domingo, 11 de setembro de 2022

[#971][Set/96] VIRTUA FIGHTER 3


Sega, Sega, Sega... o que eu faço com você? Sabe, não é segredo que um dia nessa retrospectiva a Sega vai oficialmente chutar o balde e deixar o ramo dos consoles porque todo mundo sabe que hoje ela não existe mais como criadora de hardware. E esse será um dia muito triste nesse blog, pq eu amo contar as histórias da pataquadas da Sega - como deu pra notar, né?

E Lutadors Virtuais 3 é um caso particularmente interessante nessa história.


Agora, recapitulando o contexto um pouco, nos anos 90 jogos de luta eram o genero mais popular do ocidente e VIRTUA FIGHTER era a principal franquia da Sega nesse principal genero de jogos. A ideia de Yu Suzuki e sua gangue de usar a engine 3D dos videogames para criar um mundo virtual com suas próprias regras de física e movimento foi usado para criar um jogo de luta que fosse uma arte marcial no sentido literal da palavra: o jogador teria que aprender a movimentar o corpo do personagem como um artista marcial disciplina o seu, considerando alcance, velocidade e movimentos possiveis para desenvolver um estilo de luta.

Mas bem, eu já contei essa história em VIRTUA FIGHTER e VIRTUA FIGHTER 2, e o que importa realmente para nossa história hoje é que Virtua Fighter 3 era uma grande coisa para a Sega. Quer dizer, se a empresa falhasse no genero top de popularidade do ocidente era game over, empacotar as coisas e ir pra casa.


Mas falando sério agora, eu só não digo que a situação da Sega era um desastre porque seria uma ofensa a todas as tragédias que já aconteceram. Após o catastrófico lançamento do Saturn nos Estados Unidos o console estava vendendo como uma abominação sem pai nem mãe, e no Japão ele meio que segurou as pontas por um tempo... até ser destroçado por uma singularidade do espaço-tempo chamada Final Fantasy 7 - mas isso é assunto para outro dia.

O Saturn tava apanhando mais que Fusca em subida. Logo, era necessário fazer alguma coisa... e alguma coisa a Sega fez. Medo. Bem, vamos lá: aquela altura, se tinha alguma coisa que dava certo na Sega eram seus arcades. Os fliperamas da Sega eram - e ainda são - muito bons, e era o que basicamente mantinha a empresa viva por aparelhos. Um dos grandes trunfos dela nesse sentido eram seus arcades da linha M3, uma placa especial feito pela Lockheed Martin.

OS FLIPERAMAS DA SEGA ERAM FEITOS POR UMA EMPRESA COM O MESMO NOME DA EMPRESA QUE FAZ OS CAÇAS DA FORÇA AEREA AMERICANA?

Não o mesmo nome, a mesma empresa. Um fato menos conhecido da Lockheed Martin é que entre vender um caça F16 para a força aerea americana e ser as Indústrias Stark da vida real , eles também fazem seus próprios chipsets e são incrivelmente bons em fazer suas próprias placas eletronicas. Bem, suponho que quando vc tem contratos de nível segurança nacional com o exército dos Estados Unidos aprender a fazer o máximo que você pode por conta própria é uma vantagem tática importante.


Seja como for, o ponto é que a Lockheed Martin era muito boa em desenvolver processadores e ela que montou um novo chipet para a Sega (o que não saiu nada barato, obviamente) e colocou na mão da casa do Sonic um hardware anos a frente de qualquer outra coisa no mercado. Esse produto foi conhecido como "Placa M3" e sério, seu poder era incomensurável.

Basta dizer que a M3 se equivale ao poder de processamento do Playstation 2... lançada CINCO anos antes do console da Sony. E 5 anos em tecnologia são 84 eras glaciais e meia de distancia, a M3 era de uma cavalice assombrosa para 1996.



E o que a Sega fez com a M3? Ora, obviamente deu na mão do Yu Suzuki e disse "vai e te diverte, crianço". E foi o que ele fez, Virtua Fighter 3 foi essencialmente um jogo de PS2 CINCO anos antes. Suponho que eu não precise explicar como cabeças foram explodidas e bacurinhas entraram em chamas, era uma coisa muito cyberpunkdofuturo2077.

Mas a história não termina aí, claro que não. Porque se você tem o arcade mais arcadesco que jamais arcadou e não consegue criar um problema pra vc, vc realmente pode se chamar de Sega?


Então eis o que pegou: Virtua Fighter 3 era um assombro, um fenomeno, literalmente o videogame mais avançado do mundo já desenvolvido até então rodando em um hardware que essencialmente era do futuro. Beleza, show de bola, todo mundo feliz, certo? Certo.

Próximo passo: você tem o arcade mais picaroso da picalandia do genero mais popular do ocidente. O que você faz com isso? Ora, obviamente você porta para o seu console para vender como exclusivo, e foi o que a Sega fez: um port de VF3 começou a ser desenvolvido para o Saturn. O que era apenas natural.


Então estava lá a Sega feliz e contente, trabalhando no seu port de VF3 para o Saturn... quando uma calamidade aconteceu. Em uma segunda-feira qualquer do começo de 1997 uma singularidade no espaço-tempo se formou do nada e as regras da física foram jogadas pela janela. Estou falando, é claro, do evento definidor de uma geração conhecido como Final Fantasy 7.

Veja, até FF7 as vendas do Saturn e do PS1 se equivaliam no Japão. Nos EUA o Saturn sempre foi uma piada, mas no Japão ele ia bem... até o dia que uma vendedora de flores mudou todas as regras. Obviamente que eu falarei com mais detalhes de FF7 quando chegar a hora (não posso prometer nada, mas existem boas chances de ser o jogo 1000 desse blog!), mas o que realmente importa aqui é que o FENOMENO que foi FF7 destroçou com o Saturn no Japão.


As vendas do Saturn não cairam ou mesmo diminuiram do dia pra noite, não elas ACABARAM. Todo mundo só queria saber das aventuras muito loucas de Claudio, Barretão e Tiffany e o Saturn pegava pó nas prateleiras. Some a isso que o console inexistia no ocidente e temos que ainda em 1997 a Sega do Japão decidiu que ia sacrificar o Saturn com pouco mais de dois anos de vida. Vish, isso ia pegar bem com o publico que é uma beleza, né...

Bem, seja como for, a Sega do Japão então começou a trabalhar no sucessor do Saturn (o que viria a ser o Dreamcast), mas ... e Virtua Fighter 3 no meio disso? Simples, muda o projeto e VF3 passa a ser um titulo de lançamento do Dreamcast. É a coisa obvia né, se a Sega entende que o Saturn subiu no telhado então já Elvis...

... exceto que o criador do jogo e nome forte dos jogos 3D na Sega (alem de ser uma das unicas 5 pessoas no mundo que sabia programar para o Saturn), Yu Suzuki apenas disse:


Suzukão da massa juntou sua equipe e passou a trabalhar no port de Virtua Fighter 3 para Saturn e foda-se. Não apenas ele passou o ano de 97 trabalhando nesse port, como o jogo chegou a ser concluído - se não isso, pelo menos um beta funcional - e para garantir que a Sega não puxasse o projeto da tomada sempre que podia ele mostrava o jogo a portas fechadas já que ele não podia usar os estandes da Sega nas feitas em um projeto não oficial.

A Sega, por sua vez, foi empurrando a coisa com a barriga e trabalhando em um port de VF3 para Dreamcast sem a participação de Suzuki. O projeto foi engavetado quando supostamente já tinha uma versão master do jogo para Saturn pronta, e o resultado dessa brincadeira foi que a Sega passou todo o ano de 97 bancando o capricho de um dos seus principais artistas... o que custou dinheiro que eles não tinham e tempo que eles tinham menos ainda... apenas para no fim mandar um "ahã, senta-lá Claudia".


Sério, não era fácil adaptar um arcade cavalistico como VF3 para o hardware do Saturn e se uma coisa não é fácil no mundo dos videogames quer dizer que ela é cara também. Tipo MUITO cara.

Eu quis contar essa história para mostrar o tipo de péssimo gerenciamento de recursos dentro da Sega que levou a ruína da empresa, passar um ano bancando um projeto liderado por seu principal funcionário já sabendo que ele jamais seria lançado é algo com o selo Sega de seguisses. Ah, boa e velha Sega!



Bem, isso sendo dito, me permita comentar rapidamente sobre o jogo então: a mudança mais palpavel em termos de gameplay são dois novos personagens, Aoi Umenokouji que luta Aiki Ju-Jutsu e Taka-arashi que luta sumô. Eu tenho que dizer que gosto particularmente do Taka, pq são poucas as chances que teremos nessa vida de lutar realisticamente como um lutador de sumô, então é uma experiencia única.

A outra coisa pela qual o gameplay desse jogo é diferente dos seus antecessores é que você luta em terrenos irregulares. Não é algo que se diga "minha nooooossa é um filme do Jackie Chan isso, lutando em cima de mesa e em escadas e no refeitório", mas não dá pra negar que é diferente e que o cenário influencia na luta. A ideia é interessante, até pq é o único jogo de luta que eu lembro de usar isso como uma ferramenta de combate - pelo menos antes de Smah Bros, isso é.



Verdade que os pro-players hardcore de VF (o publico alvo do jogo, afinal), não curtiram muito a imprevisibilidade dos novos estágios - preferindo fortemente os rings quadrados VF e VF2 quando se trata de jogabilidade competitiva. Na verdade até hoje os torneios de luta competitiva lutam em cenários vazios, pq os pro-players levam isso de "o cenário não atrapalhar" muito a sério.

Mas fora essas duas coisas, Virtua Fighter 3 é muito familiar às versões anteriores - apenas com a jogabilidade refinadas. Graficamente o jogo recebeu um overhaul bem grande e não pode ser considerado apenas um "patch de update", mas mecanicamente... é, não seria forçado dizer isso.


Tirando que os cenários apresentam alguns obstáculos reais (como um metrô no estágio da Sarah), não é nada radicalmente diferente do que vc esperaria de um jogo de VF, apenas mais polido. Ah, e sim, os personagens podem ser atropelados pelo metro (mas não se preocupe, os caracteres VF são feitos de polígonos, então eles não realmente se machucam). 

Mas hey, se não está quebrado não conserte! É o que a Sega... nunca faz, mas dessa vez eles fizeram aqui. Huh.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 105 (Julho de 1996)


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