A primeira vez que eu joguei SHINING FORCE: The Legacy of Great Intention, eu não sabia o que esperar. A única vez antes disso que eu tive contato com a série foi com o hack'n slash de PS2, e achei um joguim beeeeem mahomenos. Not great, but not terrible either. Eis então que para minha grande surpresa, esse humilde titulo do Mega Drive de 1993 se mostrou um dos grandes RPGs Táticos do console da Sega... tá, um dos únicos... mas eu realmente gosto de SHINING FORCE: The Legacy of Great Intention e seu nome estúpido.
Aí vc pensa: se uma série começa muito bem, daí pra frente é só ousadia e alegria, né? Bem, não. Depois de um primeiro jogo muito redondinho, a série embarcou em uma espiral descendente indo de títulos cada vez mais "okay, não é ruim, mas também não é bom", como SHINING FORCE 2, passando por "uau, isso não tem gosto de nada" como SHINING FORCE CD até abraçar de vez o puro sofrimento e dor com o pavonhonho SHINING WISDOM.
Então vocês podem imaginar minha alegria quando eu vejo que tenho outro Shining pra jogar. Se a série manter a tragetória descendente e conseguir ser, de alguma forma, pior que SHINING WISDOM... sério, eu não acho que conseguirei sobreviver a isso. Então temendo que essa possa ser a última review desse jogo, vamos jogar essa coisa...
... e após dez horas de gameplay meu parecer é:
Contra minhas piores expectativas, Brilhando no Escuro não é uma pilha de sofrimento e dor. Na verdade, é um jogo deveras... confortável. Sim, essa é a palavra que eu usaria, é um comfy game. Não é brilhante nem nada, mas é um excelente jogo para uma tarde chuvosa onde vc não quer ir a lugar nenhum com seu cerebro ou suas emoções. O que pode não parecer um elogio dizendo agora em voz alta, mas acredite, é.
Pra começar, a história do jogo é... interessante até, saiba você. Nosso herói aqui se chama Arthur (nome mudável), que é um caçador de recompensas enviado pelo rei de Enrich - junto com outros dois mercenários, a saber, Melody, uma xamã e Forte, um mago.
Nossos três caçadores de recompensa estão felizes e contentes em mais um dia de sol... hã, bem, caçando recompensas... mais especificamente um ninja chamado Rodi, e o jogo começa no ponto que o bastardo fugiu para as profundezas de uma mina abandonada. Até aqui é bastante medieval stuff, não muito diferente de DARK SAVIOUR que também começa com um caçador de recompensas e um malvadão.
O que esse jogo faz de diferente, no entanto, é que enquanto vc está enfrentando sua presa dentro da montanha a luta é interrompida pq - eu não estou inventado isso - UM DISCO VOADOR BATER NA MONTANHA E ALIENS DE OUTRA DIMENSÃO DESPENCAM EM CIMA DE VOCÊ!
Ok, isso foi ... inesperado, tenho que dar isso ao jogo. Mas não apenas isso, mas aparentemente os aliens não possuem uma forma definida nessa realidade e precisam possuir alguma forma de vida para poder existir. Assim, toda aquela galera é possuída por fantasmas interdimensionais!
A ESSE PONTO VC ESTÁ APENAS INVENTANDO COISAS, ADMITA.
Juro que não. DO NADA a luta é interrompida por aliens/espiritos zombeteiros, te juro. A boa noticia é que esses aliens são majoritariamente do bem. A notícia ruim é que eu disse majoritariamente, não totalmente. Um dos aliens/espirito vê nessa uma oportunidade para dominar a porra toda e sai correndo com o corpo que ele possuiu - nosso mago Forte. Os outros espiritos ficam tipo:
Assim, eles decidem ajudar Arthurito e sua gangue a capturar Forte e seu espirito zombeteiro... antes que ele cause muito estrago, pq o menino possuído já assumiu o papel de conselheiro do rei e vai tocar o terror.
No meio disso tudo ainda, o bandidão Rodi perdeu a memória no desmoronamento da cavena e se junta ao grupo de heróis, o que definitivamente vai gerar ainda mais situações constrangedoras quando ele for recuperando a memória ou encontrando antigos membros do seu bando - o que nossos heróis Arthur e Melody sabem, mas tão se fazendo de leitão vesgo pra mamar em duas tetas e aproveitar da força do Rodi enquanto ele não lembra que eles eram inimigos até... alguns minutos atrás.
Essa é uma premissa bastante diferente, tenho que dizer. Porém isso não é tudo que esse jogo faz de diferente, já que ele é um sucessor espiritual de Shining in the Darkness, o primeiro jogo da série para Mega Drive e que era... um dungeon crawler em primeira pessoa. Bem, eu não posso dizer que culpo a Camelot pela escolha: como a franquia não estava indo para um lugar bom, eles decidiram voltar as origens e fazer um jogo baseado no primeirissimo da série - que alias se chama Shining por causa desse jogo, já que vc é a luz na escuridão das masmorras.
Shining in the Darkness é um jogo bastante simples: você anda em masmorras com visão em primeira pessoa e luta ao estilo jRPG. Não tem muito mais do que isso, mas então é um jogo em primeira pessoa para Mega Drive de 1991, não é como se fosse razoavel esperar ter mais do que isso realmente.
Seu sucessor espiritual, lançado para o Saturn 5 anos depois segue na mesma batida não tenta reinventar a roda, apenas a deixa mais redondinha: as dungeons agora tem mapas interativos que vão se autocompletando conforme você explora, o gerenciamento de menus é um dos melhores das série (o que não é tão dificil, já que esse sempre foi o ponto baixo dos jogos Shining), a Camelot colocou um grande esforço para tudo ser o mais rápido possível (esse é o jogo que entrar e sair das batalhas é o mais rápido que eu já vi nesse blog até então)... enfim, pequenas melhorias de qualidade de vida.
E quer saber? Ao que ele se propõe a fazer, funciona bastante bem. Explorar a dungeon é recompensador (especialmente para nerds cabeçudos que gostam de completar mapas, como eu) e elas são repletas de colecionaveis e itens secretos em dungeons que tem vários andares de altura e contem curvas, pontes, quebra-cabeças e outros obstáculos para apimentar as coisas. E embora os gráficos sejam bastante pixelados na maior parte, a maioria das masmorras são razoavelmente únicas e tem o seu próprio feeling - sério, nada acaba mais com a paciencia do jogador que a sensação de estar jogando a mesma fase durante 20 horas.
Para além das dungeons, o jogo não tem muita coisa realmente. As cidades (que também são em primeira pessoa) servem para dscansar, comprar equipamento e pegar quest, ouvir algumas histórias dos NPCs, mas claramente esse não foi o ponto pretendido pelo jogo e não tem realmente muito esforço colocado aqui.
Então se você está procurando apenas um jogo para grindar e explorar masmorras com alguns confortos de vida que não torna a experiencia dolorosa como se fosse um jogo de Nintendinho dos anos 80 (né DRAGON QUEST 3?)... é bacaninha, confortável.
Agora se vc espera mais que isso... bem, o jogo não oferece muito mais que isso realmente. As batalhas são o básico do básico do jRPG (item, magia ataque, você conhece o velho rugaru) e nada além disso. Bem, pra não dizer que o jogo não faz nada NADA diferente, o sistema de batalha do jogo permite a troca de personagem no meio das lutas, supostamente adicionando um elemento de estratégia às lutas maiores no final, mas meio que isso não ajuda muito realmente. Com oito guerreiros diferentes para recrutar, manter todos bem equipados é muito esforço de grinding que acaba cansando mais que divertindo.
Outro problema que diminui a diversão do jogo é a curva de dificuldade bastante íngreme. As primeiras masmorras podem ser vencidas com o mínimo de esforço, mas a partir do meio do jogo equipar seu grupo com o melhor material disponível e pegar nível para todos se torna um grinding necessário para ter alguma chance na próxima área. A coisa de explorar a masmorra e ganhar experiencia se torna uma missão de grinding pelo grinding obrigatório e isso é definitivamente menos divertido.
Eu poderia sugerir algumas melhorias para esse jogo (acertar a curva de dificuldade, integrar a narrativa melhor as dungeons, bolar algo interessante para o sistema de combate - as fadinhas não contam), mas meio que não é o ponto do jogo. Esse Shining está mais para jogos como Hardspace: Shipbreaker, cujo ponto é vc apenas fazer alguma coisa enquanto ouve um podcast ou algo do tipo e para isso ele funciona.
E vamos ser honestos, não é como se ser mais do que apenas "ok, funciona" já não fosse suficiente para o Saturn. Dói, mas não é menos verdade por conta disso.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 114 (Abril de 1997)
Edição 120 (Outubro de 1997)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER Edição 033 (Dezembro de 1996)