todo jus por merecer toda fama que recebe. Com efeito, quando se fala de jogos de luta 3D vc não tem como ir muito melhor do que a terceira edição do Torneio do Punho de Ferro. Eu ouvi dizer que o único competidor a altura realmente é o Soul Calibur (a continuação de SOUL EDGE). Se isso é verdade ou não, é algo que ainda vamos descobrir, mas que a Namco estava chutando bundas e não-anotando nomes, isso é verdade.


10/10, diversão pacaraío.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 118 (Maio de 1998)


Edição 128 (Junho de 1998)


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Edição 035 (Fevereiro de 1997)


Edição 038 (Maio de 1997)


Edição 040 (Julho de 1997)


Edição 041 (Agosto de 1997)


Edição 043 (Outubro de 1997)


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Edição 019 (Julho de 1997)


Edição 020 (Julho de 1997)


Edição 021 (Agosto de 1997)


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Edição 028 (Março de 1998)


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