A postagem de hoje é bastante especial pra mim, pq com ela adentramos as revistas de 1998. Mais especificamente, esse é o primeiro jogo que eu estou puxando a Ação Games de janeiro de 1998... e parece que foi ontem que ainda estavamos nos idos dias de maio de 1991, quando essa revista começou, hã?
Bem, 7 anos virtuais depois, aqui estamos nós abrindo um ano que eu tenho certeza que será repleto de aventuras, emoções, alegrias e tristezas!
TECNICAMENTE, ALEGRIAS E TRISTEZAS SÃO UM TIPO DE EMOÇÃO, SABE?
O que eu sei, Jorge, é que em janeiro de 1998 a "nova geração" não pode mais ser chamada realmente de nova e Playstation, Saturn e Nintendo 64 já estão estabelecidos como a geração atual a um par de anos no mercado. E isso significa algumas coisas, como por exemplo que a essa altura os desenvolvedores já pegaram o jeito de como trabalhar com esses sistemas e vamos ver diminuir drasticamente o número de jogos quebrados, fracos e amadoramente mal programados, o que é bom!
NÃO FOI ESSA SEMANA MESMO QUE TU JOGOU EXCALIBUR 2555 AD?
Eu disse que vai diminuir, não acabar. Enfim, enquanto os jogos serem majoritariamente funcionais é bom, menos bom é que entraremos agora em um Calm Belt de jogos absurdamente medíocres. Você sabe, jogos que não são "The Worst of"... mas não são lá muito incríveis também. Eles existem, são majoritariamente jogaveis e é até onde vai.
Por isso uma das grandes preocupações que as desenvolvedoras deveriam ter era como diferenciar o seu jogo, como fazer as pessoas sequer lembrarem que ele existiu 25 segundos após parar de jogar ele ... uma preocupação que eu tenho sérias duvidas se foi levantada quando um jogo se chama VS.
MAMEVAIAPAPOUTAQUEOPAREO com esse nome, VS.! Vcs sabem o quão chato é pesquisar sobre um jogo chamado "VS."? Vai aparecer oito bazilhões de coisas que não esse jogo, então vão se foderem no mertiolate se eles não viram que esse é literalmente o nome mais genérico que um jogo de luta pode ter! Um jogo de luta chamado "VS.", depois disso vão inventar o que? Um jogo de corrida chamado "RACE." ou um jogo de futebol chamado "FUTEBOL."?
Hmm, pensando bem, deixa pra lá... seguindo adiante, é uma pena que esse jogo tenha um nome que parece que perderam a capa do jogo e o tio da locadora apenas escreveu VS. pra saber que é um jogo de luta, provavelmente de canetinha hidrocor (uma palavra que eu uso a literalmente decadas e nunca entendi realmente o significado).
E pq eu digo que é uma pena? Bem, pq a abertura desse jogo é o puro suco do que japoneses achariam que ia bombar com os garotos americanos durante os anos 90. Essas não são palavras minhas, e sim do character design do jogo - o ex-artista da Marvel, Kurtis Fujita:
Sério, essa abertura é tão anos 90 que eu quero acompanhar ela junto com vocês!
Nossa história começa quando um mano tá lá na dele, maneando manamente ao som do seu batidão, quando uma mina que despreza a instituição do sutiã chega pegando na bunda dele, você sabe, na broderagem como todos os manos da quebrada sempre fazem.
Enquanto isso, o jogo apresenta alguns de seus outros incríveis personagens: um cafetão e um ninja mendigo... espera, o que? Entretanto a mina da quebradas que despreza a instituição do sutiã mandou um "io io io broder, tu tá na vizinhança errada moderfucker!" e a treta teria rolado ali mesmo, não tivessem sido eles interrompidos pelo...
... MOTOQUEIRO COM ZIPER NA CABEÇA! Sério, se tem uma certeza na vida que eu tenho, é que os produtores desse jogo leram muito Jojo, nada mais explica o nível mental que os cidadões operam aqui!
Mina que abomina o sutia, cafetão e mano que teve a bunda apalpada se juntam para sair na porrada contra o Ziperboy de Jojo, pq se tem algo que manos não podem tolerar é uma motherfucking Jojo reference!
Então fica aquele climão de vai não vai, de "IT'S ON, MODERFUQUER"... até que o ninja mendigo decide saltar no meio do bolinho pq ele tem uma preocupação mais urgente em mente do que essa tretinha de manos. E que preocupação é essa, vc pergunta?
CORRE CAMBADA QUE A CANA CHEGOU! A CANA, OS HOMÊ, OS PORCO TÃO VINDO AÍ! SEBO NAS CANELA, GERAL! VAZA BERGUEEEEE!
E assim, tendo heroicamente cumprido sua digna missão de avisar a respeito da chegada das autoridades policiais locais, o misterioso ninja mendigo desaparece nos telhados da cidade até o que parece ser abertura do jogo travar e após longos segundos o jogo ir pra tela de Press Start.
Agora, senhores, isso é arte ou o que?
TÁ, MAS... O QUE EU DEVERIA ABSORVER DESSA ABERTURA AFINAL? QUE É UM JOGO DE MANOS DE RUA TRETANDO?
Basicamente isso. Apesar do nome "VS." ser uma bosta não passar a ideia, esse é o jogo dos manos da periferia saindo no soco muito antes de Def Jam pensar nisso... ou ao menos como os japoneses acham que são manos da periferia americana tretando.
Bem, tecnicamente falando esse jogo é uma reskin do jogo de luta "Fighters Impact", um jogo que causou tão pouco impacto no Japão que a THQ decidiu manter a engine do jogo e mudar todos os gráficos para algo muito mais RADICAL MANEIRO DUDE, obviamente tentando apelar para os meninos de 13 anos americanos que por alguma razão acham briga de gangues algo muito radical e irado.
... supostamente. Eu digo isso pq em uma entrevista, o character designer do jogo americano explicou como as coisas fluíram de forma mais... vaga, vamos colocar assim?
Como designer de personagens, era meu dever criar os designs de todos os personagens, bem como seus figurinos. Eu também criaria muitas das poses de vitória e todos os nomes dos personagens. Alguns dos personagens foram minhas ideias do zero. Em outras ocasiões, recebi descrições de algumas palavras. Por exemplo, disseram-me para fazer um motorista de táxi russo, que se tornou Oleg. Os elementos do taxista eram a jaqueta amarela e a pintura de guerra xadrez preta em seu rosto, imitando as cores de um táxi. Eu definitivamente me inspirei nos vários jogos de luta da época, Street Fighter e Tekken, mas tentei expandir os temas já feitos e apresentar soluções originais para os lutadores testados e comprovados já vistos. Como de costume, era importante ter uma personagem feminina forte. Em vez de ter a típica garota Chun-Li, escolhi fazer nossa praticante de Kung Fu, a Rave Dj, Mia com um traje mais street wise do que normalmente visto em Fighting Games.
Ao jogar o jogo, entretanto, você vai notar que vários personagem não se encaixam muito bem no tema de "gangues de rua", como por tem toda uma "gangue do campus universitário". Sim, isso é uma coisa real. Ao que Fujita explicou assim:
No que diz respeito aos vários projetos, inicialmente, fiz alguns designs sob a diretriz que eu tinha a rédea solta, sem o conhecimento do tema Gang que se tornaria parte integrante do jogo. Personagens como Harold foram excelentes exemplos disso. Esses personagens foram posteriormente colocados em diferentes gangues que podem não ter relação direta com eles à primeira vista. No caso de Harold, eu o criei para ser o maior artista marcial. A venda que ele usava era originalmente para levar você a acreditar que ele era realmente cego. No entanto, minha intenção era que ele tirasse no final do jogo revelando que de fato podia ver. A única razão pela qual ele usava a venda era para oferecer um desafio na competição, já que ele era muito mais habilidoso do que todos os outros competidores. Quando chegou a hora de colocá-lo em uma gangue, a THQ escolheu a Campus Gang e o apelidou de "Estudante de intercâmbio da Nova Zelândia".
Então tá, né?
De qualquer forma, tirando sua estética ... incomum... esse jogo ainda faz algumas coisas diferentes. Como por exemplo, ele não tem um modo campanha single player tradicional. O que ele tem é o Rumble Mode, em que você escolhe uma gangue - que é um time de 4 personagens - e você enfrenta outros times. O que essencialmente o esquema de times de
King of Fighters 94... sem a opção de customizar os times no modo campanha, algo que o jogo da SNK já dava ao que... três anos? Quatro?
O jogo também oferece um modo de sobrevivência curioso, já que ele permite que você continue quando derrotado... o que não me parece muito a definição de "modo de sobrevivência", mas o que eu sei realmente?
Enfim... a outra coisa que esse jogo faz de diferente é que não tem movimentação de apenas andar - em vez disso, o movimento é totalmente baseado em correr, because ATITUDE DUDE. Eu to falando sério, ou seu personagem corre ou ele não se mexe. Nice.
Os controles do jogo são... funcionais. Ele é o decimo oitavo trilionésimo jogo a tentar ser o meio termo entre a luta totalmente tecnica e marcial de
VIRTUA FIGHTER e os combos irados ultradinamicos de
TEKKEN 3. Hot take, huh?
Ao que o jogo se encaixa no que eu disse lá no começo do texto: bem no espectro MARROMENOS do meio da vida de um console. Não é catastrófico, mas também não é memorável, e certamente você consegue chutar uma arvore e cair pelo menos uns 3 jogos de luta muito parecidos.
A GamePro, por exemplo, resumiu que "Vs. é um jogo competente com a infelicidade de existir em algum momento ruim. Se tivesse sido lançado, digamos, 18 meses atrás, teria sido a melhor coisa desde o pão fatiado e provavelmente poderia ter começado sua própria religião. Infelizmente nesse momento, Vs. não oferece nada de novo para a já sólida linha de jogos de luta 3D de 32 bits estabelecidos por
TEKKEN 2,
SOUL EDGE e
FIGHTERS MEGAMIX."
E esse é essencialmente o maior problema com Vs., que não apenas não oferece nada de particularmente interessante como também parece inacabado e inconsistente. Os estilos de luta parecem vários personagens de jogos diferentes jogados na mesma bacia pra ver o que colava.
Uma coisa que o jogo podia ter explorado é o seu elenco visualmente criativo, mas a ausência de qualquer forma real de narrativa diminui o jogo, com os finais sendo nada mais um .jpg safado. A interface do usuário e os menus do jogo são insossos e mal definidos, mesmo para os padrões da época, forçando os jogadores a voltar ao menu principal para trocar de lutador. Mano, que jogo exige você voltar lá pro menu raíz inicial pra trocar de personagem?
STREET FIGHTER II: THE WORLD WARRIOR já não fazia essas patifarias mesmo CINCO anos antes.
Enfim, apesar da limitação tecnica do jogo e da escolha criminosamente ruim de nome, VS. ainda é um exemplo interessante de um jogo sendo totalmente remodelado para o mercado ocidental. E, como seu irmão mais velho Fighters Impact, esse jogo acabou sendo esquecido tão logo seu nome acabou de ser pronunciado dado que não tem muito o que amar em VS. Vale como curiosidade pra ver a estética anos 90 em toda sua glória, mas uma risada ou duas é tudo que o jogo realmente oferece.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 123 (Janeiro de 1998)
MATÉRIA NA GAMERS
Edição 020 (Julho de 1997)